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© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O príncipe e a empregada, n.º 1181 - dezembro 2017

Título original: The Prince’s Waitress Wife

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-399-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

– Olha para baixo, serve o almoço e, depois, vai-te embora. Não fiques mais tempo do que o necessário no camarote presidencial. Não converses com o príncipe e, sobretudo, não tentes seduzi-lo. O príncipe Casper tem muito má reputação com as mulheres e… Holly, estás a ouvir-me?

Ela assentiu.

– Sim – conseguiu dizer. – Estou a ouvir-te, Sylvia.

– O que disse?

– Disseste… – com o cérebro cansado devido à angústia e à falta de sono, Holly não recordava uma só palavra, – disseste-me que… Não sei, lamento muito.

– Pode saber-se o que se passa? Normalmente, és séria e diligente, foi por isso que te escolhi para este trabalho.

Séria e diligente.

Mais dois defeitos para acrescentar à lista de razões pelas quais Eddie a deixara.

– Não devia ter de te recordar que hoje é um dia muito importante para mim. Atender um membro de uma casa real no estádio Twickenham é algo que não fazemos todos os dias. É o Torneio das Seis Nações! O campeonato de râguebi mais importante do mundo. Se o fizermos bem, choverão contratos e mais trabalho para mim significa mais trabalho para ti. Mas tens de te concentrar, tens de o fazer bem.

Uma empregada de mesa alta e magra aproximou-se com uma bandeja cheia de copos vazios.

– Deixa-a em paz. O namorado acabou com ela ontem à noite e é um milagre que tenha conseguido vir trabalhar. Eu não me teria levantado da cama.

– O teu namorado acabou contigo? – perguntou Sylvia. – Isso é verdade, Holly? Porque te deixou?

Porque era séria e diligente. Porque o seu cabelo tinha a cor de um entardecer e não o de um girassol. Porque era dissimulada e inibida. Porque o seu rabo era demasiado grande…

Pensando na lista de razões, Holly sentiu uma onda de desespero.

– Eddie conseguiu o lugar de director de marketing e eu já não sou boa para a sua nova imagem.

No momento não chorara e sentia-se muito orgulhosa de si própria. Orgulhosa e um pouco surpreendida. Porque não chorara? Ela amava Eddie. Tinham planeado um futuro juntos…

– A partir de agora tem de receber clientes e jornalistas e… Enfim, agora tem um Porsche e precisa de uma mulher que fique bem com tudo isso – Holly encolheu os ombros para lhe tirar importância. – Eu sou um utilitário.

– Tu és demasiado boa para ele, isso é o que se passa – Nicky, uma empregada de mesa, fez um gesto com a mão e os copos da bandeja começaram a tremer. – É um cab…

– Nicky! – interrompeu-a Sylvia. – Por favor, recorda que tu és o rosto da empresa.

– Será melhor pagares-me umas injecções de botox para quando me aparecerem rugas por ter de atender esses idiotas. O ex-namorado de Holly e a loira que trouxe estão a beber champanhe como se ele se tivesse tornado director de marketing de uma das cem empresas mais importantes do país e não de uma empresa que vende comida para animais.

– Está com ele? – perguntou Holly. – Então, eu não posso ir lá. O camarote de Eddie fica ao lado do camarote presidencial e não quero que todos os seus colegas olhem para mim com cara de pena… Nem quero vê-lo com essa mulher! Não, recuso-me.

– O que tens de fazer é procurar outro namorado o mais depressa possível. O bom dos idiotas é que há milhares deles – Nicky pôs a bandeja nas mãos da sua chefe e segurou Holly pelo braço. – Respira fundo. Olha, isto é o que vamos fazer: vais entrar no camarote calmamente e vais beijar esse príncipe. Se tiveres de te apaixonar por algum idiota, pelo menos que seja rico. Além disso, a julgar pelo que dizem, o príncipe beija maravilhosamente. Vá lá, vamos. Um beijo com língua… Isso deixaria Eddie paralisado.

– O príncipe também ficaria paralisado – rindo-se apesar da sua tristeza, Holly afastou-se. – Não, esquece, uma rejeição por semana é mais do que suficiente. Se não sou suficientemente loira e suficientemente magra para o director de marketing da Pet Palace, não acho que um príncipe repare em mim.

– Porquê? – Nicky piscou-lhe o olho. – Desabotoa alguns botões, entra lá e começa a seduzi-lo. Eu fá-lo-ia.

– Felizmente, Holly não é como tu – Sylvia suspirou. – E não vai desabotoar nenhum botão! Além disso, não vos pago para seduzirem os clientes, o comportamento do príncipe Casper começa a ser escandaloso e recebi instruções rígidas do palácio: nada de empregadas de mesa bonitas. Ninguém pode distraí-lo. Especialmente as loiras. Foi por isso que te escolhi, Holly. Ruiva e com sardas, perfeita.

Ela franziu o sobrolho, tocando nos caracóis rebeldes submetidos por centenas de ganchos. Perfeita? Perfeita para passar despercebida, claro.

– Sylvia, não consigo fazê-lo. Hoje não, impossível. São todos bonitos, ricos e com sucesso – tudo o que ela não era. – Olha, vou levar isto para a cozinha – ela suspirou, pegando na bandeja. – Nicky pode atendê-los. Eu não conseguiria suportar que olhassem para mim como se…

Não fosse ninguém.

– Se fizeres o teu trabalho como deves fazê-lo, não olharão para ti – Sylvia tirou-lhe a bandeja com tal violência, que os copos estiveram prestes a cair ao chão. – Tu levarás a bandeja para a cozinha, Nicky. E tu, Holly, se queres conservar o teu emprego, farás o que te disse. E nada de tolices. Além disso, não acho que te interesse chamar a atenção do príncipe. Um homem da sua posição só estaria interessado numa rapariga como tu por uma razão e… – nesse momento, Sylvia viu outra das empregadas de mesa a esticar o pescoço para admirar os jogadores de râguebi que treinavam no campo. – Estás aqui para trabalhar, não para olhar para as pernas dos jogadores!

A sua chefe desapareceu para repreender a jovem, deixando-as a sós por um momento.

– Claro que estamos aqui para olhar para as pernas dos jogadores – murmurou Nicky. – Porque é que essa parva pensa que aceitámos o trabalho? Eu não sei nada sobre golos, mas esses rapazes são fantásticos. Ou seja, há homens e homens. E estes são homens, não sei se me entendes…

Holly nem entendia nem estava a ouvir

– A surpresa não é que Eddie me tenha deixado, mas que tenha saído comigo.

– Não digas isso. Não deixes que esse imbecil faça com que te sintas mal! – protestou Nicky. – E, por favor, não me digas que passaste a noite a chorar por ele.

– O curioso é que não. Não derramei uma única lágrima. Se calhar estou tão mal que nem sequer consigo chorar.

– Comeste chocolate?

– Sim, claro. Bom, biscoitos de chocolate. Isso conta?

– Depende de quantos tenhas comido. São precisos muitos biscoitos para conseguires o aumento necessário de chocolate.

– Comi dois.

– Dois biscoitos?

Holly corou.

– Dois pacotes. E depois odiei-me por isso. Mas, nesse momento, precisava.

– É normal.

– Eddie levou-me a jantar num restaurante para acabar o namoro. Suponho que o fez para evitar que começasse a chorar. Mas soube que se passava alguma coisa quando pediu aperitivos… Ele nunca pedia aperitivos.

– Oh, que típico – Nicky suspirou. – Na noite em que acaba contigo convida-te finalmente para comeres alguma coisa decente.

– Os aperitivos eram para ele, não para mim – Holly abanou a cabeça. – De qualquer forma, eu não consigo comer à frente de Eddie.

– O quê?

– Olha-me de uma maneira… Não sei, faz-me sentir como se não soubesse mastigar. Disse-me que tínhamos acabado entre o peixe grelhado e a sobremesa. Depois, deixou-me em casa e eu esperei que chegassem as lágrimas, mas não chegaram. Não conseguia chorar.

– Não me surpreende. Certamente, tinhas demasiada fome para teres energia – replicou Nicky, brincalhona. – Mas o facto de teres biscoitos de chocolate é bom sinal.

– Diz isso à minha saia. Porque é que Sylvia insiste que usemos umas roupas tão justas? – suspirando, Holly passou uma mão pela saia preta. – É como se usasse um espartilho. E é demasiado curta.

– Estás muito sexy, não te preocupes. E comer chocolate é a primeira fase no processo de cura. O próximo é vender a aliança.

– Ia devolver-lha.

– Devolver-lha? Tu estás louca? – os copos vazios voltaram a tremer. – Vende-a. E compra uns sapatos muito caros. Assim terás uma lembrança dele. E da próxima vez, escolhe sexo sem emoção.

Holly sorriu, demasiado envergonhada para confessar que, na verdade, nunca fora para a cama com Eddie. Esse, é claro, fora um dos problemas da sua relação. Ele acusava-a de ser uma dissimulada.

Seria mais desinibida se o seu rabo fosse mais pequeno?

Provavelmente, mas nunca o descobriria. Estava sempre a jurar que ia começar a fazer dieta, mas não comer deixava-a de mau humor.

E era por isso que o uniforme ficava demasiado justo.

A esse passo, morreria virgem.

Deprimida, Holly olhou em direcção ao camarote presidencial.

– A sério, não consigo fazê-lo.

– Vale a pena para ver o príncipe perverso em carne e osso.

– Nem sempre foi perverso. Uma vez esteve muito apaixonado por uma modelo italiana – explicou Holly, momentaneamente distraída dos seus problemas. – Era um casal de cinema, mas, há oito anos, ela morreu juntamente com o seu irmão durante uma avalanche. Foi muito triste. O príncipe perdeu a pessoa que amava e não me surpreende que depois disso se tenha tornado um pouco… Enfim, desenfreado. Certamente, precisará que alguém o ame a sério.

Nicky sorriu.

– Então, podes amá-lo. E não te esqueças do meu provérbio preferido.

– Qual?

– Quem anda à chuva…

– Molha-se – acabou Holly por ela.

 

 

Casper entrou no camarote presidencial e olhou para o estádio impressionante através de uma parede inteiramente de vidro. Oitenta e duas mil pessoas estavam a ocupar os seus lugares a pouco e pouco para presenciarem a esperada final do prestigiado Torneio das Seis Nações.

Era um dia gelado de Fevereiro e os seus acompanhantes não paravam de se queixar do Inverno inglês.

Casper nem percebeu.

Ele estava habituado ao frio.

Passara oito longos anos a sentir frio.

Emilio, o seu chefe de segurança, ofereceu-lhe um telemóvel.

– Savannah, Alteza…

Casper encolheu os ombros, sem sequer se virar.

– Outro coração partido – a loira que estava ao seu lado deu uma gargalhada. – És frio como o gelo, Casper. Rico e bonito, mas totalmente inacessível. Porque vais acabar com ela? Está louca por ti.

– É por isso que vou acabar – Casper continuava a olhar para os jogadores que faziam o aquecimento no campo.

– Se acabas com a mulher mais bonita do mundo, que esperança há para as outras?

Nenhuma esperança.

Nenhuma esperança para elas nem para ele. Era tudo um jogo, pensava Casper. Um jogo a que estava farto de jogar.

O desporto era uma das suas poucas distracções, mas antes de o jogo começar tinha de suportar os gestos de hospitalidade.

Duas longas horas de mulheres esperançadas e conversa amável.

Duas longas horas sem sentir nada.

O seu rosto apareceu no ecrã gigante do estádio e observou-se com curiosidade, surpreendido com o seu aspecto relaxado. Algumas mulheres começaram a gritar e Casper sorriu, como se esperava dele, perguntando-se se alguma delas estaria disposta a subir para o entreter um pouco.

Não importava qual.

Desde que não esperassem nada dele.

Depois olhou para trás, para a zona da sala de jantar do camarote presidencial, onde estavam a servir o almoço. Uma empregada de mesa excepcionalmente bonita verificava se não faltava nada na sua mesa, recitando em voz baixa o que havia nela.

Casper viu que levava uma mão à boca. Depois, viu-a respirar agitadamente e olhar para o tecto… Um comportamento estranho para alguém que estava prestes a servir o almoço.

E, então, percebeu que a rapariga fazia todos os possíveis para não chorar.

Era uma parva, pensou, por ter emoções tão profundas.

Claro que, não era verdade que ele também fora assim com vinte anos, quando a vida lhe parecia cheia de oportunidades?

Mas mais tarde aprendera uma lição mais útil do que todas as lições que aprendera enquanto estudara Direito, Economia ou História Internacional.

Aprendera que as emoções eram a maior fraqueza de um homem e que podiam destrui-lo de maneira tão eficaz como a bala de um assassino.

De modo que, sem piedade, escondera para sempre as suas, protegendo-se sob camadas de amargura. Enterrara as suas emoções tão profundamente, que já não conseguiria encontrá-las, mesmo que quisesse.

E não queria fazê-lo.

 

 

Sem olhar directamente para ninguém, Holly pôs um bolo de framboesa à frente do príncipe. O faqueiro de prata e os copos de cristal brilhavam sobre o mais fino linho branco, mas mal reparava nisso. Servira todo o almoço como um robô, sem deixar de pensar em Eddie, que estava a entreter a sua substituta num dos camarotes.

Não vira a rapariga, mas tinha a certeza de que era loira e bonita. Não seria o tipo de pessoa cujo melhor amigo, num momento de crise, era um pacote de biscoitos de chocolate.

Teria estudos superiores? Seria inteligente?

De repente, as lágrimas toldaram a sua visão e pestanejou violentamente para as conter. Ia começar a chorar. Ali, à frente do príncipe. Ia ser o momento mais humilhante da sua vida…

Tentando controlar-se, Holly concentrou-se nas sobremesas que estava a servir.

Nicky tinha razão. Devia ter ficado na cama, escondida debaixo da colcha, até se ter recuperado o suficiente. Mas precisava daquele trabalho.

A gargalhada de alguém do grupo intensificou a sua sensação de solidão, de isolamento. E, depois de deixar o último prato de bolo sobre a mesa, recuou, horrorizada ao sentir que uma lágrima caía pela sua face.

Oh, não, por favor, ali não.

O instinto dizia-lhe para se virar, mas o protocolo impedia-a de se ir embora sem mais nem menos, de modo que ficou a um metro da mesa, olhando para o tapete com o seu desenho de flores e consolando-se ao pensar que ninguém estava a olhar para ela.

As pessoas nunca reparavam nela. Era a mulher invisível, a mão que servia o champanhe ou os olhos que viam um copo vazio.

– Toma – uma mão masculina ofereceu-lhe um lenço. – Assoa o nariz.

Deixando escapar um gemido de angústia, Holly encontrou uns olhos tão escuros como a noite no mais profundo do Inverno frio.

E aconteceu uma coisa estranha.

O tempo parou.

As lágrimas não continuaram a cair pelo seu rosto e o seu coração parou.

Era como se o seu corpo e a sua mente estivessem separados e, por um instante, esqueceu que estava prestes a fazer figura mais ridícula da sua vida. Esqueceu-se de Eddie e da loira. Até se esqueceu do príncipe e do seu séquito.

A única coisa que havia no mundo era aquele homem.

Mas aquele homem, descobriu ao levantar o olhar, era o príncipe, um homem incrivelmente atraente. O seu rosto aristocrático mostrava uma perfeita composição de traços masculinos.

O olhar escuro fixou-se na sua boca e Holly sentiu um formigueiro nos lábios enquanto o seu coração acelerava como se quisesse sair-lhe do peito.

Esses batimentos desenfreados foram a chamada de atenção de que precisava.

– Alteza…

Tinha de fazer uma reverência? Estava tão hipnotizada por aquele homem impossivelmente bonito que se esqueceu do protocolo. O que devia fazer?

Era tão injusto… Da única vez que realmente queria ser invisível, alguém reparara nela.

Precisamente o príncipe Casper de Santallia.

– Respira – replicou ele. – Devagar.