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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Penny Jordan

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Não sem o teu amor, n.º 858 - Fevereiro 2016

Título original: Mistress of Convenience

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2005

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7905-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Epílogo

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Capítulo 1

 

– Uau! Olha para isto! Sua Alteza Real com o industrial que toda a gente jura que não fará concessões. Não parecem demasiado amigos para se declararem eternos inimigos?

Suzy tinha de fazer um grande esforço para ouvir a voz de Jeff Walker, o fotógrafo da revista para a qual ambos trabalhavam. Acima do barulho da festa, ouviu-o dizer:

– Tenho de tirar uma fotografia! Vem.

Aquele era o seu primeiro mês de trabalho na revista e seguiu-o imediatamente.

Quando já dera alguns passos, o seu companheiro exclamou, com amargura:

– Raios partam! O coronel Lucas James Soames está com ele. É um ex-comando das Forças Especiais, um herói e um inimigo da imprensa! – explicou, impaciente, ao ver que Suzy franzia o sobrolho, como se hesitasse. – Isso, apesar de uma jornalista inglesa olhar para ele com lascívia, durante a sua última campanha!

Suzy fingiu saber do que ele estava a falar, quando, na verdade, não sabia nada sobre o coronel Soames. Olhou em redor, discretamente, mas não viu ninguém com uniforme militar.

Sabia que devia estar agradecida ao tutor da universidade, por tê-la recomendado para aquele trabalho. O homem mostrara-se tão entusiasmado ao falar daquela grande oportunidade, que ela fora incapaz de recusar aquele lugar provisório. Porém, após passar um mês a trabalhar na Secção de Política da revista, começava a suspeitar que cometera um erro.

Não sabia se era porque estivera totalmente afastada da profissão durante os últimos dois anos da sua vida, o tempo que estivera a cuidar da sua mãe, mas sentia-se desconfortável, em relação aos métodos que a revista empregava para conseguir notícias interessantes. Sentira-se imensamente mais velha do que os seus companheiros de universidade, quando voltara a estudar, para completar o seu curso.

– Lamento... – começou a desculpar-se. – Não vejo o coronel.

Contudo, via um homem, a alguns metros dali, que se destacava dos outros. Era muito atraente. As hormonas de Suzy pareceram acordar para a vida e o seu coração começou a bater, acelerado. O facto de ele estar sozinho despertou ainda mais o seu interesse...

Sentiu vontade de se aproximar dele, talvez para que ele falasse ou olhasse para ela. Estaria louca?

Tinha as pernas a tremer e o coração acelerado. Não sabia se era por causa da surpresa ou da excitação. Ela, excitada? Por causa de um estranho? Era demasiado sensata para uma coisa dessas. Demasiado!

Decidiu olhar para o outro lado. No entanto, ele virou a cabeça e ela ficou fascinada e cada vez mais excitada. Desejava aquele homem.

Seria possível?

Não conseguiu evitar observá-lo. Ele não estava a olhar para ela, mas passou ao seu lado. Naquele instante, Suzy olhou para ele com atenção e observou todos os seus traços físicos. Alto, moreno e bem-parecido... Por muitos adjectivos que usasse, não chegavam para descrever aquele homem impressionante. Ele era muito mais. Era o homem mais sexy que ela vira na vida. O seu coração voltou a bater precipitadamente quando ele virou novamente a cabeça, como se soubesse que ela estava a olhar para ele. O desconhecido fixou os seus olhos nela, fazendo-a prisioneira do seu olhar, e ela sentiu-se incapaz de se mexer!

Na verdade, sentiu-se como se ele estivesse a fazer-lhe uma radiografia e ficasse a saber tudo sobre ela!

Suzy corou e deu-se conta que o olhar penetrante do homem parava na sua boca. Sentiu que os seus lábios começavam a abrir-se, como se desejassem um beijo dele. Então, fechou-os rapidamente, corando.

O homem tinha os olhos azuis-escuros, a pele bronzeada e o cabelo castanho, tão escuro que parecia preto. O seu perfil era o de um deus grego e, como se isso não fosse suficiente, tinha uma aura de sexualidade que despertaria os sonhos mais secretos de qualquer mulher...

Felizmente, Suzy conseguiu controlar os seus pensamentos a tempo de ouvir Jeff dizer, cortesmente:

– Tens que distrair o coronel, enquanto eu tiro a fotografia.

– O quê? – perguntou Suzy, olhando para a multidão que rodeava o Príncipe.

– Onde... onde está?

– Ali, ao lado do Príncipe e da Secretária de Estado.

Suzy olhou do fotógrafo para o homem que ele acabara de indicar. Era «o homem», «o seu homem».

– Mas... mas disseste que era um coronel... Não tem farda – balbuciou, como uma tola. «Que parvoíce!», pensou.

– Farda? – perguntou Jeff. – Não, claro que não usa farda! Já não está no exército. Em que mundo vives? Ele trabalha por conta própria, dando protecção àqueles que necessitam, embora não precise de trabalhar. Tem muito dinheiro e contactos. O pai dele era o filho mais novo de uma antiga família aristocrática e a mãe era americana. É um ex-aluno de Eton. Esteve na Irlanda do Norte e foi promovido a major, depois foi condecorado pelo serviço que prestou na Bósnia... Então, conseguiu mais uma promoção, mas... – Jeff fez uma pausa, antes de sussurrar: – Como te disse, já não está no exército, embora continue a fazer trabalhos perigosos... como guarda-costas, por exemplo. É muito solicitado entre as pessoas importantes: chefes de Estado, políticos, etc. – De repente, Jeff levantou a voz e exclamou, entusiasmado: – Olha para isto! Se eu conseguir esta fotografia não precisarei de voltar a trabalhar! Isso... Fica aí, rapaz... – murmurou para si e disse a Suzy: – Vem! Tens que distrair o coronel para eu poder tirar esta fotografia!

– O quê? O que devo fazer? – perguntou Suzy, ansiosa, olhando para onde o coronel estava.

Jeff olhou para ela, desesperado.

– Por que me calhaste tu, em vez de alguém com mais experiência nestas coisas? Ouvi dizer que Roy só te escolheu para te fazer um favor e porque gosta das tuas pernas... Provavelmente entrevistou-te, imaginando como elas ficariam em redor dele.

Suzy tentou disfarçar o nojo que aquelas palavras lhe provocaram. Os comentários de cariz sexual do seu chefe eram um dos motivos pelos quais não se sentia à vontade no seu trabalho.

– És uma mulher, não? Aproxima-te e faz alguma coisa – resmungou Jeff, antes de abrir caminho entre a multidão, deixando que ela o seguisse.

Um estremecimento de excitação percorreu o corpo de Suzy ao olhar para o homem que, agora, estava, exactamente, à sua frente. Decididamente, era o homem mais sexy que vira na sua vida.

«Que ombros largos! Que cara linda!», pensou.

Começava a preocupar-se seriamente com a sua reacção a ele! A sua amiga Kate passava a vida a censurá-la por sair pouco. Agora, Suzy dava-lhe razão. Não era normal reagir assim diante do primeiro homem que via.

Fechou os olhos, desejando recuperar o bom-senso...

O que havia de excepcional num homem de smoking? O que havia de excepcional naquele homem de smoking?

Bom, para começar, ele usava o smoking com tanta naturalidade que era evidente que estava acostumado a fazê-lo e, além disso, assentava-lhe que nem uma luva. Qual seria o seu aspecto com a farda de combate?

Estremeceu, ao imaginar.

Aqueles dentes brancos... Suzy tinha a certeza de que, por debaixo da roupa, devia ter uns músculos muito bem modelados, para que o smoking lhe assentasse tão bem!

Pelo canto do olho, viu que Jeff estava a olhar para ela, com o sobrolho franzido. Suzy respirou fundo e deu um passo em frente, pensando num plano de acção.

Sorriria ao coronel e, depois, pedir-lhe-ia desculpas por tê-lo confundido com outra pessoa. Seria um segundo, mais nada, para que Jeff pudesse tirar a fotografia.

Tentou descontrair-se e deu um passo em frente, sabendo que aquela não era a sua forma normal de se comportar.

De repente, porém, parou. Dera, apenas, um passo, mas o coronel já se encontrava a poucos centímetros. Como era possível?

Sentiu o seu perfume, misturado com algo muito masculino, uma fragrância muito inquietante para as suas hormonas.

Ele agarrou-a pelo braço.

Suzy olhou para ele, surpreendida, como se acabasse de sair de um estado de transe. Contudo, um instinto, mais profundo do que qualquer pensamento, apoderou-se dela e não pôde fazer outra coisa senão entregar-se a ele. Os olhos azuis pousaram nela. Suzy excitou-se ainda mais ao senti-lo e, então, a desculpa que estivera a praticar mentalmente ficou entalada na sua garganta. Levada pelo desejo, desviou os olhos do fogo dos olhos azuis do general para a curva da sua boca. Todo o seu corpo estremeceu, sacudido por uma série de tremores minúsculos, e soltou um suspiro de prazer.

Sem saber o que estava a fazer, ergueu a sua mão livre para desenhar com o seu dedo a linha firme da sua boca, para saber se a pele tinha a suavidade que ela imaginara. De repente, porém, baixou a mão, pensando num plano ainda mais agradável.

Tinha que se pôr em bicos de pés para o beijar, mas a mão que a segurava pareceu ajudá-la a manter o equilíbrio. O rumor das conversas, na sala, pareceu desaparecer, quando os lábios de Suzy o beijaram e ela descobriu que era como abrir uma porta a um mundo novo.

Cega e surda a tudo o que a rodeava, Suzy deixou escapar um gemido de prazer, um sussurro ofegante, de reconhecimento feminino.

Fechou os olhos e apoiou-se no corpo masculino, esperando, faminta, que o coronel correspondesse ao beijo, que abrisse os seus lábios com a pressão da sua língua, para partilhar com ela a intensidade devoradora do desejo que despertara nela.

Ao suspirar, de prazer e desejo, contra a boca dele, Suzy sentiu a pressão da língua dele.

Uma mão masculina deslizou para os seus caracóis ruivos, enquanto a outra pousava no centro das suas costas, apertando-a contra o corpo dele.

Suzy sabia que não tinha muita experiência sexual e o que estava a acontecer, naquele momento, não podia ser correcto. O modo como a boca do coronel se mexia sobre a dela... firme, ardente, magistralmente... O modo como a ponta da sua língua acariciava a suavidade dos seus lábios... Era como voltar a escrever o livro da história da sua sexualidade e acrescentar-lhe um novo capítulo!

Perdida no êxtase do que estava a acontecer, Suzy aconchegou-se mais a ele, envolta numa nuvem de fantasia produzida pelas suas hormonas.

Ele era o amante com que sonhara, durante toda a sua vida... A sua alma-gémea.

Suzy gostaria de lhe dizer como se sentia, a euforia que a percorria.

De repente, porém, ele afastou-a e ela sobressaltou-se, deixando escapar um gemido suave de surpresa.

Ficou confusa, até se dar conta de como ele olhava para ela. Imediatamente, a sua alegria foi substituída pela tristeza e pelo desespero, ao reconhecer a irritação e o desgosto nos seus olhos azuis.

«Não!», pensou, negando com agonia o que era inútil negar. Ele não estava a olhar para ela como se fosse a sua alma-gémea, mas como o seu pior inimigo.

Raiva, desprezo, hostilidade... Era o que estava escrito no brilho dos seus olhos azuis, antes de pestanejar e olhar para ela com um profissionalismo de aço.

O que estava a fazer? E porquê?! Era uma estupidez. Que tipo de idiotice a fizera ressuscitar aquele velho sonho estúpido de encontrar a sua alma-gémea? Pensava que já se tivesse convencido que isso não existia na realidade!

Estava corada, não só por causa do olhar do coronel, mas também pelo choque emocional que significava para ela. Aquela rejeição era mais uma, na sua vida de traumas, admitiu, renitente.

Os seus sentimentos tinham-na posto em estado de choque.

Sabia que ele estava a olhar para ela, mas não queria devolver-lhe o olhar. Por que tinha medo?

Em algum lugar da sua mente, ainda sentia as palavras que pensara, mas que não se atreveria a pronunciar: «Eu amo-te». Aquelas palavras eram como um pequeno animal ferido, desesperado por escapar. No entanto, Suzy sabia que não podia libertá-las. Elas deviam continuar na prisão, para proteger a sua saúde mental e o seu amor-próprio.

– Da revista Down and Dirty – ouviu-o dizer. – Devia ter imaginado. As suas tácticas são tão sujas e insípidas como os seus artigos.

Suzy sentiu dor e raiva, ao mesmo tempo. Era um disparate, mas, de certo modo, sentia-se traída por ele, por não reconhecer a pessoa que ela era, na verdade, por a julgar mal, por não se preocupar minimamente com o que lhe acontecera.

– Acho que o seu amigo está à sua espera – disse ele, com um tom de voz hostil.

Trémula, Suzy voltou-se para se dirigir para a porta, onde Jeff estava à sua espera, com a máquina fotográfica nas mãos. Parecia zangado.

– O que raio fizeste? – perguntou. – Pedi-te para o distraíres, não para o comeres vivo!

Ainda corada, Suzy não soube o que dizer.

– Conseguiste a tua fotografia?

– Sim! Mas, se não estivesses tão ocupada beijando o inimigo, tinhas-te dado conta que um dos seus gorilas tirou-me a máquina! E? É bom a beijar? Sim, aposto que sim. Afinal de contas, tem muita experiência. Eu disse-te que, na última campanha, uma jornalista estava louca por ele, lembras-te? Tem sucesso com o sexo oposto. Um instinto assassino, dentro e fora da cama.

Suzy começava a sentir-se mal, tanto por ouvir aquilo sobre o coronel, como pela sua idiotice. Não compreendia a sua reacção. A sua amiga Kate pensaria que estava louca se lhe contasse o que acontecera.

Kate e Suzy tinham sido colegas na universidade e tinham mantido o contacto quando Suzy deixara os estudos, para cuidar da sua mãe, na última fase da sua doença. Agora, Kate era casada e tinha uma pequena agência de viagens, em sociedade com o marido.

Kate insistia com ela para que desfrutasse mais da vida, mas ela ainda tinha dívidas para pagar: o empréstimo que a universidade lhe concedera e a renda do pequeno apartamento, que partilhara com a sua mãe viúva.

Só de pensar na sua mãe, os seus olhos verdes escureceram. A sua mãe ficara viúva ainda antes de ela nascer. O seu pai morrera num acidente, na montanha, e a sua mãe nunca conseguira conformar-se com a sua morte, nem parar de o culpar por se ter matado.

Quando crescera, fora Suzy quem cuidara da mãe, não ao contrário. Nunca tinham tido dinheiro suficiente para viver e Suzy tivera que trabalhar desde a adolescência para ajudar. Segundo Kate, ela tinha a noção de responsabilidade exageradamente desenvolvida e permitia que os outros dependessem dela. No entanto, ela não conseguia imaginar o coronel Lucas James Soames a depender de alguém, pensou, com amargura. Nem devia deixar que os outros dependessem dele.

Suzy ficou tensa, zangada por voltar a pensar no coronel.

Não compreendia por que reagira daquele modo com ele. Não era aquele tipo de pessoa.

Era uma experiência que seria melhor esquecer.

 

 

Luke olhou para a sua agenda. O príncipe dera-lhe a entender que queria que ficasse com ele, como parte do pessoal efectivo. Contudo, aquele não era um papel que ele quisesse. Nunca fora capaz de gostar de uma rotina mundana. Desde criança que gostava do desafio de ultrapassar limites, de aprender e crescer continuamente.

Os seus pais tinham morrido num acidente, quando ele tinha onze anos. O exército enviara-o, juntamente com a sua avó, para a acolhedora casa de campo onde o seu pai crescera. A sua avó fizera tudo o que pudera, mas Luke sentira-se preso no colégio interno para onde fora enviado. Na época, já sabia que seguiria a carreira do seu pai, no exército. Na verdade, o dia mais feliz da sua vida fora aquele em que ficara livre para seguir a sua vocação.

O exército fora sempre não só a sua profissão, mas também a sua família. Até há pouco tempo. Até que acordara, numa manhã, e compreendera que estava cansado de ser testemunha da dor e da morte das pessoas. Compreendera que os seus ouvidos se tinham tornado demasiado sensíveis ao grito de dor das crianças feridas e que os seus olhos estavam demasiado magoados pela visão de corpos magros e mortos de fome.

Ele vira acontecer aquilo a muitos outros soldados, para duvidar. As suas emoções começavam a sobrepor-se ao seu profissionalismo. Era hora de mudar!

Os seus superiores tinham tentado convencê-lo a mudar de ideia. Tinham querido aliciá-lo com uma nova promoção. Contudo, Luke não se deixara influenciar. Ele já não se sentia um soldado. Se tivesse que escolher entre eliminar um inimigo e proteger uma criança, Luke sabia que não podia garantir qual seria a sua prioridade.

Além disso, trabalhar para Sua Alteza Real não era um trabalho para ele! Era demasiado pueril, depois de ter trabalhado no exército. Embora houvesse algumas semelhanças entre ambos os trabalhos e entre elas, as jornalistas. Luke desprezava-as! Eram, na sua opinião, muito piores do que os seus colegas homens. Ele vira, pessoalmente, o mal que podiam fazer só para conseguir uma notícia. Um brilho de tristeza escureceu os seus olhos e a cicatriz, na sua anca, pareceu latejar.

Para ele, Suzy Roberts era tão desprezível como a revista para a qual trabalhava.

Voltou a sua atenção para o trabalho burocrático que estava a fazer, mas, embora fosse uma parvoíce, não conseguia tirá-la da cabeça. O que estava a acontecer-lhe? Aquele cabelo ruivo e aqueles olhos verdes deviam ter prejudicado o seu cérebro.

Por que raio se lembrava dela? Seria mesmo tão tola, ao ponto de pensar que ele se deixaria enganar pela atracção que ela fingira? Pelo, igualmente falso, tremor do seu corpo? E quanto àquela fragrância dela, que ainda sentia...

Levantou-se, zangado, e abriu a janela para que o ar fresco entrasse. Talvez o celibato involuntário daqueles anos começasse a afectá-lo, mas... ao ponto de desejar uma mulher como Suzy Roberts?

«Absolutamente!», pensou. Contudo, a excitação das suas partes baixas dizia algo muito diferente.

Era tarde e ele tinha uma reunião de negócios.

Terminou o que estava a fazer e saiu do seu escritório, rumo à intimidade do seu apartamento, observando, automaticamente, a zona. Uma vez militar, sempre militar, mesmo que já não pudesse...

Recusando-se a pensar mais no assunto, Luke entrou na sua suite e, depois de se despir, meteu-se no duche.

A água caía sobre as cicatrizes do seu corpo, tanto das antigas como das mais recentes.

Quando terminou, vestiu os boxers. Recordou os dias de combate, cheios de suor, lodo e sujidade. A abundância de água, sabão e roupa limpa era um luxo que agradecia, sinceramente.