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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1998 Michelle Reid

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Coração rendido, n.º 500 - abril 2019

Título original: The Marriage Surrender

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-070-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

 

– Posso falar com o… o senhor Alessandro Bonetti, por favor?

A cabina telefónica tresandava a fumo de tabaco. Com o rosto muito pálido e o corpo rígido devido ao esforço que tinha feito para fazer aquela chamada, Joanna quase não se tinha apercebido nem do cheiro nem da quantidade de porcaria que cobria o chão.

– Da parte de quem, por favor? – perguntou a voz fria e lacónica da telefonista.

– Sou… – começou a dizer, enquanto mordia o lábio inferior com os dentes.

Mas não conseguiu responder. Só seria capaz de revelar a sua identidade a Alessandro e a mais ninguém. No entanto, era muito provável que ele se negasse a falar com ela por isso, não queria que a telefonista fosse testemunha daquela humilhação. Já tinha passado por isso antes…

– É um telefonema pessoal – proferiu, esperando do fundo do coração que aquela resposta fosse suficiente para poder falar directamente com o grande homem.

Mas não foi assim.

– Lamento, mas tem que me dar o seu nome antes de eu perguntar se o senhor Bonetti pode falar consigo.

Pelo menos assim sabia que Sandro estava no país, já que Joanna tinha imaginado que ele regressara a Roma.

– Então, ligue-me à sua secretária. Prefiro ter esta conversa com ela.

Fez-se uma pequena pausa, repleta de uma tensão silenciosa.

– Um momento, por favor – proferiu a voz e a linha ficou em silêncio.

Os segundos começaram a passar lentamente, fazendo desaparecer o desespero que a tinha levado a fazer aquele telefonema, o desespero que a tinha impedido de dormir, tentando encontrar uma solução para o seu problema sem ter que pedir ajuda a Sandro. Mas só tinha duas saídas: Arthur Bates ou Sandro.

Ao pensar em Arthur Bates, sentiu um calafrio percorrer-lhe as costas, o que a levou a continuar pendurada ao telefone, apesar de, no seu íntimo, uma vozinha lhe mandar pousar o auscultador.

Contudo, Joanna sabia que precisava de ajuda e estava disposta a pedi-la ao único ser humano que lha podia dar. Se Sandro negasse, ela deixá-lo-ia em paz para sempre. Mas tinha de tentar, de dar a ela própria e a ele uma nova oportunidade.

De qualquer maneira, ela não queria fazer-lhe mal. Só ia fazer-lhe uma proposta. Se ele recusasse, ela sairia da sua vida para sempre.

Para sempre. Era isso. Prometer-lhe-ia que se ele a ajudasse daquela vez, ela nunca mais voltaria a incomodá-lo. Era muito fácil. Sandro não era nenhum monstro. Certamente que ele já não lhe guardava nenhum rancor. Tinha passado demasiado tempo.

Ouviu então o sinal a indicar que devia introduzir mais dinheiro. O pânico apoderou-se dela e todos aqueles pensamentos de consolo desapareceram.

– O que estou a fazer? Porque é que estou a fazer isto? – interrogou-se freneticamente.

A sua mente respondeu-lhe que estava a fazer aquilo porque não lhe restava outra opção. Com os dedos a tremer, tirou uma moeda do monte formado com os trocos que tinha para fazer o telefonema, mas caíram no chão.

– Que porcaria! – murmurou, inclinando-se para apanhar os trocos do chão. Soou então uma voz pelo auscultador.

– Bom dia, está a falar com a secretária do senhor Bonetti. Em que posso ajudá-la?

– Um momento – respondeu, enquanto tentava introduzir a moeda na ranhura. Quando o conseguiu, o apito deixou de tocar. Joanna levou uns segundos a serenar. – Gostava de… gostava de falar com o senhor… com Alessandro – acrescentou, com a esperança de que um toque pessoal a ajudasse a ultrapassar aquele último obstáculo.

– Lamento, mas tem que dar-me o seu nome.

«O seu nome», repetiu Joanna mentalmente, sem saber o que fazer. Seria melhor dizer-lhe a verdade, permitir que aquela mulher fosse testemunha da rejeição de Sandro?

– Sou… a senhora Bonetti – respondeu, sentindo-se tão estranha ao ouvir aquele nome nos seus lábios como se teria sentido, provavelmente, a mulher que estava do outro lado da linha.

– A senhora Bonetti? – repetiu a mulher, depois de alguns segundos. – A esposa de Alessandro Bonetti?

– Sim, confirmou Joanna, compreendendo perfeitamente a surpresa da secretária. – Agora já pode perguntar a Alessandro se tem uns minutos para falar comigo, por favor?

– Claro – acedeu logo a secretária.

A linha ficou de novo em silêncio, ficando ela a interrogar-se sobre quantos problemas iria criar a Sandro por ter feito aquela declaração.

Ficou tão tensa com a espera que teve de começar a bater no chão com o tacão da bota para tentar descontrair-se. Para além disso, havia um homem à espera do telefone que lhe lançava olhares de impaciência. As mãos dela suavam, razão pela qual tentou limpá-las nas calças de ganga, mas isso não lhe serviu de nada. Voltaram a suar.

– Senhora Bonetti?

– Sim?

– O senhor Bonetti está em reunião neste momento. Disse-me para deixar o seu número de telefone e que lhe telefonará assim que tiver um minuto livre.

– Isso é impossível – respondeu Joanna, sentindo uma sensação contraditória de alívio e de desespero. – Estou numa cabina telefónica e… – explicou, enquanto arrepelava o seu cabelo loiro e tentava pensar. Se Sandro não vinha ao telefone… nunca conseguiria voltar a ter coragem para lhe telefonar outra vez. – Telefonarei daqui a pouco. Diga-lhe… que lhe telefonarei quando eu… – gaguejou, tentando encontrar uma desculpa. – Adeus.

– Não! Senhora Bonetti! – gritou a secretária, tentando impedi-la de desligar o telefone. – Espere, por favor! O senhor Bonetti quer saber… Um momento, não desligue, por favor…

O tom de súplica da mulher foi a única coisa que impediu Joanna de desligar. Isso, e a visão de Arthur Bates, lambendo-se como um gato que está prestes a saborear um doce. Pôs-se a tremer, de novo, sentindo-se tão confusa que já não sabia o que fazer.

Sandro ou Arthur Bates? Aquela pergunta repetia-se no seu cérebro vezes sem conta. Sandro ou Arthur Bates? Não tinha escolha.

Sandro… o homem que ela não se tinha dignado a contactar durante dois longos anos… excepto quando lhe disse o que tinha acontecido a Molly. Joanna sentiu-se desfalecer ao recordar o rosto da pobre Molly.

No entanto, ele tinha ignorado o seu telefonema e, provavelmente, era isso que ia fazer naquela ocasião. E não havia razão nenhuma para que não o fizesse. Já não havia nada entre eles, não havia nada desde há muito tempo.

O telefone tirou-a da sua abstracção pedindo-lhe que inserisse mais dinheiro. Muito nervosa, Joanna começou à procura de outra moeda. Mas depois lembrou-se que as tinha deixado cair no chão há uns minutos, pelo que se baixou e começou a remexer entre os papéis e as beatas que cobriam o chão.

– Senhora Bonetti?

– Sim – disse Joanna.

– Vou passar-lhe o senhor Bonetti…

Nesse momento, encontrou uma das moedas e agarrou-a, endireitando-se, completamente congestionada, com a respiração entrecortada, a tremer, porque estava a ponto de voltar a ouvir a voz profunda e aveludada de Sandro e não sabia se ia conseguir suportar isso.

O homem que estava à espera do lado de fora da cabina fartou-se de esperar e bateu no vidro. Joanna voltou-se, com o olhar enlouquecido.

– Joanna?

Foi então que ela sentiu que o mundo se desmoronava debaixo dos seus pés e que o peito se enchia de angústia.

Sandro tinha a voz dura, rouca, mas era tão familiar para Joanna que a sua própria voz se afogou na garganta. O homem voltou a bater no vidro. Ela fechou os olhos e sentiu a impaciência, a tensão que vinha do outro lado da linha telefónica.

– Joanna? – repetiu ele. – Que raios! Estás aí?

– Sim – respondeu ela, com a voz entrecortada, sabendo que tinha dado um dos maiores passos da sua vida. – Desculpa, mas as moedas caíram no chão e não conseguia encontrá-las. Além disso, há um homem… um homem à espera do telefone que não pára de bater no vidro… Desculpa – desculpou-se de novo.

– Estou no meio de uma reunião importante – proferiu ele. – Por isso, acho que devias ir directamente ao assunto e explicar-me a que devo esta, por assim dizer, honra tão inesperada.

– Preciso… – começou Joanna, sentindo que o seu peito ia rebentar por causa da tensão acumulada, quase sem se lembrar da razão do seu telefonema, tal era o pânico e os nervos que a torturavam. – Preciso… que me dês um conselho – acrescentou, sem conseguir confessar que lhe telefonava apenas para pedir dinheiro. – Achas que nos podemos encontrar, para podermos falar?

Mas não houve resposta. Joanna sentia-se a ponto de chorar.

– Vou para Roma esta tarde – respondeu-lhe, por fim, bruscamente. – E tenho todo o dia cheio de reuniões até ir para o aeroporto. Vais ter de esperar até que regresse na semana que vem.

– Não! Isso não pode ser! Não posso esperar tanto tempo… – exclamou num fio de voz. – Não… não importa – sussurrou, sentindo-se derrotada. – Desculpa ter-te…

– Não te atrevas a desligar o telefone! – exclamou Sandro, demonstrando que ainda conseguia ler as intenções de Joanna como se fosse um livro aberto.

Depois, ela ouviu-o murmurar algo para si próprio, em italiano, como sempre fazia quando estava muito aborrecido. Joanna conseguiu inclusivamente imaginá-lo, alto, esbelto, com aqueles traços latinos tão atraentes, aqueles olhos castanhos escuros e a boca, tão sensual, que a tinha feito sentir-se como nenhuma outra antes fizera, embora dela pudessem sair palavras terríveis, mesmo sem ela entender o seu significado.

Nessa altura, o telefone voltou a reclamar por mais dinheiro.

– Já não tenho mais dinheiro! – gemeu ela, tentando descobrir mais moedas no chão. – Vou ter que…

– Dá-me o teu número!

– Mas há um homem à espera do telefone. Tenho que…

Maledizione! – exclamou Sandro. – O número, Joanna!

Ela obedeceu. Depois a comunicação cortou-se. Quando pendurou o auscultador, não tinha a certeza de que Sandro tivesse tido tempo de anotar todos os algarismos e, ao mesmo tempo, sentiu-se assustada e aliviada por assim ter sido.

Muito confusa, inclinou-se para apanhar as suas moedas, encontrou-as e saiu da cabina para deixar entrar o homem que já estava há tanto tempo à espera. Este deslizou entre ela e a porta, contemplando-a como se ela fosse uma aparição. E estava certa de que esse era o aspecto que tinha.

Sandro tinha a habilidade de a pôr naquele estado, de fazer em fanicos o seu habitual sangue frio. Tinha sido assim desde a primeira vez que o tinha visto. Sempre conseguira transformá-la numa criatura vulnerável.

O sexo. Aquela palavra assaltou-a com uma dura e cruel honestidade. A diferença entre Sandro e outro homem qualquer era que ele era o único que a excitava sexualmente. E, por isso, tremia, porque ao excitá-la também expunha todos os medos que a conduziam àquela sensação de pânico. Tinha medo, um medo total e irracional, de que se alguma vez se deixasse levar pelo sexo, a sua vida acabasse. Porque ele ficaria a saber uma coisa e a desprezá-la por isso.

O homem saiu da cabina ao fim de uns minutos, o que a fez sentir-se culpada pelo tempo que o fez esperar.

– Desculpe por ter demorado tanto – escusou-se, envergonhada. – Tive alguns problemas…

O telefone começou a tocar dentro da cabina, e ela lançou-se para o atender, desesperada, esquecendo-se completamente do homem, para ir atender aquela chamada.

– Que se passou, raios? – gritou Sandro do outro lado da linha. – Estou a tentar ligar há cinco minutos e dava-me sinal de interrompido. Será que és tão estúpida que estiveste com o auscultador encostado ao ouvido em vez de o pendurares e de esperar que eu te telefonasse?

Isto dizia tudo. Estúpida. Julgava-a uma estúpida.

– Deixei o homem que estava à espera telefonar primeiro.

– O que é que queres, Joanna? – perguntou ele, depois de voltar a murmurar algo em italiano. – Desde quando é que te lembras de contar comigo para alguma coisa?

– Não é algo de que possa falar pelo telefone – retribuiu ela, recuperando o seu autocontrolo. – E se este é um exemplo da atitude que vais ter comigo, então é melhor esquecermos tudo.

– Está bem, está bem. Então sou eu quem se está a portar mal. Neste momento, estou até à raiz dos cabelos com trabalho, e a última coisa de que estava à espera era que a minha esposa desaparecida há tanto tempo me telefonasse.

– O sarcasmo é melhor – replicou ela. – Os galanteios não são o teu estilo.

Os dois suspiraram um de cada vez, o que foi um sinal de que admitiam que os dois estavam a exagerar a situação, como sempre aconteceu entre eles.

– Em que posso ajudar-te? – perguntou ele, mais triste do que hostil.

– Se não consegues arranjar tempo para me veres hoje, desconfio que, na realidade, te tenha estado a fazer perder o teu valioso tempo. Tentei dizer-te isto antes de que ficasses uma fera – acrescentou sem conseguir resistir.

– Encontramo-nos às cinco. Em casa.

– Não! – protestou ela imediatamente. – Não quero lá voltar!

A lindíssima casa de Belgravia, uma das zonas mais elegantes de Londres, só lhe trazia más recordações. Joanna não podia lá voltar.

– Então aqui – replicou ele, com uma voz cortante. – Dentro de uma hora. É tudo o que posso fazer por ti. E não chegues tarde. Tenho uma agenda muito apertada e vou ter de receber-te entre duas reuniões muito importantes.

– Está bem – acedeu ela, interrogando-se se encontrar-se com ele no seu escritório seria melhor do que na casa que tinham partilhado, já que nunca lá tinha estado. – Como… o que faço quando aí chegar? Digo… digo a alguém quem…? Não gosto de…

– De sair do esconderijo? – perguntou ele com amargura. – Ou será que não gostas de admitir a tua relação legal comigo?

– Sandro… Não vês como isto está a ser difícil para mim?

– E como é que achas que está a ser para mim? – replicou ele. – Saíste da minha vida há dois anos e, desde então, não te dignaste a entrar em contacto comigo.

– Disseste-me para não o fazer – recordou-lhe Joanna. – Quando me fui embora, disseste-me…

– Eu sei o que te disse! – exclamou ele. Suspirou novamente. – Vê lá se vens. Depois disto tudo, não gostava que te acobardasses no último minuto, porque então, Deus me perdoe, eu… maldita sejas! – murmurou, desligando o telefone.

De repente, Joanna sentiu-se morta. Sempre que falava com Sandro sentia-se assim, cansada, tão esgotada que teve de apoiar-se à cabina enquanto se questionava porque é que lhe tinha telefonado.

Mas a visão de Arthur Bates a expor-lhe o seu ultimato fê-la regressar à realidade.

– O pagamento, Joanna, tem de se fazer em dinheiro ou em bens – tinha-lhe dito com aquela voz tão suave e melosa. – Tu sabes do que eu estou a falar…

Aquelas palavras davam-lhe vómitos.

– Quanto tempo tenho para pagar? – tinha-lhe perguntado ela, com tanta dignidade que deixava muito claro que ela nunca consideraria a segunda hipótese.

Mas aquele homem tinha-se negado a compreender isso. Tinha esperado muito tempo para a levar ao beco sem saída em que Joanna se encontrava e saboreava cada segundo. Tinha-se reclinado no sofá, enfiando o dedo, carregado de anéis, entre os botões da camisa entreaberta, enquanto a olhava de alto a baixo, lentamente, contemplando a figura esbelta de Joanna e a saia de cetim muito curta que tinha de usar no trabalho…

– Agora achava bem – respondeu Arthur com voz rouca. – Muito bem…

– Refiro-me ao pagamento em dinheiro. Quanto tempo tenho?

– Meu Deus, uma dívida é uma dívida. E já estás atrasada com o pagamento duas semanas.

– Porque estive de baixa por causa da gripe – recordara-lhe ela. – Agora já voltei a trabalhar e poderei pagar-te assim que…

– Já conheces as regras – interrompeu-a ele. – Ou se paga a tempo ou já sabes. Eu não faço as regras para me divertir, sabes. Toda a gente vem ter comigo para que eu os ajude com as suas dificuldades económicas e eu aceito. Sim, o bom do Arthur empresta sempre dinheiro, mas deixo muito claro que não gosto que não me paguem a tempo. É para o teu bem – acrescentou, com voz melosa. – Se eu permitisse que te atrasasses com o pagamento, só conseguiríamos que te metesses numa confusão maior tentando pôr em dia as tuas dívidas.

Ele tinha-se referido ao facto de Joanna vir a ter de pedir-lhe mais dinheiro emprestado para pôr em dia os juros e, com isso, tornasse a dívida maior. Arthur Bates mantinha assim o poder.

Contudo, para ela era diferente e Joanna sempre o soubera. Ele não queria o dinheiro dela, desejava-a e, ao não ter o pagamento em dia, tinha-se colocado directamente nas suas garras. O pior era que ela trabalhava para ele, o que significava que ele sabia exactamente o dinheiro que Joanna ganhava e podia controlá-la. Ela era empregada de balcão no asqueroso clube nocturno que Arthur dirigia, o mesmo clube onde ela tinha contraído as suas dívidas nas mesas de jogo.

A única coisa que Arthur não sabia era que ela era casada. Não conhecia a sua relação com a poderosa família Bonetti. Ele desconhecia que ainda lhe restava uma saída.

No entanto, ia precisar de tempo, um tempo que Arthur Bates não estava disposto a dar-lhe. Ficara ali, sentindo como ele percorria o seu corpo com o olhar e fizera a única coisa que lhe ocorreu para ganhar tempo.

– Está bem – murmurou ela. – Quando?

– Hoje já finalizaste o trabalho. Podíamos encontrar-nos no meu apartamento dentro de quinze minutos…

– Não posso – tinha respondido ela. – Esta noite não… Hormonas – explicara-lhe, esperando que ele compreendesse o que ela queria dizer.

Ele compreendera, tal como lhe revelava a expressão contrariada do seu rosto.

– Mulheres – tinha murmurado. – Podes estar a mentir, pode ser uma desculpa para ganhar tempo – acrescentou, desconfiado.

– Não estou a mentir – tinha-o feito acreditar, olhando-o fixamente nos olhos com os seus profundos olhos azuis. – É verdade.

– Quanto tempo?

– Três dias.

– Sexta-feira, então.