Editado por Harlequin Ibérica.
Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
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28001 Madrid
© 2006 Natasha Oakley
© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Por ordem do príncipe, n.º 2081 - octubre 2016
Título original: Crowned: An Ordinary Girl
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Publicado em português em 2008
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.
Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-687-8894-4
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Página de título
Créditos
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Epílogo
Se gostou deste livro…
– Está a ler Chejov. Tem lido algo de Tolstoi?
A doutora Marianne Chambers parou a meio do segundo parágrafo do trabalho que estava a corrigir. Na sua testa apareceu uma ruga ao reconhecer o eco estranho de uma velha conversa.
Não podia ser. O que é que ele podia estar a fazer no Hotel Cowper durante uma conferência académica? Era ridículo.
Mas…
A lembrança daquela tarde ensolarada não desapareceu da sua mente e franziu a sobrancelha um pouco mais. Era o mesmo sotaque britânico de classe alta, com aquele toque estrangeiro impossível de definir.
E eram exactamente as mesmas palavras.
Marianne recordava-as, do mesmo modo que recordava tudo o que Seb Rodier lhe dissera desde que a vira a ler Chejov nas escadas da catedral de Amiens.
Uma sombra invadiu a página do livro e a voz que havia atrás de si continuou a falar:
– Ou de Thomas Hardy? Pode ser deprimente, mas se gostar desse estilo…
«Meu Deus, não…».
Marianne levantou o olhar e encontrou um rosto sorridente. Mais velho, talvez também mais decidido, mas continuava a ser o mesmo rosto do homem que lhe destruíra a vida por completo.
Então, vestia umas calças de ganga gastas e uma t-shirt e parecera-lhe outro estudante de intercâmbio, como ela. Agora, no entanto, encontrava-se em frente dela com um fato feito à medida e com aspecto de milionário.
Não a surpreendia, pois nos últimos anos devia ter visto centenas de fotografias do príncipe Sebastian II. No entanto, nenhuma delas a teria ajudado a estar preparada para sentir aquela sensação incrível de desejo que a invadiu ao encontrar aqueles olhos escuros.
– Olá, Marianne! – cumprimentou ele, num tom de voz suave.
«Seb!».
O nome rebentou dentro da sua cabeça ao mesmo tempo que se lembrava de todos os momentos que passara com ele há anos.
Todos os sonhos.
Toda a dor.
Numa décima de segundo sentiu-se transportada no tempo. De repente, voltava a ter dezoito anos, voltava a estar longe de casa, vivendo com uma família que mal conhecia. Sentira-se tão assustada enquanto esperara por ele ou por uma chamada telefónica…
Qualquer coisa.
Estivera desejosa de entender o que estava a acontecer. Desejosa dele, desesperadamente desejosa dele.
Perguntara-se milhares de vezes o que sentiria naquele momento, mas nunca teria imaginado que o sentiria seriamente. Ele fora-se embora… e os seus caminhos não tinham voltado a cruzar-se.
Porque teriam de se cruzar? Os modestos professores universitários não costumavam dar-se com a aristocracia e muito menos com um membro da realeza.
– Seb? – era muito difícil fazer com que as palavras atravessassem o nó que sentia na garganta. – Se calhar não devia chamar-te assim. Chamar-te Alteza ou… Alteza Real? Não sei… eu… – levou a mão à testa, onde sentia uma dor aguda e insuportável.
Ele aproximou-se um pouco mais e falou num tom de voz baixo.
– Na verdade, é alteza, mas Seb serve. Fico contente por te ver. Como está tudo?
Em algum lugar, Marianne conseguia ouvir gargalhadas e barulhos de chávenas, os sons da normalidade enquanto dava voltas à cabeça.
– Bem. Correu tudo muito bem – mentiu. – E a ti?
– Também – declarou, pondo-se em frente dela. – Há quanto tempo…
– Sim.
Ele olhou para ela e os seus olhos castanhos fizeram com todo o seu corpo derretesse.
– Estás incrível! Incrível!
– Obri… obrigado. Tu também – «bolas». – Quero dizer que… estás… – parou de falar, insegura de tudo e sabendo que não conseguiria fazê-lo. Não sabia o quê, mas sabia que não conseguia.
– Posso sentar-me contigo?
«Não!».
O que estava a fazer? Não eram dois simples amigos que acabavam de se encontrar. Nem pouco mais ou menos. Talvez ela não tivesse muita experiência com reencontros com ex-amantes, mas sabia que não podia sentar-se a conversar como se não soubesse o aspecto que aquele homem tinha completamente nu.
Guardou as folhas já corrigidas na pasta.
– Suponho que não posso impedir-te – então, reparou nos dois homens de fato cinzento que os observavam a uma distância respeitosa. Certamente, eram os guarda-costas. – Deduzo que aqueles são os guarda-costas que se encarregam de que consigas tudo o que desejas.
– Georg e Karl.
– Deste-lhes nome?
Ele esboçou um ligeiro sorriso.
– Na Andovaria continuamos a acreditar que dar nomes às pessoas é prerrogativa exclusiva dos pais – sentou-se em frente dela alegremente, como se os últimos dez anos não tivessem existido. – Não como na Dinamarca, onde a rainha tem de conceder permissão para se usar qualquer nome que não figure na lista passada.
– Que modernos!
– Gostamos de pensar que sim.
Marianne abanou a cabeça como se assim pudesse fazer com que os planetas recuperassem o rumo habitual. Pronunciara o nome do seu país com naturalidade, como se nunca lhe tivesse mentido. Parecia assumir que ela já sabia e a verdade era que Marianne sabia que não ganharia nada fingindo que não era assim.
As suas fotografias estavam por todos os lados. Marianne vira-o a esquiar, a caminhar pela montanha e em casamentos reais… incluindo o dele.
Recordava o nome da rapariga com quem se casara e, depois, se divorciara, embora lhe tivessem chamado anulação. Amelie. Amelie de Saxe-Broden. Aquele casamento parecia ter atraído a atenção dos meios de comunicação social do mundo inteiro e Marianne não fora capaz de se abstrair.
Aquele fora o empurrão de que precisara para seguir em frente com a sua vida.
Marianne respirou fundo antes de falar.
– E o que te traz a Inglaterra? Há algum acto real?
Sebastian abanou a cabeça.
– É uma visita completamente privada.
– Que bom! – exclamou, num tom sarcástico que a surpreendeu.
O que se passava? Sentia-se como um pedaço de tecido que se desfiava. Baixou-se para guardar a pasta na mala e, então, sentiu que os seus olhos se enchiam de lágrimas… lágrimas de raiva e de tristeza acumuladas durante anos. Pestanejou rapidamente para as afugentar.
Não podia começar a chorar. Já chorara mais do que o suficiente, mas era como se ao voltar a vê-lo se tivesse aberto uma brecha na muralha que erguera para se proteger das emoções.
– Viajas incógnito desta vez? – perguntou, levantando o olhar para ele. – Suponho que será difícil com aqueles dois – acrescentou, dando uma olhadela a Georg e a Karl.
Seb lançou-lhe um olhar ainda mais escuro do que normalmente.
– Continuas zangada comigo.
Algo rebentou dentro dela.
– E o que esperavas?
– Suponho que… – Seb deu algumas voltas ao anel que enfeitava a sua mão direita e olhou em volta para se certificar de que não havia ninguém por perto. – Suponho que esperava que…
– O quê? O que é que esperavas? Que tivesse esquecido que te foste embora de repente e nem sequer te incomodaste em voltar a entrar em contacto comigo? Que me mentiste? Parecerá curioso, Seb, mas esse tipo de coisas não costumam esquecer-se.
– Eu…
Marianne apressou-se a interrompê-lo.
– Isto foi muito agradável, mas receio que tenha de ir. Tenho muitas coisas para fazer e… – levantou-se e Seb fez o mesmo, – tenho de me concentrar.
– Marianne, eu…
– Não! – apertou bem a mão em redor da mala. – Nem penses. Há mais de uma década que não me interessa nada do que tu possas dizer.
– Eu não te menti.
Marianne parou ao ouvir aquilo. Como se atrevia? Como se atrevia a dizer-lhe algo do género? Durante alguns segundos ficou demasiado atónita para responder. Mas então a raiva fê-la reagir.
– A sério? Então, não te devo ter ouvido quando me disseste que pertencias à família real de Andovaria. Como é possível que o tenha ignorado? Sou tão estúpida!
Seb fez um gesto como se acabasse de lhe dar uma bofetada, mas, estranhamente, isso não a fez sentir-se tão bem como ela teria imaginado. Mesmo assim, continuou sem piedade:
– E pensar que passei anos a achar que eras um descarado…
Seb ficou direito, com tensão.
– Admito que não te disse que era o príncipe…
– Não, não o fizeste!
– Mas tinha motivos para não o fazer.
Marianne mal conseguia controlar a sua raiva. Nem sequer aos dezoito anos fora necessário demasiado esforço para chegar a essa conclusão. Ao descobrir que o seu Seb Rodier estava prestes a transformar-se no soberano do seu país, Marianne imaginara quais eram esses motivos. Mas nunca pensara que isso o justificasse. Nunca. Príncipe ou não, ninguém tinha o direito de tratar outra pessoa como ele a tratara.
– Rodier é o apelido da minha família, não te menti…
– Claro, isso muda tudo – disse ironicamente, fazendo um esforço para não levantar o tom de voz. – Sabias que eu não tinha a menor ideia de quem eras e escondeste-o deliberadamente. Nem sequer sabia que não eras austríaco, nem nunca tinha ouvido falar de Andovaria. Mas tu nunca o mencionaste e atrevo-me a dizer que te certificaste de que Nick também não o fizesse.
– Eu nunca te disse que era austríaco.
– Disseste que vivias perto de Viena.
– E é verdade. Eu…
Marianne fechou os olhos. Aquela conversa não fazia sentido nenhum e ela chegara ao limite do que conseguia aguentar. Levantou a mão como se tivesse o poder de silenciar o que ele ia dizer.
– Sinceramente, já não me importa como te chamas ou se vives em Saturno. Isso não muda nada. Mentiste-me e não te perdoei – e não o perdoaria enquanto vivesse.
– Marianne…
– Não!
A única coisa em que podia pensar com serenidade era que precisava de fugir dali. Não importava para onde, só precisava de se afastar da sua maldita alteza.
Manteve a cabeça bem erguida enquanto caminhava para a recepção. Precisava de ar urgentemente. Dirigiu-se para as portas amplas e praticamente desceu os degraus a correr.
Seb. Seb Rodier. Por muito que soubesse que era o príncipe que governava um rico principado alpino, não conseguia vê-lo desse modo. Para ela, continuava a ser o estudante de Línguas de dezanove anos que conhecera em Amiens. O mesmo com quem comera crepes, com quem passeara nas margens do Sena e… o homem que amara.
Marianne mordeu o lábio inferior com tanta força que fez sangue. Meu Deus. Só queria que todas aquelas lembranças desaparecessem da sua cabeça.
Abrandou porque não tinha outra escolha. O trânsito de Londres impedia-a de chegar ao café para onde se dirigia, situado do outro lado da rua.
Mas, porque fugia? Sabia por experiência que fugir não faria com que deixasse de sentir dor. Atravessou a rua mais devagar.
Café. Isso era tudo o que queria naquele momento. Café e tempo para recuperar a calma. Sorriu com tristeza. Precisava de tempo para voltar a pôr a máscara no seu lugar.
Seb susteve a respiração enquanto via como Marianne se afastava e teve de resistir à tentação de ir a correr atrás dela.
As coisas podiam ter corrido melhor. Há muito tempo que ninguém o fazia sentir-se tão tolo. Quantas frases conseguira acabar ao longo da conversa? Duas? Talvez três?
Não havia precedentes de algo parecido. Ao fim e ao cabo, Seb era conhecido pela sua habilidade para encontrar a palavra adequada em qualquer situação. Do mesmo modo que não havia precedentes de alguém se dirigir a ele sem a deferência que a sua posição exigia. Felizmente, naquele hall não houvera ninguém excepto os seus guarda-costas.
Seb olhou para os seus dois guarda-costas.
– O que ouviram?
Viu como os lábios de Karl começavam a tremer. Em qualquer outra pessoa, não teria sabido como interpretar aquele gesto, mas em Karl sabia que era uma gargalhada contida.
Seb passou a mão pelo cabelo com exasperação.
– Bom, tentem esquecê-lo! – ordenou, ao passar ao lado deles.
Não era necessário dar-lhes tal ordem, pois Karl e Georg nunca divulgariam nenhum tipo de informação sobre a sua vida privada à imprensa, nem sequer a qualquer outro membro da equipa. Na verdade, quem precisava daquela ordem era ele próprio. Tinha de esquecer aquela conversa e concentrar-se no que o trouxera até lá.
Mas, como poderia esquecê-lo?
Sorriu com uma certa ironia. Era muito mais difícil dizê-lo do que fazê-lo. Bastara ler o nome de Marianne Chambers e todo o seu corpo ficara bloqueado. Porém, não era nada comparado com o que sentira ao vê-la. Até àquele momento não acreditara que a protegida do professor Blackwell fosse realmente a estudante de Línguas que conhecera em França há anos. No entanto, reconhecera-a imediatamente. Vestida com calças de ganga e t-shirt branca, fizera-o lembrar-se enormemente da jovem de dezoito anos do passado.
Além disso, encontrara-a a ler. Há dez anos, estivera sempre a ler. Mesmo naquela primeira vez, quando Nick tentara impedi-lo por todos os meios de falar com ela.
Fora a única desculpa que tivera para se aproximar dela. Se tivesse havido alguém por perto… Seb voltou a passar a mão pelo cabelo. Só Deus sabia o que os jornais teriam publicado.
– Alteza…
Seb virou-se olhando para o homem aflito que se aproximava dele acompanhado pelo seu secretário pessoal.
– Não sabíamos que já tinha chegado. Tinha intenção de ter alguém à sua espera e…
– Não tem a menor importância, senhor…
– Baverstock. Anthony Baverstock. Sou o director, Alteza.
– Baverstock – repetiu Seb, estendendo-lhe a mão. – Agradeço-lhe muito a simpatia – observou a satisfação que se reflectiu no rosto do homem e resignou-se a enfrentar o que sabia por experiência que o esperava.
– É um prazer, Alteza. O Hotel Cowper orgulha-se do serviço que oferece aos seus clientes. O professor Blackwell está na sala do primeiro andar. Se Sua Alteza tiver a amabilidade de me acompanhar…
Seb deixou que a sua mente divagasse livremente enquanto dizia tudo o que o seu falecido pai teria desejado que dissesse. Quantas vezes é que aquele homem incrível dissera que não devia esquecer que as pessoas que o conhecessem pessoalmente recordariam a ocasião para o resto das suas vidas?
E devia ser verdade. As cartas de condolência que a sua mãe recebera depois da morte dele tinham demonstrado que era assim. Havia várias centenas que começavam por dizer: «Conheci o príncipe Franz-Josef e apertou-me a mão…»
Mesmo depois de oito anos e vários meses, aquela responsabilidade continuava a ser muito incómoda. Mas a preparação era tudo e aquele fora o seu destino desde que nascera. Um destino do qual não podia fugir. Embora houvesse momentos em que teria passado a responsabilidade a qualquer outra pessoa.
A Viktoria, por exemplo. A sua irmã mais velha sempre achara muito mais fácil participar naquelas tradições coloridas. Gostava da solenidade e do protocolo.
Seb esperou enquanto o director do hotel anunciava a sua chegada à sala do primeiro andar:
– Sua Alteza, o príncipe da Andovaria.
Lá, o homem que fora ver levantou-se imediatamente.
– Alteza…
Seb estendeu a mão ao aproximar-se dele.
– Professor Blackwell, agradeço-lhe enormemente que tenha podido dedicar-me alguns minutos. Sei que está muito ocupado.
O homem sorriu com entusiasmo.