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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Penny Jordan

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

No ardor da paixão, n.º 2163 - dezembro 2016

Título original: Bedding His Virgin Mistress

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9198-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Carly lançou uma olhadela discreta à pequena festa que estava a fiscalizar, como directora de uma das empresas mais prestigiadas de organização de eventos de negócios. Perguntava-se quando poderia ir-se embora. Tratava-se da celebração do quadragésimo aniversário de um banqueiro e ele próprio escolhera a discoteca CoralPink de Londres. Carly nunca teria escolhido aquele lugar, mas o cliente tem sempre razão e não ia discutir aquela decisão.

A esposa do seu cliente não estava muito contente com a atenção que o marido estava a dar a algumas raparigas. Havia quase uma dúzia de garrafas de champanhe Cristal na mesa e um dos convidados estava a falar com uma jovem que passara por ela, para convidá-la a juntar-se a eles. A libido dos homens e o aborrecimento das esposas estava a aumentar tanto como a temperatura do lugar, pensou Carly preocupada.

Tentou resistir àquele trabalho, porque sabia que aquilo não era para ela. Preferia os eventos como o que fiscalizara naquele fim-de-semana: uma adorável festa surpresa de octogésimo aniversário que uma família dera a uma avó com demência senil. Carly gostava de dar tudo o que os clientes quisessem, apesar de o orçamento ser reduzido e, assim, poder sentir-se orgulhosa do resultado final.

A esposa de Mike Lucas ia explodir se o marido não parasse de seduzir a rapariga que conseguira agarrar. Carly levantou-se rapidamente e dirigiu-se a ele para tentar controlar a situação, antes que lhe escapasse das mãos.

Ricardo perguntava-se porque é que se deixou convencer em ir à festa. O interesse dele pela possibilidade de fazer um negócio esgotara-se. Odiava tudo o que acontecia ali e que podia resumir-se em homens ricos imorais a serem perseguidos por mulheres ambiciosas amorais, pensou com cinismo.

Alguma coisa atraiu a sua atenção: um grupo de quarentões barrigudos, a suar devido à combinação do calor do lugar e a multidão de raparigas, com pouca roupa, que andavam pelo clube, partilhavam a mesa com as suas esposas e namoradas, algumas mais jovens do que eles, mas nenhuma tão jovem como a rapariga para quem estavam a olhar. Era mais nova do que as outras, mas era uma mulher, não uma menina. Enquanto Ricardo olhava para ela, esta levantou-se e contornou a mesa até ao outro lado, onde um dos homens começara a apalpar uma morena de pernas compridas, a quem acabara de pedir uma garrafa de champanhe.

– Mike – disse Carly, sorrindo, enquanto se inclinava para ele, colocando-se estrategicamente entre este e a rapariga desconhecida.

– Olá, linda! Queres champanhe?

Mike Lucas puxou-a e sentou-a nos seus joelhos, enquanto lhe punha uma mão no peito.

Carly ficou gelada e percebeu que Mike estava demasiado bêbado para interpretar os olhares de raiva que lhe lançava. Ainda a rir-se, Mike puxou a outra rapariga e sentou-a da mesma forma.

– Olhem o que eu consegui – disse em voz alta aos amigos, enquanto mantinha uma mão no peito de Carly e outra no da rapariga desconhecida. – O que vos parece para um trio?

Ricardo continuou a olhar para a cena desagradável. A visão de mulheres a venderem os seus corpos não era novidade para ele, que crescera nos bairros mais pobres de Nápoles. Mas aquelas mulheres, aquelas convencidas, mimadas e preguiçosas mulheres da alta sociedade, com os seus vestidos de marca e jóias Cartier, eram, do seu ponto de vista, muito mais desprezíveis do que as prostitutas dos becos de Nápoles.

Levantou-se da mesa e deixou algumas notas, em cima desta. O homem que o convidara, estava a falar com alguém, ao balcão, mas Ricardo não se preocupou em ir até lá, para se despedir dele. Ser milionário permitia-lhe não seguir as convenções sociais.

 

 

Ricardo deu uma olhadela a um dos jornais que uma das suas assistentes pessoais deixara em cima da sua secretária. Leu-o enquanto bebia uma segunda chávena de café simples que bebia sempre. Alguns gostos podem adquirir-se, mas outros nunca poderão eliminar-se totalmente. Olhou carrancudo, um olhar agudo, mistura de raiva e orgulho, que brilhou nos seus olhos escuros como o basalto.

Não era um homem bonito, mas chamava a atenção, especialmente a das mulheres, que percebiam imediatamente a sua aura de homem desafiador de um ponto de vista sexual.

Agarrou o primeiro jornal e passou as páginas rapidamente, à procura do que queria. Um sorriso, na verdade, praticamente apenas o aparecimento dos dentes na pele escura que reflectia a sua origem italiana, desenhou-se na boca dele, enquanto os olhos não se afastavam do jornal, onde aparecia a nova «lista actualizada de ricos».

Não teve de ir muito abaixo, para encontrar o seu nome. De facto, podia contar com os dedos de uma mão, os que se encontravam acima dele.

Ricardo Salvatore, multimilionário, fortuna estimada… Ricardo soltou uma gargalhada, enquanto olhava para a notícia que falava da riqueza dele.

Por baixo do nome dele, havia algumas linhas que o descreviam, cingindo-se à verdade, como um solteiro de trinta e dois anos e, mentindo, que tinha feito a sua fortuna a partir da herança de um tio. Numa outra linha informavam que, em reconhecimento dos seus donativos de beneficência a diferentes causas, corriam os rumores que ia ser nomeado sir.

Ricardo sorriu de verdade.

Sir Ricardo! Grande sucesso para alguém que ficara órfão com a morte da mãe italiana e pai britânico, num acidente de comboio e que, por causa disso, crescera praticamente sozinho no pior dos subúrbios de Nápoles. Fora uma forma dura, até brutal de amadurecer, mas muitas vezes sentia mais respeito e admiração pelos seus companheiros de juventude do que pelas pessoas com quem se relacionava naquele momento.

Os laços familiares e a amizade íntima não eram coisas que tivessem feito parte da vida dele, mas também não sentia falta delas. De facto, gostava da solidão e da liberdade associada a ela. Aprendera desde muito jovem, ouvindo e observando, a sobreviver e a criar as suas próprias regras para viver. Tinha apenas dezoito anos quando fez a primeira aposta arriscada, ganhou e conseguiu comprar o seu primeiro navio mercante.

Deixou o jornal em cima da mesa, levantou um documento assinalado com a frase «Potenciais Aquisições» e leu-o em voz alta. Ricardo estava sempre à procura de novas aquisições para acrescentar à carteira dele e a Prêt a Party ia ficar muito bem dentro dela.

A primeira vez que ouviu falar da empresa, foi quando um contacto de negócios falara nela, de passagem, ao comentar que era amigo da família da mais jovem das suas proprietárias. De facto, conhecendo Marcus Canning como Ricardo conhecia, ficou muito surpreendido que um homem tão astucioso para as finanças como Marcus, não tivesse visto o potencial de negócio que havia ali.

Encolheu os ombros. A razão pela qual Marcus não vira o potencial de negócio da Prêt a Party era porque não lhe interessava. Ricardo era, por natureza, um predador e, como todos os caçadores, gostava da adrenalina da captura da presa, quase tanto como da inevitável morte final.

Prêt a Party podia parecer uma «presa» menor, mas a captura tinha de ser cuidadosamente preparada.

Ricardo não gostava da forma convencional de obter informação detalhada sobre as empresas: por um lado, podia desvendar a outros caçadores quais eram os seus interesses e, por outro lado, preferia os seus próprios métodos e o seu instinto.

A primeira coisa que queria fazer era arranjar um informador, que lhe dissesse como ia o negócio: como era a sua eficiência, rentabilidade e o quão vulnerável seria a uma fusão. A melhor pessoa para dizer-lhe aquilo era, claro, a proprietária, Lucy Blayne, mas era esperta de mais para fornecer essa informação a um potencial comprador. Por isso, decidiu pôr-se na posição de potencial cliente. O típico cliente susceptível, que quer conhecer cada detalhe de como vai gastar o seu dinheiro antes de o entregar. O tipo de cliente que insiste em conhecer as capacidades da Prêt a Party em organizar eventos.

É claro que para poder levar a cabo todas aquelas «excentricidades», tinha de oferecer a Lucy Blayne uma cenoura muito grande e suculenta.

E era exactamente isso que ia fazer.

 

 

– Carly! Graças a Deus que estás de volta. Isto está um caos!

Enquanto entrava no pequeno e sempre caótico escritório da Prêt a Party, na rua Sloane, uma das melhores zonas de Londres, Carly pensou que se a doce Lucy Blayne, antiga colega de escola e, naquele momento, sua chefe, disse que as coisas estavam caóticas, é porque devia ser verdade.

Uma rapariga nova, bonita, mas de olhar aterrado, corria de um lado para o outro, tentando atender o telefone que não parava de tocar, enquanto outras duas, não tão novas, garantiam aos clientes que estava tudo pronto para os seus grandes eventos.

– Estamos tão incrivelmente ocupadas: o jantar que organizámos para a super-mulher da cadeia de joalharias, saiu na Vogue e Nick está a trazer-nos demasiado trabalho – disse Lucy com entusiasmo.

Carly não disse nada. Fazia todos os possíveis para que Lucy não percebesse o quanto Nick não gostava dela. Além do mais, não havia forma de dizer à amiga qual era a causa. Lucy estava profundamente apaixonada pelo seu novo marido e Carly tinha consciência do mal que faria à amiga, saber que Nick insinuara, há uns dias atrás, que Lucy ia gerir a empresa.

– Oh! – a rapariga quase deixou cair o telefone da mão. – É o duque de Ryle – disse a Lucy, imitando a forma de falar da nobreza, – e quer falar contigo.

Lucy revirou os olhos.

– Não desapareças, preciso de falar contigo sobre uma coisa importante – disse a Carly, antes de atender alegremente. – Tio Charles, que alegria. Como está a tia Jane?

Sorrindo, para tranquilizar a rapariga nova que tinha corado, Carly foi até ao escritório dela, suspirando ao entrar, como se tivesse encontrado um lugar de paz.

Descobriu uma nota na mesa e sorriu quando a leu:

 

Atenção: Lucy é prisioneira do pânico.

Jules.

 

As três, Lucy, Julia e Carly, tinham andado juntas na escola e Carly sabia que Jules duvidara, tanto como ela, quando Lucy lhes falou do projecto dela, de montar uma empresa para organizar eventos.

Mas Lucy podia ser muito persuasiva quando queria e, naquele momento, nenhuma delas tinha outro trabalho e Lucy, graças à herança que recebeu, podia ao mesmo tempo manter o negócio e pagar-lhes um salário razoável. Por isso, não puderam recusar a oferta.

Três anos depois, Carly, para seu próprio espanto, viu-se obrigada a admitir que o negócio de Lucy começara a parecer ter potencial para transformar-se num grande sucesso se continuassem a manter-se firmemente agarradas à realidade e a controlar os custos.

– Olá!

– Jules!

– Como foi ontem à noite?

Carly fez uma careta.

– Bom, digamos apenas que o jornalista que fotografou Mike Lucas, com uma mão debaixo do vestido da honrada Seraphina de Ordley Matthew Williamson e a outra no peito do meu respeitável vestido Armani em segunda mão, se deu conta do seu pecado: «Não fotografarás a sobrinha de um dos maiores accionistas da indústria têxtil numa pose que mais parece de uma concorrente do Big Brother»

– Ordley? – murmurou Jules. – Então, também é uma Harlowe – como era neta de um conde, Julia conhecia, de uma ponta à outra, a nobreza de Burke. – Diz-se que o lema dos Harlowe é «assim na acção como no nome». É um título de Carlos II – explicou Jules. – Entregou-os como se fossem rebuçados às amantes que abandonava. Não te vejo a rir – afirmou.

– Tu também não te rias se tivesses lá estado.

– Foi assim tão horrível?

Quando Carly se limitou a olhar para ela, em vez de dizer alguma coisa, Jules riu-se.

– Está bem, lamento. Devia ter ido eu, mas deixei que tu o fizesses. Agarrou-te mesmo no seio? O que fizeste?

– Lembrei a mim mesma que a noite ia dar-nos um lucro de seis mil libras.

– Oh!

– Não foi divertido, Jules! – protestou, quando a amiga desatou a rir-se. – Gosto muito de Lucy e a maior parte do tempo estou agradecida por me incluir nos planos dela, mas a noite de ontem…

– Foi uma das de Nick, não foi?

– Sim – afirmou Carly, bruscamente.

– E no fim-de-semana, conseguiste ir vê-los?

Carly franziu o sobrolho. As três eram muito unidas e não havia segredos entre elas.

Jules, ou a Honorável Julia Fellowes, para dar-lhe o tratamento correcto, acariciou-lhe o braço e Carly abandonou as suas reticências.

– Foi espantoso – disse, simplesmente. – Ainda não consigo acreditar que tenham realmente assumido a situação. Tenho muita pena deles. Perderam muito: a propriedade e tudo o que estava nela. E o prestígio de viver ali era muito importante para eles. E agora isto.

– Bom, pelo menos, graças a ti, têm um tecto para viver.

– A Casa Dower – disse Carly. – Odeiam viver ali.

– Quando penso em como mendigaste para conseguir um empréstimo e comprar parte da propriedade para eles.

– Não poderei levar uma vida de luxo, mas consegui um empréstimo. Graças a ti estou a viver de graça numa das zonas mais elegantes de Londres, tenho um trabalho de que gosto e todas as viagens que quero.

Ao princípio, resistiu a aceitar a oferta generosa de Jules em partilharem os três, o apartamento dela. Os três eram Jules, Carly e o triste célebre hábito de Jules: «tenho um mau dia, preciso de ir às compras». Outras pessoas comiam chocolate ou discutiam com a mãe. Jules comprava sapatos.

Mas quem era ela para ridicularizar as manias das outras pessoas? Desde que se lembrava, que poupava: dinheiro para não se curvar. Não lhe servia de muito, naquele momento. Graças às necessidades dos seus pais adoptivos, a conta no banco estava sempre vazia.

– É um peso sobre os ombros que ninguém conseguia suportar – disse Jules, com um tom protector.

– Acho que devia ter ficado mais algum tempo. Senti-me culpada por me ir embora.

– Sentiste-te culpada? Tu está louca. Carly, não lhes deves nada. Quando penso no que te fizeram!

– Referes-te, por exemplo, a darem-me uma educação de primeira? – perguntou Carly, calmamente.

Era em momentos como aquele, que era mais consciente do abismo que havia entre ela e as outras duas. Apesar de terem partilhado a mesma educação, nasceram em mundos diferentes.

– Tiveste de pagar por isso – disse Jules.

Carly não respondeu. Afinal de contas, era verdade, mas não no sentido que Jules dissera. O preço que considerava insuportável era saber que estava destinada a ser uma excluída, alguém que não encontrava o seu lugar em lado nenhum.

Julia deu-lhe outro abraço.

Julia era bonita e morena. Lucy era doce e loira. Carly invejara as duas, da mesma maneira que invejara todas as raparigas da escola: raparigas que sabiam, sem dúvida nenhuma, que estavam no lugar certo, no seu próprio mundo. Não como ela. Ela sempre soube que não tinha direito a estar ali, naquele ambiente distante e rico. Sentira-se deslocada, uma farsante, uma pobre, um caso de caridade, alguém cuja vida fora comprada. E, é claro, rapidamente toda a gente ficou a saber porque é que estava ali.

– Às vezes pergunto-me o que raios faço neste negócio! – exclamou Lucy, enquanto se aproximava delas.

– Só às vezes? – gozou Carly.

Lucy sorriu.

– Temos um cliente com o maior pedido que tivemos até agora. Nick está com ele neste momento.

Carly afastou a vista discretamente, ao ver uma pequena sombra nos olhos de Julia. Fora Julia quem apresentara Nick a Lucy e, às vezes, Carly perguntava-se se o atraente e falso Nick, que ela achava tão pouco interessante, não impressionara Julia tanto como depois o fez a Lucy. Preocupava-se, porque não sabia se Nick casara com Lucy pelo dinheiro e posição dela ou porque se apaixonara realmente por ela. Pelo bem de Lucy, esperava que fosse o segundo, mas acontecera tudo tão depressa, demasiado depressa, pensava Carly. E ali estava Nick, um homem de quem não gostava e em quem não confiava, a adquirir um papel muito relevante na empresa.

– De que tamanho? – perguntou Carly.

– Jules, podes chamar uma das raparigas? – pediu Lucy. – Morro por um café! Absolutamente enorme. Parece que conhece Marcus, por isso podes imaginar como eu me sinto.

Marcus Canning era a pedra no sapato de Lucy, amigo da família e um dos administradores do testamento dela e que, contra os desejos de Lucy, insistira em manter-se totalmente informado de cada detalhe do negócio, antes de permitir que Lucy investisse o dinheiro da herança. Carly pensava que Marcus Canning, com a boa reputação que tinha para os acordos financeiros, era alguém que convinha ter no navio, e sentira-se orgulhosa e agradecida quando, na última reunião de finanças, ele lhe perguntara o que é que ela pensava do aspecto económico e financeiro da empresa.

– E claro, se nos recomendar, então teremos de organizar o que quer que seja – anunciou Lucy, entusiasmada.

– Quem é e o que quer? – perguntou Julia.

– É Ricardo Salvatore. Um milionário com uma história impressionante. Saiu um artigo sobre ele, num jornal, há alguns meses. Nasceu em Nápoles e ficou órfão muito novo. Fugiu do orfanato com dez anos e viveu com um grupo de miúdos que sobreviviam roubando ou mendigando. Agora é rico e tem, entre outras coisas, três das mais exclusivas linhas de cruzeiros do mundo. O que quer de nós é que organizemos festas privadas e esse tipo de coisas nos cruzeiros e noutros lugares por todo o mundo. As casas, ou as ilhas, onde se organizarão, também são dele. Telefonou esta manhã cedo, em muito mau momento. De facto, ainda estávamos na cama – fez uma careta e riu-se. – Pobre Nick, estava… bom, não interessa. Nick acabou de me ligar para dizer que vêm a caminho. Ricardo disse-lhe que antes de tomar uma decisão quer observar, como uma espécie de convidado, vários eventos que tenhamos organizado.

– O quê? Vais deixá-lo entrar nas festas de outras pessoas? – perguntou Carly. – Tens a certeza de que é uma boa ideia?

– Não consigo imaginar nenhum do nossos clientes recusar ter um milionário como convidado extra – disse Lucy, à defesa. – De qualquer modo, Nick já lhe disse que sim e a questão é que vais ser tu a acompanhá-lo, Carly.

– Eu?

– Uma de nós tem de ir com ele – assinalou Lucy. – Além disso – mordeu o lábio. – Olha, não leves a mal, mas acho que tu tens mais em comum com ele do que nós as duas, e vai sentir-se mais confortável contigo.

Carly demorou alguns segundos a entender o que queria dizer, e quando compreendeu, corou.

– Estou a ver – sabia que a voz estava tensa e nervosa, mas não conseguia evitar. – O que quer dizer é que é um homem que construiu a sua própria fortuna e não a herdou da alta sociedade.

– Oh, bolas! Sabia que ias interpretar mal – Lucy queixou-se. – Sim, eu sei que é um milionário que trabalhou para chegar onde está, mas não era isso que eu queria dizer. Não tem nada a ver com o tipo de homem! Quero que sejas tu a acompanhá-lo, porque sei que causas melhor impressão do que nós. Parece que se interessa pelas mesmas coisas que tu: ler, museus e exposições. E é imprescindível causar-lhe uma boa impressão e garantir o negócio – respirou e dirigiu-se às duas. – Não queria dizer-vos isto, mas a verdade é que as coisas não estão assim tão bem. O incêndio do armazém, no princípio de ano, destruiu grande parte do nosso…

– Mas estávamos no seguro! – protestou Carly.