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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2004 Diana Hamilton

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Palavra de honra, n.º 818 - Agosto 2015

Título original: A Spanish Marriage

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2005

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-7152-6

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Se gostou deste livro…

Prólogo

– Tens mesmo que ir, Javier? Mas, raramente estamos contigo… Para a semana, eu e o teu pai vamos para a praia. Por que não vais connosco? É só uma semana, filho. Não é pedir muito.

– Desculpa, mamã, mas não posso – desculpou-se Javier, com pena por não poder ir.

Isabel, prestes a fazer sessenta anos, continuava a ser a bonita espanhola pela qual o seu pai, Lionel Masters, se apaixonara loucamente há trinta anos, quando já pensava que nunca encontraria a mulher da sua vida.

Isabel apoiou-se nas costas do cadeirão de veludo.

– Andas sempre a dizer que gostas de vir para cá, mas não é verdade – queixou-se, tristonha.

Um pau partiu-se no lume da lareira, espalhando algumas faúlhas pela sala. Javier levantou-se do sofá e espicaçou o lume, necessário agora que os picos da Serra Nevada anunciavam a chegada do Inverno. O seu pai sorria, enquanto ouvia a conversa.

Adorava aquela casa desde pequeno, quando os seus pais o levaram de férias pela primeira vez. Era um antigo palácio árabe, nos arredores de uma típica povoação andaluza, com uma enorme porta de madeira e um pátio de pedra que, na Primavera, se enchia com o perfume das rosas e dos lírios.

A sua família, vinda de Wakeham Lodge, em Gloucestershire, mudara-se para lá, embora passasse o Verão na costa.

– Eu gostava muito de ficar –admitiu Javier. – Mas tenho um problema.

– Com a empresa? – perguntou Lionel Masters.

Lionel reformara-se há alguns anos, por questões de saúde, deixando o seu filho como responsável pela empresa de construção que montara com o seu sócio, Martin Rothwell. Ainda antes de se reformar, a empresa já era bastante conceituada, porém, agora, nas mãos de Javier, transformara-se numa das construtoras mais prestigiadas de Inglaterra.

– Não, não é isso. O meu problema é Zoe Rothwell.

Dois simultâneos «Ah!» foram a resposta para aquela frase, a que se seguiu um silêncio tão intenso que Javier conseguia ouvir os batimentos do seu próprio coração.

Nervoso, olhou para o seu relógio de pulso. Dali a quinze minutos, Solita, a governanta, anunciaria o jantar. Seria melhor acabar com aquele assunto o mais depressa possível.

– Ontem, depois de uma reunião em Madrid, recebi um telefonema de Alice Rothwell. Estava histérica e pediu-me que lhe fizesse um favor: que passe a ser o tutor de Zoe porque, segundo ela, já não consegue fazer nada da neta.

– Mas… Como? – Isabel franziu o sobrolho. – Por que é que ela acha que estás interessado em ser tutor de Zoe? Alice sempre me pareceu uma mulher estranha. Tão fria, tão seca… Por que é que ela pensou em ti para tutor da neta nela? Se fosses casado… mas não és.

Javier encolheu os ombros. Como filho único, o sonho de Isabel era, desde há três anos, quando fizera vinte e cinco anos, vê-lo casado para que lhe desse muitos netos.

Todavia Javier não estava preparado para assentar. Era solteiro e pretendia continuar a sê-lo durante muito tempo. Trabalhava doze horas por dia e gostava de estar com mulheres, mulheres sofisticadas como ele, que partilhavam a sua forma de ver a vida. Na sua opinião, só uma pessoa imatura pode confundir desejo com amor.

– Zoe já não é uma menina. Tem dezassete anos e transformou-se numa adolescente insuportável, segundo a avó dela. Parece que fugiu do colégio interno e que decidiu deixar de estudar. Foi por isso que Alice me pediu para ser tutor de Zoe, para ver se consigo pô-la na linha.

– Mas, porquê tu? – perguntou o seu pai. – Tu és um homem muito ocupado. Seres responsável por uma adolescente com problemas trar-te-á muitas dores de cabeça. Além disso, não são parentes… Alice não tinha o direito de te pedir uma coisa dessas.

Javier apertou os lábios.

– Tenho uma obrigação moral.

– Porquê?

– Quando os pais de Zoe morreram no incêndio… A pobre perdeu tudo: a segurança que uma menina de oito anos deve ter, o amor, o carinho… Senti muita pena tanto dela como de Alice e achei que alguém da nossa família devia preocupar-se com elas. Afinal, o pai de Zoe foi teu sócio durante muitos anos… antes de te vender a parte dele.

– Alice Rothwell não é uma pessoa de bom trato – suspirou Lionel Masters.

– Temos de reconhecer que ela, coitada, teve uma vida difícil. Perdeu o marido e, um ano depois, o filho… e, por isso, teve de ficar com a responsabilidade de uma menina de oito anos. Sempre achei que Alice não tem sensibilidade para educar a menina… Foi por isso que, durante estes anos todos, me mantive em contacto com ela. Creio que é por isso que considera que eu devo ser o tutor de Zoe.

Para além das considerações morais e ignorando a insinuação de que ela e Lionel deviam ter prestado mais atenção à filha do ex-sócio do seu marido, os pensamentos de Isabel foram por outro caminho.

– Zoe era uma menina muito bonita, se bem me lembro. Passámos um Natal em Wakeham Lodge com os Rothwell… lembras-te, Lionel? Foi nessa altura que Martin decidiu vender-te as acções dele. Semanas mais tarde, ele e a mulher morreram naquele trágico incêndio, de modo que devem ter deixado uma herança considerável. É possível que Zoe seja uma menina difícil, mas de certeza absoluta que também é uma rica herdeira. Não é verdade, Javier?

– Sim, claro. Zoe herdará uma enorme quantia quando fizer vinte e um anos, porém, agora, esse dinheiro está num fideicomisso.

– Continua a ser igualmente bonita? Lembro-me de que tinha o cabelo loiro, liso… e uns olhos cor de mel, quase dourados.

Javier enrugou o sobrolho. O que é que o aspecto físico de Zoe tinha a ver com o seu problema? O que a sua mãe devia fazer era dar-lhe conselhos sobre como lidar com uma adolescente.

– Bonita? Não sei… é uma miúda. Costumo visitar Zoe algumas vezes por ano, mas Alice está sempre a queixar-se. Segundo ela, a neta é insuportável e as amas desaparecem à velocidade da luz.

Zoe sempre se dera bem com ele. Javier andava na universidade, mas ia vê-la algumas vezes por ano e levava-a ao cinema ou ao jardim zoológico. A pobre menina órfã tinha que suportar a sua avó e a amiga e governanta desta, a menina Pilkington, duas mulheres muito sérias e austeras, que se vestiam sempre de preto.

Quando Zoe foi para o colégio interno, voltou muito séria, antipática, calada. Javier recordava-se dela com uma longa trança loira, que lhe caía pelas costas…

Passara um ano desde a última vez em que a vira. As pressões do trabalho não lhe tinham permitido ir visitá-la, todavia, lembrava-se que, da última vez, ela olhara muito fixamente para ele, com o sobrolho franzido, como se estivesse a atirar-lhe alguma coisa à cara.

– Devias casar-te com ela – disse a sua mãe. – Zoe tem a sua própria fortuna, de modo que, assim, não gastaria a tua. E esse é um aspecto que deve ser tido em conta. Não te parece o mais conveniente, Javier? Além disso, se há alguém que pode mudá-la, essa pessoa és tu.

– Por favor, mamã – Javier riu-se, para disfarçar a sua irritação.

Mas com a sua mãe a irritação não durava mais do que uns minutos. Quanto ao problema de Zoe, essa era outra questão.

O coração de Zoe batia com tanta força que começava a sentir-se maldisposta. O relógio que havia sobre a lareira marcava os intermináveis minutos, com um tiquetaque enlouquecedor. Javier Masters ia vê-la!

Da janela, conseguia ver o caminho pelo qual chegaria o carro dele e já lhe doíam os olhos do esforço que fazia para não pestanejar.

Pela primeira vez em dezassete anos, acreditava nos anjos da guarda: alguma coisa ou alguém olhava por ela. Que outra coisa poderia explicar a sua repentina decisão de sair do colégio interno, voltar para casa à boleia e dizer à sua avó que não pretendia voltar?

Odiava o colégio desde que a tinham mandado para lá, aos onze anos. Rodeada de estranhas que não lhe diziam nada, Zoe aprendeu rapidamente que a única forma de controlar a tristeza, pelo facto de ninguém a querer, era fingir que ninguém era importante para ela.

As outras sessenta alunas do colégio eram meninas que não se queixavam de nada e Zoe depressa entendeu porquê. O princípio do colégio interno Benchley era a disciplina e qualquer comportamento intolerável era severamente castigado pela direcção, sem serem consideradas as circunstâncias.

A ameaça do castigo não significava nada para ela. Nenhum castigo podia comparar-se com o que vivera: a dor de perder os seus pais, a sua casa, a sua infância feliz, tudo numa noite. O único sobrevivente daquele passado era Misty, o seu pónei, que estava a salvo no estábulo. Mas a avó Alice não lhe permitiu ficar com ele, por isso Misty foi vendido.

De modo que Zoe odiava a sua avó. Na verdade, apenas a vira até à morte dos seus pais e ficara horrorizada ao ver como Alice se afastava dela, como não lhe permitia ir para o seu colo ou dar-lhe um beijo.

Até essa altura, nunca se sentira recusada. Além disso, como não gostava de ter medo, transformara esse medo em raiva, numa negação contínua, numa insistência obstinada que a levava a tomar as suas próprias decisões. Zoe fazia o que queria fazer e não o que lhe pediam.

Há uma semana, decidiu abandonar o colégio, farta de tudo. Pensara que a sua avó a expulsaria de casa, contudo, Alice anunciou:

– Javier Masters aceitou ser teu tutor até seres maior de idade. Eu fiz o que pude até agora, mas não posso continuar. A minha única esperança é que ele consiga fazer alguma coisa de ti. Virá buscar-te amanhã à tarde. Faz a tua mala, Zoe.

Desde então, estava eufórica. O seu anjo da guarda existia mesmo! Ela sempre adorara Javier.

Em pequena, quando ele ia visitá-la, levava-a ao jardim zoológico, comprava-lhe gelados e hambúrgueres, iam à praia, coisas que nunca podia fazer com a sua avó. Continuara a visitá-la durante todos aqueles anos, todavia, a partir dos treze anos, Alice começou a proibir que a levasse ao cinema ou à praia, como castigo por ter más notas.

As visitas começaram a ser menos frequentes e passaram a ser uma tortura: os três, sentados no sofá, a tomar chá, com a sua avó a dizer-lhe: «Estica as costas, Zoe», «Responde, Zoe» ou «Não comas tantas bolachas».

Javier fazia-lhe perguntas sobre o colégio, porém, ela recusava-se a responder, porque não queria que ninguém soubesse que era infeliz. Apesar disso, ele sorria amavelmente. Quando se ia embora, dava-lhe um abraço e Zoe sentia vontade de chorar.

Javier Masters parecia ser a única pessoa no mundo a sentir carinho por ela e sabia que iam passar-se muitos meses antes de voltar a vê-lo.

Então, no ano anterior, na sua última visita, aconteceu algo espantoso: Zoe apercebeu-se de que estava apaixonada por ele. Não só por ser muito bonito, cabelo escuro, olhos cinzentos, que, às vezes, podiam parecer pretos, maçãs do rosto salientes, queixo quadrado; mas por ser um homem bondoso e seguro de si próprio, um homem que lutaria até à morte para defender uma pessoa de quem gostasse.

Sentindo um friozinho no estômago, Zoe não conseguia deixar de olhar para ele. Ouvia cada uma das suas palavras, como se quisesse memorizá-las…

O facto de se ter apaixonado passou a ser uma espécie de armadura contra a frieza da sua avó e contra os horrores do internato. Passou até a estudar mais, decidida a tirar boas notas, para que a sua avó não pudesse proibi-la de sair com Javier na visita seguinte.

Zoe sentia-se no sétimo céu e contava os dias. Sabia que Javier Masters nunca poderia apaixonar-se por ela, mas isso não sustinha as suas fantasias nem o seu desejo de voltar a vê-lo.

No entanto, naquele ano, Javier não apareceu e Zoe teve que aceitar que tinha coisas mais importantes para fazer do que visitar uma miúda que nem sequer era parente dele. Por que haveria de o fazer? Já não era uma menina, tinha dezassete anos e podia tomar conta de si própria. Pensar que jamais voltaria a vê-lo, que nunca mais voltaria a apreciar os seus sorrisos, magoava-a tanto… De modo que se convencera a si própria de que não se importava. Fazia sempre isso para não sofrer.

Mas a notícia da avó mudara tudo e destruíra a barreira da indiferença que construíra à volta do seu coração desde a morte dos seus pais.