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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Kristi Goldberg

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma paixão desconhecida, n.º 464 - novembro 2018

Título original: Dr. Desirable

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-196-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

O rosto parecia modelado por anjos, com um corpo capaz de provocar tumulto na rua. Infelizmente para o médico ortopedista Nick Kempner, a belíssima Michelle Lewis não o tinha em grande estima, graças ao pequeno incidente ocorrido no casamento da sua irmã, meses antes.

Nick ainda não compreendia por que razão ela se ofendera ao ser chamada princesa. Afinal era um facto que ela lembrava um membro da melhor realeza no seu estonteante vestido de dama de honor. Considerando que Michelle o apelidara «sapo vestido a rigor», ele é que devia ser a parte ofendida. Mas ele já estava habituado aos insultos que durante tanto tempo ouvira à sua ex-esposa.

Naquele dia, novamente no papel de relações públicas do Hospital Memorial de San Antonio, ela oscilava na fronteira entre o pecado e a santidade. Não se mostrou feliz por ver Nick entrar atrasado na sala de reuniões. Com motivo, admitiu ele. Atrasara-se muito e acabara por perder o almoço de confraternização do Conselho Deliberativo, do qual fazia parte.

Michelle concedeu-lhe um olhar de relance quando Nick, em silêncio, ocupou uma cadeira e a observou com um ar entre curioso e suplicante. Concentrada no visor do computador portátil, ela reprimiu a vontade de o mandar para o inferno.

Sentindo-se como um garoto travesso, Nick esperou que as pessoas que ficaram na sala se retirassem.

– O que perdi…? – perguntou ele, fingindo interesse.

– O almoço e a reunião inteira, só isso. Acabou há cinco minutos.

– Lamento. – O médico encolheu os ombros. – A operação das nove horas prolongou-se além do previsto.

Michelle guardou o seu computador portátil na maleta. Só então, depois de ter fechado o fecho, deu mais atenção ao constrangido Nick.

– Levando em conta que esta é a segunda reunião que perde num mês, seria melhor pedir a demissão do Conselho.

Ele apelou ao seu sorriso mais sedutor.

– Talvez fosse bom marcar estes encontros no próprio Centro de Ortopedia. Podia ir anunciando a ordem de trabalhos enquanto eu acabava de recolocar alguns ossos no lugar.

– Uma sugestão interessante… – Ela também sorriu, mas de maneira gozona. – Só que a maioria dos médicos do Conselho consegue comparecer sem ter de recorrer a uma medida tão drástica.

– Bem, menina Lewis, gosto de me julgar diferente dos outros. Dou prioridade total aos pacientes: as crianças acidentadas… – Mas dava prioridade à Michelle, pensou ele maliciosamente, se ela deixasse… Em qualquer momento, em qualquer lugar, mesmo ali na sala vazia.

Não poderia fazer uma proposta desse tipo, concluiu Nick ao notar que ela o fuzilava com os intensos olhos azuis.

– … Uma qualidade admirável, doutor. Mas tenho ideias claras quanto ao meu trabalho e não posso atrasar esta campanha de publicidade.

– E como vão os preparativos? – Pausa para uma dose de diplomacia.

– Muito bem, obrigada. Falámos dos novos equipamentos da unidade pediátrica e de como os utilizar no anúncio para a recolha de fundos.

Naquele momento, o único equipamento com que Nick se preocupava era Michelle. A camisola de malha vermelha e justa, de gola alta, acentuava-lhe o contorno dos seios. A saia preta parecia pender levemente da cintura, segura apenas pelos fartos quadris. As pernas eram irrepreensíveis e os longos cabelos negros brilhavam como veludo, despertando nele o desejo de os tocar para examinar pormenorizadamente a sua textura.

Nick desviou o olhar, achando que não iria muito longe com Michelle Lewis caso assumisse as suas intenções.

– E o que vai, exactamente, abordar o anúncio? A futura unidade de terapia intensiva para crianças?

– Não. – Ela guardou os óculos no bolso do casaco que cobria uma cadeira. – Decidimos chamar a atenção para a nova sala de recreio, onde as crianças internadas podem brincar com as suas mães e outros parentes, com os psicólogos e todo aquele pessoal maravilhoso dos «Doutores da Alegria».

– Sala de recreio? Isso faz sentido?

– Claro. – Michelle mostrou-se aborrecida. – Foi a proposta vencedora na reunião, e o Dr. Rainey argumentou que o público considera os equipamentos de alta tecnologia recursos normais de um hospital. Já o programa de recreio mostra que estamos atentos ao lado humano das crianças, permitindo-lhes rir e relaxar na companhia dos pais.

Nick concluiu que o Dr. Al Rainey só podia estar a querer marcar pontos com Michelle, o que o deixou enciumado. Na sua opinião, Rainey era um verdadeiro conquistador, mas também um provinciano de primeira classe. Alguém teria de lembrar às raparigas bonitas do hospital que, além disso, ele também era casado.

– Sem ofensa, mas Rainey é cirurgião plástico, e dos mais medíocres. O que é que ele entende de campanhas para recolha de fundos?

– Na verdade a ideia foi minha… – Bem, isso já era diferente. – Mas o Dr. Rainey tem cooperado muito e é sempre dos primeiros a chegar às reuniões.

Michelle dava-lhe alfinetadas com categoria, sem perder o charme.

– Segundo os boatos… – rebateu Nick, – Rainey chega sempre cedo aos seus compromissos, mas às vezes tem de fugir a correr para não apanhar porrada.

A jovem enrubesceu ligeiramente e clareou a garganta.

– Bem, ele é o presidente do Conselho e aprovou a ideia de concentrarmos a campanha na sala de recreio.

Recreio… Nick apostaria que o que na verdade movia o colega seriam os favores de Michelle. Picado por mais uma pontada de ciúme, não resistiu a provocá-la, como tinha feito na festa de casamento.

– Para ser franco, eu gasto mais tempo com uma bela mulher do que Rainey.

Michelle bebeu um gole de água, mas o rubor ficou visível nas suas faces.

– Prometo que o novo equipamento será mencionado na campanha, doutor. Isso já o satisfaz?

Menos do que um beijo na sedutora relações públicas, pensou ele.

– Certo, sem problemas.

– Fico feliz, Dr. Kempner. – Com ironia, ela frisou o tratamento formal e empunhou a sua mala e a maleta do computador, pronta para sair. – Mais alguma coisa?

Sim, muito mais. Mas nada de apropriado para a hora e o local. Ele cumprimentou-a com um cínico sorriso de despedida.

 

 

Dos diversos médicos petulantes que trabalhavam no Hospital Memorial, Nick Kempner ocupava o topo da lista de Michelle. E a lista não era curta. Ele tinha o extraordinário dom de a irritar com as suas provocações. E tudo culminara no casamento da sua irmã Brooke com Jader Granger. Geralmente ela tolerava o médico em encontros de trabalho, mas naquele evento social tivera de apelar ao respeito pela hierarquia para não explodir de raiva.

Por outro lado, não era desagradável olhar para Nick. Michelle dificilmente se impressionava com homens atraentes, porém sabia que muitas colegas arrastavam a asa ao médico. Provavelmente isso tinha a ver com a maneira elegante como ele vestia os seus trajes brancos, que contrastavam com os negros cabelos ondulados e os olhos castanhos que pareciam dizer «Vamos!».

Em duas palavras, Nick era o protótipo da sensualidade. Não para Michelle. Ela cansara-se de ouvir enfermeiras e empregadas falar dos seus sonhos de casamento com um médico bonito. Nem lhe importava que ele tivesse sido o padrinho de Jader nas núpcias de Brooke, e que esta vivesse para estimular a irmã a conhecê-lo melhor… Pretendia evitar esse caminho pedregoso, tanto como o carisma pessoal de Nick Kempner.

Michelle entrou no elevador repleto de funcionários que voltavam do almoço. Pelo menos a reunião fora produtiva e mais uma vez ela tinha conseguido destacar-se perante o Conselho. Espremida, procurou um espaço livre dentro do elevador e então ouviu a voz conhecida:

– Ei, menina Lewis, espere por mim.

Deus do céu! Nick estava a segui-la?

Com um sorriso que abria caminhos, ele conseguiu enfiar-se na cabina. Ela sentiu-se tão exposta como se usasse uma bata hospitalar para pacientes, sem nada por baixo… Apertou a maleta do computador junto ao peito.

– Há mais alguma coisa que eu possa fazer por si, Dr. Kempner?

– Eu só quero um minuto do seu tempo.

De estatura mediana, Michelle estava habituada a olhar para cima, para conseguir encarar os homens do seu meio. Saiu com Nick no andar da Ortopedia, e notou que o Dr. Rainey esperava o elevador com impaciência, premindo o botão.

– Que óptima surpresa! A que devo o prazer da sua visita? – ele dirigiu-se deliberadamente a Michelle, ignorando a presença do colega.

– Como é simpático… – murmurou Nick, controlando as suas origens texanas, que o impeliam para um resposta rufia.

Michelle sorriu sem graça, e depois ficou aliviada por Rainey apanhar o elevador, pedindo desculpas pela pressa.

– Você realmente não gosta dele, pois não? – comentou com Nick, que já a encaminhava para o sofá da sala de espera.

– Ah, é assim tão evidente?

– Um pouco. Preciso de regressar depressa à minha sala; portanto, se o assunto for longo, convém marcarmos outra hora.

Sem pudor, ele examinou-a de cima a baixo. Ela quis desviar os olhos da figura imponente de Nick, mas não conseguiu.

– Devo-lhe desculpas por questionar o seu profissionalismo. E também um pedido atrasado de perdão pela minha conduta no casamento da sua irmã.

De perdão? Francamente, Michelle não esperava por aquilo. Mas era um bom pretexto para escapar dali rapidamente.

– Desculpas aceites, Dr. Kempner. Está tudo bem, agora?

– Trate-me por Nick. E não está tudo bem…

Uma reacção imprevista, perante a qual o pulso de Michelle ganhou o ritmo de um gato sobre brasas. Culpava-se por cair sob o discreto feitiço do cavalheiro de branco. Quando aprenderia?

– Vamos decretar uma trégua, então, para bem da campanha.

Ele concordou com um gesto de cabeça e avançou para ela com os braços em riste.

– Quer ajuda? Com o computador? – Conhecia o peso das maletas dos computadores portáteis.

Michelle esgueirou-se até à parede e pressionou com insistência o botão do elevador. Quando se voltou, Nick estava ainda mais perto do que antes. Tão perto que ela poderia até tocar-lhe os cabelos sem esforço e deslizar a mão pelo rosto bem esculpido, até pousar os dedos nos lábios voluptuosos que pareciam hipnotizá-la.

– Tenha um bom dia, menina Lewis – concluiu ele, ao ver a porta do elevador abrir-se naquele andar.

– Gostaria de descer comigo até à minha sala? – O inadmitido fascínio traiu Michelle.

O sorriso de Nick foi como um sol brilhante no corredor.

– …Realmente, é uma tentação… – murmurou ele, – mas eu tenho serviço à espera na terapia semi-intensiva. Talvez mais tarde.

Ela suspeitou que o seu rosto estivesse vermelho como um pimento. Censurou-se por ter dado um passo maior do que as pernas e menor do que a boca. Pela fresta da porta, a última imagem que viu foi um Nick Kempner incrédulo com o convite que tinha recebido.

De todos os médicos desejáveis que trabalhavam no Hospital Memorial, ele estava agora no topo da lista de Michelle.

 

 

O quente sol de Agosto batia em cheio no pátio, indicando que o calor do Texas estava longe de esmorecer. Um fio de suor desceu pelo colo de Michelle, alcançando o decote do fato de banho que tinha vestido. Ela passou a mão pela testa húmida, enxugando-a nos próprios cabelos, que detestava prender num rabo-de-cavalo. Uma mania idiota, dissera-lhe a mãe. Era mesmo idiota; no entanto, era-o por permitir que Nick Kempner lhe invadisse os pensamentos, e às vezes até os seus sonhos. Isso já acontecia há dois dias.

Michelle observou os grupos de pessoas dispostos em torno da churrasqueira, no rancho de Jader e Brooke. Felizmente Nick não se encontrava por perto, mas ela sabia que ele fora convidado. Talvez tivesse ficado na piscina, junto a uma esbelta enfermeira…

A ideia incomodou-a ao ponto de a fazer pensar em voltar para a água, mas agora a piscina estava sitiada por crianças alegres e barulhentas. De qualquer forma, ela podia arranjar um taco de basebol e vibrá-lo na cabeça de Nick, se fosse o caso. Ali não faltavam médicos para curarem um hematoma ou uma concussão.

Contudo, voltou para a espreguiçadeira armada sobre a relva e viu que Jader, além de manter a sua mão colada à de Brooke, ainda olhava para a esposa com adoração. Quando conseguiria ela que a olhassem assim?

Culpa sua, ponderou Michelle. A irmã mais nova era mais sociável, mais descontraída, enquanto ela se dedicava à profissão e aos cuidados com os pais idosos. De repente sentiu-se como uma heroína de um melodrama.

Jader ergueu os braços, à frente da churrasqueira, e pediu a atenção dos presentes.

– Temos um anúncio a fazer… – disse ele, apertando os dedos de Brooke diante da plateia curiosa. – Como todos sabem, eu estava de baixa desde o meu acidente. Com a ajuda da mais bela e talentosa fisioterapeuta da região… – Olhou para a esposa, – posso finalmente retomar o meu trabalho de cirurgião.

Os aplausos ressoaram pelo pátio. Brooke pendeu a cabeça no ombro do marido e foi beijada na testa.

– Mas não é só isto… – Jader prosseguiu. – Conta, querida.

Fingindo constrangimento, Brooke tomou a palavra. Michelle e os demais já desconfiavam do que se tratava.

– Vamos ter um filho… – disse ela a rir, e trocou com o marido um beijo que embaraçou Michelle. Ela sentiu uma dor no coração, em vez de alegria pela gravidez da irmã. Simplesmente, aquela era a pessoa mais próxima que Michelle tinha, e cada vez mais a vida as distanciava. Estranhou que Brooke tivesse esperado para fazer o anúncio em público, antes de o comunicar primeiro aos seus familiares.

Testemunhando a repetição de abraços e parabéns, Michelle acabou por ficar feliz pelo casal. Mas também receava pelas condições de saúde da irmã: a asma que há tantos anos infernizava Brooke não recomendava uma gravidez.

Num lampejo de consciência, ela admitiu que, na verdade, tinha era medo de ficar sozinha no mundo. Levantou-se e caminhou descalça, empunhando a toalha, antes que as lágrimas a denunciassem. Como podia ser tão egoísta?

Entrou na casa, aliviada por não encontrar ninguém na cozinha, sobretudo a sua mãe, sempre cheia de cobranças. Levantou alguns copos sujos da mesa que depositou no lava-loiça e ao abrir a torneira, o jorro da água ajudou-a a soltar o seu choro franco.

Sentiu que alguém se aproximava e disfarçou as lágrimas. Por cima do ombro, viu dois pés calçados com sandálias de dedo e um par de pernas masculinas bem bronzeadas. O olhar avançou pelos calções de banho, pelo vigoroso torso coberto de pêlos castanhos, chegando ao rosto do homem.

Era Nick, e no mesmo instante ela soube que estava em apuros.

De todos os convidados para o churrasco, ele era o último que Michelle gostaria de ver naquele momento. Ela fechou a torneira e girou o corpo, tomada de nervos no limiar de uma crise emocional.

O sorriso dele foi simpático, acolhedor. Mas porque não tinha ela saído da festa uma hora mais cedo? O que fizera para merecer a compaixão de Nick? E como lhe explicaria o seu estado?

 

 

A verdade era que Michelle não queria, nem precisava de explicar nada. Porém, Nick acercou-se dela e ofereceu-lhe uma folha de papel retirada do toalheiro na parede. Hesitando, ela encarou-o e secou os olhos.

– Deve pensar que eu sou maluca… – murmurou.

– Não, apenas é suficientemente emotiva para chorar ao saber que a sua irmã vai ser mãe.

– …É isso… – mentiu Michelle, – mas também ando irritadiça.

O tom não era de uma pessoa feliz. Nick compreendia que uma notícia daquele tipo pudesse abalar uma profissional sisuda, amrrada à sua imagem. Lembrou-se do momento em que recebera, no consultório, o pedido escrito de divórcio da sua esposa, Bridget. Também ficara angustiado, pois tinha apostado na possibilidade de reconciliação após o nascimento da filha.

– …Incrível, não é? – comentou Michelle.

– Sim, incrível… Venha sentar-se. – Ele afastou a cadeira em que ela desabou como um balão murcho. Não conseguiu dizer nada apropriado, já que não se tratava de a consolar.

Nick esperou em silêncio e resolveu sair. Talvez, por algum motivo, ela desejasse ficar sozinha. Ou ser abraçada afectuosamente, o que só traria perigo, já que o fato de banho inteiriço, embora conservador, revelava muitos dos seus encantos físicos.

Na verdade, embora fosse um hábil médico e cirurgião ortopedista, Nick não tinha jeito para confortar as pessoas. Profissionalmente, limitava-se a informar o mínimo necessário aos pacientes. Bridget tinha-se queixado bastante desse aspecto da sua personalidade.

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– …É tentador, mas fica para outra ocasião. – Ela ergueu-se da cadeira com decisão e alcançou a toalha felpuda no espaldar. A exibição do corpo, embora sem malícia, era digna de uma actriz.

– Creio que ouvi a sua mãe chamar-lhe Shelly. É o seu diminutivo? – Nick já não sabia a que recorrer para a fazer ficar.

– Não espalhe. Eu detestaria que me chamassem isso no hospital. Esse nome faz-me sentir com a idade de Kelsey.

– Está bem. Continuarei a chamar-lhe Michelle, mas em troca passa a chamar-me Nick.

Na verdade, ela iria chamar-lhe nomes muito feios, se soubesse o que ele fantasiava ao deslizar o olhar do rego dos seios para as virilhas de Michelle, ressaltadas pelo fato de banho húmido. Aquele era o mais lindo troféu de uma mulher fascinante.

– Então… Nick. – Ela chegou a estranhar o novo tratamento. – Agora preciso de ir, senão acabarei por cair na cama e adormecer.

Deus do céu! Ele podia ajudá-la a encontrar uma cama e deitava-se com ela, correndo o risco de ser escalpelado. Só não a conseguia obrigar a ficar naquela reunião.

– Bem, não trabalhe muito. A vida é curta, e eu aprendi essa lição da pior maneira possível.

– Como assim? – Ela mostrou interesse, tapando-se com a toalha.

Poderia levar horas a explicar. Mas Nick não estava disposto a abrir a alma completamente, por isso deu-lhe uma versão abreviada da história da sua vida.

– Eu perdi a infância de Kelsey por causa do trabalho, e agora só tenho um fim-de-semana em dois, para a ver. Posso dizer que continuo com saudades dela o tempo todo.

– Lamento, Nick. – A frase soou comovida. Michelle desconhecia como o médico odiava aquelas previsíveis visitas à filha, com horários rígidos, no papel de pai separado.

– É verdade, mas é assim que tem de ser. Como já disse, a vida é curta e…

– Não pode solicitar mais tempo, mais horas de visita durante a semana?

Ele tinha pedido a Bridget, evitando enfrentar o juíz, mas ela mostrara-se insensível. Dizia não querer que Kelsey ficasse exposta à influência das «mulheres de Nick», como se ele andasse a transformar o seu apartamento de dois quartos num bordel. Claro que não escapara de dois ou três relacionamentos, mas os conhecidos do hospital exageravam sempre nessas questões.

– Talvez um dia a minha ex-mulher me conceda mais horas com Kelsey. O tempo cura as feridas.

– Divórcio litigioso? – perguntou Michelle.

– E dos mais desgastantes… – afirmou Nick, compenetrado.

– Vai dar tudo certo, vai ver… – vaticinou ela, animando-o.

Michelle dificilmente falaria da vida dela, concluiu Nick. Aparentava segurança, mas ele conhecera a sua vulnerabilidade, pelo menos em parte. Não que ela quisesse mostrá-la, pois privilegiava a sua imagem de mulher forte e independente. A descoberta fora casual. E ele pretendia descobrir mais.