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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2000 Kristi Goldberg

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Noite de louca paixão, n.º 568 - setembro 2019

Título original: Doctor for Keeps

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-297-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

 

Miranda Brooks podia ouvir o som suave de um saxofone, que chegava até ela como uma carícia. Apesar da tarde ter passado rapidamente, o céu ainda estava azul. Um aroma doce, de relva fresca recém-aparada, pairava no ar morno da noite, e mexia com os seus sentidos, enchendo-a de uma inexplicável expectativa.

Ela afundou-se ainda mais na longa cadeira acolchoada, ao lado da piscina, fechou os olhos e deixou que a música a embalasse, numa fantasia erótica. Era fácil imaginar um amante perfeito, num lugar como aquele.

– Acabem lá com esse barulho! – gritou alguém lá de cima, de um dos apartamentos.

A música parou subitamente. Espantada, Miranda abriu os olhos e ergueu-se sobre os cotovelos. Olhou à volta da piscina, mas estava tudo tão vazio como antes. Tinha sido, aliás, aquela solidão que a atraíra para ali.

Descobria agora que não tinha estado sozinha, e que a música não vinha de um altifalante, como pensava. Alguém de carne e osso tinha estado a tocar.

Uma vez mais, examinou a área em torno da piscina, à procura de sinais desse músico misterioso.

Foi então que Miranda o viu.

A poucos passos mais à frente, diante da porta aberta de um dos apartamentos, estava uma silhueta masculina. Parecia uma sombra, mas, ainda assim, notava-se que olhava para ela. O homem movimentou-se sob a luz da lâmpada, com o saxofone na mão, e o coração de Miranda pulou em falso. Era um homem bastante alto, com uma presença marcante. Era, porém, impossível visualizar as suas feições. Desistindo de conseguir vê-lo melhor, ela voltou a afundar-se na cadeira. Talvez já fossem horas de ir andando... Mas não. Ainda gostaria de descobrir algo mais sobre aquele músico misterioso. O som de uns passos firmes sobre o cimento rompeu o silêncio.

– A senhora está bem? – perguntou uma voz firme e profunda, ao seu lado.

Lentamente, Miranda ergueu a cabeça, e ficou como que hipnotizada pelos olhos negros e brilhantes daquele estranho, que se destacavam num rosto másculo. Os seus cabelos eram também muito negros e estavam despenteados, com uma madeixa a cair-lhe sobre a testa, como se tivesse acabado de sair da cama, ou dos braços de uma mulher.

Tinha um único brinco de ouro, no lóbulo da orelha esquerda, que reluzia como uma estrela num céu escuro. Envergava umas calças pretas, largas e desportivas, e uma camisa com as mangas arregaçadas. Era detentor de um ar perigosamente sedutor. Parecia um sonho transformado em realidade.

Miranda ergueu-se, devagar, puxando a saia curta para baixo, enquanto se levantava.

– Sim, estou bem. Porque é que pergunta?

Para surpresa de Miranda, ele puxou uma cadeira, como se tivesse sido convidado a sentar-se, e colocou o saxofone sobre uma perna.

– Você estava tão sossegada... e vestida. Não gosta de apanhar sol?

– O sol já se pôs há muito tempo.

Ele sorriu, deixando ver uma fileira de dentes fortes e brancos, e olhou para o céu.

– Tem razão. Sendo assim, por acaso não terá bebido um pouco? Daí ter ficado sonolenta...

– Porquê? Pareço-lhe bêbada?

– Não, não me parece... mas sabe que às vezes as aparências iludem – ele piscou o olho. – Até os anjos e as deusas bebem às vezes.

O rosto de Miranda foi inundado por um rubor intenso, devido ao elogio insinuado.

– Posso garantir-lhe que estou completamente sóbria, senhor...

Ele estendeu a mão.

– Rick, apenas.

Após ter hesitado por uns momentos, Miranda estendeu a mão e, tal como suspeitava, o aperto dele era forte, o que o tornava ainda mais interessante.

– Prazer em conhecê-lo, Rick, chamo-me Randi – por alguma razão desconhecida, ela acabou por lhe dar o seu apelido de infância, coisa que não costumava fazer com estranhos.

– O prazer é todo meu, Randi. Hum... Rick e Randi. Soa bem, não acha?

– Parece a combinação de uma dupla de cantores – retorquiu, irónica.

Ele parecia nem se ter dado conta do tom sarcástico, pois fez um amplo sorriso.

– Então, Randi, o que é que a trouxe para a piscina a meio da noite?

– Bom, ainda só são dez horas, e não propriamente meia-noite, e achei que aqui fora deveria estar um ar agradável.

Rick assumiu uma expressão constrangida.

– E eu vim perturbar a sua tranquilidade com o meu saxofone.

– Para lhe ser sincera, a música até me estava a agradar. Pensei que vinha de algum altifalante.

– Sinto-me muito lisonjeado – ele apontou com o dedo. – Acho que o vizinho lá de cima é que não é da mesma opinião.

Por cima do ombro, Miranda olhou para o sítio que ele tinha indicado. Era o apartamento imediatamente por cima do dela.

– Parece que não – concordou. – Costuma fazer isso com frequência?

– Abordar mulheres desconhecidas?

Miranda revirou os olhos, um pouco impaciente.

– Não. Tocar saxofone para toda a gente ouvir.

– Nunca. Não moro aqui, sabe?

– Não mora aqui? – Miranda sentiu-se ligeiramente desapontada.

– Estou só a tomar conta do apartamento de um casal amigo. Eles estão de férias, e não me custa fazer-lhes um pequeno favor.

Há tanta violência no mundo, pensou Miranda. Será que poderia confiar nele? E se fosse um malfeitor? Ou um psicopata?

– Ei, não se preocupe... Eu não faço mal a ninguém. Sou inofensivo – reivindicou, como se lesse os pensamentos dela.

Ele era tudo, menos inofensivo. Certamente, não um criminoso, mas poderia causar muitos estragos com o seu charme.

– Hoje em dia, temos que ser cautelosos – explicou ela.

– Concordo consigo – admitiu Rick.

– Acabem com esse barulho! Vão conversar para dentro de casa!

– Parece que o vizinho incomodado está de novo a protestar.

Rick olhou para cima, de onde o vizinho protestava, e resmungou:

– O nosso amigo está nervoso! – e, com aquele sorriso irresistível, convidou: – Vamos?

– Vamos o quê? – perguntou, surpreendida.

– Vamos para dentro.

Miranda sentou-se, direita, resignada por ter que terminar a conversa.

«Talvez seja melhor assim», pensou ela. «Ele é demasiado atraente.»

– Bom, devo mesmo ir para dentro. Tenho que me deitar cedo.

Rick coçou o queixo, pensativo.

– O vizinho ainda é capaz de vir atrás de mim – gracejou. – Pode-me acompanhar até ao apartamento?

O convite aliciou Miranda, tentando-a.

– Hum... Você parece-me bem capaz de se defender sozinho. Além do mais, o seu apartamento é já ali.

Ele suspirou notoriamente.

– Quer-me tornar as coisas difíceis, não é?

Miranda fez um ar inocente, e levou a mão ao coração, imitando uma donzela antiga.

– Não faço a menor ideia do que quer dizer com isso.

Rick agachou-se, para ficar ao nível dela, e descansou o saxofone sobre os joelhos. Ela sentiu-se envolvida por um aroma fresco de perfume masculino, e os olhos negros dele quase a hipnotizaram.

– Quero dizer que adoraria tê-la por companhia para tomar alguma coisa no meu apartamento. Só para conversar.

O bom senso de Miranda dizia-lhe que devia recusar e ir para casa. Sabia que a melhor coisa a fazer seria despedir-se e permanecer longe dele. Mas o que devia fazer e o que queria fazer eram duas coisas completamente diferentes.

Vendo bem, um homem muito interessante acabara de a convidar para tomar um copo. Não era um acontecimento assim tão banal. E era um homem muito, muito bonito. Daquele tipo que povoa o imaginário feminino.

– E o que é que podemos tomar? – perguntou ela.

– Podemos beber leite. Sumo de laranja. Aquilo que você quiser.

– E se for tequilla?

O riso dele, afável e sensual, ecoou no silêncio.

– Eu não bebo álcool. É perigoso.

Era um ponto a favor dele. Pelo menos, não era um beberrão. No entanto, as experiências desagradáveis que Miranda já tinha tido ressurgiram-lhe na mente, e voltou a acautelar-se.

– Peço desculpa, mas não posso aceitar. Afinal de contas, não nos conhecemos bem.

– E se eu lhe der o número de telefone da minha mãe, para lhe pedir referências?

– Acho que não ia ser suficiente – disse ela, sorrindo. – As mães nunca acham defeitos nos filhos.

Um brilho húmido insinuou-se nos olhos de Rick. Talvez fosse tristeza, à mistura com algum pesar, mas logo se desvaneceu.

– Tem razão – em silêncio, sentou-se ao lado de Miranda.

Os olhos dela foram atraídos pelas mãos másculas, grandes, fortes e, com certeza, com muitas habilidades.

– Está bem – continuou Rick, – se está com receio de entrar no meu apartamento, faço outra sugestão. Ponho duas cadeiras na varanda. Deste modo, poderemos sair desta área, onde cada palavra que falamos parece ser escutada pelo condomínio inteiro. Assim ficaremos longe dos ouvidos dos vizinhos, e você poderá fugir, caso se sinta ameaçada.

– Está a insinuar que me vai dar motivos para fugir?

Ele franziu o sobrolho.

– Francamente, pareço-lhe ameaçador?

Sim, parecia. Considerando isso em termos de sexo. E por aquilo que a fazia sentir quando estava ao pé dele.

– Talvez... – divagou Miranda.

Rick inclinou-se sobre ela, fazendo-a inalar uma vez mais o seu aroma másculo. O luar fazia reflexos prateados nos seus cabelos negros. A sua pele era bronzeada e lisa, convidando ao toque. Miranda sentiu-se, de súbito, invadida por um desejo urgente de o tocar. As suas mãos chegaram a erguer-se para o gesto, mas ela apertou-as com força, no intuito de se controlar.

– Prometo manter-me à distância, se prometer fazer-me companhia. Não quero ficar sozinho. E a noite está demasiadamente bonita para que me vá já deitar.

Miranda esperou que ele acabasse de falar quando disse «sozinho», mas ele não o fez. Por momentos, considerou o convite. O que é que tinha de mal tomar uma bebida na varanda de um vizinho? Uma pequena aventura?

Os seus instintos de mulher queriam correr o risco. Afinal, não tinha decidido começar uma vida nova, quando se mudou para aquele lugar e quando aceitou um novo emprego? Ao longo dos seus vinte e cinco anos, quase sempre construíra uma muralha à sua volta para manter toda a gente afastada. Já era hora de a derrubar.

– Está bem, aceito tomar um copo – concordou. – Mas só um. Tenho que me levantar cedo para trabalhar, amanhã.

Um sorriso feiticeiro iluminou a noite.

– Óptimo!

Quando Rick lhe estendeu a mão, Miranda hesitou, mas logo a segurou, permitindo que ele a ajudasse a levantar-se. Quando se pôs de pé, ele soltou-lhe a mão. Mais uma vez, sentiu um certo desalento.

Em silêncio, seguiu-o até ao apartamento, e esperou que ele voltasse com as duas cadeiras.

– Então, o que é que vai tomar? Leite ou sumo de laranja? Também tenho cerveja – aprontou-se ele a oferecer.

– Prefiro cerveja – respondeu Miranda, admirando-se com a sua própria escolha. Nem sequer gostava de cerveja!

– Aguarde um momento... Eu já volto – Rick deu meia volta e desapareceu de novo para dentro de casa.

Miranda nem queria acreditar que tinha aceitado tomar uma bebida na casa de um perfeito desconhecido. Se bem que ele era simpático e bem-educado, não deixava de ser um estranho. Mas, tinha que admitir que se sentia curiosa. Como é que um homem tão bonito e sexy se encontrava sozinho e carente de companhia?

Bom, pensou ela, na verdade o condomínio não estava cheio de louras maravilhosas no domingo àquela hora. Miranda não se considerava bonita, e daí deduziu que Rick só a tinha convidado para sair porque não havia outra mulher disponível.

– Aqui tem – Rick entregou-lhe uma lata de cerveja. Ela deteve-se a contemplar a penugem escura que cobria o braço dele. Achou os seus dedos, quadrados e longos, fascinantes. Na verdade, achava que todo ele era fascinante.

– Não conheço esta marca – notou, ao olhar para a lata que ele lhe oferecia. – É importada?

– Não, é nacional – respondeu ele, enquanto se sentava ao lado dela. – É a preferida do meu amigo. Se não gosta, posso trazer-lhe outra coisa.

– Não, está bem, obrigada.

Depois de beber um gole, Rick perguntou:

– Há quanto tempo mora neste condomínio?

Miranda ficou pensativa por uns segundos. Tinha passado as duas últimas semanas no meio de desempacotamentos e arrumações. Eram os seus primeiros passos em direcção à independência.

– Quinze dias.

Ele esticou as suas compridas pernas, com uma graciosidade felina.

– Você é mesmo daqui? – perguntou.

– Na verdade, não – o olhar dela deambulou, perdido, pelo horizonte dos altos edifícios de Dallas, tão diferente do horizonte rural onde tinha crescido e ao qual estava habituada.

– Sou de uma pequena cidade, perto de Luuisiana, a leste do Texas.

– Está muito longe de casa, então.

Enquanto Rick dava outro gole, Miranda entreviu o seu peito largo através da camisa, onde brilhava uma corrente de ouro.

Logo viu-se obrigada a voltar o olhar para o rosto dele e a empenhar-se numa conversa social.

– E você, é de onde?

– San Antonio.

Nas duas vezes em que estivera em San Antonio, Miranda tinha adorado a sua atmosfera romântica. Nunca lá tinha ido com um namorado, mas já tinha fantasiado com um romance naquela cidade.

– É um lugar muito bonito.

– Aposto que gostou da área central. O Álamo, River Walk.

– Como é que sabe?

– É fácil. Você tem uns olhos muito românticos.

Rick aproximou-se.

– Os seus olhos são misteriosos e inteligentes. Como se já tivesse vivido muito mais do que o habitual para a sua idade.

Miranda era jovem e não tinha viajado muito, mas já tinha passado por muito sofrimento e, de um modo inexplicável, ele parecia saber disso. Talvez fosse algum detective particular disfarçado. Ou talvez possuísse dons adivinhatórios.

Um pouco nervosa, ela sorriu.

– Sou apenas uma jovem do interior que veio para a cidade grande. Creio que vou descobrir muito sobre o mundo nos próximos meses.

– Trabalha em quê? – perguntou ele.

– Sou enfermeira.

Após um momento de silêncio, mostrou-se interessado.

– A sério? Trabalha num hospital ou num consultório médico?

– É verdade. Trabalho para um grupo de médicos – e era esse o motivo por que necessitava de se deitar cedo, pensou. Mas o seu apartamento em desordem, cheio de coisas espalhadas, não era uma ideia atraente.

Rick esboçou um sorriso.

– É uma profissão árdua. O que a levou a escolhê-la?

– É preciso haver um motivo para a escolha?

– Tenho reparado que a maioria dos profissionais de saúde tem sempre uma experiência de vida que motiva a sua escolha.

Sim, de facto ela tinha um motivo, mas não iria entrar em pormenores com um estranho, por mais simpático que ele fosse.

– Eu disso não sei. Também não tenho lá muita simpatia pelos médicos.

Recostando-se de novo na cadeira, Rick fez uma expressão admirada.

– Tem alguma razão em especial?

– Os médicos são autoritários, perfeccionistas e egoístas.

– Acho que está a fazer uma generalização exagerada.

– Talvez, mas eu tenho convivido com alguns que se julgam deuses, incapazes de errar.

Ele voltou a rir-se. Um riso profundo que vibrou dentro do coração de Miranda.

– Alguns dos meus amigos são médicos. Por exemplo, o dono deste apartamento também é médico.

Um pouco constrangida, ela rectificou:

– Peço desculpa, não foi minha intenção depreciar os seus amigos.

Porém, Rick parecia mais divertido do que ofendido.

– Deixe lá! Isso não é nada. Talvez até tenha razão.

Miranda sentiu-se mais descansada, e acomodou-se melhor na cadeira.

– Qual é a especialidade do seu amigo?

– Ele especializou-se em cirurgia toráxica.

Ela não pareceu surpreendida. Devido à sua proximidade do hospital, e à sua renda barata, viviam muitos médicos naquele condomínio.

– Que maçada! Isto por aqui está cheio de mosquitos! – exclamou Rick, dando uma sacudidela no próprio pescoço.

– Acho que está na hora de irmos para dentro – sugeriu Miranda, hesitante.

– Mas você ainda nem acabou a cerveja...

Miranda perguntou-se se deveria ou não ficar. Sentia-se indecisa, com medo de fazer a escolha errada.

– Para lhe ser sincera, não sou uma grande apreciadora de cerveja – confessou.

– Então, se quiser, posso servir-lhe outra coisa.

– Não, obrigada, tenho mesmo que ir – respondeu, sem muita convicção.

Rick pousou a sua lata de cerveja sobre o chão de cimento, e puxou a sua cadeira para mais perto.

– Fique só mais um pouco.

Dentro da cabeça de Miranda, uma voz insistente não cessava de lhe repetir que ela deveria usufruir do momento.

– Tome. Acabe isto por mim – disse, empurrando para ele a sua lata de cerveja.

Rick estendeu a mão e os dedos de ambos roçaram-se. Esse breve toque surtiu um efeito de choque eléctrico: produziu uma série de arrepios ao longo das costas de Miranda. Os olhos negros fixaram-se nos dela, como se ele conhecesse o seu desejo secreto de ficar.

– Não vá ainda, Randi.

Miranda sentiu que a sua pele ardia, onde ele a tocara. Não era uma sensação de menosprezar.

– Não sei...

– Só mais um pouco – Rick desenhava círculos na borda da lata, lentamente. Miranda teve a sensação de que ele lhe acariciava os lábios.

De repente, como um choque, ambos tiveram consciência disso.

Naquele momento, Miranda não conseguia imaginar nenhum outro lugar onde desejasse estar. Por certo, não em casa, sozinha, como tinha estado a maior parte da sua vida. Afinal, viver era correr riscos.

– A sua oferta ainda está de pé? – perguntou ela.

– Qual oferta? – indagou ele, em tom de surpresa.

– O convite para entrar no seu apartamento.

Ele ergueu uma sobrancelha.

– É isso mesmo que quer?

– Sim. Torna-se desagradável estar cá fora com estes insectos.

Contudo, subitamente, Rick parecia pouco à vontade.

– Está bem. Deixarei a porta aberta. Prometo que não lhe vou morder. Deixo essa tarefa para os mosquitos.

A voz meio rouca de Rick deu asas à imaginação de Miranda, que se questionou sobre se ela soaria da mesma forma na cama. Cativante e sensual.

Miranda apercebeu-se de que o seu pulso se tinha acelerado. Aquele homem exercia um incrível fascínio sobre ela. Era uma ousadia ficar sozinha com ele dentro de casa. Após alguma hesitação, ela propôs:

– Bom... se não for conveniente... talvez numa outra altura.

– De maneira nenhuma, eu é que convidei, venha... mas, primeiro, tenho uma confissão a fazer.

Considerando aquele sorriso tentador, Rick deveria ter muitas confissões a fazer.

– Pode começar. Sou toda ouvidos.

– Mark e Angie Wilson, os donos deste apartamento, disseram-me que eu deveria conhecer uma jovem chamada Miranda, do apartamento 1412. Por acaso não será você?

Por fim, a verdade. Não fora um encontro casual, ou o dedo do destino. Bem ao modo das suas fantasias.

– Sim, chamo-me Miranda. Randi é o meu apelido – de repente, Miranda lembrou-se de Angie, quando se lhe apresentou na lavandaria. – Eles têm uma menina aí de uns três anos, não é?

– Têm. Chama-se Emma – disse, orgulhoso. – É a menina mais linda do mundo. Mas eu sou suspeito. Sou padrinho dela.

Não haveria ninguém que, mostrando tanto carinho por uma criança, pudesse ser mau de todo.

– O que é que Mark e Angie falaram acerca de mim? quis saber – Miranda.

Rick desviou o olhar, como se o assunto o deixasse pouco à vontade.

– Angie disse que você era solteira, e que parecia ser muito simpática.

Miranda questionou-se sobre que tipo de julgamento poderia Angie fazer dela, quando só tinham conversado cinco minutos, no meio de máquinas a lavar roupa.

– Foi muito gentil da parte dela.

– Mas Mark, que baseou a sua opinião apenas na observação, teceu outros comentários...

– Ai sim? E fez críticas?

Rick sorriu.

– Não. Foram apenas comentários masculinos. Do tipo, lindos cabelos, lindas pernas... E tinha razão, sobre a maioria deles.

re inocente. Depende daquilo que quer dançar. Mas, às vezes, pode ser perigoso... Um tango? Uma salsa?

Miranda imaginou-se a dançar com ele ao ritmo de uma dança sensual.

– Prefiro uma dança mais lenta.

Ele hesitou, mas por pouco tempo.

– Não posso recusar o convite de uma bela mulher – retorquiu, oferecendo-lhe a mão.

Miranda depressa se arrependeu da ideia. O seu último par numa dança tinha sido o seu pai, há dez anos atrás, antes dele aparecer na sua vida.

– Esqueci-me de avisar que não danço bem. Não espere muito de mim como companheira de dança – avisou ela.

Com os seus olhos negros, ele deteve-a.

– Não espero nada além de uma dança, Randi. E só vamos dançar porque você deu a sugestão.

Era verdade. Sem mais nada dizer, ela entregou-se nos braços dele.