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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Fiona Harper

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A meio da noite, n.º 2117 - novembro 2016

Título original: Break Up to Make Up

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8906-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Adele conteve o impulso de sair da casa de banho a correr e a gritar. Fechou os olhos, respirou fundo e ordenou às suas mãos que parassem de tremer. Quando sentiu que o seu coração se acalmava um pouco, voltou a abrir os olhos.

Nada mudara. A sua banheira estava habitada por oito patas e um corpo gordo e peludo. Deu alguns passos para trás, sem desviar o olhar das longas patas.

Assim que a beira da banheira lhe escondeu a visão do insecto, tacteou a estante que havia em cima do lavatório. A pasta e a escova de dentes voaram quando agarrou no copo onde estavam. A única coisa de que precisava naquele momento era de um objecto plano e não demasiado flexível. Pousou o olhar em todas as partes quase sem conseguir ver nada. Obrigou-se a procurar com mais lentidão.

Sobre o cesto da roupa estava a revista que lera da última vez que tomara um dos seus banhos rituais, que era o que estaria a fazer naquele momento, se não tivesse sido interrompida pela intrusa.

Agarrou na revista e dirigiu-se para a banheira, tentando fazer com que as suas pernas não hesitassem à medida que se aproximava. Levantou o copo invertido e esperou que não lhe escorregasse da mão. Até as pontas dos seus dedos pareciam suadas. Mais dois passos e estaria suficientemente perto.

Nesse instante, o copo encontrava-se apenas a alguns centímetros da criatura. Tudo pareceu ficar imóvel. Até a aranha… como se percebesse que se aproximava. E então, desenrolou-se um redemoinho de velocidade. Vinha na sua direcção.

Adele não parou para pensar; simplesmente, lançou o copo e a revista na direcção da sua atacante e saiu a correr da casa de banho. E enquanto o som do vidro ao partir-se ecoou nos seus ouvidos, fechou a porta com força e apoiou-se contra ela… para o caso de a aranha tentar mexer no trinco.

Disse para si que a sua fobia a tornava irracional. Ao aperceber-se disso, devia ter-se afastado da porta, porém, um ruído procedente do interior da casa de banho fez com que apertasse a maçaneta com mais força.

Se pelo menos…

Não, não ia desejar que estivesse ali.

Não precisava de nenhum homem para capturar uma aranha. E muito menos daquele homem.

Esqueceu a maçaneta ao suspirar e passou os dedos pelo cabelo.

«Consigo fazê-lo», pensou no silêncio. «Tenho de o fazer. Mais ninguém vai fazê-lo por mim».

Virou-se para encarar a porta da casa de banho e imaginou-se vestida com um dos seus fatos de trabalho e não de robe, com o cabelo apanhado como habitualmente à altura da nuca, sem cair sobre os ombros e a cara. Era tudo uma questão mental. Com determinação, podia fazer-se qualquer coisa.

Tinham-na enviado para um daqueles estúpidos seminários de treino quando trabalhava para a Fenton & Barrett. Fingira que prestava atenção, porém, na verdade estivera a pensar em como ia abrir a sua própria empresa de Consultadoria Empresarial. Depois, tornaria os seus sonhos realidade e, certamente, podia empregar o mesmo truque naquele momento.

No seminário, tinham falado de visualização. Concentrou-se e, na sua mente, a criatura da casa de banho transformou-se numa frágil borboleta de cores brilhantes.

Qualquer pessoa podia apanhar uma borboleta, ou não?

Abriu a porta de repente e aproximou-se da banheira. O fundo estava coberto de vidro partido, porém, a criatura que procurava estava a meio caminho da parte lateral da banheira.

– Borboleta – murmurou, enquanto estendia a mão e fechava os dedos sobre ela. A distância da beira da banheira até à janela de repente aumentou até adquirir a extensão de um campo de futebol. Tentou caminhar devagar, mas depois de um passo e meio, começou a correr. – Borboleta! – gritou, quando as patas começaram a torcer-se na sua mão. – Aranha, aranha, aranha, aranha! – gritou ao abrir a janela com a mão livre e atirar a coisa horrível. Depois, tremeu e esfregou a palma da mão no robe várias vezes.

Disse para si que naquele momento, sim, precisava do banho que planeara tomar. Contudo, antes de poder fazê-lo, tinha de tirar todos os fragmentos de vidro da banheira. Não havia ninguém para apanhar as aranhas nem ninguém que tirasse um caco que pudesse esquecer-se, de modo que era aconselhável que fizesse um bom trabalho.

Tinha a cabeça dentro do armário sob o lava-loiça na cozinha quando a campainha tocou. O sol acabava de se pôr e ainda havia luz suficiente para não ter de acender os candeeiros, mas estava suficientemente escuro para não conseguir encontrar a pá e a escova.

A campainha tocou outra vez e bateu com a cabeça na parte superior do armário. Não tinha uma campainha que pudesse ignorar, pois era uma daquelas insistentes que tinha um ruído tão estridente como uma velha campainha de bicicleta.

A única coisa que quisera naquele sábado à noite, depois de passar o dia todo no escritório, fora perder-se num denso banho de espuma e ler quatro capítulos do seu livro. Disse para si que não era pedir muito.

Esfregou a cabeça no ponto onde lhe doía e, silenciosamente, dirigiu-se para a porta, que abriu sem se importar com o facto de ainda estar de robe.

Ia soltar um seco: «Sim. O que deseja?». No entanto, as palavras morreram nos seus lábios. Apoiado contra a parede, com um brilho divertido nos olhos e uma covinha em cada face, encontrava-se o homem mais desesperante que tivera a desgraça de conhecer.

Sabia que ficara boquiaberta, mas não parecia capaz de fechar a boca. Ele sorriu e as covinhas acentuaram-se.

– Olá, Adele!

– Nick!

Nos últimos minutos, o sol descera ainda mais pelo horizonte suburbano e o brilho projectado pela luz do alpendre fazia com que, em contraste, ele parecesse quente e dourado.

Parecia tão… real. Não como o Nick com quem gritara mentalmente nos últimos nove meses. Na sua mente, imaginara-o mais baixo, mais juvenil e muito menos atraente. Pôde sentir a química familiar crepitar no seu cérebro.

Olhou para ela nos olhos e ela sentiu que perdia mais alguns neurónios.

Nick arqueou o sobrolho.

– O próprio.

Adele abanou a cabeça, sem saber por onde começar. O que fazia ali? Há quanto tempo estava no país? E, o que era mais importante, o que fazia à frente da sua porta, como se nunca tivesse acontecido nada?

– Posso entrar?

Teve vontade de lhe fechar a porta na cara, de lhe dizer que podia desaparecer e que, se fosse realmente imprescindível, entrasse em contacto com ela através do seu advogado, mas descobriu que estava a assentir. Sempre conseguira fazer com que fizesse o que ele queria. E, apesar das suas boas intenções, de forma estranha era ela quem acabava sempre magoada ou a ter de ordenar o caos.

Fora uma má ideia deixar que Nick Hughes entrasse na sua vida.

E fora uma ideia ainda pior casar-se com ele.

 

 

Adele caminhou pelo corredor seguida por ele. Assim que chegaram à cozinha, virou-se para olhar para ele.

– O que queres, Nick?

Era o momento por que ele esperara, o momento que vivera mentalmente tantas vezes que já perdera a conta. E, nos seus sonhos, nunca se sentira nervoso.

Adele virou-se para olhar para ele e Nick tentou não se encolher. Temera aquela possibilidade. Esperara, depois de tanto tempo encontrá-la mais propensa a falar. Era evidente que se enganara. O tempo não causara nenhum impacto no processo de cura.

Dizer-lhe sem rodeios o que fazia ali não ia funcionar, teria de ir devagar. Portanto, conteve a súplica que queria escapar dos seus lábios e, em vez disso, sorriu.

– Bela maneira de receberes o teu marido.

Adele semicerrou os olhos.

Ele respirou fundo. Tinha de fazer alguma coisa antes que o pusesse na rua. Tinha de, pelo menos, permanecer no mesmo edifício que ela até que o ouvisse.

– O que achas de uma chávena de chá?

Ela continuou a olhar para ele, com as pupilas a contraírem-se até ficarem do tamanho de uma cabeça de alfinete. Reconheceu que aquela frase não era o seu melhor esforço, mas tinha o cérebro em greve depois do que lhe parecera uma semana num avião, e uma chávena de chá oferecer-lhe-ia mais quinze minutos até conseguir convencer Adele.

– Fiz uma viagem realmente longa – acrescentou.

Ela ficou tão quieta, dura e fria como o granito das bancadas da cozinha. E precisamente quando achava que se tinha solidificado e que permaneceria dessa forma para sempre, abanou a cabeça e foi buscar uma chaleira. Vigiou-a bem. Quando Adele estava com aquele humor, a probabilidade de pôr a chaleira ao lume era tão grande como a de a atirar contra ele.

Encheu-a de água de costas para ele enquanto repetia a sua pergunta anterior:

– O que queres, Nick?

Ele esperou que se virasse.

– Precisamos de conversar.

Ela abanou a cabeça.

– Não. Precisávamos de conversar há meses. Agora é demasiado tarde.

– Tenho um assunto importante que preciso de discutir contigo.

– Pois!

Nick encolheu-se.

– O que significa esse «pois»?

– Tu não sabes o que é importante, não é verdade, Nick? Ou responsável, ou confiável, ou algo que possa requerer o mínimo de seriedade.

Adele estava à ofensiva. Todas as suas boas intenções caíram e recorreu à única forma de defesa que funcionava. Sorriu levemente.

– Faz parte do meu encanto.

Ela não mostrou nem um pequeno sinal de sorriso. Nada corria como ele planeara. Estava tão cansado que não conseguia pensar com coerência, por isso experimentou a única coisa do seu arsenal que garantia uma reacção.

Os momentos desesperados requeriam medidas desesperadas.

Sorriu um pouco mais e observou-a, tentando ver algum sinal de degelo. Sabia que ela era incapaz de resistir às suas covinhas.

– Pára, Nick.

Encolheu os ombros com absoluta inocência.

– Eu sei o que estás a fazer e não vai funcionar.

Seria a primeira vez.

Era evidente que Adele acrescentara uns centímetros de armadura na sua ausência. Contudo, havia sempre fendas, só tinha de as localizar. De facto, fora uma das coisas que mais o atraíra nela ao princípio; aquela fachada gelada que ocultava um núcleo abrasador. Fogo e gelo…

Caminhou para ela e viu-a recuar.

– Disseste que querias falar? Bom, neste momento estou ocupada.

– Posso ver que sim – olhou para ela de cima a baixo e sentiu uma familiar onda de calor ao ver uma bonita perna revelada pela abertura do robe.

Adele ergueu-se e ajustou ainda mais o cinto do robe.

– Telefona-me para o escritório na próxima semana. Estou no meio de um grande projecto, mas talvez na quinta-feira tenha alguns minutos para te dedicar. Onde vais ficar?

Nick arqueou o sobrolho e olhou para ambos os lados.

– Nem sonhes! Não vais ficar aqui.

Ele pestanejou.

– Também é o meu lar.

– Correcção: podia ser a tua casa, mas deixou de ser o teu lar assim que atravessaste o Atlântico e não te incomodaste em voltar em nove meses.

Cruzou os braços e olhou para ele. Nick decidiu que não era o momento certo para lhe recordar que voltara… assim que pudera. Duas curtas semanas depois da monumental discussão, viajara oito mil quilómetros para resolver a situação. Contudo, ao entrar em casa, encontrara-a vazia. Adele mudara de casa e estava a viver com a sua melhor amiga.

Estava claro que Adele não estava de humor para enfrentar os erros que cometera. Para ser sincero, ele também não se achava capaz de encarar as lembranças. Assim, desterrou-as para um canto do cérebro.

Tirou o casaco, pô-lo nas costas de uma das cadeiras que rodeavam a grande mesa de pinho e deixou-se cair no fofo sofá embutido num canto da ampla cozinha de estilo vaqueiro.

– E esse chá?

Adele fechou os olhos e afundou os ombros. Ganhara o primeiro assalto, porém, Nick teve vontade de se dar um pontapé no rabo por a fazer parecer tão cansada.

– Fá-lo tu. Eu vou lá acima. E se pensas que vais pôr essa mala que largaste no hall no meu quarto, pensa melhor. Sabes onde é o outro quarto.

Aquilo doeu-lhe.

Fez uma careta quando Adele se virou e subiu as escadas com determinação. Não lidara bem com a situação, porém, teria sido uma temeridade continuar com a discussão. Há muito tempo, aprendera que a solução era fazê-la rir-se.

Tinha um excelente sentido de humor, porém, a maioria do tempo mantinha-o afastado. E, se era bom em alguma coisa, era em fazer a sua esposa rir-se.

Deixou que a sua cabeça caísse sobre as costas do sofá e fechou os olhos.

Sabia o que ela pensava: que o seu marido escolhera um emprego que surgia uma vez na vida em vez dela. Adele estava demasiado ocupada a mostrar-se arrogante para ver que fora ela quem se recusara a ceder um só centímetro. Fora uma decisão dela pôr o casamento em espera.

Podia haver dois lados para cada história, contudo, Adele estava sempre convencida de que a sua versão era a versão certa. O que era extremamente irritante, pois realmente tinha quase sempre razão. No entanto, de vez em quando, entendia as coisas espectacularmente mal. E então, geralmente, tratava-se de algo importante.

Adoptou uma posição mais confortável. A diferença horária começava a fazer-se sentir e aquele sofá era cómodo. O casaco de um dos fatos dela estava sobre as costas. Cheirava ao seu perfume, quente e penetrante. Se fechasse os olhos, era como se ela estivesse sentada ao seu lado.

Tinham passado muitas noites felizes aninhados naquele velho sofá, com dois copos de vinho depois do jantar. E houvera outras ocasiões em que tinham usado o sofá para actos muito menos relaxantes…

Sorriu enquanto adormecia. Menos relaxantes, mas muito mais divertidos.

 

 

A porta da cozinha rangeu levemente quando Adele a abriu. Fez uma pausa. Reinava o silêncio. Demasiado silêncio. Nick era como um pirralho e, se estava em silêncio, o mais provável era que estivesse a tramar alguma coisa. Abriu mais a porta e viu-o deitado sobre o sofá, a dormir como um bebé.

Até aquela imagem fez com que quisesse gritar. Como conseguia eliminar a tensão que havia entre eles e perder-se na inconsciência? Ela não estava tão relaxada. Era como se tivesse bebido dez cafés. Voltou a olhar para ele e suspirou sem se aperceber.

A dormir, parecia um ser angélico. Tinha o cabelo um pouco comprido e havia sempre uma madeixa que lhe caía sobre a testa. Muitas vezes, acordara de manhã, sorrira e afastara-a da sua cara. Custou-lhe enormemente conter-se para não repetir o gesto.

Tinha de sair dali. Já. Antes que esquecesse todas as razões pelas quais Nick Hughes não devia permanecer a um raio de dez quilómetros do seu coração.

Pegou na sua mala e fechou a porta. Momentos mais tarde, vestiu o casaco, o cachecol e as luvas e partia rua abaixo. Fevereiro em Londres era invariavelmente um mês húmido e frio, e nessa noite não queria afastar-se da tendência dominante.

Deu por si à frente da casa de Mona. A sua vida, que se mantinha num equilíbrio precário, acabava de cair por um precipício e precisava da sua melhor amiga. Mona abriu a porta com um bebé apoiado na anca.

– Meu Deus, Adele! O que aconteceu?

– É Nick.

Mona pôs uma mão na boca.

– Ele…? Houve um acidente?

– Não. Pior.

– Pior do que cair por uma montanha?

– Não sei se esteve a fazer alpinismo ou não, mas sei onde está neste preciso momento. O meu marido, amante de desportos de risco, está bem vivinho e a dormir na nossa cozinha… na minha cozinha.

Mona franziu o sobrolho e abraçou Adele num gesto súbito e inesperado.

– É melhor entrares e contares-me tudo do início.

Quando Adele se afastou, tinha baba do bebé na lapela do seu casaco. Acariciou a cabeça da sua afilhada e deu-lhe um beijo. Depois, deixou que Mona a conduzisse para a sala.

– Apareceu de repente.

– Sem aviso prévio?

– O quê? Nick? O homem que é tão mau a fazer planos de futuro que nem sequer é capaz de decidir o que comer para o jantar, mesmo quando tem fome?

Mona deixou Bethany no chão e deu-lhe um chocalho para que se entretivesse.

– O que quer?

Adele encolheu os ombros.

– Quem sabe? Tentei perguntar-lhe mas ficou como… costuma ser comigo. Diz que quer conversar.

– Sobre quê?

Adele suspirou.

– Suponho que pode ter voltado para pedir, tu sabes… o divórcio – murmurou. – Isso explicaria porque não o explicou logo. Nem sequer Nick apareceria nove meses depois e…

– De facto, nove meses e meio.

Adele fechou os olhos fugazmente e abanou a cabeça.

– Bom, sejam quantos forem. Nem sequer Nick apareceria e diria: «Olá, querida, estou em casa… e, a propósito, já passaste à história».

Mona assentiu.

– É claro, primeiro quereria entrar – Mona dedicou-lhe um olhar de curiosidade. – Por favor, não me digas que o queres de volta!

Deveria ter saído uma resposta automática da sua boca. Um firme «não, claro que não. Nem num milhão de anos». Em vez disso, fechou os olhos e esfregou os lados da cara.

– Adele?

– Pensei que queria que se fosse embora para sempre. Era uma decisão fácil quando estava a milhares de quilómetros de distância, mas agora voltou e… não sei… O divórcio parece tão… definitivo.

– Não te atrevas a deixar que te convença com aquele encanto juvenil, Adele!

– Claro que não!

– Ora! Estás a fraquejar. Vejo-o daqui. Já te esqueceste de como te tratou quando partiu?

Não, não o esquecera. Recordava até ao último detalhe do dia em que largara a bomba.

O seu trabalho como técnico de efeitos especiais para filmes para a televisão e para o cinema começara a dar lucros depois de anos de instabilidade.

Depois de alguns anúncios de sucesso para a televisão, tinham-lhe pedido que fizesse os efeitos especiais para um filme independente de baixo orçamento. Contra o esperado, o filme fora um sucesso de bilheteira e o nome de Nick fora inscrito com firmeza no mapa. Ambos tinham ficado mais do que satisfeitos naquele momento. Ela até conseguira suportar o estranho horário e o facto de ele poder desaparecer durante dias seguidos para regressar de madrugada sem dizer nada. Se soubesse o que toda aquela situação provocaria, talvez não se tivesse mostrado tão encantada.

Um dia, ele entrara no seu escritório e, com um sorriso enorme, dera-lhe a grande notícia: tinham-lhe oferecido um trabalho num grande projecto de Hollywood, um filme de ficção científica, e dispunha de cinco dias para fazer a mala e partir para a Califórnia para conhecer os produtores. Se gostassem das suas ideias, começaria quase imediatamente.

Nesse momento, as coisas tinham começado a correr realmente mal. Nick estivera tão ocupado nos meses seguintes, que Adele se sentira como se voltasse a ser solteira. Muitas vezes, a única prova de que ele voltara para casa quando acordava de manhã eram os planos para o dispositivo seguinte que construiria rabiscados nas margens de um dos seus cadernos.

E depois quisera que deixasse o seu negócio para trás e se mudasse para meio mundo de distância com um telefonema improvisado. Como se mais nada importasse, quando pela primeira vez na vida ela tinha raízes. Um lar. Um objectivo. Sob nenhuma possibilidade pensara em atirar tudo o que alcançara pela janela por um capricho. Fora o momento de pôr o travão.

Tiveram uma grande discussão. De facto, a pior que alguma vez tinham tido… Mesmo assim, quando ela gritara: «Vai-te embora e leva esse trabalho estúpido contigo se o consideras tão importante!», não esperara que a ouvisse e entrasse naquele avião.

A voz de Mona devolveu-a ao presente.

– Vá lá, tens de ser forte.

– Eu sou forte – baixou a cara. Pelo menos queria sê-lo. Mês após mês a fingir que estava bem sem Nick fora muito cansativo.

O marido de Mona fora-se embora quando o segundo bebé chegara, apenas dez meses antes. Ambas tinham superado os primeiros meses das suas crises individuais canalizando a sua fúria em sessões semanais de discursos empolados na sala de Mona.

O período posterior à partida de Nick fora o pior da sua vida e não ia dar-lhe a oportunidade de voltar a enviá-la para aquele lugar solitário e escuro.

Levantou-se.

– Não, tens razão. Quem precisa de homens?

– Assim está melhor. E agora, como vais enfrentar esse aventureiro que está a dormir na tua cozinha?

O que tinha vontade de fazer era regressar a toda a velocidade para casa e olhar para ele enquanto dormia. Acordá-lo com beijos e demonstrar-lhe como sentira a sua falta.

No entanto, não podia ceder dessa maneira. Não o faria.

Nick fizera a única coisa que prometera nunca fazer: deixara-a, e não tencionava dar-lhe a oportunidade de voltar a magoá-la. Pelo menos, era isso que lhe dizia a sua cabeça. Contudo, o seu coração tinha os seus próprios planos loucos.

Abanou a cabeça.

– Suponho que vou ter de ir e falar com ele em algum momento. Mas não posso fazê-lo esta noite. Quando Nick me surpreende, acabo sempre por aceitar algum dos seus planos descabidos. Preciso de estar preparada. Concentrada.

Não podia deixar que Nick soubesse que ainda tinha o poder de a fazer tremer cada vez que se aproximava. Utilizá-lo-ia contra ela. Faria com que ela acreditasse que tinham uma oportunidade e depois voltaria a tirar-lhe o tapete de debaixo dos pés. Era inevitável.

Precisava de se proteger. Nick devia achar que era totalmente imune a ele e era impossível que naquela noite conseguisse convencê-lo disso. Continuava perturbada com o seu aparecimento e o mais provável era que fizesse alguma estupidez… como dizer-lhe que estava a brincar quando lhe dissera para ir para o quarto livre.

– Fica aqui – disse Mona. – Podemos elaborar os planos de batalha com uma garrafa de vinho.

– Obrigada, Mona. Salvaste-me a vida.

Mona pegou em Bethany ao colo e levantou-se.

– Vamos, querida. Está na hora de ires para a cama – virou-se antes de sair da sala. – Ele sabe que…?

Adele juntou os dedos e apertou-os até que os nós começaram a doer-lhe.

– Não. Nunca lhe contei.