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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2015 Annie West

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Amor desvendado, n.º 1758 - agosto 2018

Título original: The Sheikh’s Princess Bride

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada

com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-805-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

Os bebés de cabelo escuro que brincavam num dos cantos do sumptuoso átrio do hotel chamaram a atenção de Samira. Não por estarem a portar-se mal. A mulher de meia-idade que os acompanhava estava a cuidar deles. Eram apenas crianças a brincarem.

Ainda assim, não conseguia desviar os olhos dos meninos. Observou um deles a andar ao lado do sofá, apoiando-se com os seus dedinhos na superfície sedosa. Fez um ruído de felicidade e gritou para o companheiro que tentava equilibrar-se atrás dele.

Samira engoliu em seco. Estava a sentir um já conhecido vazio, agora ainda mais profundo, como uma sensação de mágoa que se prolongava do útero até à parte inferior das costelas.

Tentou concentrar-se na conversa animada de Celeste sobre um novo restaurante, com vista privilegiada para a Torre Eiffel e com várias estrelas Michelin. Era o novo lugar da moda.

Sentia o estômago às voltas só de ouvir falar em comida.

Ou talvez fosse por algum outro motivo.

O segundo bebé caiu sentado, agitando os bracinhos, e a mulher – talvez a avó, talvez a ama – pegou-lhe ao colo. Os braços tensos de Samira relaxaram, desabando. Vazios.

Ela desviou o olhar.

Vazia. Era como se sentia.

Nunca poderia segurar ao colo o seu próprio bebé. O médico deixara isso bem claro.

Conseguira recuperar-se nos últimos quatro anos, mas nada apagava aquele vazio.

– Estou muito feliz por teres vindo ao leilão beneficente. – Celeste debruçou-se sobre as chávenas e Samira voltou a olhar para a francesa. – O público vai adorar a princesa responsável pelo design destes belíssimos modelos. A tua doação vai render muito dinheiro.

Samira fez um sorriso forçado, sem se deixar intimidar por mais uma referência ao seu título.

Como filha do antigo sultão de Jazeer e irmã do novo, sabia bem que o título não era sinónimo de felicidade.

O seu coração acelerou, mas manteve o olhar fixo em Celeste.

Era pragmática. A sua marca tornara-se um sucesso graças ao seu nome. A sua clientela, que incluía algumas das pessoas mais ricas do planeta, gostava de lidar com quem percebia o seu mundo, com alguém que prometia total exclusividade e confidencialidade. Samira tinha tudo aquilo com que todas as mulheres sonhavam e muito mais: independência, sucesso, riqueza.

Que direito tinha de querer mais?

Ainda assim, a dor persistia. Não adiantava pensar na sua sorte. De que adianta o sucesso quando se sente um grande... vazio?

Samira mordeu o lábio. Precisava de conquistar aquilo. E ia conseguir.

– Espero que sim, Celeste. – Voltou a pensar no evento. – Tu e tua equipa fizeram um trabalho fantástico. Como vai funcionar? O que tenho de fazer?

Celeste começou a explicar o leilão, a lista exclusiva de convidados e o evento de oportunidades para negócios.

Mesmo sendo uma empreendedora, Samira não conseguiu mostrar entusiasmo. Talvez porque, tendo nascido com estatuto e privilégios, misturar-se com a alta sociedade europeia não parecesse assim tão entusiasmante.

Era o que lhe restava? Longos dias de trabalho seguidos de eventos sociais onde misturaria negócios, prazer e um pouco de filantropia, sentindo-se solitária e vazia?

Tentou afastar estes pensamentos, que há tanto tempo a perturbavam.

Recostou-se na cadeira, concordando com Celeste, que enfatizava os seus argumentos, relaxando pela primeira vez em dias.

Ela sabia que estava exausta. Era por isso estava tão desligada. No dia anterior, tinha-se encontrado com uma nova primeira-dama latino-americana, para tratar de um vestido de gala, dera um salto a Nova Iorque para ver outro cliente e chegara a Paris há uma hora.

Agora, tinha um momento de descanso. Mas já estava ansiosa por produzir mais, por enfrentar novos desafios.

Pressentiu um movimento. Uma figura alta, de fato escuro, passou bruscamente por entre as cadeiras, como as tesouras que ela usava para cortar tecidos.

Era uma comparação ridícula mas, vendo bem, até fazia sentido. Embora usasse um fato de alta-costura, era evidente que ele não estava à vontade naquele hotel luxuoso de Paris. Merecia algo com mais vida, onde lustres de cristal e mesinhas delicadas fossem meros acessórios.

Consideravelmente mais alto do que as outras pessoas presentes, com os ombros mais largos que Samira já tinha visto, ele possuía uma graciosidade que lhe captava o olhar.

Um gritinho de alegria impediu-a de voltar-se para Celeste. Uma das crianças bochechudas avistara o homem e estava agora a andar na direção dele.

O homem baixou-se e agarrou os dois meninos. Ergueu-os no ar, fazendo-os rir enquanto aproximava o seu rosto dos deles, emitindo ruídos brincalhões. Os petizes colocaram as mãozinhas nos ombros e no cabelo dele, numa tentativa de se aproximarem, arrancando-lhe gargalhadas, o que fez uma brisa morna percorrer o vazio dentro dela.

Do nada, sem qualquer aviso, o mundo de Samira contraiu-se novamente perante aquele quadro de família feliz que via ao fundo do salão.

A linha divisória entre ela e eles lhe parecera tão real, tão intransponível.

Sentiu uma dor e agarrou firmemente os braços da cadeira.

Ficaria sem família, sem filhos. Quanto a achar um parceiro para o resto da vida... Era um sonho impossível.

– Samira, estás bem?

– Sim, está tudo bem. – Voltou-se para Celeste com um sorriso cintilante que só anos de vida pública podiam produzir. Suspirou. – Esta noite vai ser um sucesso. Se tudo der certo, vais conseguir mais doadores do que o previsto.

– Graças a ti. – Samira arqueou as sobrancelhas, fazendo-a encolher os ombros e sorrir. – Bom, e aos outros doadores. – Ela olhou para o outro lado do salão. – Por falar nisso, ali está um deles. – Celeste ajeitou-se na cadeira, alisou a saia curta e afastou o cabelo loiro do rosto.

Ela aproximou-se de Samira e sussurrou:

– Se nós conseguíssemos leiloar uma noite na cama com ele, ganharíamos uma fortuna. Até eu faria uma licitação. E podes ter a certeza de que o arremataria.

Surpreendida com a mudança de tom da amiga, Samira virou-se. Mas ela sabia a quem Celeste se referia. Só podia estar a falar daquele pai atraente, que vestia roupa elegante com tanta naturalidade que até a sua libido adormecida tinha despertado.

Mas não estava preparada para o choque que teria ao admirá-lo novamente. Viu o rosto definido, as sobrancelhas espessas, entre o hostil e sensual, um nariz longo e imponente que encaixava perfeitamente naquele rosto, formando um conjunto absurdamente atraente.

E familiar.

Samira suspirou subitamente ao identificar aquele homem que não via há anos. O homem que fora tão próximo dela e do irmão, Asim.

Foi tomada por um turbilhão de emoções. Excitação e prazer, arrependimento e mágoa e, sobretudo, algo com sabor a desejo, puro e verdadeiro, como não sentia há muito tempo. Sentiu-se assombrada com aquela reação instantânea que se apossara dela.

– Ah, claro, tu deves conhecê-lo. São do mesmo país, da mesma região. – Celeste parecia animada. – O sensual xeique Tariq de Al Sarath. – Soltou um suspiro. – Com um homem assim, eu até aceitaria ter filhos. Não que eu tenha qualquer hipótese. Dizem que ele nunca se aproximou a sério de uma mulher desde que perdeu a esposa. Elas até tentam, mas nada dura muito. Aparentemente, ele amava-a de verdade.

Com um olhar derradeiro para Tariq e os filhos, Samira virou-se, dedicando-se apenas à conversa com Celeste.

Já tinha chegado a considerar Tariq um amigo. Já o admirara e confiara nele. Tratara-o como se fosse seu irmão. Mas fora um engano, tão fugaz quanto a água no deserto. Ele virara-lhe as costas há alguns anos, inexplicavelmente. Talvez a tivesse esquecido assim que se tornou xeique e teve assumir responsabilidades. Não ouvira uma só palavra dele durante o período em que a sua vida se tornara um verdadeiro inferno.

Era estranho, mas ainda se sentia magoada por isso.

 

 

Nem tinham passado três minutos desde que Tariq entrara no salão, cheio de gente, quando foi alertado pelo seu sexto sentido, aquele que detetava sempre problemas.

Virou-se descontraidamente, observando a multidão enquanto retribuía cumprimentos. Sentia que havia algo de errado desde aquela tarde, quando regressara do hotel. Só não sabia dizer o quê. Estava apenas com a perturbante sensação de ter ignorado algo importante.

Era uma sensação que lhe desagradava. Tariq gostava de ter tudo sob controlo.

Por entre a multidão, os seus olhos detiveram-se numa peça de tecido vermelho-escarlate. O seu olhar gelou. Olhou melhor e o tecido tornou-se um longo vestido, desviando a sua atenção para as ancas femininas e um traseiro deliciosamente redondo. A pele da mulher, à mostra na parte de trás, era de um dourado delicado, como o deserto ao amanhecer. O cabelo negro formava um penteado que, provavelmente, tinha demorado horas a fazer. E fora um tempo bem investido, pois deixava-lhe à mostra o seu elegante pescoço.

Tariq sentiu um aperto no corpo, em cada tendão, em cada músculo, uma reação profunda, instintiva e definitivamente inesperada.

A luz brincava com o brilho do vestido, revelando deliciosos detalhes das curvas.

Percebeu que tinha a boca seca. O sangue fervia-lhe, o coração disparou a um ritmo novo, diferente.

Um ritmo que não sentia há anos. Tariq franziu a testa.

A mulher virou-se e ele contemplou o vestido que cobria todo o seu corpo. Era um estímulo à imaginação passear os olhos por aquela esbelta silhueta.

Deu alguns passos na direção dela e ergueu os olhos até ao rosto. Foi como se chocasse com uma muralha invisível.

Samira.

Tariq inspirou de forma tão intensa que chegou a sentir dores nas costelas.

Samira.

Expirou, praticamente a deliciar-se com as recordações que lhe vinham à mente.

Mas não era a Samira que vira da última vez. Era outra mulher: confiante, sensual e experiente. Uma mulher em busca do seu lugar no mundo.

Parou por um momento, mas o seu cérebro estava em alta atividade, lembrando-lhe as razões para evitá-la, apesar do que sentia entre as pernas. Virou-se para a bela loira de vestido dourado à sua direita. Os olhos dela brilharam ao perceber que ele estava a sorrir-lhe.

Minutos depois, estava a inclinar-se sobre ele, agarrando-o possessivamente pelo pulso, de uma maneira convidativa que ele conhecia bem.

Tariq deu por si a sorrir novamente, perguntando-se se ela imaginaria que o seu pensamento estava noutro lugar.

 

 

Samira observou-o por entre a multidão. Tariq era a escolha óbvia para o discurso daquele evento de beneficência. Era um líder nato, tinha o público na palma da mão. Confiante, articulado e sagaz, prendia a atenção de todos com facilidade. Os homens concordavam com cada palavra, enquanto as mulheres se babavam e Samira tentava controlar a raiva.

Era exatamente como ela recordava: inteligente, capaz e atencioso. Utilizava a sua retórica para enfatizar a necessidade das crianças e, ao mesmo tempo, mantinha a firmeza para conquistar os bolsos.

Lembrava-se daquele rapaz magricela que era sempre gentil com ela. Esse Tariq era carismático, com um ar de autoridade certamente adquirido após tornar-se xeique. Não conseguia desviar o olhar dele, da maneira como preenchia aquele fato com ossos e músculos.

Samira engoliu em seco, desorientada pela súbita explosão de desejo que sentia.

Olhou para o rosto firme e belo de Tariq, para o seu olhar brincalhão, e lembrou-se de como ele se comportara com os meninos: fora gentil, carinhoso e paciente.

Foi um momento de reconhecimento. Reconhecimento do que ela desejava.

Do que ela precisava.

A família que tanto queria. Crianças para criar e amar. Um companheiro para respeitar e confiar.

Com os olhos fixos em Tariq, percebeu que havia um modo de ter uma família. Era a solução ideal. Não só para ela, todos podiam sair a ganhar. Só precisava de coragem.

Fora uma ideia repentina, ousada. Virou-se, o coração quase na garganta, o estômago a revirar-se.

– De certeza que estás bem? – Celeste segurou-a pelo cotovelo, com medo de que ela caísse. – Tu estás estranha desde hoje à tarde.

– Estou... – Samira engoliu em seco, ainda impressionada com a revelação. – Eu estou bem, obrigada. Só um pouco cansada.

Celeste assentiu e dirigiu a sua atenção para Tariq.

– Ele é incrível, não? Principalmente de fato. A sério, se ele não fosse um rei, era capaz de ser contratado como modelo.

Samira levou a mão à barriga, que sentia a arder. Não estava a prestar muita atenção à amiga.

Contemplou aquela figura imponente no palco e a voz da sua insegurança, presente nos primeiros 25 anos da sua vida, dizia-lhe que estava louca. Louca por desejar o impossível. Afinal, há muitos anos que já não eram amigos. Não sabia sequer de ele gostaria de ouvi-la.

Mas uma outra parte dela aplaudiu. A parte que se fortalecera nos últimos quatro anos, a parte apoiada pela família e determinada a sair daquela situação desesperante. A voz da guerreira em que ela se tinha tornado.

Sabia o que queria.

Porque não?

Mas, por instinto, hesitava. Ela não costumava comportar-se assim. Na única vez em que desafiara as convenções sociais o resultado fora desastroso. Ainda carregava as cicatrizes.

Mas o que tinha a perder? Perto do que podia ganhar, nada.

 

 

No elevador espelhado, Samira ajeitou o casaco e alisou a saia justa. A blusa creme era mais profissional do que feminina mas, afinal, tratava-se de uma reunião de negócios.

A reunião da sua vida.

Se ao menos tivesse metade da confiança que tinha com os seus clientes.

A porta abriu-se e ela saiu. Andou alguns metros e chegou à suíte presidencial, onde estava um segurança de fato escuro.

– Alteza. – Ele curvou-se e abriu a porta, deixando-a entrar no luxuoso átrio.

Lá dentro, outro funcionário cumprimentou-a.

– Gostaria de sentar-se, Alteza?

Encaminhou-a até a uma sala elegante, com decoração em tons acastanhado e beringela. As janelas grandes proporcionavam uma vista impressionante de Paris.

– Gostaria de algo para comer ou beber, Alteza?

– Não, obrigada. – Samira não conseguiria engolir nada. Sentia as entranhas revoltas.

O homem pediu licença e Samira olhou para o relógio. Estava mesmo na hora. Parecia ter passado uma eternidade desde que saíra da sua suíte.

Expirou lentamente, tentando controlar-se, mas não conseguia ignorar que o seu futuro dependia daquele encontro.

Se falhasse... Não, nem podia pensar nisso. Tinha de ser assertiva e persuasiva. Era pouco convencional, mas conseguiria mostrar que fazia sentido.

Engoliu em seco, ignorou as dúvidas que iam surgindo e foi até à janela. Ao passar, alisou automaticamente o sofá de seda ao passar. Era fresco e macio, um tecido bastante familiar. Se fechasse os olhos, poderia imaginar-se no santuário do seu escritório, cercada de tecidos delicados.

– Samira.

Ela virou-se de imediato, com o coração acelerado e os olhos arregalados. Contemplou a silhueta imponente dele à porta.

Ficou sem ar, como já acontecera algumas vezes. Ela tinha-se tornado uma mulher e, por fim, olhou para o melhor amigo do irmão como um homem. Um homem que despertava sensações incríveis naquele corpo em amadurecimento...

Samira controlou a respiração e o choque, face às reações sensíveis dos seus seios e abdómen. Já não era uma rapariguinha inexperiente.

– Tariq.

Como podia ter esquecido aqueles olhos de cor tão marcante, herdados dos seus antepassados? Sob sobrancelhas castanho-escuras, olhos verdes da cor do mar e tão profundos quanto este.

A expressão dele fê-la hesitar.

Era bem-vinda ou aquela expressão indicava desagrado? Estaria incomodado por ter usado a proximidade que existira entre eles para marcar uma reunião à última da hora? Ele deveria ter, decerto, uma agenda cheia, mas não podia recusar-se a atendê-la.

Samira franziu o sobrolho. O Tariq que conhecia era paciente e solícito, por mais chata que ela fosse, sempre atrás dele e de Asim.

– Como estás, Samira? – Ele entrou na sala e ela ficou sem fôlego. Era como se ele ocupasse toda a sala, embora estivesse a alguns metros, encarando-a com um olhar penetrante, como se percebesse o seu nervosismo.

– Está tudo ótimo, obrigada. – Desta vez, quando ele indicou que se sentasse, Samira aceitou, feliz por poder descansar as pernas trémulas.

Sabia que seria difícil, mas não tanto. Não só por ele ter o poder de negar o que ela tanto esperava, mas porque a sua feminilidade adormecida estava a reagir de forma inexplicável.

Era como se tivesse esquecido tudo o que aprendera quatro anos antes. Era como se voltasse a ter 17 anos, sentindo-se sexualmente atraída pela primeira vez, quando fantasiava com Tariq.

– E tu? Como vais? Saíste-te muito bem ontem. O público adorou o teu discurso. – Fechou a boca para não falar demais. A última coisa de que precisava era de aborrecê-lo.

– Tudo bem. O evento foi um sucesso. Tu gostaste?

Ele atravessou a sala, fazendo-a contemplar aquele monte de músculo quando se sentou à frente dela, esticando as pernas longas e robustas. Ela quase escondeu os pés sob a cadeira, mas manteve-se firme.

Abriu o sorriso mais charmoso possível, aquele que funcionava sempre.

– Foi cansativo, mas valeu a pena.

A doação dela – dois vestidos feitos sob medida para os autores das duas maiores licitações – acabaram por faturar mais do que Celeste tinha imaginado.

– Vais ficar muito tempo em Paris? – Era uma pergunta simples, formal, mas o interesse de Tariq conferiu-lhe um significado muito especial.

Samira ficou arrepiada. Ele mal imaginava o que ela estava ali a fazer. Ficou em pânico face ao que ele poderia pensar quando descobrisse. Seria mais fácil sair dali como se fosse uma visita rápida, casual. Poderia sair de cabeça erguida e voltar para um lugar seguro.

Mas o buraco negro da desolação estaria novamente à sua espera. Tinha que lutar, não podia desistir assim tão facilmente.

Pertencia a uma linhagem de guerreiros. Não podia esquecê-lo.

– Não sei quanto tempo vou ficar. – Alisou o vestido com a mão suada, torcendo para que ele não percebesse os dedos trémulos. – Depende.

Ele não fez a pergunta óbvia, deixando espaço para que ela concluísse. Mexeu-se na cadeira e, ao dar-se conta do que estava a fazer, ficou petrificada.

– Lamento muito pela tua esposa. – Tinha acrescentado o seu nome à mensagem de condolências de Asim a Tariq, cuja esposa morrera ao dar à luz os gémeos, mas era a primeira vez que se viam desde o que acontecera.

Há doze anos que não se viam. Desde o inverno em que cumprira 17 anos e ficara de coração partido com a partida dele. Ele nem sequer tinha ido ao casamento de Asim, por causa de uma cirurgia ao apêndice.

Agora ele era um estranho, apesar de tantas coisas familiares.

Ele abanou a cabeça, com o olhar fixo nela.

– Obrigado.

Seguiu-se um silêncio.

– Vi os teus filhos ontem. – Não era o que planeara dizer, mas o seu discurso ensaiado evaporou-se perante o silêncio dele. – Pareciam muito felizes.

– E cheios de energia.

Samira mordeu os lábios. Estava novamente a falar demais. Tinha de controlar-se.

– Nunca param quietos, só quando dormem. – Ele esboçou um sorriso e, de repente, voltou a ser o Tariq que ela conhecia.

– Eles devem dar trabalho. – Desta vez, oferece-lhe um sorriso sincero.

– Dão, mas faz parte.

Samira concordou. O Tariq que conhecia seria tão atencioso com os filhos quanto era com a irmã do melhor amigo. Levava os seus compromissos a sério, mas, acima de tudo, era um homem gentil, um homem de confiança.

Era por isso que estava tão obstinada com a ideia de que ele era a chave para a sua felicidade dali para a frente.

Samira engoliu em seco. Só podia confiar num homem: Asim. Os outros homens da sua vida, mesmo o pai, tinham sido uma grande deceção. Poderia realmente confiar em Tariq?

– Samira.

– Sim? – Ele recostou-se na cadeira, mostrando-se tranquilo. Ao contrário do seu olhar.

– Qual é o problema?

– Nenhum. – Soltou uma gargalhada não muito convincente. Sabia ser mais forte do que isso. Aí estava a sua oportunidade de procurar o que mais queria na vida. Não seria cobarde a ponto de desistir sem sequer tentar.

– Pelo contrário. – Projetou o seu ar de convicção aperfeiçoado nas suas relações profissionais. – Queria ver-te porque tenho uma proposta.

– A sério? – Os olhos dele brilharam.

– Uma proposta muito incomum, mas sensata. Tu verás que poderá ser benéfica.

– Tenho a certeza que sim. – Fez uma pausa. – Quando tu me contares o que é. – Arqueou uma sobrancelha.

Samira aproximou-se, ansiosa por terminar. Ela humedeceu os lábios e encarou-o.

– Quero casar contigo.