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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2016 Anne Mather

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Tentação proibida, n.º 1728 - outubro 2017

Título original: A Forbidden Temptation

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-662-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Epílogo

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Capítulo 1

 

Quando Jack entrou em casa, o telefone estava a tocar.

Como sabia quem deveria ser, pensou não atender. Fazia três dias que a cunhada tinha telefonado. Debra não costumava esquecê-lo por muito tempo.

Mas ela era – fora – irmã de Lisa, e preocupava-se com ele. Não que fosse preciso, pensou, resignado, porque estava a safar-se bem sozinho.

Jack pôs o saco com o pão ainda quentinho em cima do balcão e atendeu o telefone da cozinha.

– Connolly. – Estava a torcer para que fosse engano, mas ouviu a voz de Debra Carrick.

– Por que insistes em não atender o telemóvel? – disse ela, irritada. – Ontem, liguei uma vez e, hoje, duas. Mas não atendeste.

– Bom dia para ti também – retorquiu Jack secamente. – E por que devo andar sempre com o telemóvel? Duvido que tenhas algo urgente para me dizeres.

– Como sabes? – Debra mostrou-se ofendida e Jack conteve um gemido. – E se tivesses tido um acidente? E se tivesses caído do teu maldito barco? Nesse caso, irias querer ter algum meio de comunicação.

– Se eu caísse do barco, o telemóvel não iria funcionar – disse ele num tom conciliatório, mas ouviu-a soprar.

– Tens sempre resposta para tudo, não é, Jack? Quando voltas para casa? A tua mãe está preocupada contigo.

Jack admitiu que deveria ser verdade, mas os seus pais e irmãos não lhe fariam aquele tipo de pergunta. Sabiam que ele precisava de afastar-se da família, e a casa que tinha encontrado na costa da Northumberland era exatamente o lugar onde queria estar.

– A minha casa é aqui – disse ele, lançando um olhar orgulhoso para a enorme cozinha rústica.

Quando a comprou, a casa estava em estado precário. Mas, depois de alguns meses de obras, a maior parte feitas por ele mesmo, o restauro ficara completo.

Lindisfarne House tornara-se um lar confortável e acolhedor. O refúgio ideal que o ajudaria a resolver o que fazer com o resto da sua vida.

– Deves estar a brincar! Jack, és um arquiteto bem-sucedido. Só porque herdaste algum dinheiro, não quer dizer que fiques a vagar sem rumo por algum canto esquecido da Inglaterra!

– Rothburn não é um canto esquecido da Inglaterra – protestou Jack amavelmente. – Não é mais remoto que Kilpheny… – Ele suspirou. – Eu tinha de sair da Irlanda, Debra. Pensava que percebias.

– Eu percebo… acho que sim. Creio que a morte da tua avó foi a última gota. Mas a tua família e os teus amigos estão aqui. Sentimos falta de ti.

– Sim, eu sei. – Jack sentiu que estava a perder a paciência. – Ouve, tenho de desligar, Debs. – A mentira levou-o a fazer um esgar. – Está alguém a bater à porta.

Assim que desligou, apoiou as mãos na bancada de granito e respirou fundo, pensando que Debra não tinha culpa, mas, sempre que ouvia a voz dela, lembrava-se de Lisa.

– Ela está apaixonada por ti.

A voz gozona interrompeu as reflexões de Jack. Ele ergueu a cabeça e viu Lisa sentada do outro lado da bancada, examinando as unhas. Vestia as calças capri e a blusa de seda que usava da última vez que a tinha visto. Uma sandália de salto alto estava pendurada no seu pé direito.

Jack fechou momentaneamente os olhos e endireitou-se.

– Tu não sabes nada disso. – disse ele.

– Ah, sei sim. – afirmou ela. – Debs está apaixonada por ti, desde que te levei a conheceres o papá.

Jack virou-se, agarrou a baguete comprada na padaria da aldeia, ligou a cafeteira e tirou a manteiga do frigorífico. Cortou uma fatia generosa de pão, espalhou uma grossa camada de manteiga sobre a mesma e forçou-se a comer.

– Vais voltar para a Irlanda? – perguntou Lisa.

Apesar de se desprezar por responder, Jack voltou-se para a figura etérea sentada na sua cozinha que, como ele bem sabia, poderia desaparecer a qualquer momento.

– Que diferença te faz? – Ele tirou uma caneca do armário e serviu-se de café. – Também não gosta de Northumberland?

– Eu só quero que sejas feliz – disse Lisa, esticando os dedos como ele a vira fazer centenas de vezes, depois de aplicar o verniz nas unhas. – É por isso que estou aqui.

– A sério?

Jack estava cético. Na sua opinião, ela estava a fazer de tudo para que o considerassem louco. Afinal, ele estava a falar com uma pessoa morta. Quão louco era isso?

Ele sentiu um sopro de ar passar pelo seu rosto e percebeu que ela tinha desaparecido sem deixar rasto, nem um traço do perfume que costumava usar. Nada que servisse para provar que ele não tinha enlouquecido, como às vezes suspeitava.

No início, pensou que estava a ter alucinações. Foi consultar um médico, em Wicklow, e este encaminhou-o para um psiquiatra, em Dublin.

O psiquiatra concluiu que aquela era a sua maneira de lidar com o luto e, como ninguém mais via Lisa, Jack acreditou que ele tinha razão.

Mas as aparições tinham continuado, às vezes com intervalos de dias ou de semanas, e ele habituou-se tanto a elas, que deixou de preocupar-se.

Além disso, nunca se sentira ameaçado por Lisa. Pelo contrário: ela parecia tão imprevisível e caprichosa quanto fora em vida.

Jack saiu da cozinha levando o café, passou pelo átrio e entrou numa enorme sala ensolarada, com teto alto, móveis de carvalho escuro e couro, paredes texturizadas, que contrastavam com as vigas acima da sua cabeça, e enormes janelas que davam para a costa e para as águas azul-acinzentadas do Mar do Norte.

Sentou-se numa cadeira de baloiço à frente de uma das janelas e apoiou os pés no batente. Ainda não eram 9h e tinha o dia todo à sua frente, sem nenhum plano.

Exatamente como ele gostava.

Enquanto bebia o café, Jack pensou em embarcar no Osprey e velejar, mas sabia que manejar o ketch de 42 pés exigiria toda a sua energia. Mesmo no final de maio, o Mar do Norte não gostava de deixar sobreviventes, e ele não estava disposto a tanto esforço. Poderia passar algum tempo no veleiro, fazer algumas reparações e conversar com os pescadores que atracavam na enseada.

Não que precisasse de companhia. Apesar da dor que sofrera depois do acidente que vitimara a sua esposa, não tinha ideias suicidas. Além disso, já se tinham passado quase dois anos desde que Lisa tinha morrido. Já deveria ter superado a perda.

E, praticamente, já o tinha feito. A não ser quando ela aparecia para atormentá-lo.

A primeira vez que ela apareceu fora mais ou menos um mês depois do funeral. Ele foi visitar o seu túmulo no cemitério de Kilpheny e, de repente, percebeu que ela estava ao seu lado.

Naquele dia, ela arrancou-o da sua apatia e ele chegou a acreditar que tinham enterrado outra pessoa por engano.

Mas Lisa desiludiu-o de imediato. De qualquer maneira, apesar do seu pequeno carro desportivo ter-se incendiado ao colidir com um camião de combustível, os exames dentários e de ADN tinham provado que os restos encontrados no acidente pertenciam à sua esposa.

Apenas sobrara intacta uma sandália entre os destroços. Provavelmente por isso, quando ela aparecia, estava sempre a usar apenas um sapato.

Jack refletiu sobre essa anomalia. Se Lisa aparecia intacta, não poderia estar a calçar também a outra sandália?

Mas isso não importava. Depois daquele primeiro aparecimento chocante, ele aprendeu a não discutir detalhes prosaicos com ela. Lisa tinha os seus propósitos e nunca se desviava deles. Gostava de provocá-lo, assim como fez durante os três anos de casamento. Qualquer outra coisa parecia estar além do seu interesse.

Jack acabou de beber o café e levantou-se. Não podia passar o resto da vida a pensar no que poderia ter sido. Ou, como dizia Debra, «a vagar sem rumo».

Ou a falar com um fantasma, concluiu. Talvez devesse perguntar-se se não estaria louco.

Oito horas mais tarde, sentia-se consideravelmente menos deprimido. Passara a manhã a fazer reparações e, como a tarde estava linda e soprava uma brisa agradável, levou o barco para o mar.

Quando voltou a Lindisfarne House, Jack já tinha esquecido a crise. Trazia um saco com legumes e outro com mariscos comprados a um pescador. Pretendia fazer uma salada de lagosta para o jantar.

Estava encostado ao frigorífico, a beber uma cerveja, quando ouviu o ruído de pneus a travar. Raios, pensou, deixando a garrafa na bancada. A última companhia que queria era aquela.

Não gostava de visitas, principalmente das que estacionavam à sua porta. Só a sua família sabia onde ele morava. E tinha pedido a todos que não dessem a sua morada a ninguém.

Quando a campainha tocou, Jack resignou-se e foi atender.

– Porque não abres logo a porta?

Ele voltou-se bruscamente e viu Lisa sentada em cima da consola em formato de meia-lua do átrio. Pela primeira vez, ela parecia animada.

– Vou abrir – disse Jack em voz baixa, esperando que não o ouvissem do lado de fora. – Que te importa? Sou eu quem vai aturar um convidado indesejado.

Dois – corrigiu Lisa.

– Quem são eles?

– Vais descobrir – disse ela, desaparecendo.

Jack não sabia o que pensar. Lisa raramente aparecia duas vezes no mesmo dia. Talvez ele devesse ficar alerta com a presença de visitantes. Afinal, estava sozinho em casa.

Ou quase.

Jack abriu a porta e deu de caras com um homem que não via há muito. Ele e Sean Nesbitt cresceram juntos, estudaram na mesma universidade e, no último ano do curso, partilharam um apartamento.

Tinham-se licenciado no Trinity College, em Dublin. Jack em Arquitetura e Sean em Ciências da Computação. Assim que saíram da universidade, cada um seguiu o seu caminho, encontrando-se raramente, quando visitavam os pais em Kilpheny.

Depois de Jack casar com Lisa, perdeu o contato com o amigo. Sean era a última pessoa que esperava ver.

– Recebes visitas? – perguntou Sean com um sorriso.

– Claro que sim – disse Jack, apertando a mão que Sean lhe estendia e recuando automaticamente. – Mas… O que estás aqui a fazer? Como me encontraste?

– Eu sou especialista em computação, lembras-te? – atirou Sean, olhando para o Mercedes prateado estacionado à frente da porta. – Mas não estou sozinho. A minha namorada veio comigo. – Sean parecia desculpar-se. – Podemos entrar os dois?

Jack encolheu os ombros. Lisa estava certa. Havia mais de um visitante. Mas…

– Claro – respondeu ele com relutância, olhando por cima do ombro. Mas Lisa desaparecera.

– Ótimo!

Só quando Sean voltou para o carro é que Jack percebeu que não tinha trocado de roupa depois de voltar da marina. Tinha as calças sujas de tinta e o seu pulôver preto já vira melhores dias.

Eles que o aceitassem como estava, pensou ele, resignado. Não esperava visitas.

Sean foi abrir a porta do carro à rapariga, mas ela foi mais rápida e saiu antes. De onde estava, Jack só conseguia ver que ela era esguia e vestia jeans e t-shirt. Como calçava botas de saltos altos, atingia quase a altura mediana de Sean. O seu cabelo avermelhado estava preso num rabo de cavalo.

Jack reparou que ela demorava a olhar para ele e imaginou se, como ele, estaria infeliz com a visita. Mas Sean era um velho amigo e não podia dececioná-lo.

Sean tentou abraçar a jovem pela cintura e Jack sentiu uma pontada de inveja. Há quanto tempo não tinha uma mulher nos seus braços?

Mas, para sua surpresa, a rapariga esquivou-se a Sean e caminhou na direção dele com uma determinação que contradizia a sua expressão.

Problemas no paraíso, pensou Jack com ironia. Acertou. Ela não queria estar ali.

E, então, Jack conteve a respiração como se lhe tivessem golpeado o peito. A incontrolável onda de calor que atingiu a parte inferior do seu corpo deixou-o perplexo.

A reação foi totalmente inesperada e inconveniente. Ele não era dado à luxúria, mas, naquele momento, o que sentia era desejo. Raios, ela era namorada de Sean. E só porque, aparentemente, havia um desentendimento entre os dois, ele não tinha o direito de querer ocupar o lugar do amigo.

Mas ela era linda. Seios altos e arredondados, mamilos despontando sob o algodão da t-shirt. Coxas bem torneadas e o tipo de pernas que pareciam nunca terminar.

Jack ficou grato por estar a usar as calças largas. Ficou com a sensação de que tinha muito a esconder. Começou a suar, só de pensar que Sean poderia notar.

Teria sido esse o motivo pelo qual Lisa insistira que ele abrisse a porta? Aquele não era exatamente o tipo de brincadeira de mau gosto que ela faria? Mesmo depois de morta, adorava fazê-lo cair nas suas armadilhas…

A namorada de Sean era muito diferente de Lisa, que era pequenina, loura, cheia de vivacidade e… sim, provocante. A julgar pelo olhar que ela lhe lançava, nada tinha de provocante. Fitava-o friamente… com indiferença? Desprezo? Como se soubesse exatamente o que ele estava a pensar.

Jack afastou-se da porta para deixar entrar as visitas. Sean fez as apresentações.

– Grace Spencer, Jack Connolly – disse Sean alegremente. E, apesar do olhar dos seus incríveis olhos verdes, Jack foi obrigado a apertar a mão que ela estendia com relutância.

– Olá – disse Jack, sentindo os dedos frios tocarem as palmas suadas da sua mão.

– Olá – respondeu ela friamente. – Espero que não se importe, mas Sean queria que eu lhe mostrasse o caminho até aqui.

– Claro que não. – Jack franziu a testa. Detetou um leve sotaque local. Se ela era da região, como conheceu o Sean? – Conhece esta zona, Grace?

– Eu nasci aqui… – Começou ela a dizer, mas Sean interrompeu-a.

– Os pais dela são proprietários do pub da terra. A Grace saiu daqui quando foi para a faculdade e, desde então, mora em Londres.

Jack ligou os dados. Pelo que sabia, Sean trabalhava em Londres.

– Mas eu deixei Londres – disse Grace, lançando um olhar truculento a Sean. – A minha mãe está doente e voltei para Rothburn para ficar com ela. Sean ainda mora em Londres e está apenas de passagem, não é, Sean?

A animosidade era visível. Jack arregalou os olhos e a sua reserva em relação à visita aumentou. Não queria fazer parte do que estava a acontecer. Evidentemente, os dois não formavam o casal feliz que Sean queria que parecessem.

– Vamos ver – disse Sean, sorrindo para Jack. – Aposto que queres saber como te encontrei.

– Tens razão.

– Quando o pai da Grace me disse que um irlandês tinha comprado esta casa velha, não imaginei que fosses tu. Mas, quando ouvi mencionarem o teu nome, juntei dois mais dois. O mundo é mesmo pequeno, não achas?

– É, não é? – Jack inclinou a cabeça. Não escondera a sua identidade, mas, no local, ninguém o conhecia ou sabia algo sobre Lisa. Não esperava que Sean Nesbitt fosse aparecer. – Então… – Jack tentou mostrar-se interessado, – vens ver a Grace e os seus pais todos os fins de semana?

– Venho…

– Não!

Os dois falaram ao mesmo tempo e Jack reparou que Grace corara.

– Eu venho sempre que posso – emendou Sean, com um olhar irritado. – Ora, vamos, Grace, sabes que os teus pais gostam de receber-me. Só porque estás a sentir-te abandonada, não precisas de deixar o Jack embaraçado.