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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Diana Hamilton

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Sedutora inocente, n.º 949 - Agosto 2016

Título original: The Italian Millionaire’s Virgin Wife

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8820-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Andrea Pascali, amaldiçoando o dia em que a admirável Knox deixara de trabalhar para ele, reformando-se para ir viver com a sua irmã viúva em Kent, levantou a última folha de papel com impaciência, estudou-a durante um segundo e atirou-a para o lado, irritado.

– Não tem detalhes nenhuns! – descartou com secura, a boca sensual irritada, lançando um olhar de desagrado à sua amante actual.

Embora «actual» estivesse quase a transformar-se em passado. Trisha começava a mostrar-se demasiado exigente e absorvente, algo que ia decididamente contra as regras estabelecidas.

Na noite anterior, ao chegar da agência com a intenção de pensar no problema de como elaborar uma ideia para um magnífico anúncio televisivo, um que tivesse o inimitável selo Pascali de excelência e sedução, para algo tão pouco inspirador como uma marca de comidas congeladas, encontrou Trisha em sua casa, à sua espera com uma comida chinesa horrível no forno. Adoptou a sua cara habitual, outrora sensualmente divertida, mas que, naquele momento, era absolutamente aborrecida, e dissera-lhe, com uma seriedade terrível, que o que precisava na vida era de uma esposa, para não perder tempo valioso em entrevistas.

Franziu o sobrolho, irritada. Sabia muito bem que ele não precisava, nem queria, uma esposa. Só procurava uma governanta discreta. Embora desse toda a impressão de que ia ser impossível encontrá-la.

– As duas últimas raparigas pareciam perfeitas – disse. – Bom currículo, excelentes referências.

– Querido – serenou-o Trisha com um sorriso lisonjeiro. – Não te zangues. Ofereci-te a minha ajuda e conselhos quando disseste que não sabias tratar de assuntos domésticos. E o meu conselho é que nenhuma dessas raparigas vai ficar mais do que umas semanas. Razoavelmente inteligentes e bonitas, vão-se embora para se casarem, num abrir e fechar de olhos. Precisas de uma mulher de meia-idade. Não temos qualquer informação desta última candidata, porque não enviou uma candidatura de emprego. Simplesmente, ligou ontem à tarde e solicitou uma entrevista.

E pensou que também tinha soado mandona. Era um traço que ele não achava nada sexy. Enquanto qualquer uma das outras duas...

E depois de a ter visto, chegou à conclusão de que Mercy Howard seria ideal. Com vinte e dois anos, feia como um tijolo e gordinha, não tinha inconvenientes. Andrea jamais pensava em casamento. Antes de começarem a relação, deixara claro que não andava à procura de relações a longo prazo. Ela aceitara-o. Não teve outro remédio numa fase tão precoce. Mas o seu único objectivo era fazê-lo mudar de opinião, levá-lo a querê-la como esposa e proporcionar-lhe uma vida de conforto e riqueza.

Ainda estava para nascer a mulher que não achasse perfeita a estrutura óssea de Andrea Pascali, o seu físico alto e magro e o seu carismático ar latino apetitoso, já para não falar da sua impressionante conta bancária. Essa tal Howard não seria diferente, mas o adorável Andrea jamais se sentiria atraído por ela.

– Podias recebê-la, já que está aqui – insistiu Trisha, passando os dedos pelo cabelo. – Nunca se sabe, pode ser o que andamos à procura.

Sem gostar nada daquele «andamos», endireitou os ombros e voltou a pôr-se atrás da secretária. Carrancudo, decidiu que o tempo de Trisha acabara de se esgotar. Diria à sua secretária que escolhesse uma jóia adequadamente cara e a fizesse chegar ao apartamento dela de manhã, acompanhada da habitual nota de despedida amável e sem rancores.

E a menos que a quarta aspirante tivesse oitenta anos e fosse completamente incapaz, o lugar seria dela. Ele tinha que se concentrar num importante trabalho criativo.

 

 

Assim que encontrou a morada que procurava, Mercy sentiu uns terríveis inconvenientes. Uma nave reconvertida numa das zonas mais chiques, junto ao Tamisa, não era o ambiente adequado para uma rapariga humilde como ela. Quantas vezes Carly gozou com ela ao confessar-lhe que se sentia chocada, confusa e assustada com a vida frenética daquela cidade cosmopolita? Apesar de estar há dois anos em Londres, continuava a ser a filha antiquada de um vigário, com valores antigos e o desejo de um ritmo de vida mais calmo, como o que conhecera.

Mas determinada foi até à porta de madeira e tocou à campainha. Sobressaltada com uma voz saída de um dispositivo metálico, disse o seu nome e o assunto que a levava até ali.

Depois, a porta abriu-se e entrou num hall enorme, cujo tecto se elevava três andares, com uma escada circular que ia até aos andares com varandas. Uma loira alta e de proporções magníficas, realçadas por umas calças cor-de-rosa e um top apertado e brilhante da mesma cor recebeu-a, o que fez com que Mercy se sentisse imediatamente como um rato cinzento, com o seu modesto metro e sessenta reduzido a uns meros cinco centímetros.

A loira consultou uns papéis e disse:

– Deve ser a menina Howard – um enorme sorriso branco surgiu depois de reparar no fato cinzento, sapatos rasos e uma mala grande. – Eu sou uma amiga do signor Pascali – esboçou um sorriso significativo e afectado. – Neste momento, ele está a fazer uma entrevista, por isso se quiser sentar-se, tenho a certeza de que não vai demorar.

A cadeira de pele que estava junto a uma mesa de cristal era surpreendentemente cómoda. Mas não se pôde sentar, apesar de juntar os pés e ter posto sobre o colo a mala grande. As dúvidas começaram naquela manhã, quando Carly a pôs ao corrente sobre a identidade exacta do seu, esperava ela, futuro empregador.

– Estive a investigá-lo na Internet. É uma lenda viva e tem apenas trinta e um anos! É proprietário, director e literalmente o génio criativo da Agência de Publicidade Pascali. Vale uma fortuna por mérito próprio, sem contar com o dinheiro que vem da família. Tem a sua casa principal aqui em Londres, provavelmente onde tu viverás e trabalharás, além de possuir uma quinta perto de Amalfi e um apartamento em Roma. Interessa-se por arte moderna. Não tem esposa nem filhos, por isso terás pouco para fazer, além de passar o espanador pelos seus Picassos e Hockneys! – vestiu o casaco azul-marinho com o logótipo da famosa empresa de cosméticos para a qual trabalhava e soprou-lhe um beijo. – Tenho que ir, senão volto a atrasar-me. Desejo-te a melhor sorte do mundo, e lembra-te que tens um sorriso bonito, por isso usa-o muito!

Cansada por não ter dormido, depois de ter passado praticamente a noite toda de pé a limpar escritórios, que era praticamente o único trabalho que a agência lhe arranjava, porque, como dizia uma das suas companheiras, ela era de confiança, minuciosa e nunca ficava doente, começava a ficar nervosa perante a entrevista iminente.

Ao encontrar o anúncio de governanta, enquanto esperava para ser atendida no dentista e folheava uma revista, pensou que finalmente aparecera o seu anjo da guarda. O salário anunciado fizera com que abrisse os olhos desmesuradamente.

Com aquele salário e as contas pagas, podia ajudar o seu irmão James nos estudos de medicina, muito mais do que com o que recebia naquele momento.

Convencida de que o trabalho que descobriu era um presente dos céus, ligou e expôs… lembrou-se, com alguma vergonha, que praticamente exigiu… que precisava de uma entrevista. Parecera encaixar tudo perfeitamente, já que justamente no dia anterior Carly largara a bomba.

A sua antiga companheira de escola, com quem partilhava o pequeno apartamento durante os dois últimos anos, ia viver com o namorado, com a possibilidade de casamento à vista.

Há dois anos atrás, uns dias depois de ter completado os vinte anos, estava no fim da linha, perdida numa dor profunda pela morte da sua mãe, sem saber como ia conseguir ajudar o irmão, durante os longos anos do curso e viver com o que ganhava nos seus trabalhos esporádicos, uma vez que a pensão da igreja da sua mãe fora cancelada.

Ao deixar a escola com dezasseis anos, depois da morte do seu pai, acordou com a mãe arranjar um trabalho para se encarregar das despesas geradas pela educação do seu brilhante irmão mais novo. Aceitava qualquer trabalho que pudesse encontrar na cidade, para onde a sua família se mudara, para viver numa cabana pequena, propriedade das autoridades eclesiásticas, que representava um lar seguro onde a sua mãe escolhera viver.

Os tempos foram duros, mas felizes. Planeara trabalhar a tempo inteiro, com o objectivo de conseguir juntar o suficiente para poder um dia abrir o seu próprio negócio de catering para jantares privados e casamentos. Esse sonho foi-se adiando, mas gostou do trabalho que arranjou. Limpar, tratar de jardins, ir às compras para pessoas incapacitadas, passear cães.

Fora Carry quem a ajudou nesses tempos difíceis. Trabalhava como esteticista num salão de beleza em Londres e ofereceu-se para partilhar o seu apartamento.

– Não é muito maior do que uma caixa de sapatos, mas cá nos arranjamos. É um favor que me fazes ao partilharmos o aluguer, e há muitas empresas de limpeza que precisam de pessoal. Posso marcar-te algumas entrevistas… O que é que achas?

De modo que conseguiu um lar e um trabalho, e a tia solteira do seu pai, uma professora reformada, ofereceu a James uma casa durante as férias.

Nesse momento, enquanto a espectacular loira conduzia uma morena alta, magra e de feições finas até à porta de entrada, e lhe dizia: «Ligar-lhe-ão dentro de dois dias para lhe comunicar se foi seleccionada», o ânimo de Mercy foi por água abaixo e sentiu-se absolutamente deslocada.

Depois de mais dez minutos sozinha, indecisa entre o desejo de fugir dali ou de pôr um anúncio à procura de alguém para partilhar o pequeno apartamento, quando Carly se fosse embora no fim dessa semana, a decisão foi arrebatada das mãos, quando a loira bombástica a chamou da soleira do quarto no qual entrara, situado no extremo do amplo hall.

Com o coração apertado, levantou-se e desejou ter outra coisa para vestir, para além do fato sensato e sóbrio que comprara para o funeral do seu pai.

Mas animou-se ao pensar que «sensatez» seria uma qualidade que qualquer patrão procuraria numa governanta. Disse para si que era isso que devia potencializar, ser sensata e pragmática. Uma rapariga não tinha que ser uma visão de beleza para lavar pratos e limpar o chão.

Afinal de contas, o lendário signor Pascali era um ser humano, tal como ela.

Mas o primeiro pensamento que teve ao ver o rosto demasiado atraente a observá-la, por detrás da ampla superfície da secretária, era que havia seres humanos e seres humanos.

O rosto magro e forte estava tenso devido a uma impaciência que mal conseguia conter. Os olhos escuros avaliaram-na até que não teve mais nenhuma opção, senão o desejo de encontrar um buraco onde se esconder. Mas aqueles olhos falavam de volatilidade vital, e isso serenou-a, porque se era de verdade um génio criativo, o mais provável era que não reparasse nos caracóis de cabelo escuros que faziam com que parecesse acabada de sair de um túnel de vento, apesar do seu esforço por domesticá-los; ou no seu rosto simples. Sem dúvida que estava a quilómetros de distância de algum plano fantasticamente criativo.

Mas essa ilusão desvaneceu-se quando os olhos chegaram até aos seus sapatos fortes. Um movimento seco com a mão indicou-lhe que ocupasse o lugar em frente a ele, ao mesmo tempo que se virava para a sua «amiga», que andava por ali.

– Preciso de café, Trisha. Agora – ia conduzir aquela última entrevista sozinho, sem interrupções irritantes a respeito de experiência e referências. Já perdera demasiado tempo. Percebendo a relutância, acrescentou: – E uma chávena para – consultou uma folha de papel. – A menina Mercy Howard.

A ordem, emitida com aquela voz de veludo áspero, fez com que a loira Trisha saísse a toda a velocidade.

Com a sua futura ex-namorada fora do caminho, Andrea encostou-se na poltrona e observou a última candidata com pálpebras entreabertas, disposto a não perder nem mais um minuto do seu tempo valioso. Tinha duas opções. Contactar com qualquer uma das duas candidatas anteriores ou contratar esta última.

Semicerrou ainda mais os olhos. Não aceitava conselhos de ninguém, mas com relutância teve que concordar que, talvez neste caso, Trisha tivesse razão. As duas mulheres anteriores eram bonitas e estavam impecavelmente arranjadas, seguras de si mesmas. Bastaria contratar uma para viver a realidade do tempo que precisaria para convencer um pobre desgraçado a pôr-lhe uma aliança no dedo.

Então, tinha que passar pelo mesmo processo outra vez.

Com esta não corria o mesmo risco. Era uma gordinha prática, para além do cabelo estranho, cujas faces, levemente rosadas, reflectiam o único sinal de desconforto.

O trabalho seria para ela.

– Tem experiência em tratar de uma casa? – perguntou. O melhor era abordar alguns dos tópicos. A menos que descobrisse algum defeito grave, já tinha empregada, depois de duas semanas incómodas sem ninguém. A sua vida ia continuar como antes e podia concentrar-se no que era importante, sem ter que se preocupar com os incómodos assuntos domésticos, como encontrar umas meias limpas ou preparar uma chávena de café decente.

Mercy suspirou aliviada. A forma como estivera a olhar para ela, como se fosse uma nova forma de vida, deixara-a muito nervosa. Juntou as mãos e respondeu com celeridade.

– Tratei da casa da minha mãe durante quatro anos, além de ter tido vários trabalhos. E comecei a estudar catering na universidade à noite, mas tive que... – prestes a explicar as circunstâncias que a levaram a abandonar o curso, a decrescente saúde da sua mãe, ficou muda quando ele a interrompeu.

– Namorados?

Ficou boquiaberta. Pensou que isso não tinha nada a ver com a sua habilidade para tratar de uma casa.

– Não – respondeu, quando a careta impaciente da boca dele, lhe indicou que tinha esperado demasiado tempo por uma resposta que esperava receber no acto.

– Algum compromisso familiar? Algum filho? Pais idosos com problemas de saúde ou de alcoolismo que esperam que deixe tudo para tratar de pequenas urgências?

Mercy ficou rígida. Apesar do seu aspecto devastador, aquele homem era um intimidador impertinente. Era hora de se defender. De qualquer forma, o mais provável era que não passasse o interrogatório.

Signor Pascali, o meu pai foi um clérigo. Além de beber um gole de vinho durante a comunhão, o álcool jamais tocou os seus lábios. A minha mãe foi uma alma gentil que jamais realizou na sua vida um pedido irracional. Infelizmente, ambos faleceram. Tenho uma tia-avó com uma saúde robusta e, como vive na Cornualha, não é provável que possa correr para o seu lado se padecer de uma gripe, nem ela o pediria. E quanto a filhos, é claro que não tenho nenhum. Sou solteira.

– Segundo a minha experiência, o facto de não estar casada não indica necessariamente ausência de descendentes – apesar do comentário cínico, sorriu agradado, pensando que ao ser a filha de um vigário com valores morais antiquados, era improvável que tomasse drogas ou que organizasse festas durante as suas ausências ocasionais. – Se aceitar o lugar, Howard, terá o seu próprio quarto, onde permanecerá quando não estiver a trabalhar. Tratará de todos os assuntos domésticos com discrição. Não desejo que me consulte nem me informe dessas trivialidades. Por exemplo, se houver alguma goteira, você telefona ao canalizador e faz com que a arranjem, sem me incomodar. Tratará da minha roupa, uso duas camisas por dia. Levanto-me às seis e meia e tomo o pequeno-almoço às oito, depois da minha corrida habitual e do duche. É raro passar as noites em casa, mas quando o fizer, informá-la-ei, para que prepare o jantar às nove em ponto. Nas vezes em que seja anfitrião, seja de uma só pessoa ou de um jantar para vinte, entrará em contacto com a empresa de catering a que recorro sempre e resolverá todos os pormenores. E se tiver uma convidada que passe aqui a noite, então, os seus pedidos serão reportados a si. Alguma pergunta?

Mercy respirou fundo. Seria possível que lhe fosse oferecer o emprego? Seria a sua salvação! Enquanto pensava em algo pertinente e sensato para lhe perguntar, não lhe ocorreu nada a não ser uma necessidade de saber se a hóspede que passava ali a noite era sempre a loira grande ou se gostava de mudar. Mas moveu a cabeça e repôs quase sem fôlego:

– Não, penso que está tudo – agradeceu poder encontrar um tom de voz competente e acrescentou: – Parece-me bastante claro e directo.

«Ágil de mente», decidiu Andrea. Nada das perguntas habituais sobre os dias livres e as férias a que tinha direito. Tomada a decisão, sorriu-lhe e comprovou que tinha uns olhos assombrosamente azuis.

– Bem-vinda a bordo, Howard – levantou-se e estendeu a mão. – A partir de amanhã começa a tratar dos seus deveres.

A sua altura e largura extraordinária de ombros deixaram-na atónita.

O olhar dela passou da mão estendida para os olhos escuros. Conseguira o trabalho! Assim, sem mais!

– Obrigada. Mas não posso começar amanhã – informou-o decidida.

– E porque não? – perguntou, ao voltar a sentar-se, endurecendo as feições.

Mercy chegou à conclusão de que ia ser difícil lidar com ele, mas recusou deixar-se intimidar por aquele olhar insatisfeito. Era evidente que estava habituado a fazer o que queria. Estava na altura de alguém lhe ensinar que a vida não era assim. Apesar da sua aparência pouco atraente e da sua disposição a ceder para ajudar alguém, era capaz de se impor, quando as circunstâncias assim o exigiam.

– Estou a trabalhar para uma empresa de limpeza – explicou com clareza. – Que exige que os notifique da minha saída, com uma semana de antecedência. É claro que podia sair e sacrificar o salário de uma semana, que esperaria que me fosse retribuído por si. Mas nunca volto atrás com um compromisso. Ficarei encantada de ocupar o meu posto uma vez completo o prazo – acrescentou, desejando com desespero não tê-lo perdido.

O sobrolho intimidador de Andrea dissolveu-se. As mulheres mais atraentes e seguras teriam cedido para agradar os seus desejos, mas naquele momento, uma mulher pequena e gordinha, punha-o no seu sítio, quando se devia esforçar para garantir um lugar tão bem remunerado. Era uma experiência nova que o divertiu e lhe fez mover as comissuras da boca.

O movimento transformou-se num sorriso, ao levantar-se.

– Então, espero que ocupe o seu posto daqui a uma semana, Howard. Quando finalmente chegar o café, quer pedir que lhe mostrem a propriedade? – avançou para a porta. Justificando, para si próprio, a negativa dela em acomodar-se às suas ordens, disse para si que, pelo menos, demonstrara ter integridade. A sua mente despediu-se e voltou a concentrar-se no trabalho que o esperava na agência.

Ainda aturdida com o efeito daquele sorriso devastador, para além da sorte de ter conseguido o trabalho, Mercy preparou-se para esperar. O lendário Andrea Pascali não fora tão terrível como temera.

Não era terrível, se se lidasse com ele com firmeza.