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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1997 Gina Wilkins

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Conquistar um coração, n.º 347 - abril 2018

Título original: Seducing Savannah

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-321-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

 

 

 

 

– Têm a certeza de que é uma boa ideia?

Ajoelhada junto a um buraco recém-escavado no fértil chão da Geórgia, Savannah McBride olhou para as suas primas ao fazer aquela pergunta. Dentro do buraco, encontrava-se uma caixa coberta de terra e de lama que, noutra época, pertencera ao seu avô, Josiah McBride.

Há quinze anos atrás, as primas encheram a caixa com os seus tesouros e enterraram-na naquele lugar do bosque, com a solene promessa de desenterrarem a sua «cápsula do tempo» quando Savannah fizesse trinta anos. Ainda faltavam algumas semanas para o seu aniversário, mas, guiadas por um inesperado impulso, decidiram desenterrar a caixa naquele dia, para se esquecerem um pouco do motivo que as levara a reunirem-se: o funeral do tio de Savannah, Josiah McBride Júnior.

Porém, Savannah começava a arrepender-se da ideia de remexer no passado. Reviver as fantasias da adolescência, repletas de planos grandiosos, tão diferentes daquilo que efectivamente a sua vida fora, provocava-lhe uma certa repulsa.

– Talvez devêssemos esperar – comentou Tara, a sua prima de vinte e oito anos. – Só passaram quinze anos. O conteúdo das nossas «cápsulas do tempo» será muito mais interessante dentro de alguns anos, não concordam?

– Já desenterrámos a caixa. É melhor abri-la – retorquiu Emily McBride, a mais nova.

Era o pai de Emily quem tinha sido enterrado naquela manhã, depois de uma prolongada e penosa doença, durante a qual foi carinhosamente tratado pela sua filha. E fora esta quem persuadira Savannah e Tara a irem ao bosque, ao enorme carvalho, sob o qual passaram tantas horas da sua infância e adolescência, a comerem caramelos e a partilharem os seus segredos.

– Para além disso – acrescentou Emily, – não preferem estar aqui do que lá em casa, com toda aquela gente?

Perante aquela observação, Savannah rendeu-se por completo. Preferia lutar com um crocodilo do que voltar para aquela casa cheia de gente coscuvilheira, onde se sentia perseguida pelos seus olhares dissimulados e pelos murmúrios que surgiam assim que se aproximava. O antigo escândalo não tinha sido esquecido pelos residentes da pequena aldeia de Honoria, Geórgia.

Várias pessoas tinham-lhe perguntado amavelmente se tinha trazido os filhos consigo, mesmo sabendo que ela raramente levava os gémeos àquela terra, onde estariam sujeitos a cochichos que só os iriam magoar.

– Está bem. Vejamos o que há por aqui – afirmou Savannah, tirando a velha caixa do buraco.

Em seguida, abriu a tampa, enquanto as primas se inclinavam para observar o seu interior.

As três caixas de sapatos, protegidas com sacos de plástico, estavam praticamente novas. Cada uma delas tinha um nome escrito na tampa. Savannah pegou na primeira.

– Tara – disse, lendo o que se encontrava inscrito nesta.

Hesitante, Tara agarrou na sua caixa. Segurou-a com tanto cuidado, que até dava a impressão de que esta continha explosivos.

– Onde é que está a minha? – perguntou Emily.

Savannah entregou-lha. A prima afastou-se um pouco e olhou para a caixa com um misto de ansiedade e de temor.

Finalmente, Savannah pegou na sua caixa. Uma incontrolável onda de emoções vieram-lhe à memória, assustando-a.

Os primeiros dez anos da sua vida foram quase um conto de fadas. Era a «princesa» do papá. Era como se estivesse a ver o seu pai a entrar em casa, após um árduo dia de trabalho, transpirado e com uma prenda para ela no bolso, uma pastilha elástica, um rebuçado, um laço, uma ninharia qualquer… não importava. Ela gostava de tudo, porque o adorava. Como a tinha mimado! Dizia-lhe que era bonita, inteligente, talentosa e que era capaz de fazer tudo o que ambicionasse.

E, pouco tempo depois, morreu.

A sua mãe continuou a mimá-la, embora à sua estranha maneira. Ernestine incentivava a sua atraente e popular filha a ser tudo: chefe de claque, rainha da festa de graduação, uma estudante brilhante…

Aquelas recordações eram-lhe quase dolorosas.

– Savannah? – chamou-a Emily. – Não vais abrir a caixa?

– Sim – respondeu calmante. – Vou abri-la.

Em silêncio, as três primas afastaram-se.

Na caixa de Savannah, havia um diadema, onde se encontrava gravado Miss Honoria Júnior; um pompom azul que representava a sua invejável posição como chefe da claque do liceu; um programa de uma peça de teatro na qual desempenhou o papel de protagonista; uma fotografia onde aparecia com uma capa azul brilhante ao lado do seu namorado, Vince Hankins, capitão da equipa de futebol. Todas as meninas queriam sair com ele. Savannah sentiu-se a rapariga mais feliz do mundo, quando aquele bonito rapaz decidiu prestar-lhe atenção.

Observou atentamente a fotografia e recordou-se de…

Recordou-se da época em que Vince a esbofeteou por estar a sorrir para outro rapaz. Deixou-lhe uma marca na cara. Ela contou a toda a gente que tinha caído.

Recordou-se do quanto a fez chorar, ao dizer-lhe que não seria ninguém se ele a deixasse, que as raparigas que a invejavam e a imitavam depressa se afastariam dela, caso ele chegasse à conclusão de que não valia a pena prosseguir com o namoro. Savannah acreditou nele. E acabou por se transformar em realidade.

Recordou-se da noite do dia em que fez dezasseis anos, quando Vince a obrigou a provar o seu amor por ele no banco traseiro do Cadillac do seu pai. Chorou durante toda a noite e, no dia seguinte, teve de se maquilhar com cores fortes para esconder as olheiras. Esse foi o dia em que ele lhe deu um anel, no meio de uma aula. Os olhares de inveja das outras raparigas quase a fizeram esquecer-se da humilhação da noite anterior.

Foi uma parva. Quando se transformou num incómodo para Vince, ficando grávida seis meses mais tarde, este abandonou-a como se fosse uma brasa em chamas. E as suas supostas amigas fizeram o mesmo.

Obrigou-se a recuar um pouco mais no tempo, à maravilhosa época em que desfrutou da vida com o seu pai. Na altura em que enterrou a caixa ainda era feliz, ainda desfrutava da atenção que recebia, inocentemente alheia à rapidez com que a inveja se podia transformar em algo muito desagradável.

Não deveria ter permitido que Vince lhe tivesse roubado os momentos felizes, juntamente com tudo o resto.

Pensativa, Savannah olhou para as primas, perguntando a si própria se as suas recordações seriam mais agradáveis do que as dela. A expressão de Tara era indecifrável, mas não era difícil uma pessoa aperceber-se de que ela também não era feliz. Emily parecia atordoada e estava extremamente pálida, ao mesmo tempo que olhava para algo que segurava na mão. Savannah não sabia qual das primas necessitava de mais apoio e consolo. E o pior era que não se sentia em condições de ajudar nenhuma delas.

Olhou para a caixa que tinha na mão e para a carta fechada que se encontrava entre o resto dos objectos. E soube que não a podia abrir, pelo menos, por enquanto.

Primeiro, devia examinar atentamente no que se convertera a sua vida. Só depois desse exame é que estaria apta para decidir se queria que as coisas continuassem como estavam.

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Voltava a observá-la.

Savannah olhou para o homem que estava encostado a uma palmeira, no outro extremo da pista de dança. A luz dos focos e das velas colocadas em cima das mesas, ocultava em intrigantes sombras o seu atraente rosto, aumentando o ar misterioso que o envolvia. Imaginou-o como um pirata, uma ilusão criada pela atmosfera do Caribe que os rodeava, pela sua camisa preta, as suas apertadas calças pretas e o escuro cabelo que lhe caía sobre a testa.

Aquele homem fascinava-a.

Savannah bebeu um gole de champanhe e disse para consigo que as bolhinhas lhe deviam estar a subir à cabeça. Só porque era atraente como o pecado e porque dava a impressão de estar a olhar para ela sempre que se virava, não havia motivo algum para se deixar arrastar pelo mundo da fantasia daquela maneira.

Em contrapartida, uma vozinha no seu interior não parava de lhe pedir uma razão para não se deixar levar. Aquelas férias na ilha Serendipity eram a sua última aventura antes de entrar nos trinta. Eram uma oportunidade para recordar o que era ser-se jovem, livre, atrevida… e não ter nenhuma responsabilidade, pela primeira vez, em treze anos.

Uma orquestra tocava num palco montado ao lado da pista de dança, preenchendo aquela noite tropical com música. Numerosos casais dançavam com um ar de felicidade tão grande, que ela não pôde evitar sentir uma certa inveja.

Aquilo era outra coisa que nunca tinha vivido. Um romance de verdade. Uma verdadeira intimidade.

Seria demasiado tarde?

Ao tomar consciência dos seus pensamentos, estremeceu e olhou de novo para o homem vestido de preto. Reparou, então, que este se dirigia para ela com uma expressão de firmeza estampada no rosto. Caminhava por entre as mesas com uma elegância tão natural, que esta engoliu em seco. Não desviou o olhar dela, dando-lhe a entender que já se tinha cansado de estar simplesmente a observá-la.

Uma vozinha no interior de Savannah incentivou-a a ir em frente.

O homem esticou o braço em direcção a ela, num gesto simultaneamente convidativo e arrogante. «Um autêntico pirata», pensou a jovem. E a sua voz soou suave como um uísque velho do Sul quando disse:

– Dança comigo.

A orquestra começou a tocar uma canção, que ela reconheceu de imediato: That Old Black Magic.

Seria aquilo magia? Ou seria apenas a sua ânsia de romantismo, exacerbada pela ilha, a música e o tentador e perigoso sorriso daquele homem?

Pegou-lhe na mão.

Savannah susteve a respiração quando ele a envolveu com os seus dedos firmes e quentes.

Não havia dúvida alguma de que era real.

Conduziu-a à pista de dança e abraçou-a. Os seus olhares encontraram-se no momento em que a atraiu para si; a sua reacção física transpareceu no seu rosto e Savannah soube que o mesmo se passava com ela.

– Como te chamas? – indagou, olhando-a fixamente.

– Savannah – não mencionou o seu sobrenome; os pormenores eram desnecessários numa fantasia.

Ele apoiou a cabeça sobre o seu cabelo e sussurrou-lhe ao ouvido:

– Kit.

– Desculpa?

– Kit – repetiu ele. – Esse é o meu nome.

«Um nome de pirata, que assenta lindamente neste homem vestido de preto», pensou Savannah.

A orquestra estava a tocar uma canção intitulada Embruxada. Como é que adivinharam que era assim que se sentia?

Era-lhe impossível ignorar o calor que transmitia a mão direita de Kit, colocada sobre os seus rins. Com a mão esquerda, segurava a sua direita com firmeza, quase possessivamente, como se não tencionasse soltá-la.

Savannah também não queria que a soltasse. Era muito agradável estar perto dele. Poderia continuar assim durante horas.

Lentamente, Kit soltou-a e afastou-se uns centímetros.

– Queres tomar qualquer coisa comigo? – perguntou, utilizando de novo aquele tom convidativo e, ao mesmo tempo, autoritário.

Savannah viu-se obrigada a engolir em seco para conseguir falar com coerência.

– Sim.

Ele assentiu com o ar de um homem que estava habituado a que os seus convites fossem aceites.

«Quem é ele?», interrogou-se a jovem, enquanto se encaminhavam para a mesa. Seria um executivo? Um actor? Não duvidava de que era suficientemente atraente para o ser. Apesar de ter uma cara que lhe era vagamente familiar, não sabia ao certo se já o tinha visto antes.

Entretanto, sentou-se e chegou à conclusão de que não estava nem um pouco interessada nesse tipo de pormenores. Naquela noite, era o seu pirata, e não ia permitir que a realidade estragasse a sua fantasia.

Muito baixinho, Kit pediu algo a um empregado, que voltou quase de imediato com dois copos de champanhe. Sorridente, olhou para ela, ergueu o seu copo e disse:

– A uma dança à luz do luar.

Savannah ia deixando escapar um suspiro. Como seria maravilhosa aquela noite quando regressasse à sua vida real…

– Às fantasias – murmurou.

Os escuros olhos de Kit brilharam sob a luz das velas. Este levou o copo aos lábios. Savannah fez o mesmo e desfrutou da maravilhosa sensação que lhe causavam as pequenas bolhas de gás. O caro champanhe correspondia exactamente ao modo como ela se sentia naquela noite. Frívola. Borbulhante.

Intoxicante.

Kit era incapaz de desviar o olhar do seu rosto.

– Savannah.

Até o seu nome soava exótico, quando dito por ele.

– Sim?

Ele moveu ligeiramente a cabeça.

– Nada. Gosto de pronunciar o teu nome.

Inexplicavelmente, aquelas singelas palavras seduziram-na. Sabia que devia ter cuidado para não levar aquela fantasia demasiado longe, mas ainda não se sentia com capacidade para a dar por terminada.

Os músicos começaram a tocar uma melodia conhecida.

– Adoro esta música – comentou ela baixinho, sentindo-se como se tivesse regressado aos seus tempos áureos de romantismo.

Kit levantou-se.

– Nesse caso, não percamos mais tempo – afirmou, estendendo-lhe a mão.

 

 

Christopher Pace, conhecido pelos amigos como Kit, não conseguia parar de olhar para a mulher que tinha entre os seus braços. Estava a ser-lhe bastante difícil decidir o que tanto o tinha atraído nela, desde o momento em que a tinha visto, sozinha, naquela paradisíaca estância de férias, que parecia estar repleta de casais.

Era muito bonita, isso era inquestionável. Quando a viu pela primeira vez, usava o seu comprido cabelo louro, cor mel, solto; agora, estava preso num elegante rabo-de-cavalo. Não era nenhuma criança. Devia estar mais perto dos trinta do que dos vinte. Porém, gostava da forma como as suas maduras curvas enchiam o seu fato de banho e como moldavam agora o discreto vestido preto que usava.

O seu rosto não apresentava uma única ruga e os seus olhos eram claros, de um azul brilhante que se enquadrava perfeitamente naquele ambiente tropical que os rodeava. Tinha um sotaque do Sul e uma voz doce, suave e musical.

Kit tinha conhecido muitas mulheres bonitas. Ainda jovem, descobriu que nem sempre a beleza exterior revelava o que se encontrava por debaixo desta. Aprendeu muito cedo a dar valor a uma mente culta e a uma natureza bondosa, em detrimento de uma cara bonita e de um corpo atraente. E algo lhe dizia que Savannah tinha tudo isso.

A orquestra tocava Misty. Kit apoiou levemente o rosto no cabelo dela. Este emanava um suave perfume floral, que despertava nele um forte desejo de enterrar a cara no seu pescoço.

Tinha de conceder esse mérito ao seu amigo Rafe Dancer, o dono daquela ilha transformada num paradisíaco complexo turístico. Rafe oferecia aos seus clientes o melhor do melhor. Aquela nova e espectacular pista de dança estava rodeada de maravilhosas flores e ondulantes palmeiras, e encontrava-se tão perto da praia, que o som das ondas se misturava com o da música entoada por aquela fabulosa orquestra.

Kit fê-la dar uma volta e, sem querer, os seios femininos roçaram-lhe no peito. Este contraiu-se ligeiramente e aumentou um pouco mais a distância entre eles.

«Não tenho a menor dúvida de que esta mulher me excita», admitiu para consigo, surpreendido com a rapidez e a intensidade daquela atracção. Desde o momento em que a viu, soube que tinha de a conhecer, apesar de ter tirado aquelas inesperadas férias para estar sozinho. Não andava à procura de Savannah… mas alegrava-se de a ter encontrado.

Só tencionava deixá-la partir, depois explorar convenientemente as sensações que despertava nele.

 

 

Os passos de dança de Kit foram-se tornando mais complicados, à medida que iam ganhando confiança um no outro. Savannah concentrava-se em o acompanhar, o que não lhe era difícil, uma vez que Kit dançava muito bem.

– És melhor nisto do que eu – confessou, sorridente.

Ele retribuiu o sorriso.

– Agarra-te com força – aconselhou-a num tom sugestivo. – Temos a noite toda para praticar.

A orquestra começou a tocar uma canção com um ritmo excessivamente lento. Kit deslizou as mãos pela cintura de Savannah e esta viu-se obrigada a pôr os braços em volta do seu pescoço.

– Hum… – murmurou, apoiando o rosto no seu ombro. – Gosto desta música.

I Have Dreamed – sussurrou ele contra o seu ouvido. – É uma das preferidas dos meus pais. Adoram dançar.

A sua voz tornou-se ainda mais serena quando falou dos pais, e Savannah sentiu-se ainda mais atraída por ele por causa disso. Melancólica, questionou-se sobre se os seus pais algum dia teriam dançado à luz do luar. Não conseguia imaginar a sua tímida e reprimida mãe a enveredar por algo tão romântico.

«Este não é o momento para pensares na tua mãe, Savannah», repreendeu-se em silêncio.

Os poucos casais que se encontravam na pista, estavam muito silenciosos, movendo-se sonhadoramente ao ritmo da melodia.

– Meia-noite – informou Kit, olhando para o relógio, enquanto os músicos começavam a abandonar o estrado e os empregados retiravam as coisas das mesas. Os outros casais já seguiam em direcção às suas acolhedoras cabanas.

A jovem reprimiu um suspiro.

«O tempo passou demasiado depressa», pensou, amargurada.

Afastou o cabelo da testa e sorriu para Kit.

– Foi uma noite encantadora – disse. – Obrigada por teres feito com que fosse tão especial.

– Acompanho-te ao quarto – ofereceu-se Kit sem hesitar.

Savannah mordeu o lábio inferior. Não queria que aquela noite, quase perfeita, terminasse numa incómoda despedida em frente à porta do seu quarto. Se Kit estava à espera de passar o resto da noite a dançar entre os seus lençóis, ia ter de o desiludir. Por mais atraente que fosse, era incapaz de se deitar com um desconhecido; afinal, conhecia-o apenas há umas horas.

Ele pareceu ler-lhe o pensamento.

– Não espero que me convides a entrar – retorquiu. – Só pretendo acompanhar-te à porta.

Embora Savannah se tivesse sentido extremamente segura desde que chegara à ilha, a sua segurança não tinha ficado abalada pela sugestão daquele desconhecido. Assim, limitou-se a assentir, convencida de que Kit ia continuar a ser o cavalheiro que fora até então.

Ele pegou-lhe na mão direita, colocou-a em cima do seu braço esquerdo e encaminhou-se para a zona das cabanas.

A suave brisa que soprava estava carregada de exóticas fragrâncias, recordando-lhe o quanto estava longe de casa. Recordando-lhe que dispunha de toda a liberdade do mundo para desfrutar daquele romântico interlúdio.

Agora, estava contente por se ter atrevido a ser irresponsável e impulsiva pela primeira vez, em muito tempo. Precisava daquelas férias.

– Vejo-te amanhã? – indagou Kit, quando chegaram à porta da cabana.

Ela humedeceu os lábios, sem saber o que responder. Talvez não fosse prudente, mas a verdade era que queria passar mais tempo com ele. Quem é que sabia quando voltaria a ter uma oportunidade como aquela?

– Iria gostar – disse, lutando contra a timidez.

– Toma o pequeno-almoço comigo.

Parecia estar a tornar-se um hábito, uma vez que as palavras de Kit soaram mais como uma ordem do que como um convite.

– Por favor – acrescentou com um dos seus perigosos sorrisos.

Savannah mordeu o lábio inferior. Não andava à procura de um romance de férias. E qualquer coisa mais séria estava fora de questão.

De qualquer forma, que mal é que lhe podia fazer umas horas a mais na companhia dele?

Levantando a cabeça num gesto desafiante, replicou:

– Está bem. A que horas é que nos encontramos?

Kit esboçou um sorriso ainda maior.

– Às oito e meia? – sugeriu. – Virei buscar-te.

– Combinado. Às oito e meia.

– Podemos ir à praia a seguir ao pequeno-almoço – declarou, tentando a sua sorte.

Savannah murmurou algo evasivo, determinada a aguardar pelo dia seguinte para ver o que ia suceder.

Lentamente, Kit inclinou-se sobre ela.

– Boa noite, Savannah – sussurrou num tom tão doce, que quase parecia uma carícia.

– Boa noite – retorquiu num murmúrio, sem se atrever a respirar.

Kit deu-lhe um suave beijo; aparentemente, não passava de um beijo inofensivo. Contudo, algo mudou no momento em que os seus lábios se uniram. O que começara como uma inocente carícia, transformou-se num profundo e íntimo abraço.

Era a primeira vez que um simples beijo a fazia sentir-se como se tivesse sido atingida por um relâmpago. A poderosa descarga percorreu-a desde os lábios até à ponta dos pés. Crepitou sob a sua pele, incendiando o calor que se acumulara no seu interior desde a primeira dança. O desejo explodiu dentro dela.

Quando Kit levantou a cabeça e se afastou, Savannah foi incapaz de pronunciar uma só palavra. Só conseguia olhar para ele, atordoada pelo que acabava de lhes acontecer. Os olhos de Kit brilhavam e a sua respiração parecia um pouco descontrolada. Afinal, ela não era a única a sentir-se afectada por aquele beijo.

Apesar de Kit se ter limitado a unir suavemente os lábios aos dela, apercebeu-se de que um esquisito formigueiro lhe percorreu o corpo, como se ele tivesse deslizado as mãos por cada centímetro do seu corpo.

Don Juan

Como se tivesse captado as suas dúvidas, Kit retorquiu rapidamente:

– Então, até amanhã, às oito e meia. Virei buscar-te.

E foi-se embora, antes de ela ter tido tempo de dizer fosse o que fosse.

Assim que entrou na cabana, encostou-se à porta.

– Meu Deus do céu! – murmurou, abanando-se com a mão, incapaz de suportar o calor que se apoderara dela. – Que noite…

E ia voltar a vê-lo no dia seguinte.

 

 

Depois de uma noite bem dormida, Savannah chegou à conclusão de que, na noite anterior, a sua reacção tinha sido bastante exagerada. O champanhe, as estrelas, a música e a dança tinham-lhe subido à cabeça.

Nenhum homem podia ser tão espectacular como Kit lhe parecera, na noite anterior. Os cavalheiros piratas eram apenas fantasias, e seria bom que não se esquecesse disso.

Vestiu uns calções de ganga e uma blusa às riscas brancas e vermelhas, por cima de um fato de banho azul. Calçou umas sandálias e prendeu o cabelo num bonito rabo-de-cavalo. Olhando-se ao espelho, viu um pouco da rapariga que era há quinze anos atrás, quando ela e as primas enterraram aquelas estúpidas caixas; na época em que encarava com optimismo cada dia que nascia, aguardando com ansiedade as aventuras que lhe estivessem reservadas.

Ergueu a cabeça com uma expressão altiva e assentiu, consciente de que a ânsia de outrora ressurgia no seu interior, ao fim de todos aqueles anos. Planeava desfrutar de cada minuto que estivesse com Kit. Isso não era sinónimo de desgraça ou sofrimento.

Ouviu alguém bater à porta e, de imediato, veio-lhe à memória o incrível beijo da noite anterior. Sentiu-se corar e deu conta de que o seu coração começou a bater aceleradamente.

Entretanto, abanou a cabeça, desgostosa com as suas reacções. Uma vez mais, estava a fazer figura de parva. Kit era apenas um homem. Não tinha acabado de dizer a si própria que não havia diferença nenhuma entre ele e os outros homens atraentes?

Abriu a porta de uma forma tão brusca, que Kit sorriu de um modo estranho ao vê-la. Estava lindíssimo com uma camisa vermelha, branca e azul e uns calções azuis, que mostravam umas pernas compridas, musculosas e morenas.

– Bom dia – cumprimentou num tom rouco, ao mesmo tempo que esboçava um dos seus perigosos sorrisos.

«Com que então, é apenas mais um homem, não é, Savannah?», pensou, irónica.

– Bom dia.

«Tem muito cuidado, Savannah», aconselhou-se em silêncio, dando ouvidos à sua fiel amiga, a prudência. Em contrapartida, uma nova vozinha que surgia no seu interior, sussurrava-lhe: «Vai em frente, rapariga».

– Estás pronto? – perguntou.

Kit levantou uma mão e deslizou um dedo pelo seu rosto. Apesar de muito superficial, aquela carícia foi suficiente para reacender a chama que habitava dentro dela.

– Estou mais do que pronto – assegurou-lhe com uma voz sensual.

«Oh, Savannah! Estás a meter-te na boca do lobo», disse para consigo, apreensiva.