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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Carol Hamilton Dyke

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Interferências, n.º 628 - março 2020

Título original: The Billionaire Affair

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1348-251-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

– A semelhança é incrível, Caroline. Tu poderias ter sido a modelo do pintor. Anda cá e dá-me uma espreitadela nisto.

A mão longa e ossuda de Edward Weinberg oscilou no ar, chamando a assistente. Carol colocou na sua mesa a lista de convidados para a abertura da exposição e aproximou-se do dono da galeria e coleccionador de arte para quem trabalhava. Um empregado uniformizado tinha acabado de trazer para o salão um quadro a óleo, devidamente colocado num cavalete e coberto por um tecido.

Edward retirou a protecção e exibiu a pintura, orgulhoso, mas o seu comentário sobre a analogia das feições era irrelevante. Carol estava ansiosa, na verdade, por apreciar a obra-prima renascentista que o filho do patrão, Michael, conseguira adquirir num leilão, dias antes.

Cuidadosamente restaurado, autêntico, acima de qualquer dúvida, o quadro perdido do famoso pintor J. Lassoon provocara alguma agitação no mundo da arte.

Carol tinha aproveitado a viagem ao norte de Inglaterra para pesquisar algumas peças raras em castelos meio arruinados, e com isso perdera toda a excitação do leilão, do qual Michael saíra vencedor.

– O que será mais importante para o futuro dono do quadro? O prestígio ou o valor patrimonial? – Ela olhou para Edward com os profundos olhos cor de violeta a revelarem uma expressão curiosa.

O patrão mostrava-se embevecido na contemplação da obra. A sua figura frágil e elegante parecia capaz de levitar ao menor golpe de vento. Mas ele era forte e resistente. Recorrendo à intuição, Carol poderia apostar todo o seu dinheiro no prestígio. Edward sabia manipular a vaidade dos seus ricos clientes.

A Galeria Weinberg, com sede em Londres, gozava de boa reputação. Para isso, só oferecia quadros e objectos decorativos de primeira qualidade. A aquisição da obra de Lassoon somava alguns pontos nessa fama.

– Olha bem e tira as tuas conclusões – pediu o velho homem.

Ele tinha razão. Existia uma semelhança admirável entre Carol e a modelo. Mais do que admirável, estranha e sobrenatural.

Reclinada sobre a relva de uma colina, com uma cidade medieval esboçada ao fundo, a modelo do artista segurava nos dedos uma rosa vermelha. As feições confundiam-se com as de Carol doze anos antes, quando ela tinha dezassete. Cabelos pretos e brilhantes espraiavam-se sobre o colo, de pele translúcida. O nariz fino e nobre contrastava com os lábios cheios, entreabertos num sorriso misterioso. Os olhos eram cor de violeta, como os dela. Sonhadores e perdidos de paixão.

Até o título do quadro soava perfeitamente bem: Primeiro Amor.

Um arrepio percorreu a espinha de Carol. Ela realmente parecia-se com aquela figura na época em que amava Benjamin Dexter com todas as forças do seu jovem ser. Poderia mesmo ter acabado por morrer de paixão, como comentavam algumas colegas de escola.

Mas isso não aconteceu. Pelo contrário: a verdade assaltou-a violentamente, com o seu vasto poder de destruição e, igualmente, de amadurecimento emocional. Vira Ben Dexter abandoná-la, depois de ter negociado uma boa soma de dinheiro com o seu pai. Nos seus olhos de cigano, ele tinha um certo brilho de satisfação pelo negócio bem concluído. Um golpe cruel na auto-estima da jovem.

Ela afastou bruscamente os seus olhos do quadro, desejando nunca o ter contemplado, de modo a despertar lembranças sepultadas no fundo da mente. O esquecimento custara-lhe uma alta dose de força espiritual, para que o episódio não deixasse marcas indeléveis nem danos insuperáveis.

Calado, Edward inclinou para Carol a cabeça coberta por cabelos grisalhos, imaculadamente penteados. Ela dirigiu-se à sala de Michael, a fim de discutir os arranjos finais para a iminente exposição. Antes, porém, foi abordada pela secretária particular dele, Lynn, que se preparava para sair e almoçar.

– Deixei algumas cartas sobre a mesa do senhor Edward, para ele assinar – avisou Lynn. – O relatório dos contabilistas acaba de chegar e também precisa de ser visto. Michael quer que o acompanhe à noite, ao restaurante de sempre. Parece que ele tem já alguém interessado no Primeiro Amor.

Seria a rotina usual. Champanhe e canapés dentro da galeria, depois o jantar numa dos mais sofisticados restaurantes da cidade. Como assistente executiva, era tarefa de Carol exaltar as virtudes da obra e espicaçar o interesse do cliente.

Lynn saiu, de mala a tiracolo, enquanto ela se aproximava da mesa de Michael.

– Não vais colocar o quadro de Lassoon na próxima exposição? Alguém foi mais rápido?

Na realidade, as exposições abertas ao público incomodavam Edward Weinberg. Ele preferia visitas particulares de verdadeiros apreciadores de arte, desde que contassem com uma choruda conta bancária. Discretamente, apresentava-lhes e oferecia as novas atracções da casa, no fim da tarde, e tinha orientado Michael no sentido de fazer o mesmo.

Depois, o filho e a assistente levavam o interessado a jantar, concluindo, então, o negócio.

– Parece que o meu cliente está bem informado, já que os jornais deram ampla cobertura à aquisição do Primeiro Amor. Deve conhecer o valor da obra.

Ele recostou-se na cadeira giratória e, com os penetrantes olhos castanhos, aprovou o charme e a elegância de Carol. A assistente estava sempre pronta para um compromisso profissional. Além de bonita e bem vestida, era muito inteligente. Sob a moldura dos cabelos negros, porém, ela escondia-se num desafio de mulher pouco acessível, de coração fechado.

Michael rolou a sua caneta entre os dedos, ponderando se, num qualquer dia do passado, Carol permitira que um homem a beijasse e possuísse. Tinha as suas dúvidas; devia ser muito difícil conquistá-la.

Isso não significava frieza. Carol devolvia o olhar dele com uma calorosa apreciação. Atraente, Michael possuía um ar viril e era simpático, quase bonito. Vestia um caro fato feito sob medida, como convinha a um jovem negociante de arte, mas que não ofuscava a expressão informal de um desportista.

– Almoças comigo? – perguntou ele, baixando finalmente o olhar para arrumar alguns papéis sobre a mesa. – Há um restaurante novo na praça Berkeley, que eu gostaria de conhecer.

Michael temeu que Carol recusasse o convite. Afinal, era um homem recentemente divorciado e, quando saíam juntos para lanchar, as conversas tendiam a derivar para o nível pessoal. Mesmo sem confidenciar muita coisa, o comerciante deixara claro que gostaria de estreitar a amizade com Carol, aspirando a um relacionamento mais íntimo.

Ela suspirou ligeiramente. Perto dos trinta anos, sentia que era chegada a hora de fazer uma escolha: permanecer solteira, cultivando apenas a carreira e uns poucos amigos, ou confiar outra vez num homem, ter filhos…

– Desculpa – Carol declinou suavemente da sugestão. – Tenho algum trabalho atrasado. Parece que agora o relógio passa a vida a atropelar-me.

Acalmou a sua ansiedade dizendo a si mesma que ainda não havia chegado o tempo da escolha.

 

 

Trabalhando rapidamente, Carol ganhou algum tempo para sair uma hora mais cedo. Precisava de voltar ao seu pequeno apartamento e trocar de roupa para estar de novo na Galeria Weinberg no máximo às sete horas. Ainda que todos aprovassem a sua boa aparência, queria apresentar-se da melhor forma possível diante do importante cliente de Michael.

Gostaria de ligar o seu aparelho de som, em volume baixo, e ler um bom livro. Era a sua rotina de relaxamento, quando não tinha qualquer compromisso.

Naquela agradável noite de Abril, porém, sabia que não suportaria ficar em casa. Quanto antes vendesse o tal quadro renascentista, melhor. Assim, evitaria enfrentar a complicação cruel que a memória lhe preparava. Imaginara que bastaria ir para casa ou cobrir a tela para a esquecer. Mas isso não estava a acontecer.

Vestiu-se e perfumou-se com esmero após o banho, não porque temesse frustrar um visitante sofisticado, mas porque aquele ritual lhe parecia indispensável para acalmar a sua própria angústia.

Retornou à galeria a tempo de aprovar a temperatura do champanhe e os preparativos do empregado contratado para aquela noite.

– Elegante como sempre, Ivan – elogiou-o, concentrada no empregado a fim de evitar o quadro exposto, já discretamente iluminado por focos de luz. A visão da jovem figura retratada despertava-lhe um evidente mal-estar.

Tentou convencer-se de que era apenas uma pintura, afinal. Ben Dexter já não significava nada para ela, fazia doze longos anos, e o resíduo de mágoa que sentia só poderia ser atribuído a um surto de auto-piedade.

Encolheu os ombros, forçando a memória a aquietar-se. Aquelas recordações tinham de terminar.

– Não precisa de ficar até mais tarde, Ivan. Depois de servir, pode ir-se embora. Os dois seguranças abrir-lhe-ão a porta. Também está escalado para a exposição?

– Claro. É no sábado, não é? Se a senhora a organizou, será perfeita.

– Não brinque comigo – ironizou, mesmo sabendo que o homem de meia-idade, de olhos pequenos e corpo de dançarino, estava certo.

Um minuto depois, Edward Weinberg cruzou a entrada, escoltado pelos vigilantes e pelo seu convidado. Carol fechou os olhos; não queria ver a cena surpreendente. As agitadas batidas do seu coração quase a sufocaram.

– Querida, permite-me que te apresente Benjamin Dexter. Ben, esta é a minha assistente e o meu braço direito na galeria, Caroline Harvey.

Ben Dexter! O homem que lhe tirara mais do que dera, que tomara posse do seu corpo e alma, jovens demais para um golpe tão impiedoso. Pelo menos, pensou amargamente, ele desaparecera da sua vida, com dinheiro no bolso, sim, mas sem a deixar com um filho no colo.

Ela forçou as pálpebras a abrirem-se, suportando a presença daquele traidor. Encontrou o mesmo olhar de cigano, as ondas negras dos cabelos, a curva sensual da boca. Teve vontade de o esbofetear pelo que ele lhe fizera no passado.

Ben tinha-a enganado. Afirmara que a amava e a queria para sempre. Ingénua e apaixonada, ela acreditara no namorado e cedera aos seus encantos. Agora, doze anos mais tarde, o destino irónico trouxera-o das cinzas, talvez para desafiar a sua capacidade de autocontrole.

Ele estendeu-lhe a mão quente, que Carol apertou desviando o olhar e o sorriso para Edward. Era estranho que, por dentro, pudesse estar a ferver, enquanto os seus dedos permaneciam frios. Foi salva pelo empregado. Ivan ofereceu uma taça de champanhe ao visitante, obrigando-o a segurá-la.

– Prazer, menina Harvey. – Embora formal, o tom de Ben abalou-lhe os nervos. Podia lembrar-se daquela voz, das palavras sedutoras que já articulara. Sedutoras e mentirosas.

Ele afastou-se, pelo braço de Edward, carregando a sua taça. O dono da galeria certamente não desconfiara de que eles se conheciam e tinham feito amor ao longo de todo um longínquo Verão, quando o mundo parecia inundado pela magia da paixão.

Constrangida, Carol concluiu que fizera o mais sensato, ao ocultar ao seu chefe que conhecia Ben Dexter. E se ele a tivesse esquecido inteiramente? As mentiras que ele costumava falar deviam ter-lhe proporcionado, em todos aqueles anos, uma legião de mulheres dispostas a abandonarem-se nos seus braços.

 

 

Entre canapés de salmão e goles de champanhe, o negócio envolvendo o quadro Primeiro Amor foi concluído na sala particular de Edward. Para seu alívio, a assistente só participou do acordo por meio da entrega do certificado de autenticidade. Do lado de fora, no salão, ficou a observar a obra e a pensar em como Ben Dexter teria reunido o dinheiro suficiente para comprar o quadro. Tornara-se rico na indústria, no comércio, ou extorquindo dinheiro a pais preocupados com a felicidade das suas filhas?

Doze anos depois, ele estava mais bonito do que aos dezanove. Os ombros tinham-se alargado, as feições adquirido um ar sóbrio e os lábios que ela beijara com arrebatamento tinham ganho uma linha de fria determinação.

Na mesa do restaurante, saboreando as iguarias oferecidas por Michael Weinberg, Carol imaginou uma desculpa para sair dali logo depois da refeição. Ela dispensava qualquer conversa social com Ben Dexter e apenas ouvia, com forçada atenção, o diálogo dos homens sobre política e economia. Bruscamente, o convidado mudou de assunto.

– Como veio trabalhar na prestigiosa Galeria Weinberg, menina Harvey? Ou posso chamá-la Caroline?

Era um pretexto odioso para se insinuar, e a questão podia ser interpretada como um insulto, desqualificando o profissionalismo de Carol.

– Pelo caminho normal, senhor Dexter – respondeu-lhe, olhando-o com um ar de desafio que encobria a raiva. – Fiz um curso de pós-graduação em artes e estagiei em alguns museus. Soube que o senhor Edward procurava uma assistente, candidatei-me e fui contratada. – Desviou a vista para o jovem patrão. – Espero estar a corresponder às suas expectativas.

– Não há dúvida alguma a esse respeito – interveio Michael.

– Então, fez uma bela carreira. Nunca se casou, Carol? – Ben cravou os olhos na mão esquerda da mulher, que pousava os talheres na mesa.

Sem aguardar aprovação formal, ele tinha-a chamado de Carol. Como no passado, com suavidade e doçura. O coração dela acelerou-se dolorosamente. Ben sabia despertar boas recordações.

– Não, nunca encontrei alguém que correspondesse aos meus padrões – rebateu com desdém. – E você, é casado ou solteiro?

Michael franziu a testa, incomodado com o tom pessoal da conversa. Aquilo nunca tinha acontecido antes, entre Carol e algum cliente. Mas fora Dexter quem iniciara o assunto.

– O casamento nunca me atraiu – respondeu ele, esboçando um sorriso de tédio.

Claro que não, pensou Carol. Ben gostava de trocar de mulher como quem muda de camisa. Tais palavras arranharam-lhe a ponta da língua, mas engoliu-as. Se as tivesse dito, provavelmente seria imediatamente despedida.

Aproveitando-se da chegada do empregado, que veio recolher os pratos, Carol pediu licença e refugiou-se na casa de banho. Tinha visto, nos olhos de Ben, que ele a reconhecera. Não mudara tanto assim, desde os dezassete anos. Tinha ganho um bonito e desejável corpo de mulher, bem como um ar de sofisticação, acentuado pelo carrapito que prendia os seus cabelos negros no alto da cabeça.

Ocuparia um lugar especial na lembrança de Ben Dexter? Será que ele se recordava de todas as mulheres que levara para a cama, fingindo amá-las para sempre?

Aquilo não tinha a menor importância, decidiu. Um retoque no baton, mais alguns minutos na companhia dele, e nunca mais o veria. Antes de sair da casa de banho, ligou o seu telemóvel e chamou um táxi, determinada a escapar-se da reunião o mais rápido possível.

Momentos depois, ao voltar à mesa, Michael insistiu para que ela escolhesse uma sobremesa.

– Obrigada, mas vou recusar. Tenho um dia terrível amanhã e tenho de me ir embora.

Não havia nenhum problema quanto a isso. O patrão sabia como a assistente andava ocupada com a nova exposição, que seria inaugurada no fim-de-semana. Com um sorriso educado, ela ergueu-se e recolheu a sua capa. Os homens levantaram-se, polidamente.

– Foi um prazer conhecê-lo, senhor Dexter – mentiu.

– Não me decepcione, Carol. O meu motorista virá buscar-me daqui a dez minutos e ficarei contente em levá-la. Podemos tomar um café expresso, enquanto esperamos.

– É muito gentil, mas o meu taxista habitual já está a caminho. Vou aguardá-lo na entrada. Espero que aproveite o seu café e cumprimento-o pela sua nova aquisição. Parabéns.

Carol recebeu um breve sorriso enquanto se afastava. Não sabia por que razão o jovem magnata lhe oferecera boleia. Certamente, não poderia acusá-lo de maneiras rudes, ao contrário do que acontecera nos velhos tempos. De qualquer modo, com igual fineza, ela mostrara a Ben que este nem sempre podia ter tudo o que desejava.