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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Kathie DeNosky

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma noite ao teu lado, n.º 586 - maio 2019

Título original: Lonetree Ranchers: Colt

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-041-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Epílogo

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Capítulo Um

 

 

 

 

 

Kaylee Simpson estava a colocar umas gazes e um rolo de fita adesiva num carrinho na enfermaria quando o repentino silêncio da multidão do Centro Ford a fez estremecer de medo.

Só havia um motivo para que uma pista cheia de admiradores do rodeio profissional se calasse assim: um dos participantes estava no chão e não se mexia.

Kaylee fechou os olhos, conteve a respiração e tentou não pensar enquanto esperava que o aplauso das pessoas indicasse que o participante se tinha posto de pé. No entanto, os minutos foram passando e isso não acontecia.

Quando ouviu passos acelerados pelo corredor que conduzia à enfermaria, compreendeu que conduziam o participante de maca para ali.

«Por favor, que não seja ninguém que eu conheça», rezou.

– Verifique os seus sinais vitais – pediu o Dr. Carson ao entrar, seguido por uns quantos homens que transportavam a maca e que deitaram o ferido sobre a marquesa.

Kaylee pegou no equipamento necessário e, com as mãos trémulas, colocou-se ao lado daquele homem inconsciente. Ao olhar para ele, sentiu que o coração começava a bater com mais força e ficou pálida.

– Colt – sussurrou.

Deixou cair o aparelho de medir a tensão, mas nem deu por isso.

– Conhece este homem? – perguntou um dos médicos, apanhando o aparelho do chão.

Pelos vistos, os médicos que trabalhavam no rodeio não conheciam os participantes, mas Kaylee sim.

Tinha um nó na garganta tão aflitivo que não conseguia articular palavra, por isso limitou-se a fechar os olhos e a assentir. Tinha crescido com muitos dos cowboys que faziam parte do circuito profissional, e até há três anos atrás, a maior parte deles tinham sido como irmãos para ela.

Aquele que tinha à sua frente, no entanto, tinha sido sempre diferente. Conhecia Colt Wakefield desde que ele tinha dezasseis anos e ela dez. Era o melhor amigo do seu irmão, o amor da sua adolescência e o homem que lhe tinha roubado o coração.

– Kaylee, se não lhe vais medir a tensão arterial, afasta-te e deixa que outra pessoa o faça – disse o Dr. Carson, impaciente.

O tom de voz do médico fê-la sair do seu transe e apressou-se a colocar o aparelho de medir a tensão à volta do braço de Colt.

– Tensão arterial a onze e sete.

– Bem, vamos tirar-lhe o casaco e abrir-lhe a camisa para ver o que tem – ordenou o médico.

Kaylee respirou fundo e abriu o fecho de correr do casaco de cabedal preto que os cowboys usavam para se proteger. A seguir, e com as mãos ainda a tremer, desapertou-lhe a camisa para que o médico o pudesse examinar.

Ao ver o impressionante e musculoso torso de Colt e o seu abdómen bem definido, Kaylee sentiu um arrepio na espinha e todas as recordações que andava há três anos a tentar esquecer a voltaram a assaltar.

Sem pensar no que estava a fazer, estendeu a mão e acariciou-o. A última vez que o tinha visto sem camisa, que também tinha sido a última vez que o tinha visto, tinha sido na noite do enterro do seu irmão. Destroçados com a morte de Mitch, tinham-se abraçado para se consolarem mutuamente e tinham…

– Kaylee?

Ao ouvir a voz de Colt, Kaylee desviou a mão. Colt tinha recobrado a consciência sem que ela se apercebesse.

– Olá, Colt – cumprimentou, perdendo-se na imensidão dos seus incríveis olhos azuis.

Tinha-o conhecido há catorze anos atrás e, naquela altura, ele tinha-lhe parecido o rapaz mais bonito do mundo. No entanto, agora, tinha-se convertido num homem incrivelmente atraente. Tinha o cabelo negro como azeviche e uns lindos olhos azuis que sempre a tinham deixado sem fôlego.

Infelizmente, parecia que continuavam a ter o mesmo efeito sobre ela.

Então, decidiu tratá-lo exactamente da mesma maneira que o tinha tratado antes de se terem dado os acontecimentos que mudaram a sua vida para sempre.

– Vejo que continuas a desmontar por cima da cabeça do cavalo – gracejou.

Colt corou.

– E eu vejo que continuas tão engraçadinha como sempre – respondeu, fitando-a com afecto.

– Estás enganado, cowboy – sorriu Kaylee com tristeza. – Com certeza te lembras que há três anos tive que amadurecer à força.

Colt sentiu como se lhe tivessem dado um murro na boca do estômago. Não sabia se se referia à morte de Mitch ou à sua partida sem se despedir, depois de ter passado com ela a noite mais maravilhosa da sua vida.

Em qualquer caso, o sentimento de culpa que o tinha acompanhado naqueles últimos três anos apoderou-se dele, até que receou não ser capaz de falar.

– Onde é que tens estado? – perguntou por fim, sem saber muito bem do que falar com ela.

Kaylee afastou uma madeixa de cabelo da cara, como se procurasse a resposta certa.

– A sobreviver – respondeu. – Terminei o curso o ano passado.

Colt franziu o sobrolho.

– Então, porquê? Da última vez que nos vimos, só te faltava um ano para terminar. Porque é que levaste tanto tempo?

Kaylee desviou o olhar.

– Passaram-se algumas coisas e tive que abandonar os estudos durante uns tempos – respondeu, limpando-lhe a cara com uma toalha húmida. – E tu? Como é que tens passado?

Colt encolheu os ombros mas, ao fazê-lo, a incrível dor que sentia no ombro esquerdo fê-lo gritar. Humilhado pela presença de Kaylee e por que ela o visse numa situação assim, apertou os dentes e disse a primeira coisa que lhe passou pela cabeça.

– Estaria muito melhor se não te inclinasses sobre mim como um abutre.

Assim que acabou de pronunciar aquelas palavras, Colt arrependeu-se de o ter feito e sentiu-se como um traste. Daria o seu braço direito para não fazer Kaylee sofrer mas, a avaliar pela expressão do seu rosto, era isso mesmo que acabava de fazer.

Antes que tivesse tempo de pedir desculpa, o Dr. Carson quebrou a tensão que se tinha apoderado do ambiente.

– Parece que tens a clavícula partida, Colt, mas para termos a certeza, vou mandar-te para o hospital para que faças umas radiografias.

– Quanto tempo vou ter que ficar sem competir? – quis saber Colt.

– Depende de como a fractura evoluir, mas eu diria que entre dois e três meses – respondeu Carson.

Aquilo era a última coisa que Colt queria ouvir. Estava em terceiro lugar na classificação geral e tinha hipótese de vencer o campeonato nesse ano. Estar fora da competição durante tanto tempo acabava com todas as suas esperanças.

– Chamei uma ambulância para que o levem ao hospital – ouviu Kaylee dizer.

Tinha-se afastado da marquesa enquanto o médico falava com ele e Colt não a podia censurar. Tinha que lhe pedir desculpa.

– Kaylee?

Um homem vestido de azul marinho com um cartão de identificação ao peito que fazia saber que se chamava Forrester aproximou-se dele.

– Queres falar com esta rapariga tão engraçada que tem um estupendo par de…?

– Cuidado com o que dizes – advertiu Colt com cara de poucos amigos.

Não ia permitir que ninguém falasse assim de Kaylee.

– Pois esta menina é a irmã do meu melhor amigo.

Forrester encolheu os ombros.

– Tem graça, a mim não me parece nenhuma menina.

Colt cerrou os dentes perante a expressão lasciva do maqueiro.

– Ah, não? Então o que é que te parece?

– Cem por cento mulher – respondeu o homem com um sorriso.

Se não fosse a dor que lhe impedia os movimentos, Colt teria derrubado aquele homem ao murro.

– Não te preocupes, cowboy, já estava a sair quando nós entrámos. Já deve estar no hospital.

Colt não disse nada enquanto o conduziam até à ambulância. Sabia perfeitamente que Kaylee não ia estar no hospital à sua espera.

Depois do que se tinha passado há três anos atrás e de como lhe tinha falado naquela noite, teria sorte se lhe voltasse a dirigir a palavra algum dia.

 

 

Um mês depois de ver Colt no rodeo, Kaylee continuava a pensar nele. Era a última pessoa que queria ver e, a avaliar pela sua reacção, ele pensava o mesmo a respeito dela.

Kaylee serviu-se de uma chávena de café e passeou-se pela sala do seu pequeno apartamento antes de se ir aninhar no sofá.

Voltar a encontrar-se com ele tinha-a feito recordar momentos dolorosos que julgava já ter esquecido. Pelos vistos, não tinha.

No passado, aplaudir Colt e o seu irmão Mitch tinha sido uma tradição. Naquele horrível fim de semana, há três anos atrás em Houston, tinha ido com eles à competição.

O que tinha começado por ser um Sábado normal, rapidamente se tinha tornado uma tragédia. Colt tinha feito uma prova com êxito e tinha ajudado Mitch a montar o touro que lhe tinha sido atribuído.

Assim que a cancela se abriu, Kaylee apercebeu-se de que o seu irmão estava em apuros. O primeiro salto do animal tinha sido tão forte que Mitch tinha batido com a cara contra a nuca do touro.

Os outros participantes acorreram à arena para tentar distrair o animal. Mitch estava no chão em frente do touro. Sem se preocupar com a sua própria segurança, Colt tinha corrido em direcção ao seu amigo para o proteger.

Após se certificar que já lhe estavam a prestar os primeiros socorros, tinha ido buscá-la, tinha-a acompanhado ao hospital e tinha ficado à espera com ela enquanto Mitch estava na sala de operações.

Quando os médicos lhe deram a terrível notícia de que tinha perdido o seu único irmão, o seu único parente vivo, Colt estava ao seu lado.

– Mãe! – disse uma vozinha no corredor.

Ao ouvir que a sua filha tinha acordado da sesta, Kaylee afastou da sua mente aquelas terríveis recordações. Colocou a chávena de café sobre a mesa, pôs-se de pé e secou as lágrimas.

Agora, tinha que se preocupar com Amber e não com um passado que já não podia mudar.

– Tiveste um pesadelo, querida? – perguntou, pegando-lhe ao colo.

Amber negou com a cabeça e apoiou o rosto no ombro da sua mãe.

– Não faz mal. A mãe está aqui e não vai deixar que te aconteça nada de mal – disse Kaylee, abraçando a sua filha.

Quando ia para a sala para se sentar na cadeira de baloiço com Amber, tocaram à campainha e Kaylee pensou que tipo de vendedor seria desta vez e que produto estaria a vender.

Ligou o gravador e sorriu ao ouvir o ladrar do pastor alemão.

– Um dia destes, vamos comprar um cão de verdade com dentes enormes e um apetite insaciável para que se ocupe dos vendedores de porta em porta – disse à sua filha.

Depois, respirou fundo e abriu a porta com a corrente de segurança posta.

 

 

Enquanto esperava à porta, Colt ajeitou o braço que levava ao peito e olhou à sua volta. O prédio era de má qualidade e estava sujo. Porque é que Kaylee viveria ali e não no seu rancho de Oklahoma?

Durante o último mês, tinha pensado muito e tinha decidido que devia ir falar com ela para resolver as coisas.

Quando tinha tido ordem de sair da cama, tinha ido ao Lazy S, mas ali tinham-lhe dito que Kaylee tinha vendido o rancho e se tinha mudado para Oklahoma City pouco depois da morte de Mitch.

Tinha tido que recorrer à lista telefónica para a encontrar. Por sorte, só havia uma Kaylee Simpson na lista.

Nesse momento, a porta abriu-se.

– Não me interessa o que está a vender… Colt?

Colt afastou o chapéu de cowboy da cara e sorriu perante a gravação de um cão a ladrar.

– Essa cassete com um cão a ladrar serve mesmo para afugentar os vendedores de porta em porta? Kaylee ficou a olhar para ele como se não acreditasse nos seus olhos.

– O que é que estás aqui a fazer? – gaguejou.

Colt reparou que ela não parecia muito contente por vê-lo e tentou ser simpático.

– Agora que já viste que sou eu e não um vendedor de aspiradores, não te importarias de desligar o gravador? – sorriu.

– Desculpa – disse Kaylee, desligando o gravador. – Olá, Colt.

– Eu vejo – disse uma vozinha ao mesmo tempo que uns dedinhos em miniatura apareciam a segurar a porta.

Colt franziu o sobrolho.

– Não estás sozinha?

– Para dizer a verdade, não me apanhas no melhor momento – respondeu Kaylee, afastando os dedos da bebé da porta.

Ao ver que os seus olhos cor de violeta se enchiam de pânico, Colt sentiu-se mal.

– Estás bem, Kaylee?

– Sim – respondeu ela, assentindo.

– Eu vejo, mãe – insistiu a vozinha. – Eu vejo.

– Agora não, querida – disse Kaylee com afecto.

Colt sentiu-se como se lhe tivessem dado um murro na boca do estômago. Kaylee tinha um filho? Tinha-se casado?

– Temos que falar – disse, muito sério.

Tentou convencer-se que devia a Mitch preocupar-se com a sua irmã, mas a verdade é que queria saber o que é que se passava ali.

– Não me parece que tenhamos muito de que falar – respondeu Kaylee, encolhendo os ombros.

– Vá lá, Kaylee, vim desde Lonetree para falar contigo. O mínimo que podes fazer é conceder-me cinco minutos do teu tempo – insistiu Colt, apercebendo-se de que Kaylee estava nervosa.

Ao ver a expressão de derrota do seu rosto, Colt sentiu que lhe faltava o ar. Decididamente, ali passava-se qualquer coisa e ele estava decidido a descobrir de que se tratava.

– Kaylee?

Kaylee fechou a porta, retirou a corrente de segurança e voltou a abri-la.

– Desculpa a desarrumação – disse, deixando-o entrar e apontando para os brinquedos que havia no chão em frente ao sofá. – Não esperava visitas.

Colt voltou-se para lhe dizer que estava habituado a ver brinquedos espalhados por todos os lados em casa dos seus irmãos, mas as palavras recusavam-se a sair da sua boca.

O bebé que Kaylee tinha nos seus braços tinha o cabelo negro como azeviche. Tinha escondido a cara timidamente contra o pescoço da sua mãe, mas havia qualquer coisa naquela criança que provocou um arrepio na espinha de Colt.

– É tua? – perguntou com cautela.

Kaylee fitou-o durante o que lhe pareceu uma eternidade e assentiu.

– Sim, esta é a minha filha, Amber.

Ao ouvir o seu nome, a menina levantou a cabeça e, ao ver que o desconhecido a observava fixamente, voltou a esconder a cara.

Apesar da rapidez do seu movimento, Colt tinha conseguido ver os olhos azuis da pequena. Eram de um azul vivo que as suas cunhadas, Annie e Samantha, denominavam «azul Wakefield».

Colt sentiu que o seu coração batia com força e calculou que a menina devia ter a mesma idade que Zach, o filho do seu irmão Brant. A partir desse dado, não lhe custou muito fazer esse cálculo.

Engoliu em seco.

– É minha, não é, Kaylee?

Kaylee mordeu o lábio inferior. Colt sabia a resposta, mas precisava de ouvir da sua boca.

– Kaylee?

Kaylee respirou fundo e fitou-o com um ar de desafio.

– Sim, Colt. Amber também é tua filha.