Editado por Harlequin Ibérica.
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28001 Madrid
© 2008 Emma Darcy
© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Amor desmedido, n.º 1170 - novembro 2017
Título original: Ruthlessly Bedded by the Italian Billionaire
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-9170-391-4
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Página de título
Créditos
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Se gostou deste livro…
Sidney, Austrália
– Menina Rossini…
Outra voz que a chamava pelo nome de Bella.
Jenny fez um esforço por raciocinar. Sentia a sua mente estranhamente desligada e apenas assimilava partes do que ouvia. Nada fazia sentido. Era como estar no meio de uma névoa. Seria um pesadelo recorrente? Tinha de acordar, agarrar-se à realidade, contudo, não consegui abrir os olhos.
– Menina Rossini…
Outra vez o mesmo. Onde estava Bella? Porque estavam a chamá-la pelo nome da sua amiga, como se fosse ela? Alguma coisa estava errada. Doía-lhe a cabeça de tanto pensar. A névoa envolveu-a novamente. O mais confortável seria deixar-se arrastar para o poço onde não existia confusão. Mesmo assim, queria respostas, queria que aquele pesadelo acabasse e isso implicava concentrar toda a energia possível em abrir os olhos.
– Meu Deus! Acordou! Está acordada!
Os gritos magoavam-lhe aos ouvidos e a repentina clareza fez com que desejasse fechar os olhos novamente, no entanto, lutou contra o impulso, receando perder a força para os abrir outra vez. Percebeu uma visão imprecisa de alguma coisa que se mexia.
– Vou chamar o médico.
Médico, uma cama branca, persianas brancas, tubos num braço… Devia estar num hospital. Não conseguia ver as suas pernas, cobertas pelo lençol. Tentou mexê-las, porém, não conseguiu. Eram um peso morto. A sua mente começou a trabalhar desesperadamente. Estava paralítica?
– Olá, o meu nome é Alison – uma bonita enfermeira loira de olhos azuis apareceu aos pés da cama. – Já avisei o doutor Farrell. Virá em seguida, menina Rossini.
Jenny tentou explicar que ela não se chamava assim, porém, os seus lábios recusavam-se a cooperar. Tinha a garganta muito seca.
– Vou buscar-lhe um copo com gelo – disse Alison.
Quando voltou, estava acompanhada de um homem que se apresentou como o doutor Farrell. Alison deu-lhe um cubo de gelo que ela fez rodar pela sua boca, sentindo o alívio da humidade que lhe refrescava a garganta.
– Fico contente por ver que voltou, menina Rossini – disse o médico com uma expressão alegre. Era um homem baixinho e corpulento, com uns trinta e poucos anos, com cabelos escuros que não ocultavam uma crescente calvície. Os seus olhos castanhos brilhavam. – Estava em coma há duas semanas.
«Porquê? O que se passa?» O pânico invadiu-a e as perguntas reflectiram-se no seu olhar.
– Teve um acidente de carro – disse o médico. – Não levava cinto de segurança e saiu disparada do carro. Sofreu uma contusão grave na cabeça o que, sem dúvida, contribuiu para o coma. Também sofreu uma ruptura de três costelas, um braço, profundas lacerações numa perna e tem gesso na outra para lhe segurar o tornozelo fracturado. No entanto, está a recuperar bem e é uma questão de tempo até voltar a caminhar.
Uma sensação de alívio invadiu-a. Não estava paralítica. No entanto, o seu cérebro magoado não parecia funcionar tão bem. Não recordava nenhum acidente de carro. Para além disso, não fazia sentido que não levasse cinto. Punha-o sempre. Era uma reacção automática cada vez que entrava num carro.
– Parece contrariada, menina Rossini. Quer dizer-nos alguma coisa? – perguntou amavelmente o médico.
«Não sou Bella.»
– O meu nome é… – humedeceu os lábios e conseguiu emitir um gemido.
– Óptimo. Sabe como se chama.
«Não!»
– A minha amiga… – ela tentou novamente.
– Lamento – o médico suspirou e o seu olhar encheu-se de simpatia, – mas a sua amiga faleceu no acidente. Não pudemos fazer nada por ela. O carro incendiou-se. Se não tivesse saído do carro, você…
Bella… Estava morta? Queimada? O horror fez com que os seus olhos se enchessem de lágrimas. O médico deu-lhe a mão, enquanto dizia palavras de consolo. Contudo, Jenny não ouvia nada. Apenas conseguia pensar como devia ter sido uma morte horrível. Bella fora muito amável ao acolhê-la, proporcionando-lhe um lugar onde viver e até emprestando-lhe o seu nome para que pudesse trabalhar no Fórum veneziano, pois todos os empregados tinham de ser italianos ou de ascendência italiana.
Por isso tinham confundido as suas identidades?
As lágrimas não paravam. O médico saiu depois de ordenar à enfermeira que se sentasse junto da cama e falasse com ela. Jenny não conseguia falar. Estava demasiado emocionada pela situação e pela perda horrível da sua amiga. A sua única amiga. Bella também não tinha mais ninguém. Nenhuma tinha família, pois ambas eram órfãs, um facto que as unira em seguida.
Quem ia enterrá-la? O que aconteceria com o seu apartamento e todas as suas coisas… O seu lar?
O cansaço fez com que adormecesse.
Quando acordou, a enfermeira fora substituída por outra.
– Olá. O meu nome é Jill – disse alegremente. – Precisa de alguma coisa, menina Rossini?
Rossini, não. Kent. Jenny Kent. Claro que, na ausência de Bella, ninguém se importava com quem era. O medo apoderou-se da sua mente atormentada.
Para onde iria quando saísse do hospital? Os serviços sociais certamente dar-lhe-iam alojamento, como tinham feito durante a sua infância e grande parte da adolescência. Ela odiava aqueles lugares e, se voltasse a depender de caridade, aquele insecto nojento poderia descobrir.
Sentiu um aperto no estômago. A polícia não acreditara nela quando denunciou o altamente qualificado trabalhador social por «ajudar» as raparigas em troca de favores sexuais. Era uma pessoa de confiança e as outras raparigas tinham temido sofrer represálias da sua parte e não a tinham apoiado na denúncia. Fora qualificada de mentirosa e rancorosa por «não obter o que, sem dúvida, desejava dele» e, se ele chegasse a descobrir a sua situação presente, sem dúvida voltaria para a martirizar.
Porém, que outra opção tinha? Nunca sobreviveria sem a assistência social até poder voltar à rua e vender os seus desenhos, como fizera antes de conhecer Bella. Também não poderia continuar no Fórum veneziano sem usar o apelido Rossini.
A ideia surgiu repentinamente na sua cabeça. Porque teria de renunciar a isso?
Toda a gente pensava que Jenny Kent estava morta.
Ninguém se importava se estava viva ou morta. Ninguém ia reclamá-la. Se era Bella Rossini para todos, embora não entendesse a confusão, seria assim tão mau suplantar a identidade da sua amiga durante algum tempo, alojar-se no seu apartamento, continuar a trabalhar no Fórum e poupar um pouco, enquanto reflectia e planeava o seu futuro?
Não seria o que a sua amiga teria desejado que fizesse em vez de simplesmente… acabar?
Roma, Itália
Seis meses depois
Dante Rossini escapou dos encantos voluptuosos de Anya e estendeu uma mão para o telemóvel.
– Não faças isso! – exclamou a mulher. – Podes ouvir a mensagem mais tarde.
– É o meu avô – disse ele, enquanto ignorava os protestos.
– Incrível! Telefona-te e tu vais logo a correr.
Aquela explosão de petulância irritou-o. Lançou um olhar furioso à mulher e atendeu o telemóvel. Só podia ser o seu avô, porque mais ninguém tinha o seu número de telefone privado, reflexo da união entre ambos. Comprara o telefone com esse único propósito quando lhe fora diagnosticado um cancro inoperável e, com efeito, estava disposto a correr assim que lhe telefonasse. Os médicos tinham-lhe dado, no máximo, três meses e já passara um. O tempo estava a esgotar-se para Marco Rossini.
– Dante – disse ele, consciente da ansiedade que sentia. – O que posso fazer por ti, nonno?
Furiosa por a sua explosão não ter tido nenhum efeito sobre ele, Anya saltou da cama e foi para a casa de banho.
O tempo também estava a esgotar-se para Anya Michaelson, decidiu Dante. Esperava sempre a sua indulgência, ao que ele acedera no passado, em troca do seu corpo fantástico e talento para os jogos eróticos, porem, o seu fundo egoísta começava a irritá-lo.
– Trata-se de um assunto de família, Dante.
– O que se passa? – um assunto de família? Normalmente telefonava por algum assunto de negócios.
– Explico-te tudo quando chegares aqui.
– Queres que vá agora?
– Sim. Não há tempo a perder.
– Estarei aí antes do meio-dia – prometeu ele.
– Bom rapaz!
Rapaz… Dante sorriu com ironia enquanto desligava o telefone. Tinha trinta e dois anos e já fora nomeado director de uma empresa multinacional, depois de ter superado todos os desafios que o seu avô tinha disposto desde os seus anos adolescentes. Marco Rossini era o único que se atrevia a chamar-lhe «rapaz» e Dante permitia-o pelo afecto que lhe tinha. Pouco depois de fazer seis anos, os seus pais tinham falecido num acidente de barco e, desde então, fora o «rapaz» do seu avô.
– E eu? – perguntou Anya ao vê-lo a sair da cama.
Estava apoiada contra a ombreira da porta da casa de banho, numa posição provocante, com cada uma das suas nuas curvas a apontar para ele, os longos cabelos loiros e os lábios volumosos franzidos. Contudo, o desejo que despertara minutos antes já desaparecera. O único sentimento que conseguia despertar nele era impaciência.
– Lamento muito. Tenho de ir.
– Prometeste levar-me às compras hoje.
– As compras não são importantes.
– Para mim são, Dante – Anya bloqueou a entrada da casa de banho e, quando ele a empurrou para poder entrar, rodeou-lhe o pescoço com os braços e agarrou-se, enquanto os seus olhos verdes brilhavam. – Prometeste-me…
– Fica para outro dia, Anya. Precisam de mim em Capri. Agora, solta-me.
A sua voz era fria e o seu olhar era frio. Ela soltou-o, furiosa, mas sem se atrever a desobedecer. Ele passou ao seu lado e dirigiu-se para o duche sem olhar para trás.
– Odeio essa maneira que tens de desligar – gritou ela. – Odeio.
– Então, procura outro, Anya – disse ele secamente, enquanto abria a torneira e calava qualquer ruído com o som da água. A última coisa que desejava era ser o alvo de um ataque de histeria e não se importava minimamente se Anya encontrasse outro homem, que carregasse com as despesas de jóias e roupas em troca dos prazeres do seu corpo. Havia muitas mulheres bonitas ansiosas por partilhar o seu leito.
Quando saiu da casa de banho, ela já saíra, contudo, ele nem reparou nisso. Enquanto se preparava para a viagem, chamava o helicóptero para que se preparasse para o levar a Capri, vestia-se e tomava o pequeno-almoço, a sua mente fazia uma revisão dos membros da família, numa tentativa de adivinhar quem aborrecera o seu avô.
O tio Roberto encontrava-se em Londres a fiscalizar a reabilitação do hotel, felizmente dedicado a um trabalho criativo que adorava. Sempre levara a sua homossexualidade com discrição, sendo tolerada por Marco, desde que não a mostrasse diante dele. Teria acontecido alguma coisa inapropriada?
A tia Sophia livrara-se do seu terceiro marido oportunista um ano antes, com o conseguinte custo de vários milhões de dólares que fizera com que Marco ficasse furioso com o comportamento da sua filha. Depois esta casara-se com um evangelista americano, um playboy parisiense e um jogador de pólo argentino, todos os quais, aparentemente, exsudavam suficiente carisma sexual para conquistar uma esposa rica. Teria iniciado outra relação errada?
Depois estava a sua prima, Lucia, de vinte e quatro anos e filha da tia Sophia e do playboy parisiense, uma jovem ardilosa e descarada de que nunca gostara. Mesmo quando era pequena, tivera o hábito de espiar toda a gente e de contar tudo se pensasse que podia beneficiá-la. No entanto, com Marco era a doçura personificada. Dante não conseguia imaginá-la a criar o menor problema ao seu avô. Lucia faria o impossível por o evitar, sobretudo, tendo em conta a herança que estava em jogo.
Marco só se casara uma vez. A sua esposa morrera antes de Dante ter nascido e, depois disso, conformara-se com um rosário de amantes. Tratara-as bem e pagara-lhes generosamente no final do seu «acordo». Nenhuma delas deveria causar-lhe problemas.
Não servia de nada rever as possibilidades, embora gostasse de se preparar mentalmente para qualquer ordem que o seu avô pudesse dar-lhe. Marco ensinara-lhe que o conhecimento era poder. Qualquer pessoa que se visse surpreendido numa reunião de importância, não fizera os trabalhos de casa e encontrar-se-ia imediatamente em situação de desvantagem. Dante raramente era surpreendido. Embora tivesse ficado surpreendido com a decisão do seu avô de passar os seus últimos meses na villa de Capri.
Porque não ficara no palácio de Veneza? Ou na cadeia de hotéis Gôndola ou nos Fórum venezianos, réplicas em miniatura de Veneza, espalhados pelas grandes cidades do mundo. É claro que o ar veneziano não era tão doce como o da ilha, nem a vista tão limpa, nem o sol tão acessível, não para um homem tão doente. Mesmo assim, o seu avô nascera em Veneza e Dante teria esperado que quisesse morrer ali.
Acomodado no helicóptero que o levava para Capri, perguntou-se novamente sobre essa decisão. Percorreu com o olhar as altas colinas cinzentas, salpicadas de árvores, os picos rochosos que surgiam do mar, a vila branca que se estendia pela parte alta da ilha, a água azul-turquesa. Não havia nada que recordasse Veneza.
A villa sempre fora um lugar de férias, frequentada sobretudo pelo tio Roberto e pela tia Sophia. Dante passara ali algumas férias escolares, contudo, o seu avô apenas fora ali de vez em quando e nunca ficava muito tempo. Certamente não demonstrava nenhum afecto pela vida relaxada que oferecia. Sempre se sentira impaciente por voltar novamente para o seu negócio.
O helicóptero aterrou sobre o terraço da villa. Era quase meio-dia e o sol era suficientemente forte para que Dante se alegrasse de alcançar o caminho ladeado por pinheiros. No entanto, não se alegrou ao ver Lucia, indo ao seu encontro.
Era parecida com o seu pai, mais francesa do que italiana. Levava os cabelos escuros muito curtos e, no seu rosto, destacava-se o nariz elegante, a boca de lábios sensuais e uns olhos castanhos e brilhantes, sempre observadores. Levava um vestido infantil com estampados geométricos, que proclamava a sua origem francesa, de cor castanha, branco e preto. A saia curta deixava umas pernas compridas e torneadas à mostra.
– O nonno está à tua espera no pátio dianteiro – disse ela.
– Obrigado, Lucia, mas não é preciso que me acompanhes.
– Quero saber o que se passa – ela não se afastou dele.
– Telefonou-me a mim, não a ti.
– Eu sou da família tanto como tu, Dante.
Sem dúvida, ouvira a conversa que tivera com o seu avô. Dante continuou a andar sem dizer nada. Entraram na villa e dirigiram-se para o pátio central, um ponto de reunião que ligava as diferentes alas da casa e conduzia ao pátio dianteiro.
– Ontem à tarde veio um homem – irritada pelo seu silêncio, Lucia ofereceu-lhe alguma informação. – Não disse o seu nome. Trazia uma mala e teve uma reunião privada com o nonno. Quando partiu, o nonno parecia ainda mais doente. Estou preocupada com ele.
– Tenho a certeza de que fazes todos os possíveis por o animar, Lucia – disse ele secamente.
– Se soubesse qual é o problema…
– Eu não faço ideia.
– Não penses que sou idiota, Dante. Fazes sempre ideia – a mordacidade das palavras transformou-se num doce sussurro. – Só quero ajudar. Fosse o que fosse o que lhe disse aquele homem, devastou-o. É horrível vê-lo assim.
– Lamento ouvi-lo – Dante pensou que se tratava de uma notícia muito má, – mas não posso contar-te o que não sei, Lucia. Vais ter de esperar que o nonno decida contar-me o que se passa.
– Contas-me depois de falar com ele? – pressionou Lucia.
– Depende de se for confidencial ou não – ele encolheu os ombros.
– Sou eu quem cuida dele. Preciso de saber.
– O que estás a cuidar são dos teus interesses, Lucia – Dante olhou para a sua prima. O avô tinha uma enfermeira privada e um regimento de empregados. – Não finjas o contrário.
– És… És um… – Lucia fechou a boca.
Dante sabia que ela o odiava por a desmascarar, sempre o fizera, contudo, nunca se lançava abertamente a uma inimizade.
– Amo o nonno e ele ama-me a mim – afirmou com secura. – Não te esqueças disso, Dante.
A ameaça era vã, no entanto, certamente proporcionar-lhe-ia uma certa satisfação proferi-la. Tinham chegado ao pátio central e ela dirigiu-se para a sala principal, da qual conseguiria ver o que se passava no pátio, embora não conseguisse ouvir nada.
Dante continuou em frente e só parou para respirar fundo antes de sair para o pátio e anunciar a sua chegada. O avô descansava num divã cheio de almofadões, com a cabeça à sombra de um guarda-sol e o resto do corpo directamente exposto ao sol quente.
Levava um pijama de seda azul que marcava a sua magreza. Tinha os olhos fechados e as faces afundadas faziam com que as suas maçãs do rosto se destacassem demasiado e que o seu nariz orgulhoso parecesse demasiado grande. No entanto, ainda conservava um ar indómito no queixo protuberante. A sua pele estava bronzeada, certamente devido às muitas manhãs passadas naquela posição, e fazia com que o seu cabelo parecesse ainda mais branco.
A enfermeira estava sentada numa cadeira ao seu lado, preparada para atender qualquer necessidade. Lia um livro. Ao seu lado, sobre uma mesinha, havia uma bandeja com um jarro de sumo e uns copos. As flores proporcionavam uma agradável cascata de cor e a vista azul do mar criava um ambiente pacífico. No entanto, Dante sabia que a sensação de paz era fictícia. Alguma coisa estava mal e tinha de a resolver.
Os passos sobre o chão do terraço alertaram a enfermeira da sua presença e o avô abriu os olhos. A enfermeira levantou-se e Marco fez-lhe um gesto com a mão para que partisse, enquanto indicava a Dante que ocupasse a cadeira que deixara vazia. Só falou quando a enfermeira saiu e o seu neto ficou acomodado junto dele. Não era preciso nenhuma saudação e qualquer pergunta sobre a sua saúde era inaceitável, por isso Dante esperou em silêncio que o seu avô lhe contasse o que queria dizer-lhe.
– Ocultei-te muitas coisas, Dante. Coisas privadas. Pessoais. Dolorosas – um sorriso amargo reflectiu a reticência de Marco a confessar-se. – Mas chegou o momento de te contar tudo.
– Como queiras, nonno – disse Dante, a quem o evidente desgosto do seu avô não agradava nada.
– A tua avó, a única mulher que amei realmente – o habitualmente olhar brilhante de Marco ficou perdido, – a minha linda Isabella, morreu nesta villa.
A sua voz falhou pela emoção. Dante esperou que recuperasse, sentindo-se estranhamente sobressaltado perante tanto sentimento nunca expresso. A única coisa que sabia da sua avó era o que diziam as referências ocasionais nos jornais sobre uma morte por overdose. Acontecera antes de ele ter nascido e, quando perguntara sobre isso, o seu avô proibira-o de mencionar o assunto.
nonno
– É demasiado tarde para fazer as pazes – murmurou. – Mas deixou uma filha, Dante. Uma filha a quem chamou Isabella, pela sua mãe, e quero que vás à Austrália e que a tragas aqui – o olhar do avô adquiriu um brilho novo. – Quero que o faças, Dante, porque sei que farás todos os possíveis para que venha contigo. Tenho tão pouco tempo…
– É claro que o farei por ti, nonno. Sabes onde está?
– Em Sidney – Marco sorriu com ironia. – Até trabalha no Fórum veneziano que construímos lá. Não vai ser difícil encontrá-la – inclinou-se para diante e pegou numa pasta que repousava na mesinha junto da bandeja. – Aqui está toda a informação de que precisarás.
Estendeu-a a Dante.
– Isabella Rossini… – o nome surgiu da boca do avô com um tom profundo de desejo. – Traz-me a filha de Antonio, Dante. A minha Isabella teria desejado que o fizesses. Traz a nossa neta para casa…