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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Michelle Reid. Todos os direitos reservados.

O HOMEM QUE ARRISCOU TUDO, N.º 1479 - Agosto 2013

Título original: The Man Who Risked It All

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2013

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial,são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-3364-7

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Prólogo

 

O entusiasmo propagou-se entre a multidão. A corrida estava quase a começar. Pronto para começar, Franco Tolle estava dentro da boxe da equipa, a White Streak, com o capacete debaixo do braço e os olhos fixos no monitor, à espera que os organizadores da corrida aparecessem no ecrã. O vento soprava com mais força, quebrando a calma típica do Mediterrâneo e transformando-o num lago turbulento. Não eram as condições ideais para estar numa lancha a sessenta metros por segundo.

– O que achas? – Marco Clemente, o copiloto, aproximou-se dele.

Franco encolheu os ombros. A verdade era que o estado do mar não o preocupava tanto como a decisão de Marco de ir com ele.

– De certeza que queres fazer isto? – perguntou, sem levantar o tom de voz, nem parar de olhar para o ecrã.

Marco respirou fundo, com impaciência.

– Se não queres que vá contigo, Franco, podes dizer-mo.

E fora por isso que Franco fizera a pergunta. Marco estava tenso e volátil. Passara a última hora a andar de um lado para o outro e a atacar qualquer pessoa que se atrevesse a dirigir-lhe a palavra. Não era o melhor estado de espírito para entrar numa lancha que cortava o mar como uma bala.

– Para o caso de te teres esquecido, Franco, metade da White Streak é minha, embora sejas o cérebro da operação – declarou, com tom petulante.

Franco cerrou os dentes. Não queria dizer nada de que pudesse arrepender-se. Ambos eram donos da White Streak e tinham percorrido a Europa a representar a empresa. Faziam-no há cinco anos, mas aquela era a primeira vez em mais de três anos que iam na mesma lancha. Aquela era a primeira vez que Franco cedia à pressão e deixava que Marco se sentasse ao seu lado.

Mas porque o fizera? Fizera-o porque o campeonato estava por um fio. Era a última corrida da época e o seu copiloto adoecera no dia anterior. Marco era, sem dúvida alguma, o melhor substituto de Angelo quando havia tanto em jogo e Franco convencera-se de que seriam capazes de deixar as velhas disputas de lado. Pensava que seriam capazes de deixar tudo num plano estritamente profissional, mas havia uma coisa com que não contara. Marco já não era o mesmo de antes. Já não se comportava como aquele tipo tranquilo a que todos estavam habituados.

– Dantes éramos bons amigos – disse Marco, baixando deliberadamente o tom de voz. – Éramos os melhores amigos, de toda a vida, mas eu cometi um pequeno erro e tu...

– Ir para a cama com a minha esposa não foi um pequeno erro – interrompeu-o Franco, com tom gélido.

– Lexi não era a tua esposa naquela altura – corrigiu Marco.

– Não – Franco virou-se para ele pela primeira vez desde o início da conversa.

Eram da mesma altura, tinham a mesma constituição atlética, eram da mesma idade, da mesma terra... Porém, era só isso. As semelhanças acabavam ali. Marco tinha o cabelo loiro e os olhos azuis, enquanto Franco era moreno e de olhos escuros.

– Mas tu eras o meu melhor amigo.

Marco tentou olhar para ele. O remorso e a frustração travaram uma batalha durante alguns segundos. Finalmente, suspirou e desviou o olhar.

– E se te dissesse que nunca aconteceu? E se te dissesse que inventei tudo para que acabassem?

– E porque haverias de fazer isso?

– Porque haverias de querer trocar a tua vida por uma adolescente? – perguntou Marco. A frustração ganhara a batalha ao remorso. – Casaste-te com ela na mesma e fizeste com que me sentisse o pior canalha do mundo. E Lexi nem sequer soube o que eu te tinha contado, pois não? Não lhe disseste.

Franco ficou em silêncio e voltou a olhar para o monitor.

– Não podia saber – continuou Marco, como se falasse sozinho. – Era demasiado boa comigo.

– Qual é o sentido desta conversa? – perguntou Franco, perdendo a paciência. – Temos uma corrida para acabar e acho que é evidente que não tenho vontade de falar do passado contigo.

– Muito bem, signori, vamos lá.

Naquele momento, o chefe da equipa deu o grito de saída, acabando com a tensão que se criara entre os dois homens.

Franco começou a andar, mas Marco agarrou-o pelo braço.

– Meu Deus, Franco, lamento ter estragado o que tinhas com Lexi, mas ela está fora da tua vida há três anos! Não podemos deixar tudo para trás de uma vez por todas e voltar...?

– Queres que te diga porque decidiste falar de tudo isto agora? – Franco virou-se bruscamente para Marco. O seu rosto estava cheio de desprezo. – Tens uma dívida com a White Streak que ascende a milhões. Tens medo porque sabes que precisas de mim para que os teus segredos não sejam descobertos. Já ouviste os rumores, sabes que tenho intenção de abandonar as corridas e estás cheio de medo porque sabes que o desastre financeiro em que nos meteste vai rebentar-te na cara. E, para que conste, essa desculpa patética chega três anos e meio demasiado tarde.

Afastando-se com brutalidade, Franco virou-se e continuou em frente. Na verdade, não esperava que Marco puxasse o assunto... E a última coisa que queria recordar era que em casa o esperavam os papéis de divórcio que Lexi lhe enviara.

Saiu da boxe. Um rio de raiva tão fria como o nitrogénio líquido corria-lhe pelas veias. Estavam em Livorno. Os fãs esperavam-nos lá fora, mas mal conseguia ouvir os aplausos e as ovações. Um véu vermelho cobria-lhe os olhos e a única coisa que conseguia ver era aquela imagem... O seu melhor amigo na cama com a única mulher que amara. Passara muito tempo com aquela imagem na cabeça, quase quatro anos. Tivera-a muito presente durante todo o casamento com Lexi e isso fizera-o tratá-la de outra maneira. Até chegara a pensar que o filho que esperava não era dele por causa daquela lembrança. Aquele incidente mudara o rumo da sua vida. Consumira-o até não restar nada do homem que costumava ser. E, quando Lexi perdera o bebé, a sua reação fora influenciada por aquela lembrança amarga.

Contudo, o pior de tudo era que Marco tinha razão. Lexi nunca chegara a saber porque se comportara daquela maneira. A única forma de proteger o seu orgulho ferido fora manter tudo em segredo. Ela nunca chegara a saber que lhe partira o coração com aquela traição.

Como um fantasma de que não conseguia livrar-se, Marco voltou a aparecer ao seu lado.

– Franco, amico, preciso que me ouças...

– Não me fales do passado. Concentra-te no que temos de fazer agora, se não quiseres que feche a White Streak. Não queres que todos descubram o desastre que criaste, pois não?

– A minha vida ficaria arruinada... A reputação da minha família...

– Exato.

Marco ficou pálido. Havia pânico no rosto dele. O apelido Clemente era sinónimo de vinhos deliciosos, sinceridade e bondade. A dinastia Clemente estava à frente de algumas das organizações de beneficência mais importantes de toda a Itália, juntamente com a família Tolle. Os laços que uniam os dois clãs remontavam a um tempo que nenhum dos dois recordava e fora por isso que Franco não quisera falar dos problemas com Marco. Ainda tinham uma relação profissional e costumavam encontrar-se em eventos sociais e de beneficência. Deixara que Marco desmentisse os rumores entre gargalhadas.

– Rapazes, cumprimentem as pessoas – pediu o chefe da equipa, aproximando-se por trás.

Como uma marioneta obediente, Franco levantou o braço e cumprimentou-as. Marco fez o mesmo, esboçando o seu famoso sorriso e conquistando toda a gente, como fazia sempre. Enquanto isso, Franco pôs o capacete. Assim que o fez, o seu sorriso desapareceu. Ambos entraram na cabina aberta da lancha e puseram os cintos de segurança. Estavam a dar-lhes a informação habitual pelo intercomunicador: velocidade do vento, altura e comprimento estimado das ondas... Fizeram a rotina de verificações prévias ao começo da corrida. Estavam perfeitamente coordenados, habituados a trabalhar juntos, como se soubessem o que o outro pensava. Tinham sido amigos desde a infância e poderiam ter continuado a sê-lo para sempre... Envelhecer juntos, filhos, netos... Noites quentes de verão a observar o pôr do sol, a desfrutar do melhor vinho das adegas Clemente, a recordar os velhos tempos...

Ligaram a lancha. O ruído suave era música para os ouvidos de um engenheiro naval como Franco. Levaram a lancha para a linha da partida. Uma pincelada branca e brilhante entre os outros doze barcos de todas as cores, com logótipos de patrocinadores variados. Todos esperavam, prontos para começar a toda a velocidade quando ouvissem o sinal.

Franco olhou para Marco, que estava ao seu lado. Não soube porque o fez. Devia ter sido aquele sexto sentido que costumavam partilhar. Marco também se virara para ele e observava-o. Havia algo escrito nos olhos dele... Um desespero que embargava o peito de Franco.

Marco desviou o olhar, virando novamente a cabeça. Depois, Franco ouviu o murmúrio suave da voz dele ao ouvido:

Sono spiacente, mio amico.

Franco ainda tentava decifrar o que Marco lhe dissera quando os motores ganharam vida e as lanchas se afastaram.

«Demasiado depressa...», pensou.

Marco acabava de lhe dizer que o lamentava e estavam a andar demasiado depressa...