Editado por Harlequin Ibérica.
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28001 Madrid
© 2000 Emma Darcy
© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Uma noite roubada, n.º 2125 - novembro 2016
Título original: The Pleasure King’s Bride
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.
Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-687-9184-5
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Página de título
Créditos
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Se gostou deste livro…
Um homem de fato e gravata!
Ninguém usava fato em Broome e muito menos numa tarde de domingo.
Um calafrio percorreu o corpo de Christabel, de pé na água que lhe chegava à cintura.
Seria «um deles»? Tê-la-iam encontrado?
Antes de conseguir olhar melhor para ele, o homem desapareceu. Ela esperou com o coração acelerado enquanto ponderava a possibilidade de que a tivessem encontrado, apesar de todas as suas precauções.
Estava ali há seis meses. Tempo mais que suficiente para começar a sentir-se segura, ainda que soubesse que nunca estaria completamente segura, com tantas coisas em jogo. No entanto, fora o que pensara ao princípio, quando se instalara naquele lugar longe da civilização, numa zona ampla de terra na costa Australiana.
Broome, uma animada cidade cultural que se desenvolvera graças à indústria das pérolas, encontrava-se noutro extremo do mundo, longe dos financistas europeus. Ali os pescadores ainda mergulhavam nas águas do mar em busca de ostras com pérolas e muitos morriam a tentar fazê-lo.
Situada na Costa Ocidental da região de Kimberly, era uma atracção turística graças à sua paisagem tropical e à sua história. Contudo, devido ao clima quente, ali ninguém usava fato, nem sequer os turistas.
Depois de um instante de espera, voltou a avistar a figura do homem perto do café. Virara-se para o estacionamento, portanto não conseguia identificá-lo. Porém, a sua indumentária dizia muito a Christabel, era a de alguém não familiarizado com o clima tropical e sem tempo para mudar de roupa. Alguém que se dirigia intencionalmente para o parque de campismo cheio de caravanas, situado na zona da praia.
E Alicia fora à caravana buscar bebidas frescas!
Possuída pelo pânico, Christabel saiu da água e começou a correr freneticamente pela areia húmida da praia, em direcção ao parque de campismo.
Sim, era «um deles» que ia atrás de Alicia para a levar de volta à sua vida anterior.
Saltando entre as rochas de um promontório para cortar caminho, com o cabelo comprido molhado e os músculos tensos, ia decidida a lutar pela sua filha, a mantê-la longe do mundo de loucos que os financistas da Europa insistiam em construir e em manter inalterável.
Uma vez no parque de campismo, os vizinhos das caravanas chamaram-na, surpreendidos pela sua pressa; mas ela não podia parar. Tinha de chegar a Alicia antes que o homem a encontrasse.
Onde estava? Não conseguia vê-lo, porém, tinha de estar perto da sua caravana.
Quando finalmente chegou à parte traseira do veículo, parou.
Ali estava, junto à sua filha, mas não era nenhum deles.
Era Jared King, o seu chefe em Broome. E não tinha nada a ver com os outros.
Além disso, tinha de reconhecer que ele era a razão principal da sua permanência naquele lugar, muito mais prolongada do que devia.
– Há algum problema? – perguntou, surpreendido com a agitação da mulher.
Com um suspiro de alívio e uma mão sobre o peito palpitante, apoiou-se contra o veículo, consciente da desordem dos seus cabelos encaracolados e do fato-de-banho que escassamente cobria a sua nudez e a tornava vulnerável em frente dele.
– Porque corrias assim, mamã?
Christabel sorriu à sua filha de cinco anos.
– Pensei que te tinhas perdido.
– Não, não me perdi – replicou a pequena, indignada.
Era uma rapariga encantadora, a sua carinha adorável emoldurada pelos seus caracóis castanhos, sem nenhum receio nos seus grandes olhos cor de âmbar. Christabel estava surpreendida com a segurança que adquirira em Broome e por se sentir feliz no parque de campismo.
– Demoraste muito e eu precisava de uma bebida fresca – explicou, consciente do olhar interrogativo de Jared King e à espera que ele não tivesse reparado no seu receio.
Às vezes, era muito perspicaz e ela não queria chamar a atenção.
– Peço desculpa por ter entretido Alicia, que amavelmente me ofereceu um refrigerante – Jared sorriu ao mesmo tempo que lhe mostrava a lata.
Sem conseguir evitar, Christabel dirigiu-lhe um olhar acusador.
– Porque estás de fato?
Jared que tirara o casaco, arregaçara as mangas e afrouxara a gravata, olhou para ela com um ar interrogativo.
– Bom…
– Quero dizer que está muito calor – balbuciou ela. – E parece-me um pouco ridículo vir para a praia vestido assim.
Os olhos do homem deslizaram pela figura feminina com um sorriso irónico.
– Devo admitir que preferia ter vestido fato-de-banho.
A virilidade intensa que emanava dos três irmãos King afectava Christabel e deixava-a plenamente consciente da sua própria feminilidade.
Via o prazer do homem ao observar o fato-de-banho amarelo, ainda molhado, que realçava todas as curvas do seu corpo. Essa admiração produzia-lhe uma espécie de felicidade que a embargava e fazia surgir sensações físicas que a transformavam num ser muito vulnerável.
Nesse momento, sob o olhar do homem, os seus seios formigavam e uma corrente de excitação percorria a sua coluna vertebral. Se não fosse tão bonito, tão insidiosamente atraente em tantos aspectos…
– Eu…
– Bom – interrompeu-a. – Venho do aeroporto e vou para casa.
Claro que sim! Voltava da sua viagem de negócios a Hong Kong. Costumava vestir um fato quando tinha de tratar de negócios com os chineses a fim de ganhar o respeito dos seus colegas orientais. Era conhecido como o rei das pérolas porque geria a indústria que a sua família possuía, ainda que secretamente ela o tivesse baptizado de rei complacente, porque havia algo nos seus olhos, um calor e uma sensualidade que transmitia prazer.
– Esqueci-me.
– Mas de repente, lembrei-me que a minha mãe estava de viagem. Portanto, não teria com quem conversar – continuou. A sua mãe, Elizabeth King, uma mulher muito inteligente e sagaz, vivera e vira demasiadas coisas para que Christabel se sentisse confortável na sua companhia. No entanto, um homem como Jared King não tinha de estar sozinho. – E comecei a perguntar-me se quererias jantar comigo e ouvir os comentários sobre os teus desenhos, os que levei para Hong Kong.
O seu sorriso era atractivamente caprichoso e havia uma faísca de desafio brincalhão no seu olhar, como se quisesse saber se ela morderia o anzol, já que rejeitara todos os seus convites pessoais.
– Gostaram das minhas jóias? – perguntou, orgulhosa dos desenhos que Jared a deixara criar com toda a liberdade e incapaz de negar que o comentário aguçara a sua curiosidade.
– Jantamos, então?
Um convite tentador. Achava estranho que um homem que sempre se movia com tanta elegância pudesse ser tão primitivamente sensual. Era alto e maravilhosamente bem proporcionado. O seu cabelo escuro caía sobre a sua testa, contudo, não havia nada de suave no rosto de mandíbulas quadradas, excepto o lábio inferior carnudo e sensual assim como o olhar que com frequência captava nos seus olhos escuros, o olhar que nesse momento lhe prometia tanto prazer.
Com um suspiro, Christabel desejou poder concretizar os desejos que ele criava no seu interior.
– Podemos falar amanhã no teu escritório – respondeu.
– Mas eu esperava que pudéssemos passar uma noite agradável juntos.
A tentação de aceitar foi mais intensa que nunca. Porém, pela enésima vez disse para si que talvez ele desejasse demasiado. Jared King não era o tipo de homem que se contentava com menos do que desejava. Por trás do seu aspecto tranquilo e afável escondia-se uma vontade de ferro que ela notara muitas vezes.
– Vikki Chan faz-me sempre um jantar excelente de boas-vindas – comentou persuasivo, com a intenção de indicar que a governanta chinesa estaria em casa, de modo que não estariam sozinhos. – Tenho a certeza de que desfrutarás do jantar. O seu peixe ao vapor é soberbo, vale a pena prová-lo.
– Eu gosto muito de comida chinesa! – interveio Alicia.
Imediatamente, Jared esboçou um sorriso encantador.
– E qual é o teu prato favorito?
– Camarões com molho de mel – respondeu imediatamente.
– São óptimos! – concordou, entusiasmado. – Tenho a certeza de que Vikki os faria para ti se a tua mãe quiser levar-te a jantar comigo.
Implicar a sua filha no convite foi um golpe baixo. Nunca o fizera e Christabel sentiu-se enjoada enquanto ambos olhavam para ela expectantes.
– Podemos ir, mamã?
– Não me parece – respondeu, ainda ressentida.
– Porquê?
– Sim, porquê? – repetiu Jared, com toda a calma.
Fez um olhar fulminante.
– Alicia janta cedo. Às oito já está na cama.
– Não há problema. – replicou Jared ao mesmo tempo que olhava para o seu relógio. – São quase cinco horas. Se chegarem às seis…
– Esquece, Jared!
– Algumas coisas não se podem evitar, Christabel – comentou o homem serenamente, mas com um olhar nada afável.
Os seus olhos brilhavam, desejosos de derrubar a barreira que interpunha constantemente entre ambos. Procuravam no seu interior uma verdade que ela não podia negar e que era o reconhecimento da atracção que sentia por ele… a mesma que ele sentia por ela.
Christabel não tinha resposta para aquela afirmação tão honesta.
Sentiu que o seu corpo ficava tenso enquanto internamente combatia a sua necessidade profunda de estar com ele. Desejava aquele homem com todo o seu ser. Queria experimentar tudo com ele. Contudo, a parte racional da sua mente insistia que uma relação sentimental também envolveria Alicia. E como os «financistas» nunca o permitiriam, aquilo acabaria por ser uma tortura.
– Eu gostava tanto de ir, mamã – suplicou Alicia.
E porque não havia de ir? Christabel olhou para a sua filha com amor. Porque é que Alicia não podia desfrutar da companhia de um homem que não olhava para ela como um simples peão envolvido numa teia monstruosa de cobiça?
– Então, iremos – decidiu.
Alicia aplaudiu com deleite enquanto olhava para Jared.
– Camarões com molho de mel. E gelado de chocolate para a sobremesa?
– Alicia!
– Só estava a perguntar, mamã – justificou-se a pequena.
– Nunca me esqueço das minhas promessas – garantiu Jared, visivelmente relaxado.
– Seria melhor às seis e meia – retorquiu ela, com um suspiro de receio devido à loucura impulsiva que ia cometer e que indevidamente teria de lamentar.
Mas quando levantou o olhar e viu a alegria quente no olhar do homem, parou de se preocupar com as consequências da sua decisão.
– Muito bem – Jared sorriu. – E gelado de chocolate para a sobremesa – adicionou, dirigindo-se à menina.
Levantou a mão em sinal de despedida e afastou-se com um ar de quem acabara de conquistar o mundo.
«No entanto, não o fizera», pensou Christabel com tristeza. Somente um pequeno pedaço do mundo pertencia a Jared King. De repente, lembrou-se da sua visita à quinta ganadeira que a família possuía; uma terra vasta do outro lado de Kimberly. A quinta chamava-se King’s Eden. Estivera lá, com os familiares dos empregados que trabalhavam para a empresa das pérolas, como convidada para o casamento de Nathan King, o irmão mais velho. Uma cerimónia que a entusiasmara, devido à actuação de um grupo de aborígenes que sopravam por um tubo longo e oco e emitiam uma melodia deliciosa. Era o didjeridu, um dos seus antiquíssimos instrumentos musicais.
Sentia-se contente por ter ido, contente por ter conhecido superficialmente algumas das tradições do interior australiano, uma herança de antiguidade imemorial unida à terra. E não era pela riqueza material que saíra dela. Era por causa da terra em si. O Paraíso do Rei.
Seria ela uma cobra que envenenaria o paraíso de Jared?
Mais cedo ou mais tarde «eles» chegariam, os homens poderosos de fato e gravata e destruiriam a sua vida naquela terra, destruiriam toda a sua comunicação com os habitantes locais.
Algumas coisas não se podem evitar. Christabel tremeu ao lembrar-se das palavras de Jared. Palavras que podiam interpretar-se num sentido mais amplo que os sentimentos que os uniam. Porém, por um instante e acima dos medos torturantes… teria o que desejava. E Jared também.
Tivera medo… porque ia de fato e gravata.
Jared pensava nisso enquanto conduzia para o centro comercial para comprar o gelado de chocolate. Era outra peça do quebra-cabeças que estivera a construir desde que conhecera Christabel Valdez. Quanto mais pensava nisso, mais sentia que esse pormenor era uma peça chave.
O seu aparecimento inesperado incomodara-a. Será que o fato era uma imagem que simplesmente evocava más lembranças ou era algo mais? Seria o medo produzido por alguém que vestia sempre fato e que aparecera novamente na sua vida?
Talvez isso estivesse relacionado com o facto de viver numa caravana, um lar móvel que lhe permitia mudar de lugar quando fosse necessário. Claro que por outro lado, muitas pessoas desfrutavam do estilo de vida nómada que uma caravana podia proporcionar. Nem todos desejavam criar raízes num só lugar. Mas era impossível sabê-lo, a menos que Christabel decidisse contar-lhe a verdade.
Não era costume descobrir o passado das pessoas que iam trabalhar para as terras do interior australiano. Havia muitas razões para abandonar os centros de civilização mais sofisticados. Por exemplo, algo tão simples como uma mudança de estilo de vida, necessidade de espaço, o desejo de experimentar algo diferente… era o que se dizia sempre. Mas havia pessoas que permaneciam em silêncio, desejosas de proteger o que tinham deixado para trás e tinha de respeitar isso.
Aparentemente, a razão de Christabel fora uma mudança de vida, mas não deixava entrever o seu passado. Jared acabara por pensar que desejava esquecê-lo definitivamente. Frustrava-o intensamente a sua atitude de manter todos longe dela, inclusive ele, como se fosse incapaz de confiar numa relação mais íntima, por muito que a desejasse.
E ela desejava essa relação com ele.
Jared apertou o volante com um ar triunfante. Finalmente, conseguira acabar com a sua resistência. Ela cedera. Mas… Porquê hoje? Abanou a cabeça. Também não importava.
Talvez tivesse percebido que o seu receio com respeito a ele era infundado. Se fosse assim, ainda bem. Não queria que o receio fizesse parte da relação entre eles. Teria a oportunidade de se aproximar mais dela naquela dia do que nos cinco meses que passara a tentar derrubar a muralha que a rodeava. Christabel.
Um nome cristalino que ele adorara desde o começo junto com aqueles olhos que brilhavam como o ouro em momentos de emoção intensa e que se tornavam ardentes, do tom sensual do âmbar, em momentos de prazer.
Uma mulher com o coração selvagem era o que Jared costumava pensar. Imaginava-a deitada na sua cama, com aqueles olhos que convidavam a jogos perigosos, a sua pele morena e os seus cabelos sedosos sobre as almofadas, a feminilidade perfeita daquele corpo a chamar a toda a sua virilidade, um mistério exótico.
Um nome lindo, uma imagem linda… sempre longínqua.
Mas já não. Nessa noite ela estaria ao seu alcance.
Custou-lhe muito apaziguar a paixão que o inspirava e concentrar-se em organizar a noite. Pegou no telefone do carro e marcou o número da sua casa.
– Fala Vikki – atendeu a voz familiar.
– Vikki, convidei Christabel Valdez e a filha dela para jantar.
– Portanto, ganhaste. Disse à tua mãe: «Jared triunfará. Aquele rapaz não sabe perder».
Jared desatou a rir-se. Vikki Chan estivera com a família toda a sua vida. Começara como cozinheira e governanta do seu avô viúvo e tratara da casa Picard com a mãe de Jared, depois da morte de Angus Picard. Não o surpreendia nada que soubesse do seu interesse por Christabel. Jared suspeitava que sabia tudo o que acontecia em Broome. Além disso, a sua mãe costumava contar-lhe todas as suas preocupações.
– Vou comprar gelado para a menina. E também lhe prometi camarões com molho de mel.
– Não há problema. Vou conseguir os melhores camarões e também comprarei mais peixe. A tua Christabel gosta de peixe?
– Tenho a certeza de que sim. Chegarão às seis e meia. Alicia vai para a cama às oito.
– Eu tratarei dela. Pô-la-ei num quarto perto do meu.
– Só vão ficar até às oito, Vikki.
Pla da Chanel.