cover.jpg
portadilla.jpg

 

 

Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Janice Maynard. Todos os direitos reservados.

TERRENO PRIVADO, N.º 1107 - Janeiro 2013.

Título original: Into His Private Domain.

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2013.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2497-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo Um

 

Gareth saiu do banho e ficou parado diante do espelho. A água gelada não lhe conseguira acalmar os nervos. Ainda nu, começou a fazer a barba.

Quando terminou, fez uma careta para o seu reflexo. O cabelo denso e crespo caía-lhe pelos ombros. Sempre o deixara crescer mais do que a moda lhe ditara, mas desta vez começava a incomodá-lo no trabalho.

Tirou um elástico de uma caixa e apanhou-o.

De imediato, alguém bateu à porta. Os irmãos e o pai nunca se davam ao trabalho de bater à porta antes de entrar. E o seu tio Vicente e os primos respeitavam-lhe demasiado o mau humor para se atreverem a interrompê-lo. Os mensageiros chamavam-no sempre para a divisão principal. Quem raio poderia ser?

Já estava mais do que farto de a imprensa cor-de-rosa se ter encaprichado por ele. Além disso, o tempo que passara no Exército ensinara-o a apreciar a solidão. À exceção da família, preferia não interagir com a humanidade sempre que possível.

Quando um homem tinha dinheiro, toda a gente queria algo dele. E Gareth estava farto disso.

Pegou numas calças e vestiu-as, sem os boxers. Aquilo bastaria para abrir a porta.

Atravessou a casa, a praguejar quando o elástico que lhe segurava o cabelo rebentou, deixando-lhe o cabelo solto. Que importância tinha? Quanto mais desarranjado estivesse, mais depressa espantaria quem estivesse à espera dele no alpendre.

Quando abriu a porta de rompante, encontrou uma mulher ruiva com caracóis selvagens que lhe caíam sobre os ombros. Desde logo, a sua libido despertou. Respirou fundo.

– Quem és tu e o que queres? – perguntou-lhe com toda a brusquidão que conseguiu.

A mulher conteve o fôlego e deu um passo para trás. Gareth apoiou-se na ombreira da porta, descalço, com ar carrancudo.

A visitante desviou-lhe os olhos do peito com grande esforço e olhou-o no rosto. Falou devagar.

– Tenho de falar contigo.

– Não és bem-vinda – respondeu ele, sem conseguir deixar de reparar em como a intrusa era sensual. Tinha a pele clara, a figura esbelta e as costas tão direitas que lhe deu vontade de as percorrer com a língua até ela gritar de...

Gareth passou as mãos pelo cabelo, enquanto o coração batia, acelerado. Não poderia baixar a defesa nem por um segundo. Ainda que aqueles caracóis de fogo e aquele rosto delicado fossem o seu calcanhar de Aquiles. Ao sentir-lhe o perfume suave, o seu membro endureceu sem conseguir evitar.

Quanto tempo passara desde a última vez que estivera com uma mulher? Semanas? Meses? A temperatura do corpo subia-lhe cada vez mais.

– O que queres?

Ela pestanejou, nervosa. Os olhos dela eram mais azuis que um céu de verão. Ergueu o queixo num gesto de desafio e esboçou um sorriso inseguro.

– Posso entrar para nos sentarmos um pouco? Gostava de beber algo. Prometo que não te roubo muito tempo.

Gareth ficou tenso. Uma fúria selvagem invadiu-o. Aquela mulher queria aproveitar-se dele, como todas as outras, pensou.

Ignorou a mão que a desconhecida lhe estendia, sem se preocupar em disfarçar o mau humor.

– Vai dar uma volta e sai das minhas terras.

A mulher deu dois passos para trás, cambaleante, com os olhos muito abertos e o rosto branco.

– Vamos – pressionou ele, endireitando-se o mais possível para lhe meter mais medo. – Não és bem-vinda.

Ela abriu a boca, talvez para protestar, mas nesse instante deu um passo mal dado. Caiu para trás, batendo com a cabeça e as costas nos degraus do alpendre. Desceu as escadas aos trambolhões, entre sonoros golpes, até ficar imóvel, magoada e estendida no chão.

Gareth correu para o pé dela numa fração de segundo, aproximando-se com as mãos a tremer. Portara-se como um animal, pior do que os coiotes que habitavam naquelas montanhas.

A mulher estava inconsciente. Com suavidade, ele percorreu-lhe as extremidades com as mãos para ver se tinha partido alguma coisa. Crescera com irmãos e primos e estava habituado a ver pernas e braços partidos. No entanto, não estava preparado para descobrir a protuberância de um osso por debaixo daquela pele branca e sedosa.

Pegou nela ao colo e levou-a para dentro de casa, para o quarto, o seu santuário privado. Depositou-a com cuidado na cama por fazer e foi buscar gelo e um estojo de primeiros socorros.

Ele, que não sabia sequer se ela continuava inconsciente, começou a preocupar-se mais com o corte profundo que tinha na perna. Pegou no telefone e ligou ao irmão, Jacob.

– Preciso de ti. É uma emergência. Traz a mala de primeiros socorros.

Dez minutos depois, o irmão estava ali. Os dois homens tinham os olhos postos naquela mulher de estatura pequena que parecia deslocada numa cama tão grande e tão masculina. O cabelo ruivo brilhava-lhe sobre os lençóis cinzentos e a manta azul de caxemira.

Jacob examinou-a da cabeça aos pés.

– Tenho de lhe dar uns pontos na perna – informou-lhe o irmão que era médico. – A pancada que levou na cabeça foi forte, mas não me parece que lhe vá custar a vida. As pupilas parecem estar bem – acrescentou e franziu a testa. – É tua amiga?

Gareth espirrou, sem desviar os olhos dela.

– Não. Estava aqui há poucos minutos quando caiu. Disse que queria falar-me de algo. Suponho que seja jornalista.

– E o que aconteceu? – perguntou Jacob, preocupado.

Gareth inclinou-se para a frente e afastou uma madeixa de cabelo do rosto da desconhecida.

– Tentei assustá-la para se ir embora. E funcionou.

Jacob suspirou.

– Um dia destes, esse teu mau humor vai dar-te um desgosto. Talvez hoje. Que raio, Gareth, esta mulher podia processar-nos e arrancar-nos tudo. Em que estavas a pensar?

Gareth encolheu os ombros quando o irmão fundiu a agulha na pele da mulher, para lhe coser o pequeno corte da perna. Mas ela não se mexeu.

– Queria que se fosse embora – murmurou Gareth, irritado e abatido pelo peso da consciência. Desejou que aquela estranha pudesse ser uma jovem inocente.

Mas o mais provável era que fosse uma víbora.

Jacob acabou de a coser e cobriu a ferida com um penso. Segurou-lhe no pulso e deu-lhe uma injeção para a dor.

– É melhor confirmarmos a identidade dela – avisou o médico, franzindo a testa. – Trazia alguma mala ou assim?

– Está na cadeira, ali.

Enquanto o irmão rebuscava na mala da mulher, Gareth ficou a olhá-la. Parecia um anjo na cama.

Com um ar preocupado, Jacob tirou da mala uma folha de papel dobrada.

– Dá uma vista de olhos a esta foto. Chama-se Gracie Darlington.

– A menos que seja um cartão falso.

– Não tires conclusões precipitadas. Às vezes és demasiado paranoico. Talvez não haja nada de sinistro em tudo isto.

– Sim e talvez até as galinhas ganhem dentes. Não esperes que me deixe aldrabar só porque é bonita. Já tenho experiência com isso.

– A tua antiga noiva era muito ambiciosa. Mas isso aconteceu há muito tempo, Gareth. Esquece.

– Não até saber a verdade.

Jacob inclinou a cabeça, desgostoso, enquanto abria uma ampola de amoníaco debaixo do nariz de Gracie.

Ela remexeu-se na cama e gemeu.

– Acorda.

Gracie abriu os olhos, a pestanejar. Os lábios tremiam-lhe.

– São dois? – perguntou ela, franzindo a testa, confusa.

– Enquanto não vires quatro está tudo bem – respondeu Jacob com uma gargalhada cortante. – Deste uma valente pancada. Tens de descansar e beber muitos líquidos. Vou estar por aqui, se piorares. Enquanto isso, não faças nenhum movimento brusco.

– Onde estou? – perguntou ela, torcendo o nariz.

Jacob deu-lhe uma palmadinha no braço.

– Estás no quarto do meu irmão. Mas não te preocupes, o Gareth não te morde. Eu chamo-me Jacob, já agora – apresentou-se e olhou para o irmão. – Substitui-lhe o gelo que lhe coloquei na perna e na cabeça. Vou deixar aqui um analgésico para ela tomar quando desaparecer o efeito da injeção. Vou voltar a vê-la de manhã, se não houver novidades. Leva-a à clínica, lá eu faço-lhe uma radiografia para confirmarmos se está tudo bem.

Gareth não se deu ao trabalho de o acompanhar até à porta.

Quando se sentou à beira da cama, Gracie tentou afastar-se dele, apesar de estar bastante magoada. Aquele gesto sincero tirou-lhe a pouca cor que tinha no rosto. Estremecendo, levantou a cabeça da cama e vomitou para o chão.

Então, desatou a chorar.

Gareth ficou paralisado por um momento, sem saber o que fazer. Nunca na vida sentira a necessidade de consolar alguém. Era possível que Gracie fosse uma impostora e uma bruxa.

No entanto, ficou perplexo ao presenciar uma tristeza tão profunda. Aquelas lágrimas eram do coração, impossíveis de fingir.

Gareth foi à casa de banho para buscar uma toalha húmida, estendeu-a à mulher e começou a limpar o chão em silêncio. Quando terminou, os soluços dela tinham-se acalmado um pouco. Tinha os olhos fechados e o corpo imóvel como uma pessoa morta. Talvez porque qualquer movimento lhe causasse dores.

Ele caíra de cavalo quando tinha doze anos e batera com a cabeça. Sabia como ela se sentia.

Por isso, não se arriscou a tentar sentar-se ao lado dela de novo. Aproximou-se das janelas e abriu-as, deixando o ar fresco da primavera entrar no quarto. Correu as cortinas para que a luz não fosse tão intensa. Queria que ela estivesse o mais cómoda possível.

Depois, ficou de pé junto à cama, olhando-a, e perguntando-se como era possível terem-lhe acontecido tantas peripécias em tão pouco tempo. Pigarreando, cobriu-a com o edredão. Até ao queixo.

– Temos de falar. Mas vou esperar até teres descansado. Está quase na hora de jantar. Vou preparar algo simples e ligeiro e vou trazer-to quando estiver pronto – ofereceu-se ele e hesitou, à espera de uma resposta.

 

 

Gracie tentou recuperar a postura, convencida de que a qualquer momento conseguiria pôr os neurónios em ordem. Parecia estar imersa num pesadelo. Um homem carrancudo estava a cuidar dela com relutância visível.

Era muito alto. Tinha um rosto muito masculino, atraente, apesar de não ser bonito no sentido puro da palavra. Nariz torto, um queixo que parecia talhado em granito e olhos pretos como a noite, tanto que não se distinguiam as pupilas.

O cabelo também era escuro e dava-lhe um toque selvagem que denunciava o desprezo por convenções sociais. Madeixas espessas e indomáveis caíam-lhe no rosto de vez em quando e, ao olhá-las, Gracie sentiu a tentação de as acariciar para ver se eram tão suaves como pareciam.

Tinha o peito bronzeado e musculado, com três pequenas cicatrizes nas costelas. Ao observá-las, ela franziu a testa, desejando poder tocar-lhes. O certo é que estava impressionada pelo quão magnífico era aquele homem.

Por fim, ele saiu do quarto e fechou a porta.

Gracie caiu num sono ligeiro e inquieto, salpicado por despertares cheios de dor e solidão. A penumbra da noite pintava o quarto quando o anfitrião regressou.

Trazia uma bandeja que deixou aos pés da cama, em cima de um baú de madeira. Em vez de acender a lâmpada do teto, acendeu a pequena luz da mesa de cabeceira.

De seguida, aproximou-se de Gracie.

– Tens de te levantar para comer qualquer coisa.

O estômago rugiu-lhe com o cheiro a comida.

O homem ajudou-a a sentar-se. A pele ardeu-lhe em todas as partes onde ele lhe tocou para a endireitar.

Quando ficou pronta, ele colocou-lhe a bandeja no colo. Gracie conteve a respiração ao mexer a perna. Não se dera conta, até ao momento, que ficara ferida noutros sítios para além da cabeça.

Então, o anfitrião respondeu-lhe o que ela não chegara a perguntar.

– O Jacob deu-te seis ou sete pontos. Bateste numa pedra afiada quando...

O homem calou-se com ar de desagrado. Aproximou uma cadeira da cama e sentou-se, observando-a enquanto ela comia. Se não estivesse a morrer de fome, teria ficado nervosa perante o seu intenso escrutínio. Mas deviam ter-se passado muitas horas desde que comera pela última vez.

Na bandeja, havia sopa de galinha com cenoura e aipo. Gracie tirou um pedaço de pão quente e devorou-o com gosto.

Nem ela nem o acompanhante disseram uma palavra até ela acabar o prato.

Depois de lhe tirar a bandeja de cima, ele sentou-se de novo, cruzando os braços.

Vestia umas calças gastas e uma camisola vermelha escura tecida à mão. E estava descalço. Tudo nele emanava confiança e superioridade.

Gracie lutou contra o pânico, tentando atrasar o momento da verdade.

– Tenho de ir à casa de banho – disse ela, compreendendo que iria precisar da ajuda dele para se pôr de pé. A perna ferida doía-lhe muito. No entanto, após um momento, foi capaz de coxear sozinha até à casa de banho.

Era uma divisão enorme com um chuveiro em pedra e vidro. Nesse momento, ela imaginou aquele homem viril e misterioso nu debaixo do chuveiro. Ao pensar nisso, os joelhos tremeram-lhe. Apesar do mal-estar, não conseguia ignorar o poderoso charme do seu anfitrião. Depois de usar a casa de banho e de tomar um duche, cometeu o erro de se olhar ao espelho. A sua imagem deixou-a perplexa. Estava mais branca que o leite e tinha o cabelo todo despenteado.

Então, rebuscou nas gavetas até encontrar um pente. Quando tentava pentear-se, magoou-se na ferida da cabeça e gritou de dor.

Nesse instante, ele estava ao lado dela, sem sequer se ter dado ao trabalho de bater à porta.

– O que se passa? – perguntou Gareth. – Sentes-te mal? – acrescentou e, nesse momento, deu-se conta do que ela tentara fazer. – Esquece o cabelo – murmurou, tomando-a nos braços para a levar para a cama.

Quando ficou acomodada no colchão de novo, com um saco de gelo na perna, ele estendeu-lhe os comprimidos analgésicos e insistiu que os tomasse com um pouco de leite. Gracie sentia-se como uma criança, ainda que o corpo estivesse a reagir àquele estranho como uma mulher.

– Não vás – soltou ela quando viu que o homem se dirigia para a porta, corando. – Não quero ficar sozinha.

Ele regressou para a cadeira, virando-a para se sentar com os braços cruzados à volta das costas da mesma. A sua expressão era difícil de decifrar.

– Estás a salvo aqui – sussurrou ele. – E o Jacob diz que te vais recuperar em breve.

A voz dele parecia-lhe mais suave do que uma carícia. No entanto, nesse momento, percebeu nele um certo olhar de desconfiança. Que raio poderia um homem daqueles temer dela?

– O teu irmão vive contigo?

– O Jacob tem uma casa na propriedade – respondeu ele, franzindo a testa. – Porque é que vieste?

Sentindo-se de novo sem energias, Gracie desviou o olhar para a janela.

– Não sei.

– Olha para mim.

Ela obedeceu com relutância, desorientada e envergonhada.

– Isso não faz sentido – observou ele.

Gracie mordeu o lábio, tentando conter as lágrimas.

– Pareces chateado. Comigo?

Durante um milésimo de segundo, algo parecido com medo assomou-lhe aos olhos, enquanto se agarrava com força às costas da cadeira. Mas, nesse mesmo instante, a expressão desapareceu.

– Nada disso. Daqui a pouco já vais embora.

Estava a mentir. Gracie sabia-o com certeza. E isso indignava-a. Para ele era um problema tê-la em casa. Um problema grande, pensou e destapou-se, cheia de pânico e agitação.

– Vou-me embora.

Franzindo a testa, ele voltou a tapá-la.

– Não sejas ridícula. Não estás em condições para ir a lado nenhum esta noite. Podes ficar na minha cama. Mas amanhã vais embora.

A dor que Gracie sentia na cabeça era demasiado intensa. Além disso, inundava-a uma inexplicável apreensão.

– Por favor – sussurrou ela, agarrando-se aos lençóis, enquanto se esforçava para controlar um ataque de nervos.

– Por favor, o quê?

– Por favor, diz-me quem sou.