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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Harlequin Books S.A.

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um amor de Hollywood, n.º 53 - Maio 2016

Título original: His Larkville Cinderella

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicadacom a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estãoregistadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8312-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Malibu, na Califórnia, era muito longe do rancho da sua família em Larkville, no Texas.

A tensão acumulava-se nos ombros de Megan Calhoun. Se não estivesse sob tanta pressão, teria ficado impressionada com a urbanização exclusiva. Saiu do carro depois de estacionar no caminho de entrada de uma mansão situada à frente do mar. A villa espantosa de inspiração mediterrânica pertencia a um produtor de cinema galardoado.

Uma brisa sacudia as folhas das palmeiras e umas nuvens cinzentas faziam com que parecesse mais inverno do que primavera, mas a temperatura era quente. Ou talvez estivesse a trabalhar tanto que não tinha tempo para sentir frio. Trabalhar para uma estilista de cinema de Hollywood devia ter sido um sonho tornado realidade, mas, até àquele momento, a primeira semana de trabalho tivera apenas dias de dezasseis horas cheios de deslocamentos de carro, transportes de coisas e recados para os outros. E parecia que o trabalho seria o mesmo quando a produção começasse na semana seguinte. Se as coisas eram assim antes da rodagem, não queria imaginar como seria trabalhar num cenário de cinema real.

Guardou as chaves do carro no bolso do casaco e tirou a pasta grande de pele do banco traseiro. Eva Redding, a mulher que tinha o seu futuro profissional nas mãos, saíra do estúdio naquela manhã com a pasta errada e isso atrasara uma reunião com alguns peixes graúdos da indústria de Hollywood. Agora, estavam todos à espera que Megan chegasse com os desenhos corretos para poderem continuar a discutir sobre o guarda-roupa e as rodagens. Enquanto corria para a entrada da villa, os ténis confortáveis pareciam blocos de cimento a rodear-lhe os pés, mas não permitiria que o facto de conhecer o produtor e o diretor a deixasse nervosa. O fracasso não era uma opção. Não voltaria a Larkville. Talvez a sua família estivesse lá, mas não havia mais ninguém. Nem sequer Rob Hollis, o seu melhor amigo desde que conseguia recordar, que aceitara um trabalho como engenheiro em Austin, no Texas. Agarrou a pasta com força e chegou a um alpendre grande e ladrilhado. Num canto, uma planta grande erguia-se quase por cima dela e uma parreira com flores fúcsias perfumava o ar. Uma estante de ferro forjado segurava vasos de terracota, cheios de plantas diferentes com flores.

E se o departamento de guarda-roupa não fosse o seu lugar? Sentiu um nó no estômago enquanto os nervos ameaçavam, novamente, traí-la. Não. Tinha um trabalho para fazer. O pai sempre lhe dissera que, acontecesse o que acontecesse, devia fazer o seu trabalho da melhor maneira possível.

Sentiu uma pontada de dor. Oxalá o pai estivesse ali para lhe dar essa injeção de confiança de que tanto precisava. Respirou fundo para se acalmar e tocou à campainha. Enquanto umas badaladas melódicas e de tons diferentes ecoavam pela villa, recordou as instruções que a supervisora lhe dera.

«Entrega a pasta a Eva e saí de lá sem dizer mais nada.»

Isso não seria um problema. Megan sabia estar calada e passar desapercebida, de facto, passara quase toda a vida a fazê-lo. Nunca encaixara no rancho e o pai parecia ter sido o único que a entendera e que se preocupara com ela, mas… já não estava lá. Sentiu um nó na garganta. O pai, o grande Clay Calhoun, morrera de pneumonia em outubro, há sete meses e, agora, estava sozinha em muitos sentidos. A porta de madeira abriu-se.

– Já estava na hora! – Eva tirou-lhe a pasta das mãos.

A mulher, de quarenta e poucos anos, tinha uma pele cor de marfim perfeita e um corte de cabelo muito francês e preto. Usava uma camisola, calças e sapatos de salto pretos e joalharia de inspiração africana que dava um toque vibrante e fresco à roupa estilosa e elegante.

– Porque demoraste tanto?

No seu segundo dia em Hollywood, já aprendera a única resposta aceitável para um atraso:

– O trânsito.

O olhar duro da mulher percorreu-a de cima a baixo e os seus lábios vermelhos franziram-se com um ar de desaprovação.

– Estás encurvada. Endireita-te.

E Megan fê-lo.

– É assim que se vestem no rancho?

Uma t-shirt cor-de-rosa simples, umas calças de ganga desgastadas e uns ténis confortáveis não conseguiriam incluir Megan na lista das melhores vestidas de Hollywood. De todos os modos, suspeitava que, independentemente do que vestisse, nunca satisfaria as expectativas de Eva.

– Sim.

A palavra «senhora» ficou na ponta da língua. Usara-a na segunda-feira, no primeiro dia de trabalho, mas já não voltaria a cometer esse erro.

– Imagino que não terás mais roupa no carro…

Megan crescera num rancho texano no meio do nada e licenciara-se há menos de duas semanas. Toda a sua roupa era informal, à exceção de algumas das suas criações, embora não tivesse a coragem nem a oportunidade de as usar fora do seu quarto. Não depois de terem gozado com ela no primeiro ano do secundário por causa do seu modo de vestir. Depois daquilo, adotara a forma de vestir de Rob e dos amigos.

– Não.

– Então, vamos – Eva indicou-lhe que passasse. – Estão todos no terraço.

O pânico percorreu-a, desde o cabelo castanho até às pontas dos ténis. Supostamente, não devia dizer nada e também não devia ficar ali.

– Eu… eh… estão à minha espera no estúdio.

– Já não.

Megan sentiu um nó ainda maior no estômago.

– O meu carro…

– Não vai a lado nenhum sem ti. Vamos – Megan entrou na villa e a porta fechou-se atrás dela de repente.

Sentiu pele de galinha. Sentia-se presa, embora não pudesse dizer que se encontrava numa mansão gótica e escura. Aquela mansão era luminosa, com janelas grandes e um chão reluzente. O ar cheirava a fresco e a flores com um toque de cítricos. A temperatura era mais fresca do que lá fora. Ar condicionado…. Isso explicava a pele de galinha. Ao olhar para o vestíbulo, teve de cerrar os dentes para conter um grito de espanto. À direita, um lustre elaborado de ferro forjado pendia sobre uma mesa de sala de jantar para vinte pessoas. O salão ficava à esquerda e estava cheio de mobiliário muito caro e bonitas obras de arte com umas janelas grandes que mostravam uma vista linda do oceano. Eva atravessou o chão de madeira resplandecente a uma velocidade surpreendente, tendo em conta os sapatos de salto que usava.

– Não te entretenhas.

Megan acelerou o passo. Não sabia o que estava a acontecer, mas desde que não fosse ilegal ou imoral, faria o que lhe pedissem. Faria qualquer coisa para conseguir um emprego fixo.

Eva olhou para trás.

– Não fales a menos que alguém se dirija diretamente a ti.

Megan assentiu. Parecia-lhe fantástico. Seguiu a mulher até ao outro lado de umas portas de vidro para sair para um terraço gigante com vista para o oceano. Uma brisa trazia o cheiro salgado do mar e o céu parecia uma tela cinzenta no horizonte. O terraço prolongava-se para a parte traseira da casa e estava decorado de um modo tão encantador como o interior. Havia cadeiras e espreguiçadeiras com almofadas de aspeto muito confortável, um churrasco de tijolo e um balcão de bar com bancos. Até havia um jacúzi!

Dois homens que não conhecia estavam sentados a uma mesa. Ambos usavam camisas de manga curta de cores claras, calças e óculos de sol escuros, apesar de o céu estar totalmente coberto. Junto do corrimão havia outro homem e uma mulher, ambos com óculos de sol. Reconheceu-os. Eram do departamento de guarda-roupa. O homem parecia profissional com as suas calças de fato pretas, a camisa branca de manga comprida e a gravata de seda às cores. O corte e a linha da saia cor de salmão da mulher e o seu casaco faziam-na pensar numa estilista de Milão sobre a qual fizera um trabalho na faculdade.

Ninguém se apercebeu da sua presença e Megan não se ofendeu nem se surpreendeu. «Invisível» podia ser o seu segundo nome. A maioria das pessoas chamava-lhe «eh, tu» ou «a nova assistente estagiária» desde que chegara ao estúdio na segunda-feira de manhã. Em poucas palavras, era uma pessoa fácil de esquecer. Nada de especial, como a falecida mãe não parara de lhe recordar, enquanto os três irmãos, Holt, Nate e Jess, definiam esse termo. Megan questionou-se se os novos meios-irmãos, os gémeos Patterson, fruto do primeiro casamento do pai, eram mais parecidos com os irmãos do que com ela.

– Finalmente, tenho os desenhos – o tom de Eva fez com que parecesse que o atraso fora culpa de Megan. – Já podemos começar.

– Eh, tu! – exclamou um homem. – A rapariga da t-shirt cor-de-rosa.

Megan olhou para um dos homens que estavam sentados à mesa. Era bonito, com um estilo de cavalheiro distinto. A sua pele bronzeada e o seu cabelo clareado pelo sol fizeram-na pensar que devia passar muito tempo ao ar livre e supôs que seria o produtor e o dono da casa.

– Vai chamar Adam – pediu o homem.

Adam? Megan não sabia a quem se referia.

Eva riu-se.

– Megan é nova na cidade, Chas. É do Texas e a minha nova assistente estagiária. Um dos seus antigos professores é um grande amigo com bom olho para os talentos em bruto.

E destacou a palavra «bruto».

O homem e a mulher que se encontravam junto do corrimão olharam para Megan durante um segundo e, depois, retomaram a conversa. Megan tentou fingir que não importava, tal como fazia em Larkville.

Em Hollywood, não tinha escolha. Entrar naquele mundo consistia em ter contactos. Havia algumas pessoas que encontravam um bom emprego sozinhas, mas não era fácil. O professor Talbott assegurara-lhe aquele estágio, mas não havia nada garantido. Teria de demonstrar o seu valor porque, caso contrário, ver-se-ia novamente no rancho antes de se celebrar o festival anual do outono em outubro. A quem tentava enganar? Talvez estivesse em casa no dia Quatro de Julho ou, pior ainda, no fim de maio. Sentiu um grande peso sobre os ombros e fez o que pôde para não os deixar cair.

– Então, Texas, eh? – comentou o homem loiro a quem Eva chamara «Chas».

Megan assentiu e ele observou-a atentamente.

– Dallas ou Austin?

– Larkville.

– Nunca ouvi falar.

– Não perde nada a menos que goste de carrinhas, de cobóis e de cheiro a esterco de vaca.

O seu comentário despertou um sorriso amplo, destacado por uns dentes muito brancos.

– Parece a letra de uma canção country.

– Megan – começou Eva –, vai até à água e diz a Adam que está na hora de vir. Adam Noble, a nossa estrela. Certamente, até uma rapariga de uma pequena vila texana sabe quem é. Megan vira alguns dos seus filmes de ação e aventuras em que tinha sempre de tirar a camisa tantas vezes quantas fosse possível. Adam tinha um corpo atlético e imponente, fruto dos seus dias como quarterback na equipa da faculdade, e um rosto de beleza clássica. Além disso, tinha o hábito, ou talvez a afeição, de ter aventuras com as protagonistas. Ou, pelo menos, era o que diziam os tabloides. A maioria das mulheres diria que esse ator era lindo, mas ela preferia os homens que eram mais… inteligentes. Como o melhor amigo, Rob. O seu «homem perfeito», se é que existia. A única coisa que tinha de fazer era esperar até ele se aperceber disso. Ouviu-se um grasnido por cima da sua cabeça e levantou o olhar para o céu. Viu duas gaivotas que, com as suas asas brancas, quase se perdiam contra o céu nublado. Não se lembrava da última vez que vira pássaros desse tipo.

– Não temos todo o dia – queixou-se Eva.

Megan desceu pela escada do terraço para a praia e a gargalhada de Eva seguiu-a até à areia. Ardiam-lhe as faces. Parecia que a compaixão e a compreensão não existiam em Hollywood. Ninguém se importava que se sentisse como um peixe fora de água, incomodada e cansada. Só queriam que fizesse o trabalho e, se não conseguisse, outros dez estariam à espera para ocupar o seu lugar. Mas isso não aconteceria. Faria qualquer coisa para triunfar nesse negócio. De facto, não podia dizer que vira alguns dos desenhos do guarda-roupa senão os que estavam pendurados nas paredes ou nos blocos no estúdio, mas sabia como cada um dos empregados bebia o café ou o chá e o que pediam para almoçar e também sabia que «Cuspidora de Fogo», a alcunha de Eva, não era um exagero.

Os ténis afundaram-se na areia.

O estágio não era como imaginara. Passava o dia todo a fazer recados e a correr de um lado para o outro sem receber nada em troca, só experiência. Os estilistas iam sendo promovidos e ela tinha de começar de alguma forma, de modo que, fosse o que fosse que estava a fazer ali, era melhor do que estar em Larkville a esbanjar as suas habilidades para a costura a fazer arranjos de roupa na lavandaria mais próxima. Oxalá Rob tivesse querido que ela se mudasse para Austin em vez de a encorajar a aceitar aquele estágio…

Tropeçou em algumas algas. Sem dúvida, pareceria uma idiota, como de costume.

Havia algumas pessoas junto da água e, apesar do céu cinzento, as mulheres usavam umas tiras diminutas de tecido que deixavam ver os seus corpos bronzeados e tonificados. Megan nunca teria coragem para usar um biquíni assim, mesmo que estivesse mais calor e o céu estivesse mais claro. Os homens usavam fatos de banho e estavam sem t-shirt. Ali, abundavam os físicos musculados e uma coisa era certa: a praia era como um íman para os homens atraentes, embora ela continuasse a preferir Rob acima de todos, mesmo que fosse mais fraco e não tivesse tantos músculos. Era um rapaz que gostava de estar com ela, que estava sempre ao seu lado para lhe dar conselho, para lhe oferecer apoio e para sair para uma bebida. Homens assim eram difíceis de encontrar. Olhou para todos. Nenhum deles tinha o cabelo ondulado e despenteado típico de Adam Noble.

Onde podia estar? Reparou que estavam todos a olhar para a água. Um único surfista apanhou uma onda impressionante e executou um movimento estranho com a prancha, apesar de continuar de pé depois. As mulheres encorajaram-no. Outros aplaudiram. Um homem assobiou. Outra mulher suspirou, dizendo:

– Adam é perfeito!

Megan observou o surfista e não demorou a perceber que se tratava de Adam Noble, a fazer truques na prancha e a despertar expressões de espanto entre a multidão cativada. Não estava nada impressionada. Bom, está bem, tinha de o felicitar por ter feito as mulheres babar-se e os homens olhar para ele com inveja, mas Adam podia ter feito isso sem executar tantos movimentos arriscados. Aquele tipo tinha um papel protagonista num novo filme em que ela trabalharia, portanto, devia ter mais cuidado em vez de andar por aí a pôr-se em perigo e a arriscar a produção para brincar à frente dos seus fãs em cima da prancha. Que idiota!

Fazia-a pensar naqueles cobóis que arriscavam as suas vidas para estar oito segundos montados num touro chamado Diabo. Certamente, tinha mais músculos do que cérebro e, dentro daquela bonita cabeça, não havia nenhum neurónio.

Não era de estranhar que as protagonistas fossem para a cama com ele. Certamente, não conseguiam encontrar nada de que falar e pensariam que o sexo era um modo simples de preencher o tempo entre as cenas. Graças a Deus que estava a aproximar-se da margem, pois, quanto mais depressa pudesse levá-lo para a villa, mais depressa poderia voltar para o estúdio. Mesmo que fossem recados, tinha coisas melhores para fazer do que ficar à espera de um ator estúpido e presunçoso como Adam Noble.

 

 

Enquanto Adam se aproximava da margem com a prancha debaixo do braço, as ondas chocavam contra as suas pernas. Caíam-lhe gotas do cabelo e percorriam o seu fato de mergulho. Estava desejoso de que chegasse o verão para não ter de se proteger da água fria. Sorriu para a pequena multidão que o observava. Ser uma estrela significava ter de suportar os fãs, mas isso não o incomodava. Eram os fãs que pagavam para ver os seus filmes e, sem eles, ainda continuaria a ser um duplo e ainda voltaria a casa coberto de nódoas negras e feridas. Habituara-se à invasão da privacidade, exceto aos paparazzi. Esses abutres espreitavam por todo o lado com as suas máquinas fotográficas digitais, à espera de uma oportunidade de o apanhar a fazer algo estúpido. Tinha de estar sempre em guarda e fazer com que tudo parecesse natural, não uma pose.

Como fazer surfe.

Adam odiaria ver uma fotografia dele a cair, acompanhada por um título chocante a culpar o álcool, as drogas ou alguma mulher misteriosa pela sua queda. Os tabloides exageravam tudo e tiravam tudo de contexto. Contudo, embora agora quase tivesse caído, mantivera-se em pé. Mais uma vez. Adorava fazer surfe na prancha a que chamava Peixe, pois era muito leve e manejável. Havia poucas coisas no mundo que eram melhores do que correr riscos, quer fosse a fazer surfe ou a atuar para triunfar depois.

Ao chegar à areia, três mulheres evidenciaram os seios, que o biquíni mal conseguia cobrir, e encolheram as barrigas. Olhou para todas. A loira tinha um sorriso bonito, a morena tinha umas feições exóticas e a do cabelo ruivo piscou-lhe o olho. Uma coisa podia dizer: o seu trabalho não era mau. Porém, questionou-se se alguma dessas três mulheres usaria a expressão «ou seja» de duas em duas frases e se conseguiria manter uma conversa que durasse mais de cinco minutos. Os homens estenderam os braços para lhe apertar a mão. Outras mulheres cumprimentaram-no com a voz quase entrecortada, inclinaram a cabeça com sedução e tocaram-lhe no braço.

Continuou a avançar entre a multidão e a cumprimentar todas as pessoas. Muito bem, sobretudo, as mulheres. Ao fim e ao cabo, era um homem. Podia convidar algumas raparigas para a villa de Chas, mas duvidava que o produtor quisesse que a sua reunião se transformasse numa festa. Já se atrasara o suficiente pelo facto de os desenhos do guarda-roupa não estarem ali, portanto, o melhor era voltar para ver se já tinham chegado.

O seu olhar passou por um corpo tapado com um biquíni de estampado de zebra, digno da capa da Sports Illustrated e viu algo cor-de-rosa. Deteve-se tão bruscamente que quase se magoou. Em vez de uma pele suave e de um decote delicioso, viu uma t-shirt cor-de-rosa larga que escondia umas curvas femininas que teria adorado observar. Não havia vestígios de bronzeado, nem sequer falso.

Alérgica ao sol? Talvez fosse uma dessas raparigas vampiras. Parecia ter acabado de fazer vinte anos. Tinha os ombros afundados, como se tentasse esconder-se, embora talvez fosse apenas uma questão de má postura. Tinha o cabelo castanho-claro apanhado no topo da cabeça, com umas madeixas soltas a apontar para todo o lado. Os lábios sem batom estavam apertados numa fina linha, mas foram os olhos que chamaram a sua atenção.

t-shirt

Ela? Normalmente, tinha mais sorte, embora tivesse de admitir que a rapariga tinha uns olhos lindos. E, agora que reparava, percebeu que não era tão simplória como pensara ao princípio. Fazia-o pensar numa turista do Oeste ou numa mulher que estudava tecnologia e recitava fragmentos do Senhor dos Anéis sem hesitar. Seria muito engraçada para alguém que gostasse desse tipo de mulheres.

– Sim? Ela olhou para a areia, como se olhar para ele nos olhos a transformasse num bloco de pedra.

– A reunião está prestes a começar. Querem que volte a… eh, à casa.

Curioso, nunca teria imaginado que ela estava envolvida no negócio do cinema. Não parecia uma assistente pessoal, seria a sobrinha ou a filha de alguém? Talvez a empregada ou a ama das crianças.

– Pediram-te para vires buscar-me?

Quando assentiu, uma madeixa de cabelo soltou-se do gancho e umas ondas emolduraram o seu rosto. As maçãs altas do rosto, o bonito nariz reto e aqueles lábios carnudos eram muito atraentes. Contudo, não usava rímel, não tinha os olhos perfilados e nem sequer tinha batom. Estava habituado às mulheres que usavam muita maquilhagem e que chegavam ao extremo para ter o melhor aspeto possível. Aquela rapariga, no entanto, não parecia preocupar-se com o que as pessoas pensavam dela e isso era muito atraente.

– O dever chama-me, meninas – disse às raparigas em biquíni.

E, enquanto se afastavam com sorrisos prometedores, a rapariga que tinha à sua frente abanou a cabeça e essa atitude pareceu-lhe engraçada. Questionou-se o que teria de fazer para transformar aquela desaprovação em aceitação.

– Quem és? Uma assistente pessoal? – perguntou Adam.

Ela ergueu o queixo.

– Sou Megan Calhoun. Sou estagiária.

Claro! Portanto, era o degrau mais baixo da cadeia alimentar. Embora isso não explicasse o modo como se comportava. A atitude e o aspeto não a ajudariam a subir de escalão.

– Então, devíamos ir – queria arrancar-lhe um sorriso. – Não quereria ser o responsável por te meteres em confusões.

Nem um sorriso, embora a expressão da jovem relaxasse e os olhos parecessem iluminar-se com uma expressão de gratidão.

– Obrigada.

Era interessante como aquela rapariga mostrava cada emoção… Adam poderia divertir-se um pouco. E fá-lo-ia.

– De nada – passou-lhe a prancha de surfe. – Toma.

Ela respirou fundo e tentou segurar a prancha húmida com força.

– Quer que leve isto?

A indignação da sua voz fez com que ele tivesse de conter um sorriso. Não era uma Scarlet moderna, mas era o mais parecido que podia encontrar-se numa praia de Malibu.

– És estagiária.

– Do departamento de guarda-roupa – esclareceu.

Aquilo surpreendeu-o. Os empregados do guarda-roupa costumavam vestir-se muito bem. Não usavam as suas melhores roupas no set porque podiam sujar-se, mas, normalmente, vestiam-se com estilo. Megan vestia-se confortavelmente, mas sem estilo.

– Mesmo assim, és estagiária – Adam queria causar-lhe uma reação e o comentário seguinte bastaria. Sorriu com ironia. – E eu sou a estrela.