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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

 

© 2011 Maya Banks. Todos os direitos reservados.

LEMBRASTE DE MIM?, N.º 1085 Setembro 2012

Título original: Enticed by His Forgotten Lover

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em portugués em 2012.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0624-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo Um

 

Rafael de Luca tinha estado em situações piores antes e não tinha a menor dúvida de que ainda seria pior no futuro. Mas essas pessoas jamais saberiam que não guardava nem uma única lembrança de nenhuma delas.

Contemplou o concorrido salão de dança com mal-humorada resignação enquanto bebia a tragos um vinho insípido. A cabeça latejava-lhe com tal força que sentia vontade de vomitar.

– Rafe, já aguentaste bastante – murmurou Devon Carter. – Ninguém suspeita de nada.

Rafael virou-se para olhar os três amigos: Devon, Ryan Beardsley e Cameron Hollingsworth cobrindo-lhe de modo protetor as costas. Assim tinha sido desde a faculdade, quando eram apenas uns jovens decididos a destacar no mundo dos negócios.

Tinham ido vê-lo ao hospital, sendo já vítima desse enorme buraco negro na memória. Mas não se tinham compadecido dele. Pelo contrário. Tinham-se portado como uns autênticos canalhas e estar-lhes-ia sempre agradecido por isso.

– Pelos vistos eu nunca saio cedo de uma festa – observou Rafe.

– E a quem lhe importa o que costumas fazer? – bufou Cam. – É a tua festa. Diz-lhes que...

– São importantes sócios de negócios, Cam – Ryan alçou uma mão. – Precisamos desse dinheiro.

– Quem precisa de uma equipa de segurança com vocês os três por perto? – brincou Rafael, agradecido por ter em quem confiar. Mais ninguém sabia da sua perda de memória.

– O homem que se aproxima é Quenton Ramsey terceiro – sussurrou Devon ao ouvido do amigo. – A esposa chama-se Marcy. Já acedeu a participar em Moon Island.

Rafael assentiu e afastou-se ligeiramente da proteção dos três amigos para cumprimentar com um sorriso afável o casal que se aproximava. Junto dos sócios tinha localizado o lugar perfeito para um complexo de férias: uma diminuta ilha em frente à baía de Galveston, no Texas. As terras pertenciam-lhe e o único que tinha de fazer era construir o hotel e manter os investidores contentes.

– Quenton, Marcy, que alegria ver-vos de novo. Marcy, permite-me dizer-te que estás linda esta noite. O Quenton é um homem felizardo.

As faces da mulher ruborizaram-se enquanto Rafael lhe beijava a mão.

Assentiu com educação e fingido interesse no casal, ainda que lhe voltasse a picar a nuca. Tinha a cabeça inclinada, como se estivesse atento a cada palavra que lhe diziam, ainda que o seu olhar vagasse pelo salão procurando a causa da inquietude que sentia.

Ao princípio passou-lhe despercebida, mas rapidamente lhe chamou a atenção uma mulher que estava de pé no outro lado do salão e que o perfurava com o olhar.

Rafael não tinha a certeza do porquê de sentir-se atraído por ela. Regra geral preferia-as altas, de longas pernas e loiras. Derretia-se perante uns olhos azuis e uma pele pálida. No entanto, aquela mulher era pequenina, inclusive apesar dos saltos, e a sua pele era de um suave tom de azeitona. O rosto era enquadrado por uma sedosa melena de caracóis negros que lhe chegavam até aos ombros e os seus olhos eram da mesma cor.

Nunca a tinha visto na sua vida. Ou sim?

Amaldiçoou o buraco negro da sua memória. Não recordava nada das semanas anteriores ao acidente que tinha sofrido quatro meses atrás e tinha lacunas de outros períodos. Amnésia seletiva. O médico tinha-lhe sugerido a existência de algum motivo psicológico e Rafael não tinha gostado da insinuação. Ele não estava louco.

Mas recordava Dev, Cam e Ryan. Cada instante da última década, os anos da faculdade, os sucessos nos negócios. Recordava a maioria das pessoas que trabalhava para ele, ainda que não todas, o que provocava não poucas tensões no escritório, sobretudo quando tentava fechar um negócio milionário.

Naquele momento não recordava quem era metade dos seus investidores e, nessa altura, não podia permitir-se perder nenhum.

A mulher não lhe tirava a vista de cima. Quanto mais o olhava, mais frio se tornava o seu olhar e mais se fechava a mão em torno da pequena bolsa.

– Desculpem-me – murmurou ele aos Ramsey, encaminhando-se para a misteriosa jovem.

A sua equipa de segurança seguiu-o de perto. A mulher não fingiu timidez e não afastou o olhar um só instante. Tinha o queixo alçado num gesto desafiante.

– Desculpe, conhecemo-nos? – perguntou Rafael com uma voz terna que normalmente resultava muito eficaz com as mulheres.

O mais provável era que dissesse que não, ou que mentisse descaradamente e tentasse convencê-lo de que tinham passado uma noite maravilhosa na cama. O que era impossível porque ela não era o seu tipo.

Mas a mulher não fez nada do que ele esperava que fizesse. E ao levantar a vista para o seu rosto o que viu foi ira.

– Se nos conhecemos? – sussurrou. – Canalha!

Antes que ele pudesse assimilar a reação da jovem, recebeu um soco que o fez cambalear para trás enquanto levava uma mão ao nariz.

– Filho da...

Não teve tempo de lhe perguntar se tinha enlouquecido, pois um dos guardas interpôs-se entre eles e, no meio da confusão, empurrou-a para um lado fazendo-a cair ao chão. A mulher levou de imediato uma mão ao vestido.

E então viu-o. O tecido tinha ocultado a curvatura da sua barriga, ocultado a gravidez.

– Não! – rugiu Rafael. – Está grávida.

Os guardas deram um passo atrás e olharam, perplexos, para o chefe, enquanto a mulher se punha apressadamente de pé. Saíam chispas dos seus olhos enquanto corria pelo corredor, rasgando ruidosamente o chão de mármore com os saltos.

Rafael olhava fixamente a figura que fugia, demasiado surpreendido para fazer ou dizer o que quer que fosse. O último olhar que lhe tinha dirigido não fora de ira nem de raiva. O que tinha visto era dor, e lágrimas. Tinha magoado essa mulher, mas não sabia como nem porquê.

E seguiu-a pelo corredor. Atravessou a correr o vestíbulo do hotel e, ao chegar às escadas que conduziam à rua, viu um par de sapatos que resplandecia.

Agachou-se e apanhou as sandálias. Uma mulher grávida não deveria usar uns saltos tão altos. Por que demónios tinha fugido? Parecia procurar um confronto, mas à primeira oportunidade tinha fugido.

– Que demónio se passou, Rafe? – perguntou Cam ao alcançá-lo.

Toda a equipa de segurança, junto com Cam, Ryan e Devon o tinha seguido até à rua e nesse momento rodeavam-no com gesto de preocupação.

Rafael deixou escapar um suspiro de frustração antes de arrojar o par de sandálias para as mãos de Ramon, o chefe de segurança.

– Encontrem a dona destes sapatos.

– E o que queres que faça com ela quando a encontrar? – perguntou Ramon.

– Não tens de fazer nada – Rafael abanou a cabeça. – Mas mantém-te informado. Eu trato do resto.

– Não me agrada isto, Rafe – anunciou Ryan. – Existe a possibilidade de que se tenha filtrado à imprensa a tua perda de memória.

– Verdade – Rafael assentiu lentamente. – No entanto, há algo nela que me perturba.

– Reconheceste-a? – Cam arqueou as sobrancelhas. – Conhece-la?

– Não sei – Rafael franziu a testa. – Mas vou averiguá-lo.

 

 

Bryony Morgan saiu do duche, embrulhou os cabelos numa toalha e pôs um robe. Nem sequer a água quente tinha conseguido acalmá-la.

«Conhecemo-nos?».

A pergunta ressoou uma e outra vez na sua cabeça até que sentiu vontade de estatelar algum objeto... preferivelmente contra esse homem.

Como tinha podido ser tão estúpida? Ela não perdia a cabeça por um tipo atraente. Tinha-se mostrado imune a homens de grande encanto.

Mas assim que Rafael de Luca tinha aparecido na sua ilha, tinha-se rendido perante ele. Sem lutar. Sem resistir. Tinha tudo. Era a perfeição em fato e gravata. Um fato do qual se tinha conseguido desembaraçar e, quando saiu da ilha, o seu piloto privado nem sequer tinha sido capaz de o reconhecer.

Tinha passado de ser uma pessoa sóbria e empertigada a converter-se em alguém descontraído, tranquilo e descansado... Numa pessoa apaixonada.

A repentina torrente de dor que a invadiu perante a lembrança obrigou-a a fechar os olhos.

Era evidente que não se tinha apaixonado. Tinha chegado, visto e vencido. Ela tinha sido muito ingénua para descortinar os verdadeiros motivos.

No entanto, as suas mentiras e traição não lhe iam sair grátis. Faria o que tivesse de fazer, mas não o ia deixar construir nas terras que ela mesma lhe tinha vendido.

Tinha precisado de todo o seu valor para rebentar-lhe a festa naquela noite, mas assim que tinha sabido que o motivo da mesma era reunir os potenciais investidores para o projeto que pretendia destroçar as suas terras, tinha decidido fazer-lhe frente, ali mesmo, diante de todos, desafiando-o a mentir quando todos os assistentes conheciam os seus planos.

Com o que não tinha contado era que se negasse a conhecê-la sequer. Todavia, que melhor estratégia que a de a fazer parecer uma idiota parola? Ou uma espécie de ativista louca pregando contra o progresso.

Se não se acalmava, a tensão ia dar conta dela.

Havia serviço de quartos nesse hotel? Morria de fome. Esfregou a barriga e esforçou-se por libertar-se de toda a ira e do stress.

Obrigou-se a relaxar-se enquanto se penteava e secava o cabelo.

Estava a ponto de terminar quando alguém bateu à sua porta com força.

– Comida. Por fim – murmurou enquanto desligava o secador.

Correu à porta e abriu-a. No entanto não havia nenhum carrinho com comida. Nenhum empregado do hotel. Perante ela estava Rafael, com as suas sandálias dependuradas de uma mão.

Bryony deu um passo atrás e tentou fechar a porta, mas ele adiantou um pé, evitando-o.

Indómito, como sempre, abriu caminho para o interior do quarto e parou diante dela. Bryony odiava quão pequena e vulnerável se sentia, ainda que durante um tempo adorasse sentir-se protegida quando se aninhava contra o seu corpo.

– Sai daqui ou chamo a segurança – grunhiu.

– Fá-lo – respondeu ele com calma. – Mas dado que sou o dono deste hotel, talvez te custe um bocadinho fazer com que me expulsem daqui.

– Pois chamarei a polícia. Sejas quem fores, não podes entrar à força no meu quarto.

– Vim devolver-te os sapatos. Isso converte-me num criminoso?

– Vá lá, Rafael! Deixa-te de joguinhos. Já te percebi, a sério. Percebi assim que me olhaste hoje. Ainda que deva admitir que o de «conhecemo-nos?» foi um toque de mestre. Demasiado.

Teve de fazer verdadeiros esforços para não lhe dar outro murro.

– Sabes que mais? Jamais te tomei por um cobarde. Brincaste comigo. Comportei-me como uma monumental idiota. Mas o facto de teres evitado o confronto põe-me doente.

Bateu-lhe no peito com um dedo e ignorou a expressão de estupor no seu rosto.

– Pois que saibas que não te sairás com a tua. Ainda que me custe cada centavo que tenho, lutarei contra ti. Tínhamos um acordo verbal, e vais cingir-te a ele.

Cruzou os braços, tão furiosa que tinha vontade de lhe desferir um pontapé.

– E então? Pensavas que não voltarias a ver-me nunca mais? Pensavas que me esconderia em algum buraco ao descobrir que não me amavas e que só te tinhas deitado comigo para que acedesse a vender-te as terras? Pois não podias estar mais enganado.

Rafael reagiu como se lhe tivesse batido de novo. O seu rosto empalideceu e o olhar tornou-se gélido.

– Insinuas que tu e eu nos deitámos? – perguntou ele num sussurro. – Nem sequer sei como te chamas.

Não deveria sentir-se magoada. Há tempo que era consciente do motivo de a ter escolhido, seduzido e mentido. E não lhe podia deitar toda a culpa. Tinha-lhe facilitado demasiado a vida.

No entanto, o facto de que estivesse ali de pé, negando sequer conhecer o seu nome, tinha-lhe provocado uma ferida no coração impossível de curar.

– Deverias ir-te embora – indicou-lhe com a maior calma que pôde.

Rafael inclinou a cabeça enquanto a estudava com atenção. E para desespero de Bryony, alongou uma mão e enxugou uma lágrima que rolava pela sua face.

– Estás desagradada.

Pelo amor de Deus, esse tipo era imbecil. Rezou para que o seu bebé tivesse herdado o cérebro da mãe e esteve a ponto de soltar uma gargalhada, mas o que surgiu foi um soluço sufocado.

– Fora daqui.

Mas ele tomou-lhe o rosto entre as mãos e olhou-a nos olhos. E de novo lhe limpou as lágrimas num gesto surpreendentemente terno.

– Não podemos ter ido para a cama. Além de não seres o meu tipo, não me esqueceria de uma coisa assim.

Bryony olhou-o, boquiaberta, e desistiu de tentar fazê-lo ir-se embora. Quem ia era ela.

Ajustando o robe, dirigiu-se ao corredor antes que ele a agarrasse pelo pulso.

– Pelo amor de Deus, não tento magoar-te.

Rafael empurrou-a para o interior do quarto, fechou a porta e olhou-a, furioso.

– Já me fizeste mal – murmurou ela entre dentes.

– É evidente que sentes que te fiz algum mal – ele olhou-a com uma mistura de ternura e confusão. – E peço-te desculpa por isso, mas teria de me lembrar de ti e do que se supõe que fizemos para te poder oferecer uma compensação.

– Compensação? – ela olhou-o, perplexa perante a diferença entre o Rafael de Luca pelo qual se tinha apaixonado e o tipo que tinha em frente. Abriu o robe o suficiente para mostrar a barriga que se marcava sob a camisa de seda. – Fazes-me apaixonar por ti. Seduzes-me. Dizes-me que me amas. Consegues que assine os papéis para te vender umas terras que pertencem à minha família há um século. Mentes-me sobre a nossa relação e os teus planos para essas terras. E, como se não bastasse com isso, ainda por cima tiveste de me engravidar.

Rafael empalideceu. Deu um passo em frente e, pela primeira vez, resultou o suficientemente atemorizante para que ela desse um passo atrás e se apoiasse contra a mesa.

– Estás a dizer-me que nos deitámos juntos e que sou o pai do teu bebé?

– Estás a dizer-me que não o fizemos? Insinuas que imaginei as semanas que passámos juntos? Atreves-te a negar que me abandonaste sem dizer nada e sem olhar para trás?

– Não me lembro de ti – anunciou Rafael com voz rouca. – Não me lembro nada de ti. De nós. Disso – assinalou a barriga de Bryony.

– Não te lembras...

– Sofri um... acidente – ele deslizou uma mão pelos cabelos. – Se o que dizes é verdade, devemos ter-nos conhecido durante o período em que a minha mente estava completamente em branco.