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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2009 Sarah Morgan. Todos os direitos reservados.
UM GREGO PODEROSO, N.º 1279 - Janeiro 2011
Título original: Powerful Greek, Unewordly Wife
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Publicado em portugués em 2011

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.
Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência. ™ ®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.
® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

I.S.B.N.: 978-84-671-9552-1
Editor responsável: Luis Pugni


E-pub x Publidisa

Inhalt

CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7

CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 10

Volta

CAPÍTULO 1

Leandro Demetrios, banqueiro multimilionário e o protagonista de um milhão de fantasias femininas, puxou a estrela de Hollywood para o interior da sua mansão luxuosa em Londres e fechou a porta à frente da cara dos fotógrafos.

A jovem sorridente olhava para ele com admiração feminina.

– Viste as suas caras? Pregaste-lhes um susto de morte. Sinto-me mais segura contigo do que com meu guar da-costas e tens melhores músculos – disse, passando as mãos pelos braços dele. – Mas porque não usámos a porta de trás?

– Porque me recuso a entrar na minha própria casa como se fosse um ladrão. E porque gostas de ser vista.

– Bom, certamente, viram-nos – ela riu-se. – Amanhã, aparecerás em todos os jornais por assustares os paparazzi.

Leandro franziu o sobrolho.

– Eu só leio as páginas de Economia.

– Essas são as páginas que eu não leio – brincou. – A única coisa que sei sobre o dinheiro é como gastá-lo. Tu, por outro lado, sabes como ganhá-lo e isso torna-te o meu tipo de homem.

– Sim, claro.

– Deixa de olhar para mim com essa cara e sorri um pouco, homem. Só vou estar em Londres durante vinte e quatro horas e temos de aproveitar o tempo – a jovem pestanejou provocantemente. – Bom, Leandro Demetrios, meu bonito milionário grego, finalmente estamos sozinhos. O que vamos fazer esta noite?

Leandro tirou o casaco e atirou-o descuidadamente sobre uma poltrona.

– Se precisas de perguntar, podes ir-te embora agora mesmo. Ela deu uma gargalhada.

– Mais ninguém se atreve a falar como tu. É uma das coisas de que mais gosto em ti – disse, passando a língua pelos lábios pintados de vermelho. – Se te dissesse que vou dar-te um beijo de despedida antes de voltar para o hotel, o que farias?

– Abandonar-te-ia – a gravata de Leandro caiu em cima do casaco. – Mas ambos sabemos que isso não vai acontecer. Tu queres o mesmo que eu, portanto chega de jogos. O meu quarto é no andar de cima, na última porta à esquerda.

– Ah, gostas de dar ordens – a actriz olhou para ele de cima a baixo. – Segundo uma sondagem da semana passada, és oficialmente o homem mais sexy do mundo.

Farto da conversa, a única resposta de Leandro foi agarrá-la pelo pulso para a levar para a escada.

– Não te importas mesmo com o que as pessoas pensam de ti? Essa indiferença é muito atraente. E quando se trata de indiferença, tu sabes tudo – continuou ela, caminhando lentamente como costumava fazer para as câmaras. – Há uma química especial entre nós.

– Chama-se desejo – disse Leandro.

– Nunca tiveste uma relação séria com uma mulher? Disseram-me que estiveste casado durante algum tempo. Ele ficou imóvel. Um tempo muito curto.

– Ultimamente, prefiro a variedade.

– Querido, eu posso dar-te variedade – disse ela, naquele tom de voz rouco com que ganhara milhões no cinema. – E quero saber se o que dizem de ti é verdade.

E o que dizem de mim?

– Que és muito inteligente e que conduzes o teu desportivo a alta velocidade. Mas o que eu quero saber é se realmente és um rapaz mau no que se refere às mulheres.

– Tão mau como possas imaginar – disse Leandro, enquanto a levava pela escada. – De modo que esta noiteestás com sorte.

– Vejo que tens muitos quadros... São um bom investimento, claro. São originais? Eu odeio falsificações.

– Imagino – Leandro olhou para os seios dela com uma expressão brincalhona. Fazendo uma rápida estimativa, diria que noventa por cento daquela mulher eram falsos. E o pouco tempo que tinha passado com ela demonstrava que estava tão habituada a brincar com os outros que esquecera quem era realmente.

E ele não se importava.

Quanto mais superficial, melhor. Pelo menos, as pessoas sabiam com que estavam a lidar quando não tinham expectativa alguma.

– Só tu terias uma imagem de uma mulher nua na parede – a jovem franziu o nariz. – Uma coisa estranha para um homem que se rodeia de coisas bonitas. Não é um pouco gorda para o teu gosto?

Leandro olhou para a famosa peça renascentista, que lhe tinham devolvido recentemente depois de a emprestar a uma galeria de arte.

– Nos seus tempos, estava na moda ser gorda.

A rapariga olhou para o retrato com um ar desdenhoso.

– Então, não sabiam nada sobre os hidratos de carbono.

– As curvas eram um sinal de riqueza – murmurou Leandro. – Significava que tinha dinheiro para comprar comida.

A actriz aproximou-se um pouco mais do quadro, mas ele puxou-lhe a mão.

– Toca nele e teremos um esquadrão de polícia como companhia esta noite.

– É assim tão valioso?

– Muito, sim.

– Tu és um homem poderoso – a jovem sorriu. – Porque é tão excitante? Eu não me importo com o dinheiro.

– Não,claro que não – disse Leandro, brincalhão, sabendo que esperava que os seus amantes a recompensassem pelo privilégio de a escoltarem. – Ambos sabemos que gostas de mim porque sou amável com os animaise com os idosos.

– Gostas de animais?

– Sempre tive fraqueza por criaturas desamparadas.

– Ah, isso é muito atraente. Eu adoro homens duros com um lado terno – disse ela, passando-lhe os braços pelo pescoço. – Sabes que jantámos juntos três vezes e não me contaste absolutamente nada sobre ti?

– Sabes que jantámos três vezes e tu nunca comeste nada? – desviando habilmente a conversa de qualquer assunto pessoal, Leandro começou a abrir o fecho do vestido.

– Vejo que não andas com rodeios.

– Digamos que já chega de jogos verbais – murmurou ele, puxando o vestido. Mas franziu ligeiramente o sobrolho ao sentir os ossos sob a pele.

– As pessoas pagam muito dinheiro para verem este corpo no ecrã – murmurou a jovem, acariciando-lhe o braço com as unhas. – E tu, Leandro Demetrios, vais consegui-lo de graça.

Não era verdade, pensou ele, olhando para os seus brincos. Uns brincos de diamantes que lhe oferecera naquela noite.

– É uma pena que não te vendas ao quilo. Então, seria muito barato.

– Obrigada – pensando que era um elogio, a rapariga sorriu. – Tu, por outro lado, custarias uma fortuna a uma mulher porque os músculos pesam mais do que a gordura e não tens gordura no corpo. E és tão seguro de ti próprio... É porque és grego?

– Não, é porque eu sou assim. Quando gosto de uma coisa vou atrás dela – disse Leandro, levantando-lhe o queixo com um dedo para olhar para ela nos olhos. – E quando me canso, deixo-a para trás.

– Sem pedir desculpas a ninguém. Frio, desumano, decidido...

– Estamos a falar de mim ou de ti? – Leandro soltou-lhe o gancho cabelo. – Estou confuso.

– E eu juraria que nunca estiveste confuso – sorrindo, a jovem deslizou um dedo pelo lábio inferior dele. – Conta-me uma coisa pessoal sobre ti. Só uma coisa.

– O que queres saber?

– A última coisa que as revistas publicaram foi que tinhas um filho, é verdade? Leandro não revelou a sua repentina tensão.

– São as mesmas revistas que dizem que tu és lésbica?

– A diferença é que a minha equipa de Relações Públicas o negou, tu não disseste nada.

– Nunca sinto a menor necessidade de dar explicações.

– Isso significa que tens um filho... Ou será que és garanhão e nem sequer sabes?

– Pensa o que quiseres.

– Conta-me uma coisa sobre ti, vá lá.

– Queres saber uma coisa sobre mim? – Leandro inclinou a cabeça para beijar-lhe o pescoço. – Se me entregares o teu coração, parti-lo-ei. Recorda-o, agapi mou. E não o farei com delicadeza.

– Se estás a tentar assustar-me, não vais conseguir – os famosos olhos azuis escureceram de desejo. – Eu adoro um homem que sabe ser um homem. Especialmente quando, além disso, tem um lado terno.

– Eu não tenho um lado terno – a voz de Leandro era rouca. – Não me importo com o que pensam de mim. Vem para a minha cama e garanto-te uma noite fantástica, mas mais nada. Se estás à procura de um compromisso, escolheste o homem errado.

– Os finais felizes são para os filmes. É o que faço durante o dia. De noite, prefiro viver o momento – disse ela, levantando uma mão para acariciar-lhe o queixo. – Devia pedir para te barbeares antes de tocares em mim, mas gosto do teu aspecto. És tão bonito, Leandro, que devias ser proibido – acrescentou, levantando a cara para lhe oferecer os seus lábios. – O meu último colega de trabalho precisava de navegação por satélite para entender o corpo de uma mulher, mas tenho a sensação de que contigo não vou ter esse problema.

– Sempre tive um bom sentido da orientação – Leandro empurrou-a suavemente para a porta e a actriz deixou escapar um gemido.

– Sim... – ofegando, abriu-lhe a camisa com um puxão, espalhando botões por todo o lado antes de a atirar para o chão. – Tens um corpo incrível. Definitivamente, vou conseguir um papel para ti no meu próximo filme.

Tendo chegado à parte da noite que mais lhe interessava, Leandro pegou nela ao colo e dirigiu-se para a cama...

E ficou gelado ao ver que já estava ocupada por uma mulher.

Uma mulher que estava a olhar para ele fixamente, com os olhos azuis brilhantes num rosto muito pálido. Evidentemente, a chuva surpreendera-a porque a camisola se colava ao seu corpo e o cabelo comprido, frisado e encharcado, caía sobre os seus ombros.

Dado o estado em que estava, devia ter um aspecto patético, mas não era assim. Parecia zangada, o brilho dos seus olhos e o ângulo do seu queixo avisavam-no de que aquele não ia ser um encontro agradável.

Era como se uma bomba tivesse caído no seu quarto e Leandro ficou surpreendido porque nunca a vira zangada. De facto, não achava que fosse capaz de se zangar.

Vira a sua recriminação silenciosa e a sua dor. Vira a sua desilusão e o seu desprezo. Mas nunca a vira zangada. Millie pensara que não valia a pena lutar pelo que havia entre eles.

Mas, de repente, Leandro ficou furioso. A fúria ameaçava o seu autocontrolo habitual.

Estava prestes a dizer alguma coisa quando a sua acompanhante deu um grito:

– Quem é? Canalha! Quando disseste que podias magoar-me não imaginei que seria tão depressa. Como te atreves a ter outra mulher na cama? Eu só tenho relações exclusivas com homens.

Surpreendido ao perceber que ainda a tinha ao colo, Leandro deixou-a no chão sem cerimónias.

– Eu não tenho relações. Nunca mais.

– E ela? – tentando manter o equilíbrio sobre os seus saltos vertiginosos, a actriz apontou para a jovem que estava na cama. – Ela sabe?

– Sabe, sim – Leandro olhou para a rapariga. – Ela não confia em mim, pois não, Millie?

Os seus olhos eram dois poços de condenação, tanto que Leandro teve de cerrar os dentes. «Discute comigo», urgiu-a, em silêncio.

«Se é isso que pensas de mim, salta da cama e arranha-me a cara. Não fiques aí. E não te vás embora como fizeste da primeira vez.»

Mas ela não se mexeu. Ficou onde estava, em silêncio, e os seus olhos diziam que nada mudara.

– Então, sabes quem é! – exclamou a actriz. – É uma surpresa, porque não parece o teu tipo. Devia despedir o seu cabeleireiro. O aspecto natural não está na moda –acrescentou, inclinando-se para apanhar o seu vestido do chão. – E como entrou aqui? Ninguém a viu?

«Nada mata o desejo mais depressa do que os ciúmes de uma mulher», pensou Leandro, lamentando o impulso que o fizera convidá-la para sua casa. A língua daquela rapariga era tão afiada como os ossos das suas costelas.

– Não sei.

– E então? Não vais expulsá-la daqui?

Ele estudou a jovem que estava na sua cama, reparando no rubor nas suas faces e no brilho acusador nos seus olhos.

Mas retribuiu um olhar carregado das suas próprias acusações.

O ambiente estava tão carregado de tensão, que os dois esqueceram que havia uma terceira pessoa no quar to, que até bateu no chão com o pé.

– Leandro!

– Não – disse ele. – Não vou expulsá-la daqui. Não era o momento que ele teria escolhido, mas agora que estava ali não tinha intenção de a deixar escapar.

A actriz não conseguiu conter uma exclamação de incredulidade.

– Escolhes essa mulher em vez de me escolheres a mim?

Leandro lançou-lhe um daqueles olhares que teriam assustado qualquer um dos seus empregados.

– Pelo menos, assim terei uma aterragem suave quando cair sobre o colchão... Nem ossos, nem garras.

– Não permito que me fales assim! – com uma actuação merecedora de um Óscar, a jovem vestiu o vestido a toda pressa. – Disseste-me que não estavas a sair com ninguém e eu acreditei. Evidentemente, sou mais ingénua do que pensava.

Pensando que o melhor seria não responder, Leandro ficou calado, olhando para a rapariga que estava na cama.

Entre eles sempre houvera uma enorme atracção sexual. Era algo elementar, básico, primitivo... Uma ligação tão poderosa que não conseguia controlá-la ou entendê-la.

Vibrando de raiva, a actriz olhou para o peito bronzeado com uma expressão de desejo.

– Sei que não esperavas encontrá-la aqui. E sei que as mulheres se atiram para os teus braços. Livra-te dela e poderemos começar outra vez. Perdoo-te.

Leandro, no entanto, empurrou-a suavemente para a porta.

– Tens de aprender a ser mais amável com as outras raparigas. Não me importo com discussões na sala de reuniões, mas não gosto de encontros incómodos no quarto.

Com a cara a arder de raiva, a jovem tirou o telemóvel da mala de cerimónia.

– Os rumores sobre ti são verdadeiros: és frio, desumano e acabaste de perder a oportunidade de ter o que milhões de homens desejam.

– E o que é? Paz e tranquilidade? – Leandro arqueou uma sobrancelha, deliberadamente provocante.

– Da próxima vez que fores a Los Angeles não te incomodes em telefonar! E tu... – disse ela então, virando-se para a rapariga que estava na cama. – Se achas que será fiel, estás muito enganada, querida.

Depois de verificar se os brincos de diamantes estavam no devido lugar, a famosa estrela de Hollywood saiu do quarto e, alguns segundos depois, Leandro ouviu-a bater com a porta.

Fez-se silêncio.

– Se vais chorar, será melhor ires-te embora – murmurou Leandro.

– Não vou chorar por ti – replicou ela. – Já chorei demasiado.

Porque estás aqui?

– Tu sabes porque estou aqui. Vim buscar a criança. É claro, a criança. Fora um parvo ao pensar que poderia ser outra coisa. E, no entanto, por um momento...

Leandro cerrou os punhos, surpreendido ao descobrir que a grossa camada de cinismo sob a qual se protegia podia ser atravessada.

– Estava a perguntar o que fazes no meu quarto, a meio da noite – disse, fechando a porta.

Ele confiava na sua equipa de segurança, mas também sabia que aquela era a história que mais interessara os meios de comunicação social. Era por isso que os jornalistas estavam a fazer guarda à sua porta.

E todos tinham o seu preço.

Descobrira aquela verdade horrível da pior maneira possível e com uma idade em que a maioria das crianças ainda brincava com os brinquedos.

– Intriga-me saber como os seguranças te deixaram passar.

– Continuo a ser a tua mulher, Leandro. Embora te tenhas esquecido.

– Não me esqueci – disse ele. – Mas escolhes mal os momentos. Graças a ti, a minha noite de diversão acabou.

Ela ergueu os ombros, com as costas rígidas.

– De certeza que depressa encontrarás uma substituta. É o que fazes sempre – respondeu, respirando com dificuldade. – És um canalha, nisso tinhas razão.

– Nunca te tinha ouvido usar essa linguagem. Não te fica bem – Leandro aproximou-se da cómoda e tirou uma garrafa de uísque. Curioso que as suas mãos estivessem tão firmes. – E não entendo porque estás tão zangada. Foste tu que destruíste o nosso casamento, não eu. Eu tinha pensado que seria para sempre.

– Só tu podias fazer com que parecesse um teste de resistência – respondeu, irónica. – E alegra-me saber que tinhas uma visão tão positiva do nosso casamento... Por isso, é lógico que tenha durado cinco minutos.

– A culpa foi tua, não minha.

– Tens menos sentimentos do que eu pensava... – Millie não conseguiu acabar a frase. – És uma pessoa totalmente insensível.

– Estou a tentar viver a minha vida. O que tem de insensível? Havia um vazio na minha cama e tentei ocu pá-lo. Nestas circunstâncias, não penso que possas culpar-me de nada. Queres uma bebida?

Não, obrigada.

– Ah, as impecáveis maneiras britânicas – Leandro riu-se, amargo, enquanto levantava o copo. – Não me digas... O álcool engorda e estás a tentar controlar o teu peso.

– Não, estou a tentar controlar a minha língua e se bebesse dir-te-ia exactamente o que penso de ti. E agora não seria boa ideia porque o que penso de ti não é muito lisonjeador.

– Não te contenhas por mim. Interessa-me saber que és capaz de expressar o que pensas quando te provocam. E sabes que eu prefiro um confronto a uma retirada.

Millie fechou os olhos, a angústia que sentia era bem visível na sua expressão.

– Eu odeio confrontos. Não vim aqui para discutir contigo.

– Não, claro que não – Leandro examinou o líquido dourado do seu copo. – Tu não falas dos problemas, pois não? E, certamente, nunca estiveste interessada em resolver os que haviam na nossa relação. É muito mais fácil ires-te embora quando as coisas começam a ser difíceis.

– Como te atreves a dizer isso quando foste tu que...?

– Diz-mo, Millie. Vá lá, diz-me que sou o culpado.

– Não vim aqui para falar disso. És um... – ela parecia não saber o que dizer.

– Devias aprender a acabar as frases, agapi mou – replicou Leandro, brincalhão. Não queria oferecer-lhe simpatia porque, na sua opinião, não merecia nenhuma. Dera-lhe uma oportunidade, dera-lhe uma coisa que nunca dera a nenhuma outra mulher e ela atirara-lha à cara. – Sou frio e sem coração, era o que ias dizer?

– Oxalá nunca te tivesse conhecido.

– Isso é uma tolice!

– A nossa relação foi um desastre.

– Eu não diria isso – murmurou Leandro. – Durante algum tempo, foi uma revelação na cama e eu gostava muito desse teu talento para dizeres a frase errada.

– Isso chama-se dizer a verdade – replicou ela. – E é o que as pessoas normais fazem, as pessoas decentes. Dizem a verdade e assim não há confusões. No teu mundo, quando alguém diz: «Alegro-me por te ver» não está a falar a sério. Beijam-te, mesmo que te odeiem.

– É uma forma de cortesia aceite por todos.

– É superficial, tudo na tua vida é – Millie saltou da cama e aproximou-se dele, fulminando-o com o olhar.

– Isso inclui a nossa relação.

Não fui eu que deixei este casamento.

– Fizeste-o! Culpas-me por me ter ido embora... Mas o que querias que fizesse? O que podia fazer? Achavas que diria: não te preocupes, não importa? – estava tão angustiada que lhe tremia a voz. – Achavas que ia olhar para o outro lado? Talvez as mulheres no teu mundo façam isso, mas não era esse o tipo de casamento que eu queria. Ias para a cama com outra mulher... E não era só outra mulher – continuou Millie, respirando com dificuldade. – Era a minha irmã. A minha própria irmã!

A sua ansiedade era tão evidente que Leandro franziu o sobrolho.

– Tens de te acalmar.

– Por favor, não finjas que te importas com os meus sentimentos, porque já demonstraste que não é assim.

«É valente», pensou Leandro. Uma parte dele estava intrigada com a força que via nos olhos dela. Não sabia que Millie tinha aquela vontade de ferro.

No fim da sua relação, chegara à conclusão de que era um peso leve e que a única coisa que a impedia de ser levada pelo vento era o peso do seu dinheiro na mala.

Leandro levou o copo aos lábios antes de o pousar delicadamente sobre uma mesa.

– Dadas as circunstâncias da tua partida, surpreen de-me que tenhas decidido voltar.

Millie deixou-se cair sobre a beira da cama e, a julgar pela sua posição, parecia incrivelmente cansada. Cansada, molhada, ferida e derrotada.

– Se te surpreende assim tanto, conheces-me pior do que eu pensava.