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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Tonya Wood

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O segredo do milionário, n.º 501 - janeiro 2019

Título original: The Secret Millionaire

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-603-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Enquanto conduzia da fronteira da Califórnia para Oregon, Zack Daniels sentia-se a pessoa mais frustrada do mundo.

Estava de férias.

Podia entender porque é que um advogado ou um banqueiro esperavam tão ansiosamente pelas férias. Aqueles pobres indivíduos viviam afundados nas suas rotinas, dia após dia, lidando frequentemente com coisas maçadoras como facturação e balanços financeiros. Claro que adoravam as férias. Precisavam de um descanso da cruel monotonia das suas vidas.

Zack, por seu lado, vivia uma situação inteiramente oposta. Fazia o que adorava. Era polícia, e convivia alegremente com o perigo e o inesperado, com a oportunidade de fazer alguma diferença no mundo. Entregava-se ao trabalho de corpo e alma e saboreava a satisfação de ser um representante legal da justiça, num mundo cheio de homens maus.

Não desligava o bip nem para dormir, pois sentia estar a faltar ao seu trabalho. Porém, acima de tudo, detestava tirar férias de uma vida que o satisfazia por completo. E, naquele exacto momento, estava a enfrentar um período interminável de tédio.

Evitara, com sucesso, tirar férias nos últimos quatro anos. Infelizmente, pouco tempo antes, ele e o seu parceiro tinham sido apanhados numa emboscada, durante um confronto com traficantes. Merkley era um homem negro e forte, que se parecia mais com um jogador de futebol americano do que com um polícia. Zack considerara-o sempre o seu melhor amigo e nunca acreditara que ele pudesse ser ferido, mas daquela vez, o «papá», como todos lhe chamavam, levara dois tiros no peito. O veterano de cinquenta anos sobrevivera. Quando saiu da Unidade de Cuidados Intensivos, Zack estava ansioso por dar ao bandido aquilo a que chamava vingança legalizada.

O seu superior, o capitão Benjamin Todd, sabia que seria apenas uma questão de tempo até que a impetuosa lealdade de Zack se voltasse contra o atirador, colocando-o assim em maus lençóis. Todd decretara, então, que tirasse férias por tempo indeterminado, em qualquer lugar longe da Califórnia, até que recebesse ordens para regressar.

Naquele momento, estava no seu nono dia de férias, e mal podia enfrentar a ideia de mais um minuto, quanto mais de um período indeterminado, sem fazer absolutamente nada.

Tinha chovido muito desde que saíra de Los Angeles e o seu carro novo estava todo sujo. Para piorar, também estava com dores de cabeça e com a garganta inflamada, temendo tratar-se de um princípio de gripe. Embora isso não o surpreendesse. A sua saúde parecia estar directamente ligada à batalha contra o crime. O perigo constante garantia-lhe bem-estar e bom humor. De repente, começou a desejar uma cama quente. Quando passou por uma pequena cidade chamada Providence, sentiu que aquela localidade seria tão boa como outra qualquer para passar a noite.

O seu automóvel «topo de gama» chamava bastante a atenção, enquanto percorria a avenida principal. Nenhum dos seus colegas teria reconhecido o caríssimo carro desportivo, pela simples razão de que ele o mantinha escondido na garagem e sob a protecção de uma capa. Assim como os outros polícias que conhecia, Zack conduzia um carro vulgar com pneus carecas e bastante rodagem.

Embora gostasse dos seus colegas do corpo policial, tinha um pequeno segredo que mantinha religiosamente. Não queria que ninguém descobrisse que era um génio. Não tinha culpa dos seus dons intelectuais; nascera assim. Não tinha culpa de se ter formado em Berkeley, com boas notas, sem qualquer esforço.

Ter sido rotulado de génio fora altamente prejudicial para a sua vida social, na faculdade. Só fora salvo da completa humilhação por ter conseguido a posição de guarda-redes, na equipa universitária, levando-a à vitória no campeonato.

Durante o último ano de faculdade, assistiu a aulas de Economia em que o professor comparava as oportunidades de sucesso no mercado de acções com as oportunidades de sucesso numa mesa de casino em Las Vegas. Zack animara-se com a perspectiva e aceitara o desafio. Começara imediatamente a analisar o mercado de acções, aprendendo a reconhecer as tendências. Ao início, investira uma pequena herança deixada pelo pai, e em poucos anos havia criado um belo património. Noutras palavras, tornara-se milionário.

Mas ninguém, excepto o seu advogado e o gerente do banco, sabia daquela imensa fortuna. Zack sofria por manter isso em segredo, temendo que os colegas o discriminassem se soubessem a verdade. Entretanto, mimara-se a si próprio quando cedera ao impulso de comprar um Lótus. A única coisa boa daquelas férias era a oportunidade de poder conduzir aquela máquina sem precisar de se esconder.

Quando parou num semáforo, uma placa iluminada na farmácia chamou-lhe a atenção: Economize em medicamentos para gripes e constipações!

Parou no estacionamento e resolveu dar o dia por encerrado quando avistou, um pouco mais abaixo, um hotel com um grande letreiro azul. Em trinta minutos, estaria medicado e mergulhado no mundo dos sonhos. Quando acordasse, outras oito horas das suas férias já teriam passado.

Depois de caminhar sob a chuva torrencial, sacudiu a água dos cabelos. Estava de calças de ganga desbotadas, camisa cinzenta e um velho blusão de couro castanho, todo surrado. A menos que tivesse que ir depor a tribunal, aquela era a sua roupa habitual de trabalho. Lembrou-se da felicidade que sentira quatro anos antes, quando fora promovido a detective e tivera permissão para deixar os cabelos crescer e abandonar o horroroso uniforme de guarda.

Uma placa na porta de vidro avisou-o de que tinha apenas dois minutos para comprar os medicamentos antes que o estabelecimento fechasse. Apressando-se pelos corredores, escolheu alguns remédios para a gripe, incluindo um frasco de xarope. Enquanto isso, um jovem funcionário seguia-lhe os passos, parecendo irritado com a possibilidade de ele atrasar o encerramento da farmácia.

– Desculpe – resmungou Zack. – Onde posso encontrar lenços de papel?

– Mesmo atrás de si – murmurou o empregado, apontando para a prateleira com uma expressão pouco amigável.

Zack resolveu dificultar as coisas:

– Demoro sempre muito tempo para me decidir. Estes lenços parecem não ser tão macios quanto aqueles, mas os que parecem ser menos macios têm um perfume suave. Assim, tenho que me decidir, tendo em conta o perfume ou a maciez. Não sei, acho que prefiro lenços sem perfume. Bolas! É um dilema, não acha?

O rapaz bufou.

– Adoro cidades pequenas – comentou Zack com total falta de sinceridade. – É tudo tão pessoal! Quando me reformar, acho que virei para cá desfrutar dos meus anos dourados, usufruindo da vossa boa hospitalidade.

– São dez e cinco – disse o funcionário, cada vez mais irritado. – Estamos oficialmente fechados. Se quer lenços macios, é melhor escolher depressa antes que a caixa encerre.

As dores de cabeça de Zack estavam a piorar e ele deixara ficar a sua paciência na Califórnia.

– Bem, vocês vão ter de esperar. E sabem porquê? Porque quero dar uma volta por aqui e certificar-me de que tenho tudo o que preciso. Estou prestes a apanhar uma gripe, sabia?

O rapaz estreitou os olhos.

– Então diga-me o que precisa e eu ajudo-o a encontrar… num instante.

– Mas esse é que é o problema. Nunca sabemos do que nos esquecemos até que seja tarde demais. Vou dar uma volta pelos corredores e ver o que mais me chama a atenção. Talvez um saco de água quente. Ou um chá de ervas… – Parou de falar.

Alguma coisa… na verdade, uma pessoa, chamou-lhe a atenção. Uma mulher passou pelo corredor apressada, obviamente a tentar respeitar o horário. Era alta, elegante, com aparência exótica. Os cabelos longos eram cor de mel. O sobretudo de cabedal preto comprido estava aberto, revelando uma camisola creme com lantejoulas pequeninas. As calças de ganga eram pretas e ela usava botas em pele, de salto alto. Zack gostava de mulheres que usavam peças de cabedal.

Tudo aconteceu de repente. O pé esquerdo da rapariga começou a escorregar. Ela olhou para ele com olhos assustados. Aqueles olhos azuis eram mais claros e brilhantes do que o azul de qualquer pedra preciosa que ele já vira na vida, contornados por enormes pestanas. E ainda mantinha o bronzeado de Verão, que dava à sua pele um aspecto de perfeição.

Zack mandou todos os remédios ao chão e esticou rapidamente os braços para segurar a rapariga.

Num instante, levantou-a do chão. A jovem fez uma careta, pois um dos saltos tinha pressionado dolorosamente a canela dele.

– Oh! – disse ela. – Sinto muito. E se não se importa, seria melhor pôr-me no chão antes que lhe dê outro pontapé.

– Na verdade, importo-me. – Suspirou Zack. – Mas ponho-a no chão, porque me pediu educadamente e está a usar saltos muito pontiagudos.

Relutante, largou-a. De seguida, ouviu os passos no piso de linóleo enquanto ela se afastava. Tinha sido dispensado. Nada mais, nada menos.

O quê? perguntou. – Nem um muito obrigado?

Ela virou-se para ele, batendo as longas pestanas.

– Tu és muito gentil, mas um pouco convencido. Obrigada pela ajuda. Adeus.

Zack suspirou com tristeza.

– Ei, o que é que tem na camisa? – perguntou o funcionário. – O relógio daquela rapariga ficou preso no seu botão.

Ele olhou para a camisa e deparou-se com uma delicada pulseira de prata, presa pelo fecho numa linha solta do botão.

– Não é um relógio – disse, desenroscando com cuidado a delicada jóia. – É uma pulseira. As iniciais dela estão aqui gravadas… H. S.

Zack levantou a pulseira contra a luz e riu-se. Os sintomas da gripe tinham-se evaporado. Também se esquecera das férias indesejáveis. Subitamente, tinha um novo desafio e a ansiedade dava-lhe energia para persegui-lo.

Infelizmente, a mulher desaparecera. Ele verificou todos os corredores da farmácia e depois aproximou-se da rapariga que o esperava na caixa, constrangida. Zack exibiu um sorriso arrasador. Uma das mulheres que trabalhava com ele, certa vez descrevera aquele sorriso como uma arma nuclear. Ele fazia uso dele desde essa altura, sempre que valia a pena.

– Sei que vocês estão a fechar, mas gostaria de saber se me pode fazer um pequeno favor.

Ela nem sequer considerou o pedido.

– Dez minutos depois do horário?! A minha caixa registadora já está encerrada.

Zack olhou para ela e deu um passo para trás. Aparentemente, a arma nuclear tinha sido um fracasso. O que nunca tinha acontecido.

– Escute, preciso de falar com aquela rapariga que estava aqui… Você viu-a?

A rapariga assentiu, mascando uma pastilha elástica.

– Sim, ela perguntou-me onde ficava a casa de banho.

– E onde fica?

Ela fez uma careta e apontou para os fundos da farmácia.

– Está a ver aquela porta dupla? No corredor, entre na primeira porta à esquerda e desça as escadas. Depois, siga as placas.

Zack não tinha intenção de seguir uma mulher para dentro da casa de banho das mulheres. Não tinha necessidade de fazer tamanho disparate. Entretanto, também não tinha problemas em esperar por ela à saída. Afinal, era um bom samaritano e estava a fazer-lhe um favor.

Sorrindo, seguiu pelo caminho indicado, passou pela porta dupla que dava para a área da administração e que tinha uma placa com os dizeres «Entrada permitida somente a funcionários», abriu-a e viu que dava para as escadas. Era uma porta de aço, pesada, com uma placa: «Sem saída». Outra placa mais abaixo dizia: «Os transgressores serão severamente punidos por lei». Zack decidiu que aquela era a farmácia mais amigável em que já estivera.

O local era mal iluminado, mas havia uma fina fresta de luz na porta da casa de banho das mulheres. Tudo o que tinha a fazer era descer rapidamente as escadas, colocar-se à porta da casa de banho e, galantemente, devolver a pulseira. Ela não teria outra opção senão apresentar-se.

Zack não sabia por que era tão importante saber o nome dela, mas era. O seu intelecto extraordinário, combinado com anos de trabalho como detective, deixara-o com incríveis poderes de observação e memória. Ela usava enormes argolas brilhantes nas orelhas, um pouco fora de moda, mas, mesmo assim, bonitas. Juntamente com a pulseira de prata, tinha um relógio digital de uma marca bastante conhecida, se não estava enganado. Mais importante, não usava aliança.

Ele ouviu o barulho da porta da casa de banho e subiu as escadas rapidamente. Não queria assustá-la por estar à porta, à espera, como um predador. Voltaria para a área reservada à administração e, quando ela saísse…

Puxou a porta corta-fogo. Estava trancada.

Recuou quando ouviu a porta da casa de banho a abrir-se. Seria surpreendido como uma criança apanhada a fazer uma traquinice. Aquilo abalaria a sua dignidade. Ficou parado onde estava. O sangue subia-lhe às faces, queimando, enquanto ouvia os saltos dela nas escadas.

– Desculpe-me se o atrasei – soou a voz feminina do primeiro degrau. – Eu sabia que a farmácia estava a fechar.

A testa de Zack bateu contra a porta corta-fogo. Obviamente, ela tomara-o por um funcionário. Ainda bem, isso iria ajudá-lo a explicar-se com mais facilidade. Respirou fundo, virou-se e agradeceu, tentando que a falta de iluminação escondesse o rubor das suas faces.

– Olá! Que bom vê-la aqui.

– Você? – indagou ela, arqueando as sobrancelhas. – Mas o que é isto? Anda a seguir-me?

– Não tenha tanta certeza disso. – Fingindo-se ofendido, ele tirou a pulseira do bolso e balançou-a na frente dela como um pêndulo. – Você deixou isto pendurado no botão da minha camisa quando caiu nos meus braços. Eu estava apenas a tentar devolver-lha. Você é simpática, mas um pouco convencida.

Agora era a vez dela ficar corada.

– Oh, suponho que tirei conclusões erradas.

Disfarçando um sorriso, Zack atirou-lhe a pulseira e, com um movimento rápido, ela apanhou-a no ar.

– Muito bem – elogiou ele. Adorava mulheres com boa coordenação.

– Obrigada – agradeceu ela, enquanto colocava a pulseira. – Esta pulseira tem para mim um grande valor sentimental. Não sei o que teria feito se a tivesse perdido.

– Está tudo bem. – Mais uma vez, tentou abrir a porta. Finalmente, bateu com a anca na teimosa estrutura metálica. – Ouça, detesto ter que lhe dizer isto, mas parece que estamos trancados aqui.

– O quê? – Uma voz alarmada soou atrás dele. – Trancados? Como assim? Não podemos sair daqui?

Zack olhou por cima do ombro, sentindo o abalo naqueles lindos olhos azuis a menos de trinta centímetros dos seus. Até mesmo com pouca luz, eram de um azul cristalino de tirar o fôlego. A pele era dourada, os lábios generosos. Ela era linda!

– Não podemos sair – confirmou Zack, tentando não fixar os olhos na boca carnuda que parecia um botão de rosa. – Não até que nos encontrem.

– Está a brincar? Diga-me que está a brincar. – Então a voz subiu de tom: – Estamos presos aqui?

– Pense positivamente – encorajou-a. – Aqui estamos seguros.

– Eu sofro de claustrofobia! – gritou ela, perdendo a calma. De seguida, passou por ele, agarrou a maçaneta metálica com as duas mãos e quase mandou Zack pelas escadas abaixo. – Não consigo lidar com isto, a sério. Tenho que saber que posso sair dos lugares onde entro. Quando me sinto encurralada, algumas vezes eu… entro em pânico e… e…

– E o quê? – perguntou ele com cautela. – Você não me parece bem. Algumas vezes você o quê?

– Eu… eu… – E, pela segunda vez em menos de dez minutos, caiu nos braços de Zack.