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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

 

© 2011 Marion Lennox. Todos os direitos reservados.

DE REGRESSO A CASA, N.º 1330 - Junho 2012

Título original: Misty and the Single Dad

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em portugués em 2012

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0300-8

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversion ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

 

Quantos homens atraentes tinham visitado a turma do primeiro ano da escola de ensino básico de Banksia Bay? Nenhum. Nunca. E, quando os planetas se tinham alinhado finalmente para emendar esse erro, tinha de acontecer na sexta-feira!

Misty levava a sua turma à natação antes do almoço todas as sextas-feiras. Embora tivessem acabado uma hora antes, a sua trança de caracóis castanhos continuava húmida. Cheirava a cloro e brilhava-lhe o nariz.

Alheio a tudo isso, havia um deus grego, um Adónis, à porta da sua sala de aula.

Devia ter trinta e poucos anos. O seu corpo alto e magro combinava com uma cara de ângulos marcados e traços quase esculpidos. Usava umas calças de ganga gastas e uma camisa arregaçada. Ao prestar atenção, Misty pôde ver os músculos bem definidos.

Mas, por acaso, o Adónis tinha um filho de seis anos?

Porque o homem à porta dava a mão a um menino e eram idênticos. Ambos usavam calças de ganga e camisas brancas. O seu cabelo preto ondulava-se da mesma forma. A sua pele acobreada era de um tom que não poderia conseguir-se com todo o bronzeado artificial do mundo e os seus olhos verdes pareciam capazes de provocar sorrisos escandalosos.

Mas só o Adónis sorria. Agachou-se e disse ao menino:

– Este parece ser o lugar certo. Estão a pintar. Não te parece divertido?

O filho do Adónis não parecia estar de acordo. Parecia horrorizado.

– Posso ajudar? – perguntou Misty.

Pensou que deviam ter sido abordados por Frank, o diretor da escola. Se se tratasse de um novo aluno, teria gostado que lho comunicassem. Deveria haver um lugar vazio com o nome do menino, tintas e papel à espera, e o resto da turma deveria ter sido advertida para ser amável.

– É a menina Lawrence? – perguntou o Adónis. – Não há ninguém no escritório do diretor e a mulher do outro lado do corredor disse-me que esta era a sala de aula do primeiro ano.

Ela sorriu, mas dirigiu o sorriso ao filho do Adónis.

– Sim, é. Sou Misty Lawrence, a professora do primeiro ano – o menino agarrou a mão do seu pai com mais força. Definitivamente, não se tratava de uma visita de cortesia, mas de uma coisa muito importante. – Lamento que esteja tudo tão desarrumado, mas estamos a pintar vacas – disse ao menino, sem deixar de sorrir. Estava ao lado de Natalie Scotter. Natalie era a menina de seis anos mais maternal de toda a vila. – Natalie, importas-te de te afastar um pouco para que os nossos visitantes possam ver a vaca que estás a pintar?

Natalie sorriu e obedeceu.

– Ontem, fomos ver a vaca Strawberry – disse Misty ao menino. – Strawberry é do pai de Natalie. Está muito gorda porque está prestes a ter bezerros. Olha o que Natalie fez.

O terror do menino pareceu diminuir. Contemplou nervosamente o desenho de Natalie.

– A sério que está assim tão gorda? – sussurrou.

– Mais – disse Natalie. – O meu pai diz que são gémeos e isso significa que terá de ficar acordado toda a noite porque é sempre um... – parou e olhou para Misty com um sorriso culpado. – Quero dizer que, às vezes, tem de chamar o veterinário e diz palavrões.

– Aqui está a sua fotografia – disse Misty e procurou uma fotografia no bolso. Olhou para o Adónis, fez-lhe uma pergunta silenciosa e recebeu um assentimento de cabeça como resposta. – Queres sentar-te ao lado de Natalie e ver se também sabes pintar? – perguntou-lhe. – Se o teu pai concordar.

– Claro que sim – disse o Adónis.

– Podes usar as minhas tintas – declarou Natalie e Misty agradeceu em silêncio por a melhor amiga de Natalie estar em casa, constipada.

– Obrigado – sussurrou o filho do Adónis.

– Viemos matricular Bailey na escola – explicou o Adónis. – Sei que deveria ter marcado uma reunião, mas chegámos à vila há uma hora. Quanto mais nos aproximávamos, mais nervoso ficava Bailey, portanto, pensei que o mais sensato seria mostrar-lhe que a escola não assusta. Caso contrário, teria ficado mais nervoso durante o fim de semana.

– Foi uma boa ideia. Não assusta nada – disse ela. – Nós gostamos de fazer novos amigos, não é, meninos?

– Sim! – gritaram todos e Misty sorriu. Naquela vila distante, qualquer recém-chegado era recebido de braços abertos.

– Vão ficar muito tempo? – perguntou ela. – Você e a sua família?

– Somos só Bailey e eu, e estamos a pensar em ficar aqui. Sou Nicholas Holt – disse, enquanto estendia a mão a Misty.

Misty era absurdamente consciente da sua trança húmida a pingar-lhe pelas costas. De repente, desejava matar Frank. Era trabalho dele receber os pais. Porque não estava no escritório quando deveria estar?

– Professora... – chamou um menino.

– Peço desculpa. Não deveríamos ter interrompido a sua aula – disse Nicholas e Misty conseguiu afastar a mão e obrigar-se a pensar com clareza. Ou a tentá-lo.

– Se Bailey vai ser meu aluno, então, não estão a interromper – disse, enquanto se virava para o menino que a tinha chamado. – Sim, Laurie? O que se passa?

– Há um cão – disse Laurie, do outro lado da sala. Parecia alterado. – Está a sangrar.

– Um cão? – Misty virou-se para a janela.

– Está debaixo da minha mesa, no canto – disse Laurie, enquanto se levantava. – Entrou com o senhor. Está a sangrar muito.

Socorro! Havia vinte e quatro crianças a olhar para a mesa de Laurie. Para além de Nicholas Holt.

Um cão a sangrar...

Havia crianças que o inventariam, mas Laurie não era uma delas. Não era um menino com imaginação.

A mesa de Laurie ficava ao fundo e a fila de estantes atrás formava um pequeno esconderijo. Se houvesse um cão ali debaixo, não podia ser um cão muito grande.

– Então, vamos investigar – disse Misty. – Laurie, podes sentar-te na minha cadeira enquanto vejo o que se passa?

Laurie correu como um raio para a sua cadeira. Com o caminho livre, Misty poderia ver... ou não. Agachou-se e, depois, ajoelhou-se. Debaixo da mesa estava escuro. As suas mãos tocaram em algo húmido no chão, algo quente. Sangue.

Os seus olhos começavam a habituar-se à penumbra. Sim, havia um cão encolhido de medo contra a estante.

– Posso ajudar? – perguntou Nicholas.

– Há um cão ferido – disse ela. – Parece assustado. Temos de nos manter calmos para não o assustarmos mais. Daisy, podes trazer-me duas toalhas do armário da natação?

– Conhece o cão? – perguntou Nicholas, enquanto Daisy ia buscar as toalhas. Ajoelhou-se junto de Misty e olhou para debaixo da mesa de Laurie, sem ter ideia do que a sua presença estava a provocar-lhe. – Conhece o cão? – repetiu.

– Não.

– Mas está ferido?

– Há sangue no chão. Quando tiver as toalhas, poderei agarrá-lo...

– Será mais seguro se eu levantar a mesa para que possamos ver o que enfrentamos. Se afastarmos as crianças, poderá ter o caminho livre para a porta. Se quiser fugir, poderá fazê-lo.

– Tenho de ver o que se passa.

– Mas não quer que uma criança se atravesse no caminho de um animal ferido...

– Não – disse ela. Era óbvio que não o queria.

– Deixei a porta do alpendre aberta – disse ele. – Peço desculpa. Deve ter sido assim que entrou. Posso ir fechá-la. Assim, se se levantar e desatar a correr, teremos um espaço onde o apanhar.

Misty pensou e pareceu-lhe uma boa ideia. Sim. Se o cão estivesse assustado, correria para o lugar por onde tinha entrado. Poderiam fechar a porta da sala de aula e, então, estaria a salvo.

Mas apanhar um cão ferido...

Aquilo não lhe competia. Era o que Frank lhe diria. Ele teria deixado o cão ir-se embora e esqueceria o assunto.

Mas aquele não era Frank. Era Nicholas Holt e ela sabia que Nicholas não era um homem assim.

Mas, por fim, não teve opção. O cão não lhe deu nenhuma. Ajoelhou-se com as toalhas nas mãos, Nicholas levantou a carteira, mas o cão não correu para lado nenhum. Simplesmente, ficou ali, a tremer, aninhado contra o canto.

– Oh, pequenino, está tudo bem... Ninguém vai fazer-te mal – cobriu-o com as toalhas, sem lhe tapar a cabeça, para poder puxá-lo para ela sem o magoar.

Era um cocker spaniel ou era-o na sua maior parte. Talvez fosse um pouco mais pequeno. Era branco e preto, com as orelhas caídas e os olhos pretos. Estava sujo de sangue, com o pelo emaranhado e um certo cheiro a borracha queimada. Teria sido atropelado?

Tinha uma coleira azul de plástico, com um número gravado. Misty conhecia aquela coleira.

Dois anos antes, o cão da sua avó fugira e aparecera dois dias mais tarde no refúgio de animais, com uma coleira daquelas ao pescoço.

Aquele era um cão vadio. Não importava. A única coisa que importava era que o cão estava a tremer de medo nos seus braços. Faltava-lhe pelo no lombo, como se tivesse sido arrastado pela estrada, e a sua pata traseira esquerda tinha um aspeto... horrível. Estava a sangrar, lenta, mas constantemente, e o seu corpo estava esquelético.

Necessitava de ajuda com urgência. Misty queria levá-lo ao veterinário imediatamente.

Tinha vinte e quatro crianças a olhar para ela, assim como Nicholas.

– Está ferido – murmurou Bailey. O menino tinha regressado para junto do pai e dera-lhe a mão. – Deram-lhe um tiro?

Um tiro? Que tipo de pergunta era aquela?

– Parece ter sido atropelado por um carro – disse Misty. – Tem a pata ferida.

Olhou para o cão enquanto ele olhava para ela, com os seus olhos grandes cheios de dor.

Misty tivera cães desde criança. Adorava cães, mas tomara a decisão de não ter mais nenhum.

Mas aquele... Era um cão vadio ferido e estava a olhar para ela.

– Quer que chame alguém para que se encarregue dele? – perguntou Nicholas.

Encontrar alguém que se encarregasse dele... Quem?

Frank? Se o diretor não estava no escritório, então, não tinha ninguém a quem recorrer. Os outros professores tinham as suas próprias turmas.

Poderia telefonar para o refúgio de animais. O cão era deles. Era problema seu. Eles viriam buscá-lo. Era a solução sensata.

Mas o cão tremia contra o seu corpo e aninhava-se contra ela como se estivesse necessitado de calor.

Não podia permitir que voltasse para uma das jaulas do refúgio. E, e repente, a sua determinação de não ter mais cães desapareceu.

– Senhor Holt, preciso da sua ajuda.

– Sim – respondeu ele.

– Não posso deixar as crianças. Este cão precisa de ir ao veterinário. É o que se faz com os cães doentes, não é, meninos? Lembram-se do doutor Cray? Visitámos o seu consultório no mês passado. Vou perguntar ao pai de Bailey se não se importa de o levar ao doutor Cray. Faria isso por nós, senhor? – olhou diretamente para Nicholas.

– Não sei nada sobre cães – disse ele.

– Não importa – envolveu o cão nas toalhas e entregou-lho antes que pudesse colocar objeções. – O doutor Cray estará lá – disse-lhe. Mas, ao ver que continuava confuso, considerou que talvez devesse dar-lhe alguma explicação. Uma explicação, não uma opção. Não podia permitir-se dar-lhe uma opção. – Não sei onde está o nosso diretor. Estas crianças são do campo na sua maioria. Sabemos muito sobre animais feridos. Sabemos que o veterinário pode ajudá-los, mas temos de os levar lá. Pedimos constantemente aos pais que nos ajudem. Quatro dos nossos pais ajudaram esta manhã na aula de natação. Sei que Bailey acaba de se unir à turma, mas sabemos que você também quererá ajudar. Portanto, por favor, pode levar este cão ao veterinário? Diga ao doutor Cray que eu irei lá depois do trabalho e que me encarregarei das despesas.

Não devia esquecer Bailey. Olhou para ele e algo na sua expressão a comoveu. Fez-lhe recordar a sua mãe a entrar na sua sala de aula, numa das visitas fugazes que fazia. Misty devia ter a idade de Bailey ou menos.

A sua mãe tinha ido vê-la apenas durante dois minutos.

«Cuide da minha Misty», dissera à sua professora, enquanto se dirigia para a porta. «É uma boa menina» e, depois, partira. Como sempre. Para enviar postais de uma vida que não incluía a pequena Misty.

Misty agachou-se e dirigiu-se a Bailey.

– Bailey, necessitamos da ajuda do teu pai para levar este cão ao veterinário. Queres ir com ele ou preferes ficar aqui connosco a pintar vacas? O teu pai regressará depois de ter deixado o cão no veterinário, não é, senhor Holt? Parece-te bem, Bailey?

Parecia que Bailey confiava mais no pai do que ela tinha confiado na sua mãe. Pensou durante alguns segundos, olhou para o cão envolto em toalhas e assentiu com solenidade.

– O meu pai pode levar o cão ao veterinário.

– Ótimo! Ficarás connosco ou queres ir com ele?

– Fica connosco – disse Natalie. – Tenho muitas tintas.

– Ficarei – disse Bailey.

– Excelente! – comentou Misty e olhou para Nicholas com ar suplicante. Aquilo era uma loucura. Se Frank visse o que estava a fazer, despedi-la-ia de imediato. Mas que opção tinha? – Fá-lo-á por nós, por favor?