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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Penny Jordan Partnership

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Vingança, n.º 629 - março 2020

Título original: The Marriage Demand

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1348-252-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Epílogo

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

– Então achaste que eu não te reconheceria?

Um arrepio gelado percorreu o corpo de Faith.

Nash! Como é que era possível ele estar ali? Devia estar a administrar o império multimilionário que, segundo a imprensa, tinha construído nos Estados Unidos. Mas era mesmo ele, com os seus quase dois metros de altura, o homem que transformara num pesadelo os últimos dez anos da sua vida. O homem que…

– Ora, Faith, quer dizer que já conheces o nosso benfeitor? – surpreendeu-se Robert Ferndown.

Faith encarou o chefe, esforçando-se para não sucumbir ao desejo de sair dali a correr sem querer saber do seu profissionalismo. Não sabia que tinha sido Nash quem doara a enorme mansão à fundação. Se tivesse suspeitado…

A Fundação Ferndown, criada pelo avô de Robert com o intuito de dar uma residência digna às famílias carenciadas, actuava em muitas regiões do país. Quando soube que iam contratar um arquitecto, Faith desejou desesperadamente esse emprego. A sua história de vida justificava a profunda identificação com a causa das crianças que não tinham um lar…

– É verdade, nós já nos conhecemos – confirmou Nash com um sorriso irónico.

Faith ficou com os músculos tensos. Um turbilhão de sensações invadiu-lhe o peito. Tinha medo de imaginar o que Nash estaria ainda disposto a revelar e sabia que a situação o divertia, que o grande prazer daquele homem era vê-la sofrer. Se possível, destruí-la.

Robert acompanhava tudo com uma expressão serena, com certeza, à espera que Faith dissesse alguma coisa. Mas ela não conseguia acalmar-se. Recordou-se de tudo por que passara, tudo o que tinha conquistado graças ao apoio de algumas pessoas maravilhosas.

Percorrendo o gabinete com um olhar, Faith relembrou a face do homem que lhe servira quase de inspiração e, tomada de dor e culpa, cerrou os olhos. Quando tornou a abri-los, desviou-os de Nash. Sabia que ele desejava vê-la render-se, vulnerável à sua hostilidade.

– Foi há muito tempo – explicou ela ao chefe. – Há mais de dez anos.

O medo corria como um veneno nas suas veias. Era apenas uma questão de tempo, rapidamente Nash lhe daria o golpe de misericórdia que a arremessaria para o chão. A sua situação já não era muito boa. Sabia que Robert tinha ficado decepcionado com a resistência que ela demonstrara em assumir o projecto de reconstrução da Mansão Hatton.

– A casa é ideal, corresponde a todas as nossas necessidades – entusiasmara-se o chefe na ocasião. – Três andares, assoalhadas amplas e um estábulo no qual podemos instalar a administração.

Evidentemente que não lhe podia confessar o motivo para tanta hesitação, e agora já nem era necessário; Nash incumbir-se-ia de o fazer.

O som do toque do telemóvel chamou-a de volta à realidade. Robert interrompeu o que começara a dizer e atendeu sem desviar dela o olhar afectuoso. Ele não escondia a atracção que sentia por Faith e nomeara-a sua acompanhante oficial para os inúmeros eventos a que comparecia como porta-voz da fundação. O relacionamento entre os dois fora, até então, estritamente profissional, mas Faith sabia que era apenas uma questão de tempo, ou teria sido, caso Nash não tivesse aparecido.

– Lamento – disse Robert ao desligar o telefone. – Um imprevisto obriga-me a voltar imediatamente a Londres. Temos um problema com as obras da Mansão Smethwick. Mas não te preocupes, Faith, tenho a certeza de que o Nash terá muito prazer em fazer-te companhia e mostrar-te a casa. É possível que eu não consiga resolver tudo a tempo de voltar ainda hoje, mas amanhã, com certeza, estarei de volta.

Antes que Faith tivesse tempo de protestar, Robert saiu do gabinete, deixando-a a sós com Nash.

– Qual é o problema? – perguntou ele com rispidez. – Consciência pesada, suponho eu… a culpa costuma ser uma péssima companheira. Atrapalha o sono. Muito embora isso não deva ser um grande problema para ti, a avaliar pela tranquilidade com que te atiras para a cama do Ferndown. A moral nunca foi a tua especialidade, pois não, Faith?

Era impossível decidir qual das emoções a atingia com mais intensidade, se a raiva ou a dor. O primeiro impulso foi o de se defender, de refutar os desprezíveis insultos, mas sabia que seria inútil. A resposta saiu-lhe em forma de chavão e cheia de hesitação:

– Eu não tive culpa de nada – defendeu-se, mas logo percebeu que não podia ter escolhido pior resposta. O olhar rancoroso de Nash confirmava isso.

– Esse discurso pode ter convencido o Tribunal de Menores, mas eu não me deixo enganar com tanta facilidade. Como é costume dizer-se, o criminoso volta sempre ao local do crime. Não é incrível?

Faith suspirou, angustiada. O suor frio começava a humedecer-lhe o couro cabeludo e os longos cabelos dourados. Os cabelos… A primeira embirração de Nash fora precisamente com os cabelos. Achava que Faith os tinha pintado. Foi preciso que passasse todo o Verão para que ele se convencesse de que a cor era natural.

Os cabelos loiros, assim como os olhos azuis, herdara-os do pai dinamarquês, que nem chegara a conhecer. O pobre homem morrera na lua-de-mel ao tentar salvar uma criança de se afogar. E quando ela adquirira maturidade suficiente para compreender os factos, concluíra que os graves problemas cardíacos que mais tarde vitimaram a sua mãe, tinham começado ali, com o desgosto de perder o marido em circunstâncias tão trágicas.

Num gesto instintivo, Faith abanou a cabeça, tentando afugentar as lembranças, mas, no seu íntimo, estas nunca cessavam de a atormentar. Tinha sido ali, naquele mesmo gabinete, que ela conhecera Philip Hatton, o padrinho de Nash, assim como também tinha sido ali que o vira pela última vez, semiparalisado pelo ataque cardíaco.

– O que é que tu vieste aqui fazer? – desafiou ela. Não interessava a opinião de Nash, ela não fora a responsável por nada.

– Não ouviste o teu chefe? – sorriu ele.

Faith hesitou, sentindo que as lembranças aterradoras do passado ameaçavam emergir e engoli-la. O tom provocador com que Nash sublinhou a palavra chefe provocou-lhe um calafrio. Ainda que tivesse auto-controlo suficiente para não reavivar o escárnio, não conseguia impedir a reacção instintiva do corpo, nem que os olhos turvos pela dor, involuntariamente, a denunciassem.

– Vim tratar da doação da casa que o meu padrinho me deixou. Sei que um lugar como este pode fazer muito bem a uma criança. Tenha ela a condição social que tiver – continuou ele, com um ar orgulhoso e superior. Mas o olhar duro e furioso de Faith fê-lo hesitar, o que raramente acontecia.

Nash desviou os olhos, contrariado. Julgava que estava preparado para aquele reencontro, que teria absoluto controlo sobre as suas emoções. Mas o choque de ver a rapariga de quinze anos, de quem se lembrava nitidamente, transformada numa mulher, obviamente admirada e desejada por Robert Ferndown e, provavelmente, por muitos outros ingénuos, desencadeou nele uma reacção, um sentimento que ameaçava destruir as suas defesas. As antigas feridas pareciam estar de novo a sangrar.

Ele fechou os olhos, tentando subjugar a raiva e recuperar a razão. Há muito tempo que esperava por aquele momento… que a vida, o destino, pusesse Faith novamente ao alcance das suas mãos. E ali estava ela.

– Tu acreditas mesmo que vais conseguir safar-te? Que a vida não te vai cobrar um preço elevado? – provocou ele, com um sorriso frio e selvagem que deu a Faith a dimensão exacta do poder que ele tinha para a destruir. – Já contaste ao Ferndown quem tu és e o que fizeste? – insistiu num tom de ameaça. – Não, claro que não! Se o tivesses feito, a fundação não te teria contratado, apesar da evidente admiração que o Ferndown demonstra ter por ti… Aliás, Faith, tu conseguiste o emprego antes ou depois de ires para a cama com ele?

Ela deixou escapar um gemido.

– Contaste ou não? – pressionou Nash.

Incapaz de dizer fosse o que fosse e ainda menos capaz de mentir, Faith limitou-se a abanar a cabeça.

– Não, é claro que não – prosseguiu ele com ar de triunfo. – E, segundo as informações que arranquei do idiota do teu chefe, no currículo que tu apresentaste à fundação omite detalhes importantes.

Faith sabia exactamente a que detalhes é que ele se referia. Embora estivesse a sentir a garganta contraída pelo nervosismo, reuniu toda a força emocional de que ainda dispunha para demonstrar que não se deixaria intimidar.

– Só os irrelevantes – disse ela, devolvendo a ironia.

– Irrelevantes? Teres escapado por pouco de uma condenação? Seres responsável pela morte de um homem? Ah, não! Acho que tu não estás a ser muito fiel aos factos – escarneceu Nash.

Perdendo finalmente o controlo, Faith virou-lhe as costas para sair. Nash deteve-a segurando-a pelo braço.

– Não me toques! – gritou ela, tomada por um terrível mal-estar.

– Ora essa… Que diferença, Faith! Tu estavas sempre a pedir-me precisamente o contrário, chegavas a implorar…

Ela entreabriu os lábios trémulos num gemido aflito.

– Eu tinha quinze anos… era uma criança – tentou defender-se. – Não sabia o que dizia e muito menos o que fazia…

– Mentirosa – disse Nash com brutalidade. E segurou-lhe o queixo como que para evitar que os olhos da sua presa lhe escapassem.

Faith estremeceu ao contacto com aqueles dedos finos que evocavam um turbilhão de sensações e lembranças. Não era medo o que estava a sentir, constatou alarmada. Era o despertar inexplicável e involuntário de um sentimento do qual já se julgava livre há muitos anos.

Quantas vezes, naquele Verão remoto, Faith não ansiara por um carinho de Nash? Que ele a desejasse? Quantas não foram as fantasias em que ele a dominava e a abraçava? Quanto tinha sonhado com aquela proximidade… ver nos olhos dele a voracidade e a urgência dos amantes? Ela julgava estar apaixonada e sofria intensamente aquela paixão, desejando Nash, sofrendo com todo o ardor inocente da juventude. Mas era impossível não reconhecer que tudo não passara de um sonho ingénuo.

– Duvidas? Então prova – desafiou ela. – Beija-me.

Nash ficou petrificado; não podia acreditar no que acabara de ouvir. Beijá-la? Afinal, que jogo era aquele? Foi abrindo lentamente os dedos. Num gesto aflito, Faith virou o rosto, tentando desenvencilhar-se e, sem querer, roçou os lábios na mão que ele deixara paralisada no ar. Sem forças para resistir à tentação, Nash aproximou-se, agarrou-a com brutalidade pelos braços e colou os lábios frios e duros sobre os dela. Mas, ao dar-se conta do que estava a fazer, sentiu um choque. Aquele corpo tão sinuoso tornava-se inacreditavelmente vulnerável nos seus braços; provocava nele um desejo irrefreável de o acariciar, de se entregar aos sentidos. Ele, porém, estava ali com um único propósito: fazer justiça, fazer com que Faith pagasse pelo crime que cometera. Devia isso ao padrinho; era o mínimo que podia fazer. No entanto…

Nash sentiu o sangue gelar. Tinha que ser forte, não podia esquecer que a rapariga inocente e doce do passado, na qual ele acreditara ingenuamente, não passava de uma ilusão. Que a mulher sensual agora nos seus braços sabia exactamente o que estava a fazer e o que pretendia provocar nele. Mas como resistir à paixão daquele beijo, ao convite que aqueles lábios macios e entreabertos lhe faziam?