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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Penny Jordan

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Cantagear uma mulher, n.º 2194 - janeiro 2017

Título original: Blackmailing the Society Bride

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9453-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

– Então, está a dizer-me que o meu ex-marido me arruinou a mim e ao meu negócio? Que estou na bancarrota?

Lucy olhou para o seu advogado.

Estava a ser assaltada por um sentimento de choque e de pânico, tinha a sensação de que a situação em que se encontrava imersa era tão terrível e insuportável que não podia ser real.

Mas era! Ela estava ali, sentada diante do senhor McVicar, enquanto este lhe dizia que o seu ex-marido arruinara totalmente a reputação e o estatuto económico da sua empresa de organização de eventos. Ela empregara todo o seu entusiasmo e a sua alegria antes do seu casamento em criar a empresa, e esta já não era viável.

Nick enganara-a sexual e economicamente durante todo o seu breve casamento… Mas, não o teria enganado um pouco também ela? O sentimento de culpa não a ia ajudar naquele momento, disse Lucy a si própria, pensando em todos os problemas que tinha de enfrentar agora.

– Tenho alguns eventos para o resto do ano… – disse Lucy ao advogado, fazendo figas para que este não lhe perguntasse quantos, visto que eram muito poucos. – Talvez perante isso, o banco…

O seu advogado abanou a cabeça.

Simpatizava com a sua cliente jovem e bonita, e dava-lhe pena. Mas na sua opinião, esta era demasiado amável para o desumano mundo dos negócios.

– Lamento, minha querida, mas tal como você disse, vários potenciais clientes cancelaram os seus eventos e pediram que lhes devolvesse o dinheiro que tinham entregado como depósito, e receio… Bom, digamos simplesmente que vivemos num mundo desumano, no qual a confiança não tem valor.

– E devido ao que Nick fez, ninguém vai voltar a confiar na Prêt a Party? É isso que quer dizer? – perguntou Lucy com amargura. – Embora Nick já não faça parte do negócio, nem da minha vida, e tenha sido eu a criar a empresa?

O advogado olhou para ela com simpatia.

– Eu não culpo os clientes por desistirem. Afinal de contas, presumo que, para eles, se fui estúpida ao ponto de me casar com Nick, não tenho muita credibilidade – adicionou Lucy com humor amargo.

Aquilo era o que Marcus pensava. Sabia muito bem disso.

Marcus. Se havia pessoa que desejava apagar da sua vida era Marcus, não Nick.

– Não há nada que eu possa fazer para salvar o negócio? – perguntou ao advogado.

– Se pudesse encontrar um novo sócio, alguém com solidez económica, que as pessoas respeitassem e em quem confiassem, e que estivesse disposto a injectar o capital suficiente para fazer frente a todas as obrigações da Prêt a Party…

– Mas penso pagá-las eu. Ainda tenho dinheiro da minha herança – interrompeu-o Lucy.

– Sim, é claro, eu sei. Mas receio que, embora seja algo muito louvável, não ajudasse a que os seus clientes voltassem a depositar a sua confiança em si, Lucy. O seu ex-marido prejudicou a reputação do seu negócio e o facto de as suas sócias terem abandonado a Prêt a Party…

– Mas isso é porque agora ambas estão casadas e têm outras responsabilidades, é só isso. Não foi por nenhuma outra razão! Carly está grávida e tem um filho para cuidar, além de trabalhar com Ricardo nos orfanatos que ele fundou, e Julia tem um bebé para cuidar… E além disso está envolvida na Fundação…

– É claro… – disse o seu advogado, solidariamente. – Eu sei, Lucy. Mas infelizmente os clientes não vêem isso. Lamento, a sério, minha querida – fez uma pausa. – Pensou em falar com Marcus? Ele…

– Não! Nunca! E proíbo-o de lhe dizer alguma coisa sobre tudo isto, senhor McVicar – disse Lucy com ferocidade, levantando-se.

Não ia dar o gosto a Marcus de que lhe dizer que a avisara desde o início que aquilo iria acontecer. Como iria gostar de olhar para ela com desprezo, apontando-lhe tudo o que fizera mal e tudo em que falhara!

Aos olhos da sua família e de Marcus, parecia que ela não fizera outra coisa senão falhar na vida.

Para começar, nascera rapariga e não rapaz, ou seja uma rapariga que deveria casar-se, em vez de um herdeiro. E aquilo deixara Lucy com o sentimento de que os defraudara por ser do sexo errado. Nunca o dissera, mas ela tinha uma grande sensibilidade para saber o que as pessoas sentiam. E sentira a desilusão dos seus pais. Do mesmo modo que sentira a irritação de Marcus para com ela.

Claro que ninguém precisara de imaginar o que Marcus pensava, porque ele não tinha problema em dizê-lo. Deixara-o claro desde o início, quando lhe dissera que não lhe parecia bem que o seu falecido tio-avô lhe tivesse deixado semelhante quantia de dinheiro.

– Presumo que tenha sido por isso que aceitaste ser o meu administrador, não é? Porque não aprovas que eu tenha o dinheiro e queres complicar-me a vida…

– Esse comentário só confirma a minha ideia de que o teu tio-avô não estava no seu perfeito juízo quando fez o testamento – fora a resposta de Marcus.

– Esperavas que to deixasse a ti? – respondera-lhe Lucy.

Marcus olhara-a com desprezo e respondera-lhe:

– Não sejas tão infantil!

Naquele momento, ela apercebera-se de que Marcus tinha milhões no banco comercial da sua família, do qual era o director.

O senhor McVicar olhou compreensivamente para ela. Conhecia perfeitamente a tensão que existia entre a sua cliente e o rico banqueiro que o seu falecido tio-avô deixara como tutor do dinheiro que deixara a Lucy.

Aquele dinheiro tinha desaparecido quase totalmente naquele momento, devorado pela ambição e as acções fraudulentas do seu ex-marido e o fracasso do seu negócio.

Mas, mesmo assim, o advogado considerava que não havia pessoa melhor para a ajudar na sua actual situação do que Marcus, cuja capacidade para os negócios era conhecida.

O próprio senhor McVicar não quisera que Lucy aceitasse o pedido do seu banco para pôr o dinheiro herdado como garantia da Prêt a Party, mas ela não lhe ligara. Do ponto de vista moral, não se podia reprovar nada a Lucy, mas infelizmente fora demasiado crédula e agora estava a pagar o preço disso.

– Se conseguisse um sócio rico disposto a injectar dinheiro no negócio, então…

– Na verdade, foi o que estive a fazer – mentiu Lucy.

Não compreendia o que a fizera dizer tal coisa, se fora a menção de Marcus o que a fizera inventar semelhante história.

O advogado olhou para ela, surpreendido e aliviado.

– Bom, isso é uma boa notícia, Lucy. Muda completamente as coisas – adicionou o advogado com entusiasmo. – É a melhor solução, de facto. Mas é algo de que teremos de falar. Acho que devíamos marcar uma reunião com o sócio ou sócia que propõe e o seu conselheiro legal o quanto antes. Oh!, e, é claro, devemos informar o seu banco do que está a acontecer. Tenho a certeza de que serão flexíveis assim que souberem que injectará dinheiro na empresa. Também me parece que seria uma boa ideia fazer publicidade a isto, inclusive que colocasse um anúncio nos jornais que os seus clientes costumam ler habitualmente, dizendo que o seu ex-marido agora já não tem acesso a nenhum aspecto da empresa. Isso contrabalançaria o efeito terrível que o comportamento fraudulento de Nick causou no seu negócio.

Lucy amaldiçoou-se e amaldiçoou Marcus por a ter impelido a dizer semelhante estupidez. Porque faria tudo menos ir ter com ele.

Como raios iria admitir agora perante o senhor McVicar que mentira?

– Hum… Não posso dizer-lhe neste momento quem é o investidor, senhor McVicar. É um segredo. As negociações… Bom, já sabe como são estas coisas.

– É claro. Mas quero recordar-lhe, Lucy, que o tempo é crucial.

Lucy assentiu.

Uma vez fora do escritório do bairro de Mayfair, em Londres, deixou escapar algumas lágrimas de autocompaixão.

Como pudera mentir daquele modo? Sentia-se culpada e envergonhada. O que raios iria fazer? Só um milagre poderia salvá-la.

Virou na esquina e entrou em Bond Street, sem se incomodar em olhar para as montras das suas lojas preferidas. A roupa de marca realmente não era algo que a atraísse. Gostava de roupa antiga, encontrada em mercados de rua e nos sótãos das casas. Gostava dos tecidos…

De certo modo, era uma mulher antiquada que desejava voltar a ter uma vida tranquila. Na verdade, teria adorado casar-se e ter imensos filhos criados numa casa de campo com o seu marido. Invejava a vida feliz das suas duas melhores amigas, casadas e com filhos. Mas ela tinha o seu orgulho e não iria contar-lhe.

Ao passar por um quiosque, uma revista chamou-lhe a atenção. O seu editor contratara vários eventos com a sua empresa. E ela chegara a pensar em pedir-lhe ajuda, mas não o fizera porque tratava-se de uma das pessoas mais bisbilhoteiras que conhecia e não queria aparecer nas suas páginas.

Os maridos das suas duas melhores amigas, e ex-sócias, eram homens muito ricos, e ambos tinham-lhe oferecido ajuda, mas Lucy não podia aceitá-la. Por um lado, devido àquele seu maldito orgulho, e por outro, porque não só precisava de ajuda económica, como também de alguém que valorizasse a sua empresa, trabalhando com ela no negócio, para demonstrar que não era tão estúpida como toda a gente pensava que era.

Sim, casar-se com Nick fora um erro, e sim, precipitara-se ao fazê-lo, tal como Marcus lhe dissera. Mas ela tivera os seus motivos e jamais os contaria a Marcus.

Lucy comprou a revista A-List Life e deu-lhe uma vista de olhos por curiosidade. De repente, viu nela o nome da sua empresa, mencionando que fora a festa preferida da revista.

No meio, havia uma fotografia da festa que tinham organizado para a revista no Verão do ano anterior.

Algumas lágrimas apareceram nos seus olhos. Dorland, o editor, era uma alma generosa apesar da sua natureza bisbilhoteira e, evidentemente, quisera ajudá-la na medida das suas possibilidades.

Embora também fosse publicidade para a sua própria revista.

Naquela altura, ela descobrira que Nick a enganava, mas não soubera nada das operações fraudulentas que estava a cometer no seu negócio. Embora as suas amigas Carly e Julia tivessem suspeitado.

Mas, como estavam preocupadas com ela, não lhe tinham contado. Uma delicadeza que Marcus não tivera, uma vez que lhe fizera uma lista das actividades fraudulentas nas quais Nick estivera envolvido.

Marcus acusara-a praticamente de se ter casado com Nick para ter sexo, em vez de ter dado umas voltas sem se casar.

– Talvez me tenha casado porque queria mais alguma coisa para além de sexo – respondera-lhe Lucy.

Quisera mais alguma coisa para além de sexo. Mas não o tivera. Quanto ao sexo… Nick desprezara-a devido à sua falta de experiência, dizendo-lhe que era frígida e que o arrefecia. E ela sentira-se demasiado afectada pelas suas palavras e culpada para protestar.

– Mais do que sexo? Pensava mesmo que conseguias obter mais de alguém como ele? – perguntara-lhe Marcus.

– E, tu, tens muito direito de me criticar! – exclamara Lucy acaloradamente. – Eu não vejo que tu tenhas muito sucesso em conseguir uma relação estável!

– Se calhar foi porque não decidi comprometer-me. Posso-te garantir que quando o fizer, o meu compromisso e a minha convicção será inamovível. Garanto-te que não tomarei a decisão de me casar achando que estou apaixonado depois de um namoro de férias de Verão.

Lucy apertou as mãos, recordando aquelas palavras de desprezo ditas por Marcus com aquele olhar arrogante.

– Não foi… Eu não… – Lucy tentara defender-se.

– Oh, vá lá, Lucy! Todos sabemos o que aconteceu. Afinal de contas, as fotografias foram distribuídas por todas as revistas de mexericos de famosos. Tu, sem a parte de cima do biquíni, em cima de Blayne, a dizer que estavas disposta a divertir-te enquanto procuravas o que te faltava.

– Meu Deus! Lembras-te do título, palavra por palavra. Tiveste de praticar durante muito tempo para conseguir, Marcus?

Sempre se arrependera daquelas palavras gravadas por aquela revista. Mas ela estava sob o efeito do jet lag no momento em que as pronunciara; fizera as malas com tanta pressa, que se esquecera de pôr os sutiãs e cuecas de biquínis a condizer, e fora surpreendida por um paparazzi sem nada melhor para fazer e ninguém melhor para fotografar. E, naturalmente, tentara sair da situação dizendo algo, sobretudo porque sabia que aqueles paparazzi podiam ser muito importantes para o sucesso do seu negócio.

Nem todas as celebridades realmente queriam evitar as máquinas fotográficas. Algumas, inclusive, iam a festas e eventos onde sabiam que as iriam fotografar. E ela sentira que não podia ofender o rapaz que a fotografara, apesar dos seus sentimentos pessoais.

Se a tivessem fotografado vinte e quatro horas mais tarde, depois de ter dormido bem e depois de ter pedido um biquíni emprestado a Julia, teria dito a verdade: que estava de férias, a descansar depois do stress que pressupunha gerir um negócio de sucesso.

Infelizmente, o fotógrafo deduzira que a sua vida era mais interessante do que era na realidade e depois disso não a largara.

Nick não se importara. E ela pensara que, ao contrário de outros homens, ele conseguiria suportar o seu trabalho e o efeito que tinha na sua vida privada. Sem se aperceber de que para Nick tudo tinha um preço, incluindo as fotografias que tinham tirado juntos.

Ela só se apercebeu de que estavam a criar-lhe uma imagem pública quando já era demasiado tarde e as fotografias já estavam publicadas. E, nessa altura, Nick e ela já se tinham casado.

Naturalmente, ela tivera de disfarçar o desconforto que tudo aquilo lhe provocava e fingir que gostava daquela vida frívola, e que a única coisa que pretendia era dizer ao mundo inteiro o quanto amava o seu novo marido. Mesmo que, nessa altura, aquele marido flamejante andasse a chamar-lhe frígida e inútil na cama, e passasse mais noites fora da sua cama de casal que dentro dela.

Lucy olhou para o seu relógio. Estivera mais tempo com o seu advogado do que pensara e tinha de ir ao aniversário da sua tia-avó Alice, que fazia noventa anos. A sua tia Alice vivia em Knightsbridge, num apartamento antigo que estava sempre frio, apesar de ser imensamente rica, porque não queria ligar o aquecimento central. Ninguém gostava de a visitar no Inverno e até os mais sensatos vestiam camadas de roupa para se defender do frio que, segundo a tia Alice, era bom para a saúde, e o motivo pelo qual ela estava tão saudável aos noventa anos.

– Mentira! – dizia sempre Johnny, o seu primo de dezanove anos. – A razão pela qual ainda está viva é porque é demasiado avarenta para morrer. Deus sabe bem os milhões que eu receberia se morresse!

– E quem te garante que vais receber alguma coisa? – perguntara o seu irmão Piers.

– De certeza. Sou o seu favorito – respondera Johnny.

– Sim? Bom, é preciso reconhecer que estás a fazer por isso – escarneceu Piers.

Johnny era conhecido na família pelo seu estilo de vida boémio, a sua falta de dinheiro e a sua natureza sedutora com toda a gente.

Naturalmente, Marcus não gostava de Johnny.

Marcus! Ela não gostava de Marcus, pois não?

Todos os seus problemas começassem e acabassem em Marcus. O que a atirara para os braços de Nick fora o seu amor por Marcus. Porque sabia que teria sido um amor não correspondido. E como não conseguia deixar de o amar, apesar de todas as suas tentativas para deixar de o fazer, tratava-o com hostilidade e ressentimento. Este era o seu escudo, a única protecção que tinha contra a possível humilhação de Marcus, ou de qualquer pessoa, se descobrisse o que sentia por ele.