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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Anne Mather. Todos os direitos reservados.

AVENTURA DE AMOR NAS CARAÍBAS, N.º 1239 - Agosto 2012

Título original: His Forbidden Passion

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2010

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0615-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Cleo tinha quase a certeza de que vira aquela mulher antes. Não sabia onde ou quando ou se era real ou imaginária, mas houve uma estranha sensação de familiaridade quando olhou para ela que não quis deixar passar.

Abanou a cabeça, impaciente. Algumas vezes, era demasiado sensível para o seu próprio bem. Mas não havia dúvida de que a mulher estivera a olhar para ela desde que se pusera na fila, portanto talvez por isso pudesse ser familiar. Talvez a fizesse lembrar-se de alguém que conhecia.

De certeza que havia uma explicação inocente. O facto de não gostar que olhassem para ela não significava que aquela mulher fosse uma ameaça. Pagou o leite que fora comprar e decidiu ignorar o escrutínio, portanto quase deu um salto quando a mulher se dirigiu a ela.

– É a menina Novak, não é? – perguntou, bloqueando-lhe o caminho. – Fico contente por a conhecer finalmente. A sua amiga disse-me que podia encontrá-la aqui.

Cleo franziu o sobrolho. Só podia estar a referir-se a Norah. O que significava que aquela mulher devia ter passado primeiro pelo seu apartamento. Suspirou. Em que é que Norah estava a pensar ao dizer a uma completa estranha onde podia encontrá-la? Com a quantidade de coisas estranhas que aconteciam naqueles dias, esperava que tivesse mais critério.

– Lamento – disse. – Devia conhecê-la?

A mulher sorriu e Cleo percebeu que era mais velha do que parecia de longe. Pensara que tinha quarenta anos, mas de perto pensou que seriam cinquenta. O cabelo curto cor de cobre enganava, mas a figura magra e as pernas finas não.

Não era muito alta. Tinha de inclinar a cabeça para olhar para os olhos de Cleo. Mas estava maquilhada com habilidade e vestia roupa cara.

– Desculpe – disse, com um sotaque vagamente transatlântico, arrastando Cleo para fora da loja com um simples gesto. – Devia ter-me apresentado. Não nos conhecemos, querida. Sou Serena Montero, a irmã do seu pai.

De tudo o que podia ter dito, aquilo era o que menos esperava, pensou, incrédula. Olhou para ela por um segundo. Depois, recuperando um pouco, disse, com uma mistura de alívio e diversão:

– O meu pai não tinha nenhuma irmã, senhora Montero. Lamento. Receio que esteja enganada.

– Não acho – disse Serena Montero, se é que aquele era realmente o seu nome. – Por favor – rogou. – Ouça-me por um momento – ela suspirou. – O nome do seu pai era Robert Montero...

– Não.

– E nasceu na ilha de San Clemente, nas Caraíbas, em 1956.

– Isso não é verdade – olhou para ela e acrescentou com resignação: – Bom, sim, o meu pai nasceu em San Clemente, mas não tenho a certeza da data e chamava-se Henry Novak.

– Receio que não – agarrou-a pelo pulso, dessa vez com firmeza, enquanto olhava para ela nos olhos. – Não estou a mentir, menina Novak. Sei que sempre pensou que Lucille e Henry Novak eram os seus pais, mas não eram.

– Porque faz isto? Porque insiste que esse homem, Robert Montero, o seu irmão, é o meu pai?

– Era – corrigiu Serena, com tristeza. – Robert era o seu pai. Morreu há alguns anos.

– É uma afirmação ridícula e sabe.

– É a verdade – Serena era inflexível. – Acredite em mim, menina Novak, quando o meu pai, o seu avô, me disse o que aconteceu, eu também não quis acreditar.

– Bom, agora entendo – disse, num tom grave. – Não se preocupe, senhora Montero. Evidentemente, o seu pai sofre de alucinações. Infelizmente, os meus verdadeiros pais morreram num acidente de comboio há seis meses, se não, eles próprios lho diriam.

– Sim, sabemos do acidente – Serena estava surpreendida. – Foi nessa altura que o meu pai descobriu que estavas viva – fez uma pausa. – E não tem alucinações. Por favor, Cleo, vem beber alguma coisa comigo e deixa-me explicar-te...

– Como sabe o meu nome? – perguntou, dando um passo atrás.

– Como achas? – começava a parecer aborrecida. – É Cleopatra, não é? – ao ver a confirmação nos olhos de Cleo, acrescentou: – Era o nome da tua avó materna. Chamava-se Cleopatra Dubois e a sua filha, Celeste, foi a tua mãe. Celeste Dubois era uma das mulheres mais bonitas da ilha – estudou-a com o olhar. – Não sabia se devia dizê-lo, mas pareces-te com ela.

– Era negra?

– Importa? – franziu o sobrolho.

– Só uma pessoa branca faria essa pergunta – disse Cleo, abanando a cabeça. – Sim, importa.

– Está bem, sim. Suponho que era negra. A sua pele era... cor de café.

Já bastava. Cleo decidiu não continuar a ouvir. Se a descrição da sua «mãe» fora para a apaziguar, fracassara completamente. Estava habituada ao elogio insultante. Normalmente procedente dos homens, era verdade, mas tivera de o enfrentar durante toda a sua vida.

– Olhe, tenho de ir – disse, pensando que, se aquilo fosse verdade, teria sabido antes.

Os seus pais não eram mentirosos. E ela amara-os demasiado para aceitar de bom grado semelhante sugestão. Além disso, fora a única beneficiária do seu testamento e não encontrara nada nele que a fizesse suspeitar. À excepção da fotografia, recordou de repente, quase sem querer. Dera-lhe pouca atenção. Era uma fotografia da sua mãe com outra mulher, uma mulher que pensara que se parecia muito com ela. Mas não havia nada escrito na parte de trás que dissesse quem podia ser. E esquecera-o. Haveria centenas de pessoas que se pareceriam com ela. Como Serena Montero...

Desprezou essa ideia e, para sua surpresa, a mulher já não tentou retê-la.

– Está bem – disse. – Sei que foi tanto um choque para ti como foi para mim.

Nisso tinha razão, pensou Cleo, mas não o disse em voz alta. Não era suficientemente parva para pensar que aquilo seria o final do assunto.

– Precisas de tempo para assimilar o que te contei – disse Serena, enquanto calçava umas luvas. – Mas não demores demasiado tempo, está bem, querida? O teu avô está a morrer. Vais negar-lhe a sua última oportunidade de conhecer a sua única neta?

 

 

Cleo voltou para o apartamento que partilhava com Norah Jacobs meia hora depois.

O normal era demorar cinco minutos do supermercado até a casa, mas dera um passeio pelo parque para pensar.

Em qualquer outro momento, nada a teria convencido a entrar sozinha no parque depois do anoitecer, porém, naquele instante, não pensava com muita coerência. Tinham acabado de lhe dizer que os seus pais, as duas pessoas no mundo em que sempre pensara que podia confiar, lhe tinham mentido sobre a sua identidade. Que em vez de estar sozinha no mundo, como pensara, tinha uma tia e um avô... e quem sabia se haveria mais alguém. Além disso, eram... bom, brancos.

Não queria acreditar. Queria que as coisas voltassem a ser como eram antes.

Se não tivesse ido ao supermercado...

Isso era uma tolice. Mais cedo ou mais tarde, a senhora Montero tê-la-ia abordado.

Porque teria feito algo do género? O que ganhava com isso? Não lhe parecera o tipo de mulher que abordava uma completa estranha. A menos que o seu pai estivesse realmente a morrer e tivesse um plano oculto que ainda não lhe revelara.

Norah esperava por ela na sala do apartamento. A casa era pequena, mas as rendas naquela zona de Londres eram proibitivas e Cleo decidira partilhar os gastos com ela.

Norah era loira e bonita e com tendência para engordar. Exactamente ao contrário dela. Mas eram amigas desde a escola e, apesar das limitações de espaço, normalmente davam-se muito bem. No entanto, naquele momento, Norah parecia ansiosa.

– Chegaste! – exclamou, aliviada, quando Cleo abriu a porta. – Estava preocupada. Onde estiveste? – arqueou as sobrancelhas enquanto Cleo entrava na zona mais iluminada da sala. – Passa-se alguma coisa? Parece que viste um fantasma.

Cleo abanou a cabeça sem dizer nada, passou ao lado da sua amiga e deu a volta ao balcão que separava a cozinha da sala para pôr o leite no frigorífico.

Depois, virou-se para olhar para ela.

– Por que demónios disseste a uma completa estranha onde estava?

– Oh... – Norah corou. – Portanto, encontrou-te.

– Se te referes a Serena Montero, sim.

– Serena Montero? Chama-se assim? – tentou relaxar a conversa, mas não conseguiu. – Bom, disse-me que era tua tia – desculpou-se. – O que podia dizer? Não me pareceu uma estelionatária.

– Como se conseguisses perceber... – disse, seca. A incapacidade de Norah para encontrar um homem decente era lendária. Voltou para a sala e deixou-se cair no sofá. – Sinceramente, Norah, pensava que tinhas mais sensatez.

– Não é tua tia?

– Não, não é minha tia – declarou. – Mas alguma coisa te fez pensar que podia ser assim? Sê sincera, pareço a sobrinha de Serena Montero?

– Talvez. De facto, embora tu sejas mais alta, tens traços semelhantes – fez uma pausa. – Montero é um nome espanhol, não é?

– Não sei. Acho que vive nas Caraíbas, portanto poderia ser – estava impaciente. – Mas os meus pais eram negros, Norah, não espanhóis. Sabes disso.

Encolheu os ombros, renitente, a recordar as vezes em que se questionara a sua identidade. Não se parecia muito com os seus pais e perguntou-se se algum dos dois teria sangue latino. Mas decidira deixar as perguntas de lado. Não conseguia acreditar que tivessem mentido. Amava-os demasiado para isso.

– Bom... o que mais te disse? Tem de haver alguma ligação para ter vindo até aqui.

– Não há nenhuma relação – disse, porém, ao ver a indignação de Norah, continuou: – Está bem. Diz que os meus pais não eram os meus verdadeiros pais. Que o meu pai biológico se chamava Robert Montero – fez uma pausa. – O irmão dela.

– Oh, meu Deus!

– Sim... – sentiu uma súbita apreensão ao pensar que podia ser verdade. – Era por isso que estava um pouco... alucinada quando cheguei. Suponho. Não é todos os dias que nos dizem que as coisas não são como sempre pensámos que eram

– Mas tu achas que está a mentir... – mordeu o lábio inferior.

– Claro! É claro que é mentira. Como podes perguntar-me algo do género? Conheceste os meus pais. Pareceram-te o tipo de pessoas que esconderiam um segredo semelhante?

– Bom, não – ela suspirou. – Mesmo assim, muitas vezes pensei que não te parecias nada com eles, Cleo. Sim, sei que a tua pele é mais escura do que a minha, mas tu não és loira, pois não? Tens um cabelo preto e liso.

– Não vás por aí, Norah.

Cleo levantou-se bruscamente e dirigiu-se para o pequeno quarto que Norah decorara para ela quando se mudara.

Não queria considerar que aquilo fosse verdade. A sua vida ficaria destruída.

Devia ter-lhe perguntado mais coisas, reconheceu. Devia ter-lhe pedido provas.

Em vez disso, limitou-se a negar uma afirmação que, olhado em retrospectiva, podia significar alguma coisa. Talvez Serena não dissesse a verdade, mas tinha de haver alguma razão para entrar em contacto com ela.

 

 

Dominic Montero olhava pela janela no quadragésimo andar do hotel quando Serena entrou na divisão. As luzes da cidade brilhavam aos seus pés, uma metrópole ruidosa muito diferente da propriedade da sua família.

– Deve ter corrido bem – indicou, enquanto Serena atravessava a divisão em direcção a uma bandeja de bebidas. Observou-a a servir-se de uma vodka com gelo e a levá-la aos lábios antes de acrescentar: – Presumo que a encontraste.

Serena bebeu metade do copo antes de responder. Depois, disse, tensa:

– Sim, encontrei-a – os seus olhos azuis brilharam. – Mas podes ir tu vê-la da próxima vez.

Dominic pôs os polegares nos bolsos traseiros das calças e balançou sobre os saltos das botas.

– Portanto, haverá uma próxima vez – disse, num tom desenvolto. – Já está resolvido?

– Não – Serena era teimosa. – Mas um de nós terá de o fazer, não é? O teu avô vai fazer uma birra.

Dominic arqueou as sobrancelhas com um ar interrogativo e Serena pensou, não pela primeira vez, que era um homem muito atraente. Sentiu uma pontada de ressentimento. Acontecesse o que acontecesse, o seu pai nunca o culparia.

Quase desde que o seu irmão, Robert, encontrara um menino, Dominic, a deambular pelas ruas de Miami com apenas três anos, sempre fora assim. Dominic era o mais sortudo dos seres: o neto favorito.

O único neto conhecido, pensou, irritada. Embora o seu irmão se tivesse casado, ela nunca o fizera. Tivera ofertas quando era jovem, mas a morte prematura da sua mãe quando ela era adolescente fizera com que se ocupasse do seu pai e nunca olhara para trás.

Ao descobrir que o seu irmão tivera uma aventura adúltera com Celeste Dubois, ficara devastada. Sempre pensara que eram muito unidos. Sofrera muito com a sua morte. Contudo, há pouco tempo, o seu pai revelara-lhe as circunstâncias da aventura e como ele, e só ele, ajudara Robert a manter a existência da menina em segredo.

Abanou a cabeça e Dominic pensou que sabia o que ela pensava. Sabia que nunca perdoaria Robert por a enganar a ela e à sua mãe adoptiva, Lily. O facto de Lily não poder ter filhos tornara a sua adopção muito mais simples.

E ele tinha consciência da sorte que tivera por encontrar uns pais tão amorosos. A sua mãe biológica nunca o amara e ficara feliz quando alguém se oferecera para assumir essa responsabilidade.

Tentara encontrar a sua mãe uma vez quando era adolescente e sentira curiosidade de conhecer as suas raízes. Mas descobrira que morrera de uma overdose semanas depois de ele ser adoptado. Tivera muita sorte por Robert o encontrar.

Talvez fosse por isso que pensava na situação com muito menos angústia que Serena. Certamente, fora um choque para todos, sobretudo para a sua mãe que, como Serena, confiara completamente no seu marido.

E ia ser difícil para ela. O velho, o seu avô, tinha muitas respostas para dar por falar da rapariga depois de Robert ter morrido há tantos anos. Devia ter sofrido um ataque de consciência, pensou Dominic, depois da descoberta de que padecia de um cancro da próstata.

– Porque é que o meu avô vai ficar incomodado? – perguntou e Serena virou-se para ele.

– Porque é a imagem viva da sua mãe. Sabes? Descobri que Celeste tinha tido um bebé, mas nunca pensei que fosse filha de Robert.

– É evidente que ninguém pensou. Excepto, talvez, o avô.

– Oh, sim, ele sabia – disse, amarga. – Mas como é que Robert pôde fazer algo do género a Lily? Pensava que a amava.

– Sei que a amava – disse Dominic. – Essa mulher, Celeste... foi apenas uma loucura momentânea.

– Uma loucura sexual momentânea. Ou talvez uma forma de demonstrar que não era impotente, não é? Como pôde, Dom? Farias algo do género a uma mulher que amasses?

– Eu... não. Mas não estamos a falar de mim, Serena. E o teu irmão está morto. Alguém tem de o defender. Não era um mau homem, meu Deus. Podes julgá-lo menos duramente?

– Não é fácil.

– De qualquer modo, duvido muito que Robert aprovasse o que o teu pai está a fazer. E eu atrever-me-ia a dizer que ele pensava que o que fez estava bem.

– Fazer desaparecer as provas, não é?

– Oh, Rena... De certeza que fez o melhor para a menina. A sua mãe estava morta e duvido que a minha mãe a aceitasse na família.

– Eu também duvido – reconheceu. – O que te faz pensar que Lily o verá de outra maneira agora?

– Duvido que o faça – admitiu, – mas não depende dela, depende do teu pai, não é?

– Bom, acho que tudo isto é muito desagradável. Não sei como consegui conter-me quando aquela... rapariga ignorante não acreditou em mim – ela soprou. – Não faz ideia do que lhe ofereci.

– Talvez não se importe – sugeriu, tranquilo. – Bom... conseguiste convencê-la?

– Não sei. Pensará no que lhe disse, mas também não me importa muito. Não é o que eu esperava.

– Porque parece uma Dubois? – perguntou e Serena virou-se, indignada, para olhar para ele.

– Podes pensar isso – disse, zangada. – És um homem. Os homens ficam sempre loucos com as Dubois. Ou foi o que ouvi – ela suspirou. – Mas aceito-o, sim, talvez esteja um pouco ciumenta. Uma coisa é certa: não se parece com Robert.

– Nada?

– Bom, claro, um pouco – admitiu. – Tem o seu nariz, as suas mãos e a sua altura.

– Mas é negra?

– Não – mexeu-se, um pouco incomodada. – Bom, não por completo. É... bonita. Alta, magra, morena e bonita. Como a sua mãe, já te disse.

– Não me surpreende que não gostes dela – brincou e a sua tia também sorriu.

– É uma arrogante – defendeu-se. – Parecia que me fazia um favor quando falava comigo.

– Querida... Enfrentemo-lo, és uma completa estranha para ela. Certamente, desconfia dos teus motivos.

– Acha que os Novak eram os seus pais.

– Bom, eu também acreditaria – encolheu os ombros. – Foram os únicos pais que conheceu. Nos últimos vinte anos não sabia que tinha mais parentes.

– Vinte e dois anos – disse Serena, pedante. – Tu terias sete ou oito quando nasceu.

– Aí tens a razão.

– Mas não terá tido dúvidas?

– As crianças costumam acreditar no que os seus pais lhes dizem – disse, num tom razoável. – A menos que os apanhem numa mentira. Também não deve ter sido fácil para os Novak.

– Não eram pobres – indicou Serena. – Segundo o meu pai, Robert entregou-lhes uma pequena fortuna para que levassem a menina para Inglaterra e fingissem que era filha deles.

– Há mais problemas do que os económicos – indicou, mas ela não ouvia.

– Já tinham resolvido as coisas para emigrar. E o dinheiro foi um extra. Suponho que a morte de Celeste no parto fez com que fosse mais fácil para Robert fugir das consequências dos seus actos.

Dominic decidiu não continuar a insistir no assunto. Serena nunca reconheceria que o seu irmão ou os Novak tinham agido bem.

Duvidava que tivesse sido fácil para o seu pai renunciar à sua filha, mesmo que fosse para salvar o seu casamento. Devia ter-se arrependido muitas vezes, por muito que amasse a sua esposa.

– Bom, agora está nas tuas mãos, querido – disse Serena, com malícia. – Fiz todos os possíveis, mas é evidente que não foi suficiente. Esperemos que tu tenhas mais sucesso.