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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1998 Carol Hamilton Dyke

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Tempo de vingança, n.º 452 - janeiro 2019

Título original: The Millionaire’s Baby

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-568-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

Caroline Farr temia ter cometido um grande erro. À medida que o táxi avançava entre o trânsito de Prince Albert Road, estava cada vez mais convencida disso. Até tal ponto que teve que cerrar os dentes para reprimir a vontade de dizer ao taxista que parasse e a deixasse ir acalmar a sua ansiedade nos passeios de Regent’s Park.

Era muito tentador. Mary Greaves, a sua sócia, podia telefonar para se desculpar, explicar aos Helliar que, infelizmente, a menina Farr não podia ir à entrevista para o lugar de ama da sua filha e propor outra candidata.

Mas ela não era tão fraca. Misericordiosamente, aquele pouco habitual ataque de pânico começou a desaparecer quando o táxi virou à esquerda e se introduziu numa das ruas georgianas que abundavam naquela zona. Retroceder nesse momento seria dar razão a Mary e não tinha por hábito arrepender-se das suas decisões.

– Caro, ficaste louca? – tinha-lhe dito Mary. – Tu não estás qualificada nem sabes nada sobre cuidados infantis. Esse é o meu campo de experiência, não o teu. Pensa na reputação da agência.

E pela primeira vez, ela lembrou à sua sócia quem é que tinha lutado por arranjar aquela boa reputação.

– Estou há dois anos a trabalhar na parte administrativa e agora apetece-me adquirir experiência noutro campo. Segue a corrente, Mary – sorriu. – Não pode ser tão difícil tratar de uma criança. Milhões de mulheres fazem isso todos os dias e, se for impossível para mim, eu digo-te. A agência Grandes Familles é tão minha como tua, não farei nada que possa prejudicá-la.

Não era verdade que lhe apetecesse adquirir experiência. Foi só uma desculpa para ocultar o que tinha parecido uma loucura, um abandono da sua sensatez em tudo o que se referia à agência.

Mas seria uma loucura querer procurar vingança?

Estava na recepção quando Honor, a sua secretária, tinha introduzido Finn Helliar na sala que Mary usava para entrevistar os clientes. Uma súbita dor no peito fez com que ficasse imóvel até que Honor regressou uns minutos depois com um sorriso no seu bonito rosto.

Caroline não teve que perguntar a ninguém quem ele era. Sabia-o. Nunca se tinham encontrado, mas tinha visto a sua fotografia na imprensa há dois anos atrás. Apesar de ser atractivo e sorrir com ternura para a namorada que estava apoiada no seu braço, a câmara não lhe fazia justiça. O impacto que produzia em carne e osso parecia incrível.

– O que é que faz aqui? – perguntou, contente por a sua voz soar normal.

– É bonito, eh? – Honor alisou a saia sobre as ancas. – Telefonou esta manhã antes de vires. Parece que chegaram do Canadá há uns dias e precisam de uma ama temporária até encontrarem uma casa permanente nos arredores de Londres. Um bom trabalho para uma mulher com sorte.

Foi então quando Caroline soube o que ia fazer e quando Honor murmurou em voz alta que gostaria de saber como é que era a sua esposa, encolheu os ombros e entrou no seu escritório para esperar que a sua sócia acabasse de entrevistar Finn Helliar.

Podia ter dito à sua secretária quem é que era a sua esposa e que aspecto é que tinha, mas teve medo de não poder ocultar a sua raiva se o fizesse.

Enquanto o táxi parava diante do hotel onde se hospedavam os Helliar, Caroline fez rapidamente uma lista mental.

Uma boa ama era calada e de aspecto tranquilo. E ela tinha feito todo o possível a esse respeito.

O fato cinzento escuro de linho, farda obrigatória das amas da Grandes Familles, anulava com eficácia a sensualidade da sua figura e o chapéu cinzento ocultava o seu cabelo acastanhado, ao mesmo tempo que os sapatos rasos contribuíam para que não realçasse a sua altura.

Uma boa ama teria recebido um treino rigoroso e teria referências impecáveis. Caroline Farr não tinha nada dessas coisas e, assim que descobrissem isso, iriam fechar-lhe a porta no nariz.

O que implicava que teria que infringir um castigo a si própria. Teria preferido dispor de mais tempo para planear uma vingança melhor, mas isso só podia ser assim se a aceitassem como ama temporária.

Teria que cruzar os dedos e confiar em que os deuses da vingança estivessem do seu lado.

Depois de pagar ao taxista, olhou para o hotel. Tinha esperado que Finn Helliar, director executivo de um banco internacional, escolhesse algo moderno e sofisticado. Mas talvez a sua esposa tivesse insistido num lugar cómodo e tranquilo que quase parecia antiquado.

Encolheu os ombros. Isso não tinha importância. E a ansiedade que tinha tentado reprimir veio novamente à superfície, fazendo-a franzir o sobrolho e morder o lábio inferior.

O problema com as reacções impulsivas, como a sua intenção de se apresentar como ama temporária, era a sua falta de planificação. E ela não gostava disso.

Até àquele momento, tinha planeado meticulosamente a sua vida. Sabia para onde é que ia e o que é que queria. E se lhe mostrassem a porta assim que soubessem que não tinha referências, esperava que fosse Finn Helliar quem a acompanhasse e não a sua esposa.

Se acontecesse o pior e lhe pedissem que se fosse embora, precisava de uns minutos a sós com ele. Não podia dizer o que tinha a dizer diante da sua esposa. Fleur Helliar não era culpada de nada.

Aproximou-se da porta giratória convencida de que tudo correria bem. O destino tinha-a entregue àquele canalha e não a abandonaria no último momento.

 

 

A sala de estar da suite em que a introduziram tinha todo o encanto cómodo e relaxado de uma casa de campo inglesa. A recepcionista disse-lhe:

– Fique à vontade. O senhor Helliar pede desculpa. Vai demorar uns minutos.

Mas demorou só alguns segundos, o tempo suficiente para ver duas fotografias numa moldura de prata da sua esposa, a cantora francesa que tinha conhecido uma fama breve antes do casamento e a maternidade a tirarem das luzes da ribalta.

A sua aparição súbita na estância foi um choque. Não devia ter sido assim, mas foi. O seu aspecto acabou com a sua compostura, e só pôde limitar-se a olhar com os olhos muito abertos para aquele metro e noventa de força masculina.

O seu cabelo escuro estava despenteado e os caracóis deslocados faziam-no parecer mais novo do que era: trinta e quatro anos. A parte frontal da camisa branca que tinha por cima de umas calças pretas apertadas estava húmida e as mangas arregaçadas mostravam a pele bronzeada dos seus braços fortes. E as suas mãos, que seguravam com gentileza a criança, eram bonitas, fortes e sensíveis ao mesmo tempo.

– Por favor, desculpe o atraso, menina Farr. Sophie deitou mais comida para fora do que a que comeu e pensámos que ficaria mais apresentável depois de um banho, embora se pudesse dizer o mesmo de mim. Não se quer sentar?

Os seus olhos cinzentos mostravam curiosidade, não isenta de certa malícia. Caroline não gostou daquilo, porque, o seu aspecto descuidado e o modo como segurava na criança, faziam-no parecer humano.

Lembrou-se que só um bruto egoísta podia ter feito o que ele fez à sua irmã. Sentou-se com os pés juntos e o rosto inexpressivo.

À medida que a entrevista avançava, apercebeu-se de que ele estava mais interessado na sua personalidade do que nas suas referências. Não mencionou nenhuma das duas e a jovem desfrutou da experiência de se reinventar a si própria, apresentando-se como uma amante das crianças, que gostava de fazer malha, fazer maquetas de castelos com fósforos e coleccionar flores silvestres e receitas de bolos.

Um sorriso dele devolveu-a à realidade. Perguntou-se a que diabo é que estava a brincar. Devia estar a aproveitar o que o destino lhe tinha dado e dizer-lhe o que pensava dele.

Não havia nem rasto da sua esposa, Fleur. E não achava que pudesse estar a almoçar com as amigas enquanto ele entrevistava a nova ama da sua filha.

Por isso, certamente, teria voltado para França para gravar um disco ou o que quer que fosse que os cantores de rock faziam para voltar ao mundo da ribalta. Não se tinha ouvido nada sobre ela desde que o casamento e a maternidade cortaram a sua carreira meteórica. Sem dúvida, dispunha-se a relançar-se e por isso precisavam de uma ama.

Lembrou-se do que ele tinha feito à pobre Katie e disse-se que, se lhe oferecesse o emprego, teria mais tempo à sua disposição para pensar em algo mais idóneo do que um simples raspanete.

Não fazia ideia nenhuma do que é que podia ser esse algo. Mas iria encontrá-lo. Por acaso a sua avó não tinha elogiado sempre a sua força e os seus recursos, herança dos Farr?

– Claro que, se gostar do trabalho, Sophie acostuma-se a si, e se não se importar de viver fora da cidade, o emprego pode ser permanente.

Não era uma declaração. Era mais uma pergunta. Caroline abanou a cabeça e esforçou-se por se mostrar com pena. Impossível. Aquilo devia ser temporário. Ela não era ama, mas sim o cérebro da agência. Não iria demorar muito até encontrar o modo como se haveria de vingar e depois disso não voltaria a vê-lo.

– Receio que só aceite empregos temporários, senhor Helliar – murmurou com um sorriso.

– Pode dizer-me porquê?

Levantou uma sobrancelha e o gesto serviu para lhe lembrar que não era o homem inofensivo que parecia, sentado ali com a menina nos joelhos.

– Se permaneço num lugar mais de umas semanas, começo a afeiçoar-me demasiado às crianças – inventou ela. – É mais fácil para todos que só aceite lugares temporários.

Mas podia ver que ele não acreditava. Os seus olhos prateados tinham endurecido. Quase podia ouvir os seus pensamentos chamando-lhe mentirosa.

Sabia que o que tinha dito não era verdade, mas não podia suportar que aquele… aquele vilão que tinha traído e magoado a sua irmã também o soubesse.

Ele é que era mau, foi ele que se afastou sem se preocupar com a dor que deixava para trás e sem pensar nem por um segundo na mulher a quem tinha partido o coração. E olhava-a com desprezo, como se soubesse que só dizia mentiras.

Também não podia suportar isso. Deixava-a nervosa, quase com náuseas, e estava quase a retirar-se com dignidade e esquecer a razão da sua presença ali quando ele modificou a cena de modo inesperado.

– Porque é que você e Sophie não se começam a conhecer?

Deixou a menina no chão, sobre os pés descalços, e Caroline respirou e relaxou um pouco os ombros. Tinha estado quase a ir-se embora, a deixar o seu orgulho fazê-la esquecer porque é que tinha ido ali e desperdiçar aquela oportunidade de encontrar a maneira de o fazer pagar por tudo o que tinha feito.

Jamais voltaria a consentir que a afectasse até tal ponto.

– Sim, porque não? – anuiu, sorrindo para a menina.

Isso era fácil. Com um macacão branco e uma camisa verde pálida vestida, a menina parecia adorável. Caroline olhou para as fotografias nas molduras de prata e depois para a menina.

Ainda naquela idade, as semelhanças eram imensas. O mesmo cabelo fino e encaracolado, embora o da sua mãe fosse muito mais comprido, e os mesmos traços afiados e olhos castanho-escuros, uma cor que não era nada parecida com os do seu pai. O sorriso de Caroline tornou-se maior ao ver as covinhas de ambos os lados da boca, depois ficou séria e perguntou-se qual é que seria o passo seguinte naquela relação. Andariam as crianças de quinze meses? Falariam? Não fazia a mínima ideia.

Finn Helliar olhava para ela com um ar contemplativo, conhecedor, quase como se soubesse o que se passava no seu interior. A jovem afastou a vista e notou que corava. Tinha a certeza de que iria estragar tudo a qualquer momento.

O problema era que nunca tinha tido uma relação com crianças pequenas. Devia pegar na pequena ao colo? Gritaria se o fizesse?

Felizmente, Sophie resolveu o problema. Afastou-se dos braços do pai e atravessou com cuidado o pedaço de alcatifa que as separava. Caroline inclinou-se com ansiedade e pegou-lhe antes que caísse ao chão. Sentou-a nos joelhos e disse com amabilidade:

– A menina anda muito bem para a sua idade.

Confiou que o seu comentário não fosse completamente estúpido.

Não houve resposta. O homem limitou-se a apertar os lábios. A jovem, na defensiva, abraçou a criança. O pequeno corpo era quente e sólido, um escudo apreciado contra os olhos inteligentes e observadores do seu pai.

– Há uma coisa… – Finn Helliar pôs-se de pé e aproximou-se de uma das janelas. – Insisto em que a ama de Sophie vista algo bonito, feminino… – fez um gesto lânguido com a mão. – Imagino que me compreende. Uma farda pode ser intimidante para uma criança.

Caroline pensou com cinismo que também podia ser demasiado para um homem adulto. Um homem capaz de seduzir a sua irmã Katie enquanto deixava grávida outra ao mesmo tempo, gostaria que as mulheres que o rodeassem estivessem bonitas.

E disponíveis?

Aquela ideia parecia-lhe repugnante. Teve que fazer um esforço para engolir o que acabava de lhe dizer e ganhar tempo. Porque devia ganhar tempo se queria encontrar a melhor maneira, o modo perfeito de o obrigar a reconhecer o mal irreparável que tinha causado.

 

 

– Bom, já está – disse Mary Greaves.

Dois anos antes, Mary não ficou entusiasmada com a ideia de ter como sócia uma Caroline de vinte e três anos. Mas a sua agência de amas estava em decadência e precisava de capital e ideias novas.

Esperava que a sua jovem sócia fosse como a sua mãe. Tinha andado na escola com a sua mãe, mas tinha perdido o contacto com ela até há pouco tempo. Emma Farr era uma mulher encantadora, doce e gentil, mas tímida. Uma sonhadora, não uma mulher pragmática.

Mas Caro, a mais velha das duas filhas de Emma, tinha demonstrado ser o contrário. Decidida, inteligente e licenciada em estudos empresariais, pôs a agência de pernas para o ar, mudou-lhe o nome e dirigiu-a basicamente para as famílias francesas ricas que consideravam um luxo ter como ama alguém britânico.

E a sociedade aceitou-os. A sua experiência no campo dos cuidados infantis e a sua habilidade para entrevistar os clientes e descobrir exactamente o que queriam complementou-se muito bem com o cérebro negociador de Caro.

Naquele momento, só tinham amas dedicadas e profissionais, altamente qualificadas e só os que podiam pagar o melhor se aproximavam da agência. E tudo tinha acontecido sem que ela, Mary, tivesse que se esforçar para o conseguir. Às vezes admirava a agudeza mental da sua sócia, a sua dedicação ao trabalho e a sua ambição.

Mas naquele momento, Caro parecia ter ficado louca.

– O senhor Helliar telefonou quatro vezes desde que saíste. Estás contratada – observou o rosto encantado da sua sócia. – Por oito semanas. Começas amanhã. Embora tenha acrescentado que oito minutos na companhia da sua filha eram o suficiente para que se apaixonassem por ela. Não posso nem imaginar o que lhe terás dito e, para o bem da minha tensão arterial, prefiro nem saber.

– Não é caso para isso – disse Caroline com sinceridade. Sentou-se na sua cadeira do escritório com a sensação de estar esgotada.

Havia muitas coisas que podia ter dito àquele homem, mas nenhuma apta para os ouvidos da sua encantadora filhinha. Por isso, em vez de se sentir tão estranha, devia dar a si mesma os parabéns por ter conseguido o emprego, dando-lhe assim tempo para descobrir o modo ideal de se vingar dele pelo que tinha feito a Katie.

– Pediu-me as referências, mas creio que posso atrasá-las um pouco. Além disso, de certeza que em menos de uma semana está a pedir-me uma substituta. Nessa altura terás já toda a experiência que possas suportar – disse Mary, sentada na beira da mesa. Cruzou os braços. – Vou rever os arquivos e vou procurar alguém que te possa substituir quando achares que já chega.

– Não me rendo com facilidade e tu sabes. E não vou fazer mal nenhum.

Sorriu com calor para a velha amiga da sua mãe, uma viúva jovem e sem filhos. A agência era a sua razão de viver e não a deixaria ficar mal. Voltava a estar no controlo de si própria e sabia que podia manipular a situação com Finn Helliar e sair ilesa. A reputação da agência não sofreria nada, porque aquele vilão não se atreveria a dizer uma palavra sobre a falta de experiência da sua ama assim que ela o fizesse compreender quem é que ele era realmente.

Compreendia a preocupação de Mary. Se a situação tivesse sido ao contrário, ela teria vetado a ideia com todas as suas forças.

– Por favor, não temas nada – disse com gentileza.

– E porque é que haveria de o fazer? – replicou a outra com secura. – Mas, a sério, deves compreender que o trabalho de ama é um trabalho de obediência. Tu estás acostumada a ser chefe e, durante os próximos dois meses, terás que fazer o que te dizem e passar quase todo o teu tempo com uma criança. Espero que, para o bem de todos, o possas fazer. E mais uma coisa, se tivesse podido oferecer ao senhor Helliar uma ama da minha escolha, teria procurado alguém menos jovem e bonita, uma mulher de meia-idade e de preferência um pouco feia.

– Não digas disparates – Caroline pegou num papel e tomou nota do que queria que Honor fizesse durante a sua ausência.

– Não te faças de parva. Finn Helliar é um homem muito atraente. Uma mulher jovem e bonita que mora sob o mesmo tecto…

– Já percebi – interrompeu-a Caroline com secura. Tinha entendido algo mais… Mary tinha sabido instintivamente que Helliar era o tipo de homem capaz de se insinuar a qualquer mulher apresentável sem se importar em absoluto com o facto de ser casado.

 

 

Finn deitou Sophie para dormir a sesta e olhou com amor para o seu rosto angelical e para os seus enormes olhos fechados pelo sono.

– Amanhã terás uma ama para brincar contigo, querida – sussurrou. – Vai ser divertido, não vai?

Saiu do quarto sem fazer barulho e deixou a porta entreaberta para poder ouvi-la quando acordasse. E sem dúvida seria divertido, para além de curioso, averiguar porque é que Caroline Farr tinha decidido trabalhar como ama da sua própria agência.

Tinha estado quase para lhe perguntar, na verdade tinha sido sua intenção fazê-lo. Mas depois da sua conversa sobre fazer malha e bolos, soube que a sua resposta não seria sincera.

Não lhe custou muito a perceber que ela ignorava que sabia quem ela era: a metade da sociedade da agência Grandes Familles.

A sua avó, Elionor Farr, nunca se cansava de elogiar a inteligência, a determinação e o espírito da sua neta preferida. Numa das poucas ocasiões em que visitou a casa Farr, uma mansão gótica situada na parte mais inacessível de Hertfordshire, tirou até um álbum de fotografias e mostrou a sua neta.

– Caroline é a única digna de levar o apelido Farr – declarou a matriarca. – A sua mãe é uma estúpida queixinhas e quanto à sua irmã… bom, não espantaria um mosquito.

Obrigaram-no a ficar na festa do octagésimo aniversário da mulher e teve tempo de sentir pena pelos outros habitantes da casa: a nora de Elionor e Katie, a neta mais nova. Devia ser terrível sentirem-se observadas com aquele desprezo pela velha que controlava o dinheiro e ser comparadas de modo tão injusto com a genial Caroline. Ficou contente por ter ficado com uma gripe repentina que o impedia de aparecer por ali.

De certa maneira, também tinha pena da própria Elionor. Filha de um general, uniu a sua fortuna privada, nada desdenhável, à de Ambrose Farr ao casar com ele. Um casamento que só produziu um filho. Deve ter sido terrível para ela o seu filho morrer numa caçada quando Caroline tinha apenas cinco anos e a pequena Katie alguns meses.

A morte de Ambrose, o seu esposo, uns meses depois, deve ter sido outro golpe duro. Mas recuperou-se, dirigiu com pulso de ferro o que restava da família e aconselhada pelo pai de Finn, então presidente do banco familiar, depositou toda a sua fortuna lá.

Desde a morte do seu pai, Finn tentava aconselhar financeiramente Elionor Farr, em honra do vínculo que tinha existido entre o seu progenitor e o defunto Ambrose. De qualquer maneira, não era uma tarefa fácil, já que os seus contactos com a idosa eram raros e as suas visitas pessoais ainda mais raras.

O seu escritório em Londres tratou da transferência que proporcionou o capital a Caroline Farr para comprar a sua parte da sociedade e a última vez que falou com Elionor, ela contou-lhe como corria bem a agência desde que a sua neta se tinha encarregue dos negócios.

Mas a agência estava bem ou tinha problemas? Que outra razão é que podia haver para que uma das sócias deixasse o seu lugar de executiva, vestisse uma farda de ama e se dispusesse a mudar as fraldas das crianças dos outros para além de uma necessidade extrema de fundos?

Sorriu. De uma maneira ou de outra, descobriria porque é que se tinha visto obrigada a procurar um emprego temporário. E não seria um trabalho duro. Caroline era adorável mesmo com aquela farda cinzenta que tinha vestida e tinha adivinhado certo sentido de humor quando a ouviu enumerar as suas habilidades.

Podia suportar aquilo umas semanas. Tinha tirado três meses para assentar novamente em Inglaterra e encontrar a casa onde Sophie pudesse passar uma infância feliz, por isso estava livre para observar a nova ama.

E não havia o perigo de que acabasse na mesma situação comprometedora que se deu com a sua irmã Katie. Caroline era diferente. Cinco anos mais velha, uma mulher madura e sofisticada. Não lhe causaria nenhum problema.

Pelo menos, não esse tipo de problemas.