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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Harlequin Books S.A.

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Um Presente Maravilhoso, n.º 48 - Janeiro 2014

Título original: A Precious Gift

Publicada originalmente por Silhouette® Books

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Ouro e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5049-1

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

 

 

Faz parte de:

 

O LEGADO DOS LOGAN

 

Porque o direito de nascença tem os seus privilégios e os laços de família são muito fortes.

 

Uma mulher vivia com um segredo que ameaçava o seu casamento. Encontraria a coragem suficiente para enfrentar o homem que amava?

 

CARRIE SUMMERS: tinha um passado que não podia partilhar com Brian. Cada vez mais preocupada com a impossibilidade de ficar grávida, Carrie não sabia quantos obstáculos o seu casamento conseguiria suportar. Só esperava que o seu marido a amasse apesar de tudo.

 

BRIAN SUMMERS: amava Carrie e ambos desejavam ter um filho. Mas os problemas de infertilidade prejudicavam a relação. Seria capaz de convencê-la a confiar nele, e de que nada podia mudar o que sentia por ela?

 

Lisa Sanders era uma adolescente com problemas que queria ajudar os Summers mas, conseguiria ajudar-se a si mesma?

Um

 

Carrie Summers andava de um lado para o outro pela recepção da Agência de Adopção Children’s Connection. O seu marido estava quinze minutos atrasado e ela receava que aquilo significasse que Brian tinha mudado de opinião em relação à adopção. Os dois tinham respondido a um inquérito e submeteram-se a um estudo na sua própria casa que já tinha acabado. Aquela era a última reunião com a assistente social antes de avançarem com os procedimentos.

Brian nunca se atrasava.

Ele era um homem de palavra, um homem em quem sempre pudera confiar. Mas durante os últimos três anos do seu casamento, que já durava há cinco, gerou-se uma tensão entre eles. Quando se casaram, Carrie estava muito apaixonada e absolutamente certa de que o seu casamento seria eterno. No entanto, ela tinha um segredo e as repercussões daquele segredo estavam a afastá-los.

Oxalá Brian aceitasse aquela adopção. Oxalá Brian conseguisse aceitar um menino adoptado como se fosse dele.

— Preparada? — perguntou-lhe uma voz masculina.

Admirava aquele dia de Janeiro, excepcionalmente ensolarado, através das portas de vidro da agência. Naquela época do ano chovia sempre em Portland, Oregon. Para ouvir aquela voz, que sempre vibrava nela como uma melodia, virou-se e viu o seu marido.

— Onde estiveste? — perguntou-lhe com um sorriso, tentando ocultar a ansiedade que sentia pelo seu atraso.

— Tinha assuntos para tratar antes de entrar na reunião. Brian Summers media um metro e oitenta e cinco centímetros e era forte e bem constituído. Era o homem mais bonito que Carrie alguma vez vira. Tinha o cabelo ruivo e usava-o curto e um pouco despenteado, adequado à sua imagem de agente imobiliário de sucesso, de milionário a quem tudo preocupava menos a sua aparência.

Quando se conheceram naquele cocktail, Carrie sabia que ele se aproximara dela, atraído pelo seu aspecto de modelo. Embora usasse um vestido preto clássico e discreto, ele percorrera com o olhar o seu cabelo castanho e os traços da sua cara e depois continuou pelo resto do seu corpo. A atracção fora mútua e naquela noite ela desejou que Brian gostasse dela para além do seu aspecto físico. E parecia que tinha conseguido. Por isso, ela apaixonara-se por ele.

— Tiveste uma reunião no hospital? — os negócios e as vendas que Brian administrava não se tratavam, normalmente, no Hospital Geral de Portland.

— Não, nada disso.

Naquele momento a porta que comunicava a recepção com os escritórios da agência de adopção abriu-se e uma mulher morena de meia-idade dirigiu-se a eles com um sorriso.

— Vocês são Carrie e Brian Summers?

Responderam em uníssono:

— Sim.

— Têm uma reunião comigo — disse a mulher, e estendeu-lhes a mão. — Chamo-me Trina Bentley.

— Mas... temos tratado do processo com Stacy Williams — disse Brian, com o sobrolho franzido.

— Sim, eu sei. Stacy está doente. Eu vou substituí-la para lhes dar a confirmação oficial e dessa forma poderem ir buscar o bebé. Por favor, acompanhem-me ao meu escritório.

Durante os seus primeiros anos juntos, Brian sempre fora solícito com Carrie e, com frequência, demonstrava o seu afecto acariciando-lhe a mão ou o ombro, ou rodeando-lhe a cintura com o braço. No entanto, ultimamente não se tocavam muito. Não, desde que as tentativas de fecundação in vitro fracassaram. Naquele momento, enquanto caminhavam juntos, a manga do casaco do fato de Brian roçava-lhe o braço. Ela sentiu a energia da sua proximidade através da manga do seu vestido de lã de cor creme.

Na Agência de Adopção Children’s Connection tudo era alegre e acolhedor, incluindo o escritório de Trina. Estava pintado de amarelo e na parede havia um quadro de cortiça coberto de fotografias de meninos de todas as idades.

A assistente social assinalou-lhes duas cadeiras em frente à secretária dela.

— Sentem-se. Prometo-lhes que farei isto da melhor maneira possível.

Carrie olhou de soslaio para Brian. Não gostava nada de falar da sua vida privada com uma estranha. Era um homem reservado e não se sentia confortável a falar sobre os seus hábitos de trabalho, a história da sua família e as suas finanças. O facto de ter de expor a sua vida fazia-o sentir-se humilhado. Naquele momento, no entanto, parecia muito mais calmo... parecia que aceitava melhor aquela situação e Carrie perguntou-se porquê.

Trina abriu o relatório e olhou para as páginas como se estivesse familiarizada com ele.

— Li-o todo, incluindo o estudo feito no vosso lar — disse-lhes, e recostou-se nas costas da cadeira com os olhos fixos em Carrie. — Vocês passaram por muitas coisas.

Carrie sentiu pânico. A boca dela ficou seca. Saberia aquela mulher de alguma coisa?

Trina continuou.

— Submeteu-se a uma operação para tentar desobstruir as suas trompas de Falópio e depois a duas tentativas de fecundação in vitro. E suspeito que também se tenha submetido ao controlo da ovulação antes que tudo isto começasse.

Carrie assentiu.

— Deve desejar muito ter um filho.

— Eu... nós desejamos muito.

Embora o olhar de Trina fosse amável, era evidente que tinha uma missão e continuou a falar.

— Ao ser a mais velha de quatro irmãs, teve de fazer de mãe muitas vezes. Algumas mulheres que tiveram essa responsabilidade fogem da maternidade. No entanto, o seu exame psicológico revela que, embora você não tenha muita prática, é uma mulher que quer criar filhos, que deseja cuidar de alguém novamente.

— Isso é verdade — conveio Carrie com sinceridade.

— A psicóloga também indica no relatório que você não trabalhou como modelo durante três anos. Parece que ocupou o seu tempo a trabalhar para associações benéficas, fazendo voluntariado no serviço de pediatria do hospital e estando disponível para o seu marido quando ele precisava de si.

Brian olhou para Carrie com curiosidade. A entrevista com a psicóloga fora individual e também em conjunto. Ela devia ter mencionado aquilo durante a entrevista individual dela.

— Porque precisa de estar disponível para o seu marido? — perguntou-lhe Trina.

Carrie reparou que Brian se mexia no assento e percebeu que ele olhava para ela fixamente. Ela, no entanto, olhava directamente para Trina.

— Brian tem muito contacto social com os seus clientes. Com frequência oferecemos festas e jantares e por vezes acompanho-o nas viagens de trabalho.

— Carrie foi sempre um grande apoio — interveio Brian. — É uma óptima relações públicas e alguém com quem é muito fácil de conversar — disse. Embora o seu tom de voz fosse calmo, ela percebeu um certo nervosismo imperceptível para os outros e soube que ele se perguntava para onde ia aquela conversa.

— Entendo — respondeu Trina. — Agora o que me preocupa é como se sentirá você quando a criança reclamar a atenção da sua esposa e ela não puder acompanhá-lo nas seus viagens nem ser anfitriã num jantar, por exemplo.

Brian ficou silencioso durante alguns instantes. Depois respondeu:

— Os jantares e as festas celebram-se com frequência quando as crianças estão já a dormir.

— Mas as crianças não estão sempre a dormir. Podem ser imprevisíveis. Como vai enfrentar essa situação?

— Menina Bentley, não sei exactamente como enfrentaremos isso, mas vamos conseguir. Eu quero um filho tanto como Carrie. Não há nenhum casal que saiba com segurança como uma criança afectará as suas vidas. Eu garanto-lhe que o nosso filho terá sempre a atenção e o carinho que precise.

— Quando começámos a avaliá-los como futuros pais, acho que você tinha algumas dúvidas sobre a adopção, não é verdade, senhor Summers?

Era evidente que aquela mulher não ia deixar nenhuma pergunta sem resposta. O coração de Carrie começou a bater aceleradamente.

— Sim, é verdade — admitiu Brian. — A família sempre foi importante para mim e eu imaginava que teria três ou quatro filhos.

— Você cresceu com o seu pai.

Carrie susteve a respiração, à espera da reacção de Brian. A infância com Dutch Summers fora difícil. Dutch nunca teve um trabalho fixo e não levava dinheiro para casa com frequência. Normalmente, perdia-o todo no jogo.

— Sim — respondeu Brian rapidamente.

No entanto, Trina não ficou por ali.

— A sua mãe abandonou-os, a si e ao seu pai quando você tinha sete anos. O relatório da menina Williams diz que a sua mãe entrou em contacto consigo depois do seu casamento, mas que actualmente não tem qualquer relação com ela.

— Exacto.

— Aqui há notas que dizem que a falta de contacto entre vocês foi por sua escolha. Pode dizer-me porquê?

— Já disse porquê a Stacy — respondeu ele com a voz rouca.

— Sei que estas perguntas são difíceis, senhor Summers, mas o clã familiar é importante: os avós, os primos, os tios... A família da sua esposa tem uma relação próxima, mas o seu pai faleceu e a sua mãe não faz parte da sua vida. Achas que isso mudará?

— Não acredito, pelo menos no momento. A minha mãe abandonou-me e não se preocupou de escrever nem de telefonar durante vinte e dois anos. Se voltar a contactá-la e tentar retomar a relação, ela poderá sair da minha vida e da do meu filho novamente. Como você disse, a minha mulher tem uma relação muito forte com a família dela. Sim, temos um clã familiar.

A assistente social dirigiu-se a Carrie.

— O que pensa você da relação do seu marido com a mãe dele?

Carrie estava unida à sua família, mas a relação com a mãe e o pai dela era complicada, talvez mais do que Brian conseguisse imaginar.

— Eu confio no julgamento do meu marido — limitou-se a dizer.

Quando Brian se inclinou, Carrie reparou na tensão dele.

— Estive prestes a chegar atrasado a esta reunião porque passei pelo serviço de pediatria para ver os bebés. Sempre sonhei ter uma família porque a minha não foi a ideal. Não sabia que para conseguir uma família teria de adoptar uma criança. Mas enquanto estava ali, a observar aos bebés com as suas mãozinhas e os seus olhos enormes, soube que queria um filho com Carrie. E se isso significa adoptar, então é o que faremos.

Virou-se para a sua mulher e pegou-lhe na mão.

— Teremos a família que sempre desejámos.

A ternura da voz de Brian deu a Carrie mais esperança do que a que tinha sentido durante meses. Pensou muitas vezes que o estava a perder. Não podia dizer a Brian o que provocara os seus problemas de infertilidade. Se o fizesse, ele deixá-la-ia... como Foster. No entanto, se conseguissem adoptar, o seu segredo estaria a salvo e o seu casamento fortalecer-se-ia novamente.

Os olhos de Carrie encheram-se de lágrimas e ele viu. Então, apertou-lhe a mão.

Depois daquilo, a entrevista foi muito mais fácil. Depois de terem assinado mais papéis, Trina garantiu-lhes que entrariam na lista de candidatos naquele mesmo dia. Se uma das mães os elegesse, notificá-los-iam imediatamente.

Quando Carrie saiu da sala, junto a Brian, sentia-se mais animada do que nunca. Sabia que os bebés não resolviam casamentos, embora o único problema entre eles fosse a sua própria incapacidade para ter filhos. Naquela manhã sentia-se novamente perto do seu marido. E aquilo era o que o bebé ia fazer por eles: aproximá-los ainda mais.

Pararam no bengaleiro da recepção e pegaram nos seus casacos. Enquanto ele a ajudava a vestir o casaco, Carrie perguntou-lhe:

— Vais jantar a casa?

Antes que Brian pudesse responder, um homem magro aproximou-se deles. Era Everett Baker, um dos contabilistas do Children’s Connection. Carrie via-o de vez em quando pelos corredores da agência, que era um edifício anexo ao Hospital Geral de Portland. Uma enfermeira da sala de urgências, Nancy Allen, visitava com frequência as crianças do serviço de pediatria enquanto Carrie fazia voluntariado, e as duas tornaram-se amigas. Nancy e Everett tinham uma amizade especial, e Nancy tinha apresentado o contabilista a Carrie. Nancy era uma mulher quente, expressiva e extrovertida, enquanto Everett era reservado, quase tímido. Era um homem bonito. Tinha o queixo quadrado e o cabelo e os olhos castanhos.

Everett nunca se aproximou de Carrie sozinho, sempre ficava ao lado e deixava que Nancy falasse.

Naquele momento, no entanto, aproximava-se deles decididamente.

— Senhora Summers — disse-lhe com um sorriso.

— Chame-me Carrie, Everett. Acho que não conhece o meu marido, Brian.

Os homens apertaram as mãos. Depois, Everett mexeu-se como se estivesse sobressaltado, mas começou a falar:

— Não quero incomodá-los, mas Nancy disse-me que o teu marido e tu estavam a pensar em adoptar um filho.

As suas intenções não eram nenhum segredo. Carrie contara a Nancy algumas semanas antes.

— Acabámos de fazer a última entrevista — disse Brian. Pela sua voz, Carrie soube que estava curioso por saber porque Everett Baker estava interessado em saber o que estavam a fazer.

Com um rápido olhar à sua volta para se certificar de que não havia ninguém por ali, Everett continuou:

— Sei que o processo de adopção pode ser demorado. Quando Nancy me falou do quão decididos estão, pensei que poderia ajudá-los. Tenho um amigo que conhece um advogado, que pode fazer com que as adopções privadas sejam aprovadas mais rapidamente. Se estão interessados em adoptar por outros meios, poderiam pensar nesta hipótese.

Bastou apenas olhar para a cara de Brian para Carrie saber o que ele estava a pensar. Ele falou em nome dos dois e rejeitou a oferta com habilidade.

— Carrie e eu vamos pensar nisso. Este é um passo muito importante nas nossas vidas. Obrigado por tentar ajudar-nos.

Embora aquela conversa fosse muito séria, Carrie esteve prestes a sorrir. Brian era muito ágil a tratar de situações delicadas. Conseguiu dizer a Everett Baker que não lhes telefonasse, que eles telefonariam se estivessem interessados, sem ser grosseiro.

— Sei que a adopção é algo muito importante — conveio Everett. — Os bebés são muito importantes — acrescentou. Parecia que estava preocupado. Tirou um cartão do bolso e entregou-o a Carrie. — Podem entrar em contacto comigo para este número.

— Obrigada — respondeu Carrie, e guardou o cartão na mala.

Assim que Everett se afastou, Brian abanou a cabeça.

— Eu não gosto da ideia de fazer as coisas por outra via que não seja uma agência de adopção creditada.

— Está bem... por agora. Vejamos o que acontece nos próximos meses. Se esperarmos muito e não tivermos nenhuma resposta deles, talvez queiramos telefonar a Everett.

Quando Brian olhou para ela, Carrie deu-se conta de que o seu marido já descartara por completo a ideia de realizar uma adopção privada.

— Perguntaste-me se iria jantar a casa. Não vou poder. Tenho uma reunião no Hilton — disse-lhe. Ela não conseguiu disfarçar a sua desilusão, porque continuou. — Tentarei estar em casa antes da meia-noite.

Carrie sabia que, se Brian disse que estaria em casa antes da meia-noite, iria estar.

— Vemo-nos esta noite — disse ele.

— Esta noite — murmurou ela.

Algum tempo depois, Brian dirigiu-se para o estacionamento e ela para o hospital. Adorava ler contos às crianças que estavam no serviço de pediatria e aquele era o seu dia de trabalho voluntário. O tempo passaria rapidamente, e talvez durante a tarde fosse ver móveis para quartos de criança antes de voltar para a sua linda, enorme e vazia casa. Logo deixaria de estar vazia.

Logo, Brian e ela teriam a família que sempre desejaram.

À meia-noite menos um quarto, Brian entrou na cozinha após activar o sistema de segurança. Carrie estava obcecada com aquilo. Se ele fosse para a cama sem a acordar, ouvia-a frequentemente a descer a meio da noite para se certificar de que o alarme estava ligado. As poucas vezes que lhe perguntara porquê, dissera-lhe que se sentia mais segura sabendo que estava ligado.

Brian subiu ao segundo andar da sua casa. Comprara-a depois de se ter casado com Carrie e tinha um encanto tradicional, com um jardim e com uma banheira de hidromassagem numa pequena divisão envidraçada. Ele sempre imaginou três ou quatro crianças a brincar na sala de estar e naquele jardim. Sentiu um aperto no estômago ao pensar que não poderia ter filhos biológicos. No entanto, ao ver aqueles meninos na creche do hospital naquele dia...

Subiu as escadas, a pensar na minúscula casa de dois quartos em que crescera. O seu pai continuara a viver naquela casa até falecer dois anos antes. Não permitiu que Brian o levasse para uma casa maior.

A família de Carrie fora inclusive mais pobre do que a sua, porque o seu pai ficara inválido num acidente na serração onde trabalhava e a mãe dela não tinha especialização em nenhuma profissão. Dependeram dos subsídios do Estado durante algum tempo, até que Carrie começou a trabalhar como modelo. Depois da mãe de Carrie ter enviado as fotografias da sua filha para o concurso de uma revista, as suas vidas mudaram drasticamente.

Na noite em que conhecera Carrie, Brian ficara encantado por ela, com os seus lindos cabelos castanhos, longos e ondulados, a sua pele de porcelana e os seus enormes olhos castanhos. Teve a sensação de que aqueles olhos lhe atravessavam a alma. Carrie parecia tão sofisticada, tinha uma personalidade tão forte e falava tão bem que ele não suspeitara que os seus passados fossem muito semelhantes.

A luz da lua entrava pela clarabóia do corredor enquanto Brian subia as escadas. A porta do seu quarto estava entreaberta. Entrou directamente para o quarto de vestir, despiu-se rapidamente e pendurou o fato no armário. Depois entrou no quarto e viu que a sua mulher dormia profundamente. Quando estava enroscada em si mesma como naquele momento, com as mãos sob a face, não se mexia. Porquê ia fazê-lo? Era meia-noite.

Ele já tinha sucesso na sua profissão quando a conheceu, e tinha investido e ganho mais dinheiro do que alguma vez conseguiria gastar. Ao seu primeiro sucesso como promotor num projecto de construção seguira-se outro, e depois mais outro. Trabalhara muito, usando a sua intuição e a sua inteligência. Tinha encontrado, comprado e vendido terrenos desde o Havai até ao Alasca e até Maine. Embora sempre trabalhasse até tarde, Carrie sabia como era o negócio e sabia que os seus planos podiam alterar-se com facilidade e que a qualquer hora da noite podiam acordá-lo com uma chamada internacional.

Mesmo assim, durante o seu noivado e o seu primeiro ano de casados, tiveram mais tempo um para o outro. Ele levara-a a Aruba e às Ilhas Caimão. Visitaram os vinhedos da Toscana e as paisagens da Cornualha. Algumas viagens foram de trabalho e noutras passavam tanto tempo na cama como a fazer turismo. Mas entretanto acontecera alguma coisa.

Não podiam conceber um filho.

Os dois submeteram-se a exames médicos e descobriram que Carrie tinha as trompas de Falópio bloqueadas. Sabendo o quanto ele sempre desejara ter uma família, Carrie ficara deprimida. Os médicos ofereceram-lhes uma esperança que acabou por murchar à medida que os tratamentos médicos e as tentativas de fecundação in vitro fracassavam.

Durante aqueles anos, o trabalho ocupava cada vez mais a vida de Brian e parecia que Carrie ficara à margem. Embora a química que havia entre eles os tivesse conduzido a um rápido noivado e a um casamento relâmpago, Brian teve sempre a sensação de que Carrie escondia uma parte de si que ele não conseguia alcançar. Ao ser muito mais experiente do que ela, ele inicialmente pensara que era uma timidez inocente e, depois, um carácter reservado que provinha da sua educação. Mas quando, mês após mês, a gravidez teimava em não acontecer, ela retraíra-se ainda mais e ele teve de admitir que aquilo tudo também o afectava muito. Quando Carrie lhe falou da adopção, Brian não quis ouvi-la. No entanto, à medida que a tensão crescia entre eles, acedeu finalmente a começar com as entrevistas do processo.

E naquele momento...

Aproximou-se da cama e olhou para a sua mulher. Deu-se conta de que Carrie estava nua sob os lençóis. Normalmente vestia uma camisa de dormir para dormir e ele gostava de tirá-la. Aquela visão dela à luz da lua, a ideia da pele dele a tocar na de Carrie, excitou-o.

Quando ela sentiu o seu peso na cama, acordou como se estivesse a sonhar com ele. Abriu os olhos, estendeu a mão e pousou-a no peito dele.

— Tentei esperar acordada. Que horas são?

— Meia-noite.

— Foi um dia muito longo — murmurou ela, sonolenta, e sorriu.

A ligeira essência do champô de flores de Carrie atraía-o para ela. Brian desligou o candeeiro da mesinha. De repente, sentiu-se aflito pelo desejo de tomá-la sem carícias nem beijos, sem preliminares, sem qualquer outra coisa que não fosse a necessidade cega dele. No entanto, havia algo que sempre o impediu de fazer as coisas daquela maneira. A entrada de Carrie na sua vida fê-lo apreciar o brilho das estrelas, os lugares ao sol e as orquídeas que cresciam nos terrenos sem construção. Ela despertara o seu instinto protector, para além do instinto primitivo.

Quando deslizou a mão entre o seu cabelo, ela levantou a cabeça para olhar para ele.

— Estás tão entusiasmado como eu pelo facto de adoptarmos um bebé? — perguntou-lhe ela com suavidade.

— Estarei. Ainda não é real.

— Poderá acontecer rapidamente.

— Ou uma mãe solteira poderá escolher-nos nos primeiros meses da sua gravidez, e teríamos de passar todo o processo com ela. Poderia durar meses.

— Isso seria ainda mais maravilhoso.

A sua mulher estava feliz com aquela ideia, mas Brian sabia que podia ser perigosa. E se a mãe mudava de opinião? E se dava à luz e queria ficar com o seu filho? Na sua opinião, a adopção estava cheia de dificuldades, mas era a sua única opção para além da mãe de aluguer, e ele achava que aquilo seria ainda mais complicado.

— Ainda não estás plenamente convencido da adopção, pois não? — perguntou-lhe Carrie, num tom de preocupação.

— Quero ter uma família e quero tê-la contigo — respondeu ele, convictamente.

Então os olhos de Carrie iluminaram-se e ele não conseguiu reprimir o impulso de a beijar. Foi um beijo profundo ao qual Carrie respondeu rodeando-lhe o pescoço com os braços e aproximando-se do corpo dele. Normalmente faziam as coisas com mais calma, mas naquela noite parecia que os dois sentiam alguma coisa parecida com o desespero. As suas carícias, beijos e carícias estavam repletos de ânsia, de um desejo que ele não sabia definir. Brian penetrou Carrie e ela agarrou-se a ele. Os seus corpos brilhavam pelo suor quando chegaram ao êxtase.

Quando as últimas vibrações de prazer acabaram, Brian rodou pela cama afastando-se de Carrie, fisicamente exausto. Naquela noite, a união deles tinha-o sacudido por dentro. Era como se patinassem num lago gelado e, ao reparar que o gelo rangia sob os seus pés, agarraram-se um ao outro para negar o que estava a acontecer.

Carrie pegou-lhe na mão e permaneceram em silêncio durante muito tempo.

— Estás acordado? — sussurrou ela.

— Sim.

— O supervisor do catering telefonou hoje enquanto eu estava no hospital para confirmar o menu para sábado à noite. Acabarei de compô-lo amanhã. Teremos seis convidados?

O jantar que ia dar no sábado era para os seus sócios mais próximos e para as esposas deles.

— Sim, para além de nós os dois. E tu, ainda pensas vir comigo a San Francisco na quarta-feira visitar a tua irmã?

— Se te parecer bem, sim.

— Eu gostaria que jantasses com o meu cliente e com a esposa dele.

— Perfeito. Brenda tem de ir trabalhar às cinco, de qualquer forma. Espero que, se tiver tempo para falar com ela, consiga convencê-la a voltar para a universidade.

Brenda, a irmã mais nova de Carrie, tinha vinte anos. Deixara a universidade de Berkeley e a educação que Carrie lhe pagava porque se apaixonara por um músico de Los Angeles. A relação não correra bem e Brenda voltara para San Francisco e trabalhava numa loja de cosmética de um centro comercial.

Brian não dava conselhos a Carrie em relação à sua família. Ele não percebia nada da relação entre irmãos, e em relação aos pais... Carrie era amável com os seus, a filha perfeita, na opinião dele. No entanto, parecia que havia um muro invisível entre Carrie e a sua mãe. Talvez ele o reconhecesse porque algumas vezes sentia que o mesmo muro se interpunha entre Carrie e ele.

De repente, Brian sentiu-se demasiado inquieto para dormir. Soltou a mão de Carrie e endireitou-se.

— Onde vais?

— Tenho trabalho para acabar antes da viagem para San Francisco.

Carrie ficou em silêncio e ele soube porquê. Nada que pudesse dizer o dissuadiria de descer ao seu escritório.

— Até amanhã — disse-lhe ela suavemente.

De pé junto à cama, ele teve a tentação de voltar a acariciá-la.

No entanto, ela tapou-se com o lençol e virou-se.

Brian vestiu o pijama e saiu do quarto.