primeamor06.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Joan Elliott Pickart

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma longa espera, n.º 6 - junho 2018

Título original: A Wedding in Willow Valley

Publicada originalmente por Silhouette® Books.

Este título foi publicado originalmente em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Dreamstime.com

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-463-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

O xerife Ben Skeeter, no seu carro patrulha, percorreu a rua principal de Willow Valley, depois de passar por várias casas que tinham estado fechadas durante o Verão.

Ia devagar, acenando com a cabeça às pessoas que o cumprimentavam. Havia muitos visitantes acabados de chegar à pequena vila do norte do Arizona para desfrutar do esplendor dos coloridos bosques no Outono.

Apertou o volante com força e o seu coração palpitou quando viu Laurel Windsong a caminhar pela calçada para o Windsong Café.

Ainda não estava preparado para o seu repentino regresso à vila fazia já quatro meses. A sua presença causara-lhe várias noites de insónia enquanto as lembranças do passado se amontoavam na sua mente.

Se alguém sabia porque Laurel regressara e quanto tempo pensava ficar, ele não sabia de nada. Tinha ido directamente perguntar a Dove Clearwater, a melhor amiga de Laurel. Esta dissera-lhe que Laurel tinha comentado que ainda não tinha planos. Dove apercebera-se de que alguma coisa preocupava a sua amiga, mas não iria pressioná-la para que lhe contasse.

Enquanto Ben se aproximava do café, olhou de esguelha em direcção a Laurel e viu-a abrir a porta e entrar.

Laurel Windsong era realmente bonita. Os anos não tinham passado por ela.

A dor da sua traição tinha diminuído com o passar do tempo. Tinham passado dez anos, mas ainda havia noites em que pensava nela, recordando o que tinham partilhado, os planos que tinham feito para o futuro, recordando a noite em que lhe dissera que se ia embora.

Sim, as suas feridas emocionais tinham-se curado lentamente. E, então, ela voltava inesperadamente para Willow Valley, ficava atrás do balcão do café da sua mãe com um bloco de notas na mão e agia como se nunca se tivesse ido embora.

Trazia-lhe demasiadas lembranças do passado e sentia-se novamente magoado, além de exausto por não conseguir dormir.

Fazia o que podia para a evitar e, quando a via, nunca olhava directamente para os seus incríveis olhos escuros. Não havia nada que quisesse dizer-lhe. Já tinham dito tudo há dez anos. Só queria que voltasse a fazer as malas e partisse novamente para nunca mais voltar.

Porque, enquanto ela estivesse ali, não havia lugar onde ele conseguisse esconder-se da verdade que o atormentava: continuava apaixonado por Laurel Windsong.

Apertou o queixo com tanta força que os maxilares lhe doeram.

Prenderia Laurel por atormentar a sua paz mental, pensou. Metê-la-ia na prisão e dir-lhe-ia que tinha vinte e quatro horas para abandonar a vila, caso contrário deitaria fora a chave da cela.

– Já começamos, Skeeter – murmurou enquanto abanava a cabeça. – Isto é realmente maduro, muito racional.

Ben atravessou a vila, mudou de direcção e voltou para trás, muito atento a tudo o que acontecia à sua volta.

Era sábado e já havia muitos turistas, mas não tinha dúvidas de que ainda chegariam mais para apreciar as cores do Outono. Era bom para o comércio. Para ele e para o resto do comando da polícia, significava mais trabalho.

Os turistas mantinham-no ocupado e, além disso, tinha entre mãos inúmeros assaltos a casas de Verão. As casas eram escolhidas com cuidado e por isso tinha a sensação de que o ladrão era alguém da vila.

Havia umas mil pessoas na vila e outras tantas na reserva. Agora, alguém atacava a sua gente e isso deixava-o furioso.

O estômago de Ben resmungou e, ao olhar para o relógio, percebeu que estava na hora de comer.

Talvez pudesse ir a casa e preparar qualquer coisa. Podia ir comprar comida já pronta, embora corresse o risco de não conseguir fazer a digestão em toda a tarde.

Não. Apetecia-lhe algo bom e o melhor lugar era o Windsong Café. Simplesmente, ignoraria Laurel Windsong, como fazia cada vez que comia lá, e desfrutaria da refeição. Isso era o que fazia sempre e continuaria a fazê-lo.

Incrível.

Desde que não olhasse para ela durante muito tempo.

Desde que não se imaginasse a passar os seus dedos pelos sedosos cabelos pretos.

Desde que não ficasse a reviver as deliciosas lembranças de quando faziam amor ou de quando a ouvia sussurrar o seu nome e lhe dizia que o amava.

Desde que ignorasse o facto de lhe ter roubado o coração há muitos anos e que não fazia ideia de como o recuperar.

Estacionou o carro junto ao café, comunicou por rádio que ia comer e pegou no seu chapéu que estava no banco do passageiro.

Enquanto entrava no Windsong Café, sentia a tensão nos maxilares.

 

 

Laurel franziu o sobrolho ao ver Ben Skeeter entrar no café. Ficou a olhar para os pedidos dos clientes, apesar de ter visto tudo há dois segundos.

Maldição!, pensou. Será que não tinha nada em casa para comer? Ou porque não ia a outro sítio? Oh, não! Ele tinha de ir ao Windsong Café todos os dias e fazer com que o seu coração acelerasse e todas as lembranças se amontoassem na sua cabeça.

«Ben. Oh, Ben», pensou Laurel sem se mexer. Em tempos, tinham partilhado tudo: as esperanças, os sonhos, os segredos, os planos de futuro, os seus corações, as suas mentes, os seus corpos, a sua essência. Estavam tão apaixonados, tão ligados que se sentiam um só.

Mas isso foi no passado e, agora, desde que ela tinha chegado à vila, evitavam-se. Quando não conseguiam evitar-se, tratavam-se com educação e trocavam uma saudação, mas nunca se olhavam nos olhos. Agora eram apenas estranhos, afastados por dez anos e sonhos desfeitos. Ela continuaria a evitar Ben tal como tinha feito desde que chegara.

Só havia um problema: ainda estava profundamente apaixonada por ele.

 

 

Ben sentou-se no primeiro compartimento e percorreu o café com o olhar. Ainda conservava a mesma decoração de que quando Jimmy e Jane Windsong o abriram: recantos com mesas de madeira e cadeiras vermelhas ao lado das janelas e bancos ao balcão. Havia uma jukebox e os menus plastificados estavam entre os porta guardanapos de metal e os saleiros.

Não era bonito. Nunca o tinha sido. Mas era acolhedor e a comida era saborosa.

No tecto, suspensas por fios invisíveis, estavam algumas cestas de vime. Na parede onde estava a jukebox, havia um quadro cheio de desenhos de crianças.

– Como está, xerife? – cumprimentou-o alguém.

– Olá, Cadillac! O que te trouxe à vila?

– Precisava de comprar comida para as cabras – disse. – E lembrei-me de vir comer um bife dos que a menina Windsong prepara.

– Boa ideia – disse Ben. – Como estão as coisas pela reserva?

O homem encolheu os ombros e começou a comer, e Ben percebeu que a conversa ficava por ali. Quando os índios Navajos terminavam a conversa, não havia nada a fazer. Aparentemente não havia nenhuma razão para interromper a conversa mas era sempre assim.

O velho Cadillac, pensou Ben. Pela sua cara enrugada devia ter entre quarenta e sessenta anos e ninguém sabia o seu apelido.

Era um homem de poucas palavras e muito curioso, mas tinha um coração de ouro e seria capaz de despir a sua camisa para dar a alguém que precisasse mais do que ele.

– Para comer?

Laurel estava ao pé da mesa com um bloco de notas na mão.

– Hambúrguer, batatas e café – disse sem afastar os olhos da toalha. – Por favor.

Laurel tomou nota no seu bloco, virou-se e foi-se embora apressadamente.

Já estava, pensou Ben. Cerca de dez pessoas olhavam para ele na expectativa de ver se, finalmente, Laurel e ele falavam. Desde que ela voltara que as pessoas que os conheciam aguardavam que algo acontecesse.

Mas nunca acontecia nada.

Nem nunca iria acontecer.

O que tinham tido desaparecera há muito tempo. Laurel tinha acabado com tudo no dia em que partira. O motivo por que regressara era um mistério, mas não tinha nada a ver com ele. Ela deixara de o amar há dez anos e talvez um dia ele conseguisse fazer o mesmo.

 

 

Laurel passou o papel com o pedido de Ben pela janela que dava para a cozinha.

Que irritação!, pensou enquanto enchia a chávena de café de Cadillac. Só por se aproximar para perguntar a Ben Skeeter o que queria para comer, só por ter estado perto e sentido o seu cheiro fresco, ver o seu espesso cabelo, onde ela tinha passado os dedos… só porque Ben existia, o seu coração palpitava e as mãos tremiam-lhe.

Ben, com o seu metro e oitenta, era demasiado alto para ser um Navajo. Ficava perfeito de uniforme e a cor bege realçava a sua pele morena e o seu cabelo escuro. As suas feições eram como que esculpidas com um cinzel, o seu rosto, o seu nariz e aqueles lábios tão desejáveis eram a imagem perfeita da masculinidade.

Tinha de o esquecer, pensou Laurel. Se algum dia ele percebesse o efeito que tinha sobre ela, morreria de vergonha. Era evidente que ele não sentia nada por ela. Nunca olhava para ela porque ainda a odiava por ter partido de Willow Valley há dez anos.

Quando falava com ela, a sua voz soava indiferente, até mesmo um pouco aborrecida ao pedir a comida e jamais se incomodava em ser cortês e perguntar-lhe como estava.

Não! Para Ben, ela era apenas uma má lembrança. E se não fosse por gostar da comida que serviam, certamente nem entraria no café. Os dez anos que tinham passado tinham apagado os sentimentos que nutria por ela.

Uma mulher com cerca de trinta anos entrou no café e chamou a atenção de Laurel, tirando-a dos seus pensamentos. A mulher era muito charmosa e sentou-se no compartimento ao lado de Ben. Enquanto olhava o menu, Laurel aproximou-se dela, passando rapidamente pelo lado de Ben sem olhar para ele.

– Olá, Marilyn! – cumprimentou Laurel. – Fico contente por te ver. Como estão todas pelo salão de beleza?

– Muito ocupadas – disse ela. – Doem-me os pés e ainda só é meio-dia. Decidi vir comer um menu especial para recuperar as energias – voltou a olhar para o menu. – Oh, meu Deus. Não me digas que May fez um dos seus bolos.

Laurel sorriu.

– Sim, mas não te vou dizer que ela fez bolo de cereja, bolo de abóbora com natas e um bolo de maçã de comer e chorar por mais. Não vou dizer nada.

– Isso é cruel! – exclamou Marilyn, sorrindo. – É impossível resistir ao bolo de maçã de May desde que cheguei a esta terra, algo evidente se olhares para a minha anca. Quero uma fatia.

– Está bem! – afirmou Laurel, tomando nota. – E a tua anca está muito bem – fez uma pausa. – Marilyn, estou a pensar em cortar o cabelo.

– Não! – exclamou Ben antes de se dar conta de que tinha falado.

Laurel olhou para ele surpreendida ao mesmo tempo que Marilyn e Cadillac se viravam para fazer o mesmo. Jane Windsong, que estava a pousar o hambúrguer de Ben no balcão, ficou com a mão suspensa surpreendida com a reacção de Ben.

Os três homens que estavam sentados ao balcão ao lado de Cadillac também se viraram e olhavam espantados para o xerife Skeeter.

– Então? Não te parece bem que Laurel corte o cabelo, Ben? – perguntou Marilyn com um brilho divertido no olhar.

Ben corou e começou a suar.

– Bom… isto… – disse ele. – Laurel está em contacto com o público e os turistas quando vêm para Willow Valley esperam ver nativos americanos. E bom… o seu cabelo… contribui muito para essa imagem. Apenas estava a pensar no negócio.

– Ah! – exclamou Marilyn e tossiu para disfarçar a gargalhada enquanto se virava.

– Porque será que não acredito? – murmurou Cadillac, abanando a cabeça.

– Vai crescer-lhe o nariz! – sussurrou Jane enquanto pousava o prato. – Laurel, a comida de Ben está pronta!

Laurel foi buscá-la.

– Aqui tem – disse enquanto deixava o prato na mesa. – Volto já com o café.

– Obrigado – disse ele enquanto colocava o guardanapo no colo.

Laurel partiu e voltou com a chávena de café. Inclinou-se ligeiramente enquanto lhe servia o café.

– O que é que te passou pela cabeça? – sussurrou. – Fizeste-me passar a maior vergonha da minha vida, Ben Skeeter. O meu cabelo não te diz respeito.

– Eu não queria ter dito aquilo – murmurou. – Fiquei tão surpreendido como tu com a minha reacção… – agarrou no frasco de ketchup e deitou-o sobre as batatas. – Estás mesmo a pensar em cortar o cabelo?

– Talvez sim – disse ela, levantando o queixo. – Talvez não. Ainda não decidi.

– Não faças isso, Laurel – pediu Ben, olhando-a nos olhos. – Tens um cabelo lindo, sedoso e… ainda recordo o seu toque… – confessou, olhando para o prato. – Vai-te embora! Acabo de deitar meio frasco de ketchup nas batatas.

Laurel abriu a boca para responder mas apercebeu-se de que não podia falar.

Apressadamente foi atrás do balcão pousar a cafeteira. Depois, lembrou-se de que ainda tinha de entregar o pedido de Marilyn. Quando se virou, Cadillac e os outros três homens estavam a observá-la.

– O que foi?! – exclamou zangada.

– Tenho de ir comprar ração! – indicou Cadillac, descendo do banco.

– Eu também – disse o homem que estava ao seu lado.

– Tu não tens cabras, Billy! – exclamou Cadillac.

– Não faz mal! – replicou Billy. – Vou ver como compras a ração para as tuas cabras.

– Está bem! – aceitou Cadillac enquanto deixava o dinheiro no balcão.

Os outros dois homens decidiram que acompanhariam Cadillac. Nenhum ficou e saíram do café sem olharem para o xerife.

Ben suspirou enquanto retirava o ketchup das batatas.

Se efectivamente não estivesse com muita fome, ter-se-ia ido embora sem comer. Tinha estragado tudo. Acabava de falar pela primeira vez com Laurel desde que ela regressara e só tinha dito tolices.

Mas só de imaginar que Laurel ia cortar o seu lindo cabelo preto ficava irritado.

Depois, Laurel tinha-se aproximado dele, furiosa. Usava o mesmo perfume de sempre e, quando se olharam nos olhos, ele usou toda a sua força para não a agarrar e beijar e…

Mexeu-se inquieto na cadeira ao sentir o calor que o percorria por dentro e olhou à sua volta para se certificar de que ninguém estava a olhar para ele.

Cadillac e os seus amigos deviam estar na loja!, pensou sem fôlego, a contar a toda a gente o que acontecera no Windsong Café entre ele e Laurel. Os turistas que lá estavam não faziam ideia do que acontecera, mas as pessoas da vila… nem queria pensar nisso.

Acabou de comer, deixou o dinheiro na mesa e pegou no chapéu e no rádio. Ao levantar-se da cadeira, virou-se e chocou frontalmente com Laurel, que trazia a comida de Marilyn.

Agarrou-a com a sua mão livre para que não caísse.

– Desculpa! – exclamou enquanto a segurava. – Não te tinha visto. Deixaste cair alguma coisa? Não. Ainda bem.

– Deixas-me passar, por favor? – perguntou Laurel, olhando para o peito de Ben.

– Já deixo! – respondeu Ben sem tirar a mão do ombro de Laurel. – Desculpa ter-te envergonhado com a história do corte de cabelo. Excedi-me!

– Sim, excedeu-se, xerife Skeeter. Agora, Marilyn está à espera da comida.

Ben pousou o chapéu, tirou o prato e o copo de leite das mãos de Laurel e colocou-os em cima da mesa de Marilyn.

– Bom apetite! – exclamou Ben, virando-se novamente para Laurel que olhava para ele surpreendida. – Perdoas-me por dizer em voz alta o que pensava sobre cortares o cabelo?

– Não! – negou ela. – Neste momento, Cadillac e os amigos já devem estar a contar a toda a gente. E a história vai crescer como uma bola de neve…

– Bom, sim, mas…

– E agora?! – continuou Laurel. – Se cortar o cabelo, todos vão pensar que o cortei para te irritar. E se não o cortar, vão pensar que foi porque disseste que não devia cortá-lo.

Ben sorriu.

– Podia cortar-te apenas um pouco as pontas, Laurel – disse Marilyn. – Isso fazia-lhes confusão. Porque cortavas o cabelo, mas não o cortavas. O que te parece?

– Vou pensar nisso – disse Laurel.

– Come, Marilyn! – indicou Ben irritado.

Marilyn riu-se.

– Não te zangues, Ben. Tu é que armaste esta confusão toda. Eu só estou a tentar ajudar.

Pelo rádio, chamaram-no ao posto da polícia, terminando a conversa.

– Tenho de ir! – despediu-se ele. – Até mais tarde.

Enquanto saía, Laurel ficou a olhar para ele. Depois, começou a limpar a mesa.

– Bom, demoraste cerca de quatro meses, Laurel – disse Marilyn. – E não lhe disseste mais do que três ou quatro palavras. Engraçado. Muito engraçado.

– Come, Marilyn! – gritou Laurel, o que fez com que a proprietária do salão de beleza começasse a rir-se às gargalhadas.

 

 

Para surpresa de Laurel, as horas seguintes passaram rapidamente e não ficou a pensar no assunto. O café estava cheio e as outras duas empregadas e ela trabalharam ininterruptamente. Jane e os ajudantes da cozinha não pararam de preparar pratos em toda a tarde.

Durante a pausa antes do jantar, limparam o balcão, as mesas, varreram e esfregaram o chão e encheram os saleiros.

Quando Laurel substituiu o frasco de ketchup que Ben tinha esvaziado, voltou a pensar nele.

Ben não queria que ela cortasse o cabelo, pensou enquanto arranjava os guardanapos. Além disso, dissera que ela tinha um cabelo lindo e que se lembrava do seu toque…

Sentou-se num banco do balcão e apoiou a cara entre as mãos.

Que importava a Ben o que ela fazia ao seu cabelo? E porque é que ainda pensava no seu cabelo? Aquilo não fazia sentido. Ben Skeeter odiava-a. Ela era a pessoa que tinha desfeito o seu coração ao terminar um compromisso. Então, porquê…?

– Pareces muito pensativa – disse Jane, sentando-se ao lado da filha. – Estivemos tão ocupadas hoje que ainda não tivemos tempo de falar. Estás bem depois do teu… encontro com Ben?

Laurel suspirou.

– Acho que sim. Foi tudo tão… estranho. Ainda bem que a maioria dos clientes de hoje era turistas e não terei de suportar os comentários de toda a gente da vila. De qualquer forma irei sempre ouvir alguma coisa – disse Laurel, rindo.

– Desde que chegaste, todos vos têm observado à espera que algo aconteça. Agora, Ben Skeeter não quer que Laurel Windsong corte o cabelo. Imagina o quão felizes vão ficar todos com a notícia.

– Incrível! – exclamou Laurel. – O que faríamos sem Cadillac? Com ele não precisamos de telefones…

– Só espero que entretanto aconteça algo interessante – disse Jane. – Algo como… não sei… que alguém assalte o banco.

– Isso não vai acontecer – respondeu Laurel.

– Não – disse Jane. – Vais ter de sorrir e aguentar até que toda a gente se canse. Ia desmaiando, quando Ben disse que não devias cortar o cabelo. Certamente, é um assunto que o preocupa, não é verdade?

– Mamã! – exclamou Laurel enquanto se levantava. – Estás a fazer o que todos devem estar a fazer agora. Estás a especular sobre o que aconteceu e a gozar com isso. Devias ter vergonha. Onde está a lealdade para com a tua única filha?

– Então, querida – disse Jane com um sorriso. – Tens de reconhecer que foi um espectáculo.

– Já que dizes isso, muito obrigada!

– Compreendo, querida – aceitou Jane. – Agora vou para casa descansar as pernas antes que cheguem os clientes para o jantar. Está tudo pronto. Queres vir comigo?

– Não, obrigada. Sinto-me inquieta – disse Laurel. – Acho que vou dar um passeio e… sim, claro, é uma ideia fantástica! Vou passear e vão todos ficar a olhar para mim. Pensando melhor, vou contigo. Depois, vou enfiar-me num buraco.