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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Helen Bianchin

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Casamento por conveniência, n.º 1119 - setembro 2017

Título original: The High-Society Wife

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-268-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Dedicatoria

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Epílogo

Se gostou deste livro…

 

 

Para Danilo, Lucia, Angelo e Peter pelo seu amor e ajuda

Capítulo 1

 

– Preocupa-te alguma coisa?

Gianna enfrentou serenamente o olhar escuro do seu marido ao captar o tom ligeiramente modulado da sua voz.

Encontravam-se no quarto, uma divisão espaçosa com dois closets contíguos e duas casas de banho independentes. O mobiliário, bonito e antigo, complementava na perfeição os tons bege e verde-claro das cortinas e tapetes.

– O que te faz pensar isso? – não teria tido sentido queixar-se de que tinha passado um dia terrível e de que naquele momento a única coisa que lhe apetecia era tomar um banho no jacuzzi antes de se deitar.

Em vez disso, depois de suportar um engarrafamento monumental, chegara tarde a casa e tivera de tomar um duche a toda a pressa.

A ideia de assistir a um evento de beneficência no qual teria de participar na conversa, tentar aguentar um jantar de três pratos e limitar-se a beber um copo de champanhe não era precisamente estimulante.

O olhar do seu marido endureceu e, por um momento, Gianna temeu que lhe tivesse lido o pensamento.

– Toma qualquer coisa para a dor de cabeça antes de sairmos.

– Como sabes que me dói a cabeça? – perguntou Gianna, num tom ligeiramente agressivo.

O seu marido encontrava-se de pé, com a compleição de um guerreiro, vestido apenas com uns boxers pretos. Tinha o cabelo húmido por causa do duche que acabava de tomar. Os seus traços faciais eram fortes e angulosos.

– Queres discutir? – perguntou.

– Não especialmente – replicou Gianna.

O seu marido arqueou um sobrolho com expressão cínica, antes de continuar a vestir-se.

 

 

Não havia dúvida de que Franco Giancarlo era um homem especial, pensou Gianna enquanto entrava na sua casa de banho para começar a maquilhar-se.

Era um homem duro e atraente, prestes a fazer quarenta anos, que impunha respeito aos seus pares e que arrasava muitos corações femininos… Algo que ela sabia muito bem.

Franco conquistara o seu coração quando ela era ainda uma adolescente, o que facilitara que ela aceitasse mais tarde o seu pedido de casamento… uma proposta feita para o bem das empresas Giancarlo-Castelli, fundadas pelos seus respectivos avós. O negócio passara por uma crise temporária devido a um acidente de avião no qual tinham morrido os pais de Franco e o pai viúvo de Gianna.

Os prejuízos na bolsa tinham sido recuperados quando Franco assumira o controlo das empresas, mas a estabilidade futura das mesmas estava em dúvida devido ao seu celibato e ao pouco interesse que Gianna Castelli parecia mostrar em escolher um marido.

Os dois avós viúvos que restavam, a matriarca Anamaria Castelli e o patriarca Santo Giancarlo, tinham proposto o que consideravam a solução perfeita.

Que melhor maneira de levar os Giancarlo-Castelli à sua quarta geração, do que com os filhos fruto do casamento entre Franco Giancarlo e Gianna Castelli?

O facto de Franco e Gianna aceitarem a ideia deixara a matriarca e o patriarca encantados.

O evento fora considerado o casamento do ano, com uma lista de convidados onde figuravam as principais personalidades da sociedade australiana. Também participaram inúmeros parentes e amigos vindos de Itália, da França e dos Estados Unidos.

Um ano depois continuavam a ser o casal sensação para a imprensa, que não deixava de informar sobre a sua presença nos diversos eventos sociais a que assistiam.

Em público, Gianna conseguia interpretar o papel de esposa perdidamente apaixonada… embora tivesse constantemente consciência da barreira invisível que existia entre eles.

Era uma loucura!, repreendeu-se em silêncio. Usava a aliança de Franco, partilhava a sua cama e interpretava o papel de anfitriã social com a facilidade que dava a prática. Era sua em todos os aspectos. Mas não era dona do seu coração. Nem da sua alma.

Disse para si que era suficiente. Mas sabia que estava a mentir a si mesma.

O que se passava? Com aquela introspecção não conseguiria nada e o que tinha de fazer naquele momento era pentear-se e vestir-se.

Vinte minutos depois, entrou no quarto e encontrou Franco já vestido com o seu elegante smoking.

O coração de Gianna pulsou mais depressa enquanto uma sensação familiar e quente percorria as suas veias. «Respira fundo», disse para si em silêncio, amaldiçoando interiormente o seu corpo por reagir daquela maneira.

Teria Franco consciência disso? Na cama, sim, sem dúvida. Mas e fora dela?

– Estás linda! – comentou Franco, enquanto deslizava o olhar pelo elegante vestido vermelho que Gianna usava e que esta insistira em pagar pessoalmente.

Aquela intransigência da parte da sua esposa irritava-o. A independência era uma coisa boa, mas só até um certo ponto. O facto de também usar os brincos de diamantes que lhe oferecera no aniversário do seu casamento acalmou a sua irritação.

Um xaile a condizer com o vestido completava o seu vestuário e usava um coque preso com uma travessa de pedras preciosas.

Franco avançou para ela, com um sorriso nos lábios.

– Obrigado.

– Por ter o aspecto adequado para o evento?

– Também por isso – disse Franco, enquanto oferecia à sua esposa um copo de água e dois comprimidos.

– Estás a fazer de enfermeiro?

– Diz-me que já os tomaste e deixarei imediatamente de representar esse papel.

Gianna limitou-se a pegar nos comprimidos e a engoli-los com ajuda da água.

– Podemos ir?

Alguns minutos depois avançavam no meio do trânsito, enquanto o sol se punha no horizonte.

– Queres falar sobre isso? – aparentemente, não passara ao lado de Franco a ligeira tensão que os traços expressivos da sua esposa reflectiam.

Gianna olhou para ele de esguelha.

– Por onde queres que comece?

– Foi assim tão mau?

A secretária de Gianna telefonara a dizer que estava doente. A sua substituta demonstrara ser uma inútil. Alguns documentos importantes que deveria ter enviado através de um mensageiro tinham sofrido um atraso inevitável e o seu almoço vira-se reduzido a metade de uma sandes, seguida de uma enxurrada de chamadas.

– Nada que não tenha conseguido resolver – respondeu. Afinal de contas, não fora para aquilo que fora educada?

Uma meta… Ocupar o cargo que lhe correspondia no império Giancarlo-Castelli. Tal como Franco, começara por baixo para conhecer o negócio e conquistara cada promoção por mérito próprio.

O nepotismo não era uma opção em nenhuma das famílias e ninguém poderia acusá-la de ter alcançado o cargo que ocupava à custa do seu pai ou da sua avó.

Os Giancarlo-Castelli apoiavam generosamente várias organizações benéficas e o evento daquela noite estava relacionado com uma delas. Gianna adorava crianças e os doentes terminais entre elas mereciam o máximo esforço da parte de todos, especialmente daqueles que mais tinham.

– Está na hora – murmurou, quando Franco parou o Mercedes que conduzia diante da entrada de um elegante hotel.

O hall espaçoso adjacente à sala encontrava-se cheio de convidados que conversavam em círculos enquanto bebiam champanhe. As mulheres usavam vestidos de estilistas nacionais e estrangeiros, e exibiam inúmeras jóias, enquanto os homens pareciam clones uns dos outros com os seus smokings pretos. A maioria eram membros do mundo empresarial, mas Gianna sabia que de nenhum deles emanava a sensação de poder que emanava do homem que tinha ao seu lado.

Sob o exterior sofisticado do seu marido pulsava uma sensualidade primitiva que continha a promessa de uma paixão desenfreada, uma paixão que ela conhecia muito bem, uma paixão na qual era capaz de se perder completamente sem que mais nada importasse… Nem o amor desejado do seu marido, nem o atraso involuntário da sua desejada gravidez…

– Queridos! Como estão?

Gianna virou-se com um sorriso ao ouvir a voz feminina familiar e riu-se com suavidade, enquanto a loira deslumbrante que se aproximou deles acariciava a face de Franco.

– Shannay.

– Ah! – Shannay suspirou quando Franco pegou na sua mão e a levou aos lábios. – Fá-lo tão bem… – murmurou, enquanto dedicava um sorriso cúmplice a Gianna.

– Eu sei.

A amizade entre as mulheres remontava à época do colégio interno e continuara durante a universidade. Partilhavam o mesmo tipo de humor, tinham sido dama de honor uma da outra e continuavam a manter-se muito unidas.

– E Tom? – perguntou.

– Estás prestes a reunir-se connosco – disse Franco, ao ver que o marido de Shannay se aproximava deles.

– Desculpem-me, mas recebi uma chamada.

Alto, magro e com óculos, Tom Fitzgibbon era um cirurgião famoso e um daqueles poucos homens capazes de entender as mulheres. Viúvo com dois filhos, deixara que Shannay levasse avante a sua relação, até que decidira tomar a iniciativa à última hora.

Gianna viu como o olhar da sua amiga se suavizava.

– Algum problema?

Tom sorriu à sua esposa.

– Esperemos que não.

Os dois casais começaram a circular pelo hall para cumprimentarem os seus amigos comuns e acabaram por se separar devido às diferentes conversas que encetaram.

À espera de que abrissem a sala principal, Gianna permaneceu junto do seu marido enquanto este falava com um sócio. Estando tão perto dele, apercebia-se do cheiro delicado do seu perfume, que brincava com os seus sentidos e fazia com que sentisse calor. A sua sensibilidade aumentou com a antecipação sensual de como acabaria a noite. E de como desejava saborear as carícias do seu marido, sentir-se tão perdida na paixão que despertava nela que tudo o resto deixava de existir…

Franco tinha a habilidade de a levar a lugares que jamais teria podido alcançar apenas com a sua imaginação, a um nirvana emocional primitivo e imensamente sensual que a fazia perder por completo o controlo.

Teriam outras mulheres reagido com ele como ela reagia? Preferia não saber a resposta!

Franco tornara-a sua através de um casamento por conveniência, mas o que partilhavam na cama era especial… Ou não era?

– Tens fome?

Bela pergunta! Um ligeiro sorriso sensual curvou levemente os lábios de Gianna quando olhou para o seu marido.

– De comida?

Os olhos de Franco brilharam, divertidos.

– Naturalmente. Entramos?

Gianna deu-se conta naquele momento de que inúmeros convidados avançavam para a entrada da sala.

A mesa que lhes fora atribuída estava bem situada e iriam partilhá-la com pessoas conhecidas, de maneira que não seria difícil estabelecerem uma conversa relaxada.

Soava uma música agradável de fundo, enquanto os empregados se movimentavam entre as mesas. Era o modus operandi habitual daquele tipo de eventos de beneficência, onde o serviço, os bons vinhos e a boa comida faziam parte do preço.

– Estás muito calada. Como está a tua dor de cabeça?

Estavam em público e, como esposa de Franco e representante das empresas Giancarlo-Castelli, esperava-se que Gianna estivesse deslumbrante.

– Praticamente desapareceu – disse, com um sorriso.

Franco levantou uma mão para lhe acariciar delicadamente a face.

– Fico contente.

Gianna olhou fixamente para o seu marido e tentou controlar as sensações que se apoderavam dela cada vez que o seu marido lhe tocava. Não era justo sentir-se tão emocionalmente despida.

Para se distrair, pegou no programa do evento.

– Parece uma mistura interessante. Um cantor seguir-se-á aos habituais discursos. Depois, haverá um desfile de moda e, em seguida, aparecerá um convidado surpresa.

Naquele momento, parou de tocar a música e o mestre-de-cerimónias ocupou o seu lugar no palco, deu as boas-vindas aos convidados e depois apresentou a presidente da associação de beneficência, uma mulher incansável de meia-idade, que dedicava a sua vida a angariar dinheiro para ajudar crianças com doenças terminais.

Enquanto falava dos projectos que aquela gala poderia tornar possíveis, no grande ecrã que havia atrás dela apareciam imagens de crianças submetidas a tratamentos em diversos hospitais. O que realmente afectou os presentes foram os seus traços expressivos. O estoicismo solene, os sorrisos, as gargalhadas infantis…

A vida seguia em frente… A vida de outros.

A presidente concluiu com um pedido apaixonado para que os presentes na gala fossem generosos.

Enquanto os empregados serviam as entradas, Gianna pegou no seu copo de champanhe enquanto as suas companheiras de mesa falavam das suas próximas férias.

– Eu queria ir às Caraíbas, mas Paul prefere ir fazer montanhismo para o Vietname. Acreditas?

– Que tal o Alasca? – aventurou Gianna. – Acho que as paisagens são impressionantes e a aurora boreal…

– Não, por favor! – exclamou a outra mulher, enquanto olhava para o seu marido com expressão preocupada. – Eu quero ir às compras.

Para quê?, quis perguntar Gianna, que sabia que aquela mulher tinha uma ala inteira do andar superior da sua casa dedicada à sua roupa e uma divisão exclusiva para os seus sapatos e malas.

Depois da actuação do cantor serviram o prato principal e, em seguida, o mestre-de-cerimónias anunciou o início do desfile de moda.

As modelos, lindas, mostraram com garbo e profissionalismo a roupa maravilhosa dos estilistas que tinham aceitado participar na gala.

Gianna tomou nota mental de um modelo que chamou especialmente a sua atenção e decidiu visitar a loja do estilista.

– Ficarias fabulosa vestida de preto. Franco deveria comprar-to. E sei quais os sapatos que ficariam a condizer com o vestido. Os Manolo’s, é claro!

«É claro!» Gianna deu um abanão mental a si mesma pela sua atitude brincalhona.

Enquanto os empregados serviam a sobremesa, o mestre-de-cerimónias subiu ao palco para apresentar o convidado surpresa.

– Uma jovem que alcançou o sucesso internacional como actriz.

Não… Não podia ser! Mas Gianna não conseguiu afastar de si um pressentimento crescente.

– Fez a oferta generosa de financiar umas férias com todas as despesas pagas para três crianças e as suas famílias na Disneylândia.

O anunciou despertou um murmúrio de aprovação entre os convidados.

– Pedimos para que a equipa médica seleccionasse todas as crianças em condições de viajar – o mestre-de-cerimónias virou-se para a presidente, que tinha subido ao palco com uma cartola na mão. – Eu gostaria que um dos nossos convidados tirasse três papéis do chapéu – depois de uma pausa, acrescentou: – Franco Giancarlo. Importa-se de subir ao palco?

Gianna sentiu um aperto no estômago quando o seu marido se levantou e avançou para o palco.

– Eu gostaria que todos dessem as boas-vindas à nossa convidada surpresa – o mestre-de-cerimónias fez uma pausa para enfatizar o efeito: – Famke!

Gianna susteve a respiração. A tensão que sentia secou a sua garganta e deixou-a momentaneamente muda.

Famke.

Ali estava, alta, loira, próxima dos trinta anos… e mais bela do que alguma mulher tinha o direito de o ser.

Uma actriz que tinha obtido sucesso em diversas produções estrangeiras, antes de encontrar a fama e a fortuna nos Estados Unidos.

Ninguém recordava o seu apelido, pois há muito tempo que fora esquecido no seu caminho para o estrelato.

Uma mulher incrivelmente bela, que desfrutava de seduzir homens ricos e que era conhecida pela sua afeição de obter jóias extravagantes dos seus antigos amantes.

Cinco anos antes, durante a sua estadia em Nova Iorque, Franco fora um desses homens… antes de o acidente mortal sofrido pelos seus pais o ter feito regressar a Melbourne.

Então, dizia-se que Famke queria casar-se, mas a relação não prosperara porque Franco não estava disposto a comprometer-se. Despeitada, Famke seduzira um milionário de Los Angeles, casara-se com ele e tinham tido um filho.

Gianna manteve o olhar fixo em Franco, desesperada por ver a sua reacção, enquanto um milhão de perguntas bombardeavam o seu cérebro.

O que fazia Famke ali? Não só em Melbourne, mas também naquele local, naquela noite. E porque pretendera um encontro cara a cara com Franco em público?

– É linda, não é? – comentou a companheira de mesa de Gianna. – Ouvi dizer que se divorciou recentemente.

«E saiu à caça», pensou Gianna.

E não em busca de um homem rico qualquer, concluiu, com uma certeza arrepiante.

A sua presa era Franco Giancarlo.